The Grey escrita por Milla Lyra


Capítulo 9
Capítulo 8.


Notas iniciais do capítulo

Aloha, espero que gostem!
Senti falta de vocês nos comentários do último capítulo :( Voltem para mim!
Aproveitem a leitura!



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— Seja oficialmente bem-vinda à Malfoy’s Company. — Isabelle disse, com um sorriso no rosto. Estava me esperando nas portas do elevador, com uma pasta na mão e meu novo crachá de identificação. Meu sorriso foi enorme em resposta. Finalmente eu estava começando minha carreira de trabalho, e não só isso, eu estava começando em uma das melhores empresas do país.

—Obrigada, Isabelle. — Respondi, sentindo a animação agitar no meu corpo.

—O Sr. Malfoy pediu para que fosse no escritório dele assim que chegasse. —Isabelle falou, séria. Pelo que eu via, ela tinha um pouco de medo do chefe, e isso estava me deixando apreensiva. — Lembre-se das regras. Só fale o necessário.

—Tudo bem. — Minhas mãos já estavam geladas. Eu caminhei até as portas duplas que levavam até a sala, e bati levemente.

—Não bata na porta! — Isabelle sussurrou, com os olhos arregalados. — Ele não gosta que façam isso! Já avisei que você chegou, só entre.

Com meu coração acelerado de medo, abri a porta. A sala era ampla, e a decoração de muito bom gosto. Móveis de madeira escura e de aparência pesada, quadros nas paredes que retratavam deuses e anjos. Olhei para a mesa, e lá estava o Sr. Malfoy, sentado de modo imperativo, com um jornal na frente do rosto e uma xícara de café a sua frente. Quando ouviu a porta abrir, ele abaixou o jornal, apenas o bastante para que eu visse seus olhos. Deus, eram os mesmos olhos cinzas e turbulentos do filho, e transmitiam a mesma sensação fria de desprendimento.

— Hã, bom dia, Sr. Malfoy. Sou Hermione Granger, sua nova funcionária. — Falei, alisando a saia lápis preta que Luna tinha me emprestado. Minhas roupas estavam de acordo com a função, ou pelo menos eu esperava que sim. Blusa de seda cinza de botões, saias lápis pretas e sapatos pretos. Era o máximo de ‘profissional’ que eu poderia chegar.

O Sr. Malfoy deixou o jornal de lado, seus olhos me analisaram desde meus cabelos soltos até os pés precariamente equilibrados em um salto agulha.

— Sente-se, Srta. Granger. — Disse ele, acenando para a poltrona de couro à frente de sua mesa. Respirando fundo, fiz o que foi mandado. — Eu queria conversar com a senhorita antes de, finalmente, começarmos nosso dia de trabalho.

— Claro, Senhor. —Aqueles olhos frios dirigidos a mim, faziam minha pele pinicar. Mas mantive minha expressão de leve curiosidade.

—Eu não queria parecer invasivo, mas a conversa será sobre meu filho. — Fiquei parada, sem saber o que pensar sobre aquilo. Não entendia porque o Sr. Malfoy queria conversar comigo sobre Draco. —Está tudo bem para você? —Eu não podia simplesmente perguntar o porque daquilo, então concordei.

—Tudo bem.

—Ótimo. —E então, para meu espanto, ele sorriu. Seus lábios curvaram para cima, do mesmo modo que os do filho faziam quando ele estava ansioso. A diferença era as linhas de expressão ao redor da boca e dos olhos, que franziram com o sorriso. Foi cativante, nada ameaçador. De modo inconsciente, eu sorri de volta, como se fosse errado não retribuir aquele gesto tão amigável. —É uma surpresa maravilhosa ver que Draco tem amigos como a senhorita.

— Por favor, me chame apenas de Hermione. — Pedi.

— Se for mais confortável, assim o farei. — Respondeu ele, educadamente. —Então, Hermione, sua relação com meu filho, como é? —Vendo meu semblante desconfortável, ele continuou: —Veja só, Draco nunca me pede nada, muito menos favores. Até que, para o meu total assombro, ele me pediu para que eu a considerasse como uma possível assistente pessoal. Então, desde aquele pedido, tenho pensado no tipo de relacionamento Draco tem com você. Não vou negar que tive receio sobre a senhorita, meu filho não costuma ter amigos… saudáveis. —A fisionomia dele ficou cansada, como se não soubesse o que fazer para mudar aquilo. Mas, novamente, ele voltou a sorrir. — E agora, olha só para você. Uma jovem bonita, com todo respeito. Que me parece motivada a trabalhar duro para conseguir o que quer. Claro que Draco falou que vocês eram amigos, mas o que você tem a dizer?

Amigos? Eu queria perguntar. Não podia acreditar que Draco ainda não tinha contado nada sobre nosso namoro. Meu receio era que ele ainda sentia necessidade de me esconder, e eu ainda não sabia o porquê daquilo. Ele mesmo já tinha falado que não me esconderia mais. Engolindo minhas perguntas e o pouco de amor próprio que ainda me restava, respondi:

— Somos amigos, Senhor. Como Draco falou. Estudamos na mesma faculdade. — Os olhos astutos do Sr. Malfoy me analisaram, ele suspeitava de algo, percebi. Com um sorriso educado, ele acenou.

—Sim, entendo. Bom, fico muito satisfeito em conhecê-la, e perceber que Draco está andando com pessoas que sabem que o trabalho faz a reputação.

—Claro, Sr. Malfoy. Trabalho desde cedo, e mesmo que não tenha sido por escolha própria, eu acredito que ter uma boa carreira é essencial para o futuro.

—Sim, tem toda razão. —Para meu alívio, a conversa sobre Draco tinha chegado ao fim. —Seremos uma boa equipe, Hermione, posso ver isso.

— Eu torço para que sim.

—Bom, então vamos ao trabalho. —Ele levantou-se da sua cadeira, estendendo a mão. Levantei e apertei firmemente. Meu Deus, ele parece tanto com o filho. Pensei, deslumbrada. Os mesmos olhos, os mesmos cabelos claros, rosto fino e aparência nobre. Sua presença já exalava autoridade, igual a Draco.

Minha sala ficava ao lado do escritório do Sr. Malfoy. Ao entrar, não pude segurar o sorriso maravilhado. Era pequena, apenas uma mesa de mogno, uma cadeira giratória preta, computador sobre a mesa, um telefone e porta-retratos vazios. Haviam apenas um quadro atrás da mesa, com um grande ‘M’ dourado, todo ornamentado, como um símbolo de família. Família Malfoy.

Sentei na cadeira, girando e rindo como boba. Eu tinha conseguido, finalmente eu me sentia no caminho que eu queria.

A manhã passou como um sopro. Entre agendas de reuniões, documentos para arquivar e ligações importantes, já era quase hora do almoço. Eu tinha conversado com o reitor da faculdade sobre meus horários, e tínhamos chegado a um acordo: eu teria de aparecer nas aulas apenas três dias na semana, mas recuperaria as aulas perdidas com trabalhos extras. Assim, eu tinha que trabalhar até o almoço por três dias da semana, e os outros dois eu trabalharia como o restante dos funcionários, o dia inteiro. Nem o tempo corrido me desanimou, eu sabia que conseguiria conciliar tudo. Depois de pedir o almoço do Sr. Malfoy, eu tinha duas horas livres. Assim que sentei na minha mesa com um sanduíche nas mãos, meu celular tocou. Luna parecia tão feliz quanto eu, perguntando sobre cada detalhe de tudo. Depois de alguns minutos eu pude voltar minha atenção à minha comida, que já estava fria. No computador, eu terminava de organizar a agenda da semana. Eram tantas reuniões, e com tantas pessoas diferentes que senti comparecimento pelo pai de Draco. Ele não parecia uma má pessoa, como Draco me fazia imaginar. Só aparentava cansaço, e vendo aquela agenda, eu entendia o porque. Quase não tinham horários livres, sua esposa, Narcisa, quase nunca era mencionada na agenda. Apenas alguns poucos almoços em família. Devia ser solitário e fatigante não ter tempo para nada além de trabalho. O telefone tocou, me tirando dos pensamentos de piedade. Atendi rapidamente.

— Isabelle?

— Hermione, tem uma ligação para você na linha três. É do Sr. Malfoy. —Sua voz estava mais ríspida do que normalmente. Estranhei.

—Mas eu tenho contato direto com ele, porque ligaria para você? — Perguntei, confusa.

—Não é esse, é o filho. Draco Malfoy. —Só de ouvir o nome meu coração gelou. Tinha me esforçado o dia inteiro para não pensar nele, nos meus sentimentos recém-descobertos ou no sumiço da noite passada. Quando eu enfim tinha percebido que o amava, Draco tinha sumido a noite inteira e estava novamente escondendo nosso relacionamento. Sempre um passo à frente e dois para trás.

—Pode passar, Isabelle. Obrigada.

—Sim, sim. — Ela disse, áspera. Franzi o cenho, confusa. Isabelle não tinha falado nesse tom comigo até aquele momento.

— Por que não me ligou como prometeu? —Foi a primeira coisa que escutei de Draco. Suspirei, passando a mão pelo cabelo.

—Bom dia, sim, está sendo um ótimo primeiro dia de trabalho. —Falei. Meu tom duro pareceu acordá-lo, e logo sua voz soou mais amorosa.

—Desculpe. Que bom que está gostando do trabalho, eu sabia que ele seria perfeito para você. — Mesmo que eu não quisesse, um sorriso estúpido se abriu em meus lábios.

— Estou amando. Sem falar no salário, quase desmaiei quando ouvi a quantia. Será mais que o suficiente para aluguel, faculdade e minha mãe. Ela vai ficar satisfeita em saber disso. —Ri.

—Não tem que mandar nada a ela, Hermione.

—Eu sei, eu sei. — Não queria entrar naquele assunto, então desconversei. —Por que não me ligou no celular?

— Queria ser a primeira ligação pessoal no seu local de trabalho, faz com que eu me sinta como se tivesse arrumando problemas para você, gosto disso. —Sua voz brincalhona me fez rir. Mas logo me lembrei dos problemas que tiraram o sorriso do meu rosto.

—Por que não contou a seus pais sobre nós? Seu pai pensa que somos amigos, aliás, todos por aqui pensam. —Demorou alguns segundos para que houvesse uma resposta.

— Eu não preciso me explicar para Lucius. —Disse ele. —Para minha mãe, não se preocupe, ela já desconfia, e logo eu conversarei com ela. Ah, e sobre ‘todos aí’, Isabelle acabou de saber. — Completou, mais leve.

—Sério? — Minha cabeça dava voltas sobre o motivo da sua rispidez, e parece que eu tinha uma possível causa. — Draco, você já teve algo com a Isabelle? — A demora só me fez ficar mais tensa.

— O que te fez pensar isso? —Ele deliberadamente estava sendo evasivo, foi quando eu tive certeza.

—Que droga, Draco! — Bufei, contrariada. —Tem noção de como isso é desagradável? Trabalhar com alguém com quem seu namorado já… ficou?

—Foi muito antes de você, não tem motivos para ficar desse jeito. — Ele não entendia, e nem entenderia nunca. Eu não tinha ex por toda parte. Ele sim.

—Que droga. — Repeti, resignada.

—Vamos lá, não fique assim. —Draco murmurou, de maneira doce e persuasiva. — Ela não foi nada para mim. Eu só quero você agora, entende?

—Mesmo assim é desconfortável, ela já mudou o modo de agir comigo. Soou bem mais rude do que antes.

—Sério? — Perguntou ele. Seu tom me fez temer por Isabelle.

—Não se preocupe, eu sei me cuidar.

—Eu cuido de você agora. Se ela incomodar, quero que me fale. —Eu não falaria por nada, mas concordei. - Volte ao trabalho, e mais tarde eu passo aí para buscá-la. Quero passar toda a noite entre suas pernas.

—Draco! — Com minha exclamação sussurrada e horrorizada, Draco riu.

— Você acabou de me dar uma ideia espetacular. Até mais, anjo. — Eu não sabia se estava mais receosa pela “ideia espetacular” de Draco, ou estupefata com ele me chamando de anjo. Antes que eu tivesse qualquer reação, ele desligou. Coloquei o telefone de volta no lugar e fiquei encarando o aparelho, confusa. Anjo. Ele tinha me chamado de anjo.

O quão adorável isso era?!  Apesar de ainda estar incomodada sobre Draco e Isabelle, aquela palavrinha tinha me tirado do chão. Eu me sentia tão surpresa que parecia irreal. Ainda tínhamos muito para conversar, mas eu achava que estávamos no caminho certo.

As três da tarde eu tinha finalmente acabado com a agenda do resto do mês. Os papéis já estavam arquivados, não tinham mais ligações à espera, e o Sr. Malfoy estava no meio de uma reunião importante. Eu estava olhando para os três porta-retratos, pensando no que colocaria neles. Uma foto minha com Luna, com certeza, aquela que eu adorava. E com os outros? Eu queria tanto uma foto com Draco, e em seguida, uma foto tirada por ele, uma daquelas do seu quarto. Eram tão lindas. Ele seria um fotógrafo maravilhoso. Senti meus lábios arquearem, enquanto eu pensava numa foto minha com Draco. Ele sorrindo e me abraçando, talvez até estivesse me beijando. E seus olhos estariam radiantes, seus cabelos revoltos daquele jeito que eu gostava. Mas eu o amava de qualquer forma, então o estado dos seus cabelos não importava. Eu o amo. Pensei, maravilhada. Em pouco tempo eu já o amava. Mas não tinha como ser o contrário, Draco era uma pessoa especial, única. Qualquer pessoa que o conhecesse o amaria também.

O alerta que indicava um novo e-mail soou, me acordando daquelas reflexões. Abri-o e ri, pasma. Era Draco, e só o assunto do e-mail me fez corar.

Assunto: A noite entre suas pernas.

Srta. Novo Emprego, me faça a gentileza de confirmar sua presença na minha cama essa noite. Meus travesseiros não aguentam mais de tantas saudades.

Atenciosamente: Seu Pobre Namorado e Seus Travesseiros Saudosos.

Não segurei a risada, e logo eu estava com a mão sobre a boca, torcendo para que ninguém me ouvisse. Quando tive certeza de que não assustaria a todos no andar com minha risada descontrolada, digitei de volta.

Assunto: Seu palavreado. 

Sr. Pobre Namorado, que tipo de palavreado é esse? Por alguma razão, que não sei se me agrada ou me degrada, eu prefiro quando você fala algo que me deixa querendo enfiar meu rosto em um saco de papel.

Sobre a saudades dos seus travesseiros, eu farei o possível para matá-la essa noite.

Sua Namorada (que deveria estar trabalhando)

Eu não conseguia tirar o sorriso do meu rosto. Eram especialmente nesses momentos que tinha certeza que eu o amava. Quando ele me fazia rir, ou corar ou falava qualquer besteira só para ter minha atenção. O alerta indicou um novo e-mail, e dessa vez, eu nem hesitei em abrir.

Assunto: Meu palavreado.

Ótimo, ainda bem que prefere que eu fale normalmente. Enfim, só tentei porque queria te deixar confortável no seu local de trabalho, mas aqui vai:

Meus travesseiros ficaram satisfeitos em saber disso, e não só eles, minhas calças estão estranhamente desconfortáveis agora, e isso é culpa sua.

Ah, como eu queria ver sua carinha corada e chocada agora…

Mas me fale, o que está fazendo agora?

E ele não estava errado, meu rosto estava tão quente que eu poderia fritar um ovo nas minhas bochechas.

Assunto: Trabalhando, é claro.

Meu Deus, Draco! Você desconhece o significado de “limites”?!

Na verdade, eu estava pensando sobre você. 

A resposta dele veio rapidamente.

Assunto: Seus pensamentos pecaminosos.

Huum… me fale mais sobre esses pensamentos. Envolvia meu corpo nu?

A risada explodiu da minha boca antes que eu a detivesse.

Assunto: Não, você estava vestido.

Eu pensava em suas fotos do quarto. Tenho três porta-retratos vazios na minha mesa, pensava em uma foto nossa e uma dessas do seu quarto. Claro, tenho que torcer para que o dono delas me conceda uma.

Assunto: Meu pagamento.

Claro que eu te cedo uma delas… com um pequeno pagamento. Quero você sentada sobre mim novamente, e dessa vez sem roupas para atrapalhar.

Pagamento justo?

Ps.: Vou nos fotografar pelados para você colocar sobre sua mesa, a ideia me agrada mais do que eu acharia possível. 

Eu não conseguia crer que estava tendo aquela conversa por e-mail no meu primeiro dia de trabalho. Mas eu não conseguia deixá-lo sem uma resposta.

Assunto: Seu pagamento.

Acho que posso fazer isso… mas eu escolho a que eu quiser!

Falando nisso, o que você está fazendo agora? Não deveria estar nas aulas?

Ps.: Prefiro não ter que ver você nu enquanto trabalho, me distrairia bastante.

Assunto: Meus afazeres sem você.

Aulas sem você não tem sentido. Quem eu esperaria, no fim delas?

Agora eu estou pensando em você me montando… a ideia é maravilhosa. Consigo até ouvir você gemendo meu nome. Acho que preciso de um banho frio… ou uma mão.

Tenho que sair, sinto muito, preciso buscar minha namorada no trabalho.

Ps.: Eu adoraria vê-la nua o dia inteiro, anjo.

Ainda sorrindo feito boba, apaguei os registros das nossas mensagens. Tudo que eu não precisava era de alguém vendo-as. Eram constrangedoras demais até para mim. Olhei para o relógio, já eram quatro horas, em poucos minutos eu sairia. E agora que tinha falado com Draco, eu estava ansiosa pelo fim do dia. Organizei minha mesa, pensando nas coisas que compraria para colocar nela. Às quatro e meia, o telefone voltou a tocar.

—Hermione. —Ouvi o Sr. Malfoy chamar.

— Sim, sr. Malfoy. —Só o que passava pela minha cabeça era a culpa pelas mensagens trocadas com Draco. Meu Deus, ele descobriu! Vai me despedir agora. Só durei um dia no trabalho, que maravilha.

— Antes de sair, queria parabenizá-la pelo excelente trabalho. Foi muito bem hoje, espero que continuemos a nos dar bem. —Meu queixo caiu em resposta, e eu me esforcei para responder.

—Obrigada, Sr. Malfoy. Foi um ótimo primeiro dia para mim, estou feliz por trabalhar aqui.

—Excelente. Até amanhã.

—Até amanhã. —Desliguei, atônita. Como Draco podia não gostar desse homem?

Às cinco eu peguei minha bolsa e passei por Isabelle na entrada. Sua resposta a minha despedida foi fria, mas eu esperava por isso. Mais uma coisa para resolver. Desci até o saguão de entrada, e vislumbrei Draco encostado no balcão da recepção, conversando com Allana. Hesitei, pensando se Draco também teria ficado com ela.

Ao me ver, ele acenou para Allana e veio até mim. E então me abraçou, beijando o topo da minha cabeça.

—Finalmente. —Ele murmurou, me levando para fora pela mão.

—Draco. —Chamei, pensando num jeito leve de perguntar, mas não encontrei nenhum, então perguntei mesmo assim. —Você não ficou com a Allana também, ficou?

—Allana? — Perguntou ele, parecendo surpreso. —Não, claro que não.  Ela é casada. —Fiquei dividida entre alívio, e incômodo pela resposta. Afinal, ele só tinha deixado Allana escapar porque ela era casada, caso contrário… —Você não está mais chateada por causa da Isabelle, está?

—Não. —Respondi, me esforçando para confiar nele, como já tinha me prometido que faria.

— Que bom, porque eu só pensei em você o dia inteiro. —Disse ele, encostando na porta da caminhonete e me abraçando forte. —Agora me deixa te cumprimentar do jeito certo.

E me beijou. Forte, com vontade. Daquele jeito que fazia minhas pernas amolecerem e todos os meus músculos virarem gelatina. Fiquei na ponta dos pés e segurei seu pescoço, entrelaçando os dedos nos cabelos macios dele. O cheiro de Draco me inebriou, tirando toda a tensão do dia, me deixando totalmente à mercê dele. Seus lábios eram urgentes nos meus, buscando o alívio da saudade que ambos sentíamos. Draco beijou a ponta do meu nariz, e sorriu.

—Meu dia acabou de melhorar.

— O meu também. —Suspirei, colocando o rosto no peito dele. —Senti sua falta. — Os braços dele ao meu redor me apertaram, e senti seus lábios roçando no meu cabelo.

—Vamos para casa, anjo. —Ele falou, beijou minha testa e deu a volta para entrar na caminhonete. 

As primeiras semanas do nosso relacionamento foram as melhores que eu me lembrava. Os dias trabalhando na Malfoy’s me entusiasmavam, enquanto as noites, Draco e eu passávamos divididos entre minha cama e a dele. Até Luna tinha baixado a guarda para ele. Draco parecia diferente, mais carinhoso, demonstrava mais empatia, e isso me deixava a ponto de chorar de alegria. A cada dia que passava eu me convencia ainda mais que o amava, e estava me preparando para dizer isso em voz alta. Ele merecia ouvir, tinha direito a escutar essas palavras da minha boca. Todas as noites, quando eu descia no elevador da Malfoy’s, Draco estava lá, encostado no balcão da recepção, e quando me via abria um sorriso que fazia todo o meu dia ter valido a pena. Eu o amava tanto, tanto, que também tinha medo daquele sentimento.

O Sr. Malfoy, ou Sr. Lucius, como ele preferia, era um chefe maravilhoso. Não me tratava de forma inferior, tinha uma paciência infinita para me ensinar, e até estava me preparando para participar de reuniões importantes junto com ele. Estava tudo indo melhor do que meus sonhos mais mirabolantes, e eu me sentia tão sortuda por ter tudo aquilo, que não me sentia no direito de reclamar de nenhum aspecto da minha vida.

—Está me ouvindo, Hermione? —Sr. Lucius me chamou, me acordando do estupor de cansaço. Já era sexta-feira, e eu esperava esperançosa pelo fim de semana de descanço.

—Claro, me desculpe. Estávamos falando sobre sua agenda de domingo.

—Isso. —Uma pequena curva nos lábios, era esse o sorriso de Lucius, exatamente como o filho. — Então, me dê boas notícias e diga que não tenho nenhuma reunião agendada para domingo. — Chequei meu novo Ipad, um pequeno mimo que me presenteei com o primeiro salário.

— Sinto muito, Sr. Lucius, mas temos uma marcada para a manhã de domingo. —Franzi o cenho, incomodada. Lucius tinha trabalhado exaustivamente naquela semana com o grupo de publicidade da empresa, ele merecia um bom descanso.

—Sim, eu desconfiava disso. — Ele murmurou, com uma risada seca. —Com quem será?

—Hã, Draco Malfoy, senhor. —Respondi, sem jeito. Era estranho chamar Draco pelo nome inteiro, mas eu estava falando com meu chefe sobre uma reunião de trabalho com o filho, isso exigia, no mínimo, certa dose de profissionalismo. Para minha surpresa, Lucius riu.

— Você costuma chamar seu namorado pelo sobrenome? —Fiquei paralisada, indecisa sobre minhas próprias palavras. Draco já tinha deixado claro que não queria que o pai soubesse de nada sobre sua vida, mas era sobre mim também, afinal, e eu confiava em Lucius.

—Desculpe, senhor. — Murmurei. —Eu não quero que pense que espero ser tratada de modo diferente por namorar seu filho.

—Eu nunca pensaria isso de você, Hermione. É uma das melhores funcionárias que eu tenho, não vejo razão para pensar dessa forma.

—Obrigada. —Falei, sorrindo timidamente.

— Quer saber? Acabei de pensar em uma ideia. — Disse ele, inclinando-se e pondo as mãos com os dedos cruzados sobre a mesa. — Desmarque essa reunião. Quero que marque um jantar na minha casa, você e Draco, junto com Narcisa, Astoria e eu. Acho que está na hora de apresentá-la para a família.

— Não precisa fazer isso, senhor. —Me apressei em dizer, assustada com a reação que aquilo desencadearia em Draco.

—Não é um pedido, Srta. Granger. —Disse ele, educado. — Por mais que seja minha família, ainda é um jantar de negócios, preciso da minha assistente presente. — Eu não tinha como escapar daquilo, era o meu trabalho.

—É claro, senhor, tem razão. — Sussurrei, fazendo as alterações necessárias.

—Ótimo. Avise a Draco sobre as mudanças, e avise a Narcisa também. Ela vai gostar de ter uma desculpa para falar com você.

—Sim, é claro. —Disse eu, levantando da cadeira. — Acho que isso é tudo.

—Então pode ir, obrigado. —Me retirei da sala e fui até a minha, passando por Isabelle na entrada. Ela ainda me olhava de soslaio, mas pelo menos não falava nada a respeito de seu “caso” com Draco, então eu podia fingir que era tudo mentira.

Sentei na minha cadeira e suspirei. Aquela reunião de família ia ser uma missão impossível. Alisei minha calça social cinza escuro, lembrando do dia de compras que Luna me obrigou a fazer, tinha sido nosso primeiro "dia de garotas" em semanas. Olhei o computador e notei um e-mail de Draco. Rapidamente o abri.

Assunto: O dia da minha garota irritante.

Ainda não me acostumei a não ver você pelo campus, isso é tão ridículo quanto deprimente.

Tenho uma novidade, Mark me ligou para uma luta na segunda a noite, e eu já aceitei.

Nem tente discordar, quero você lá comigo.

O que você está fazendo, anjo?

Olhei para a tela com o cenho franzido. Eu odiava as lutas de Draco. Definitivamente às detestava. E ele sabia daquilo, porque já tínhamos conversado sobre o assunto. É claro que ele alegava que eu já tinha o conhecido fazendo isso, e tinha certa razão, mas ainda assim, eu não gostava.

Assunto: Minha repulsa sobre seu ‘trabalho’.

Eu definitivamente odeio essa ideia, mas não quero discutir por mensagens,

falaremos sobre isso pessoalmente.

Estou reorganizando a agenda do fim de semana.

Sabia que tem uma reunião com seu pai no domingo?


Assunto: Não seja tão irritante.

Vamos lá, não seja tão cretina você sabe que adora me ver lutar.

Eu sei sobre esse caralho de reunião infernal,

essa tortura é duas vezes no mês, como você deve saber.

Estou doido para sentir seu cheiro de novo… e gosto.

Isso mesmo, eu sei que você está toda coradinha.

—Ridículo. —Murmurei, dando uma risada contida. 

Assunto: Não está na hora de você buscar sua namorada?

Fiquei sabendo que ela é bem mandona, você deveria ir buscá-la logo.

Ah, e não a chame de cretina, ela fica mais cretina ainda.

Também estou morrendo de saudades de você, lindo.

Suspirei, me recostando na cadeira. Peguei o telefone e disquei para a casa dos Malfoy, tinha que conversar com a Sra. Malfoy sobre o jantar. Chamou duas vezes antes que eu ouvisse uma voz responder.

— Alô.

— Boa tarde, aqui é Hermione Granger, assistente do Sr. Malfoy. Eu poderia falar com a Sra. Malfoy, por favor? — Meu Deus, aquilo era tão estranho. A voz demorou alguns segundos para responder.

—Sim, claro. A assistente e possível nova aquisição a família. —Respondeu, me fazendo arregalar os olhos. —Já vou chamar a tia Cissa, só um segundo. — Era Astoria, afinal. E o tom doce de quando eu a conheci, não estava mais lá.

—Hermione, querida! — A Sra. Malfoy exclamou, como sempre, simpática. —Já esperava sua ligação a muito tempo, mas finalmente aconteceu.

 — Me desculpe pela demora, Sra. Malfoy…

—Ah, pelo amor de todos os santos, me chame de Narcisa. —Ela me interrompeu. —Você é a namorada do meu filho, no fim das contas.

— Hã… Narcisa, — Falei, tímida. — Liguei para avisar de uma mudança de planos para domingo. Havia uma reunião do Sr. Lucius com Draco pela manhã, mas o ele achou mais confortável substituir por um jantar em casa.

—Mas que maravilha! Estou morrendo de saudades do meu menino. — Ouvir alguém, mesmo que a mãe, chamando Draco de ‘menino’  me deu vontade de rir. —Quem virá, querida? Apenas Draco?

—O Sr. Malfoy, é claro. Draco, e… eu. — Senti meu estômago embrulhar só de pensar naquele jantar.

—Querida, isso é perfeito! Finalmente uma apresentação apropriada. —Disse Narcisa, rindo. —Estou totalmente de acordo.

— Bom, então acho que é só isso.

—E como você e Draco estão, querida? —Perguntou ela. —Ele me contou sobre vocês dois à algum tempo. Parecia tão encantado com você que eu fiquei muito feliz em vê-lo com os olhos brilhando daquela forma. Ele está apaixonado pela primeira vez, isso é óbvio. —Minha risada cética quase escapou dos meus lábios. Eu não acreditava que ele estava mesmo apaixonado, de maneira nenhuma. Draco gostava de mim, isso eu sabia, mas não passava disso. Era patético, mas era verdade.

—Estamos bem, obrigada. —E do nada, me abri para aquela mulher, que parecia ser uma mãe maravilhosa. Dizê-la que o seu filho era amado, e que eu nunca o machucaria. —Eu o amo. Mais do que eu achei que seria capaz. — Minhas palavras saíram estranguladas.

—Isso me deixa tão feliz, minha querida. Draco precisa de todo amor que puder ter. Ele é um bom menino. Só precisa de uma pessoa que o ame.

—Eu cuidarei dele, não se preocupe.

— Eu sei querida. Confio meu filho a você. — A sensação que tive ao ouvir aquilo, não foi a pressão esmagadora que eu esperava, mas uma satisfação que me acalmou.

—Obrigada, Narcisa. Sem dúvidas você é uma mãe maravilhosa para Draco.

—Sempre que quiser conversar, mesmo que não seja sobre meu menino, venha aqui em casa. Sempre tenho um tempo para você. — Era uma coisa boa ouvir aquilo, um sentimento quente de afeto. Como um carinho de mãe. — Até domingo, querida.

—Até domingo, Narcisa. — Desliguei, sorrindo em seguida.

Às seis, finalmente, eu estava livre para ir. Arrumei minha bolsa, organizei minha mesa e quase corri para o elevador, me despedindo de Isabelle por cima do ombro.

Draco estava lá, como sempre, encostado na recepção. Com uma camisa preta de manga comprida, e aquele jeans escuro, que caía no quadril daquele modo tão sexy que eu só queria ficar olhando-o por um tempo. Eu adorava aquele jeans. Me aproximei sorrateiramente, e o abracei por trás.

—Não precisa mais me esperar. — Ele virou, beijando minha testa e me abraçando forte.

—Oi, anjo. — Draco segurou meu rosto entre as mãos e me beijou, apenas um roçar de lábios. —Vamos para casa.

Ao chegarmos no apartamento dele, eu não podia mais adiar a conversa sobre os planos de domingo. Estávamos no sofá, eu sobre as pernas de Draco, uma de cada lado do seu corpo. Draco beijava meu pescoço.

—Sabe —Murmurei, arfando quando ele mordeu a curva entre meu pescoço e ombro. —Estou pensado em alugar um apartamento.

—É uma ótima ideia, mesmo que o assunto seja meio fora de hora. —Eu ri, tirando seu rosto do meu corpo.

—Temos que conversar mais e nos beijar menos.

—Mas nós nem estávamos nos beijando. — Reclamou ele. —Eu só ia tirar sua blusa.

—Nem tirar a roupa, Draco. Temos que conversar. — Draco suspirou, como se tivesse com uma dor física.

—Tudo bem.

— Estou pensando em um lugar pequeno, mas bem agradável. E próximo à Malfoy’s. Assim não tenho que te incomodar todos os dias.

—Mas eu gosto de buscá-la. —Disse ele, encostando o nariz no meu ombro e inspirando.

— Mas eu me sentiria melhor assim. E, se der, posso até tentar comprar um carro usado. Acho que eu posso me dar a esse luxo, não sei se você sabe, mas meu trabalho é fantástico.

—Sim, eu já ouvi você falar isso. Umas vinte vezes, só essa semana. — Sorrindo, ele me puxou para mais perto.

— Falando em trabalho, tenho que te avisar uma coisa. —Na mesma hora Draco se afastou, o cenho franzido e os olhos concentrados em mim.

—O que ele te disse? —Perguntou, parecia tão nervoso que estranhei.

—Sobre o quê? É só sobre a reunião de domingo. —Os ombros de Draco relaxaram, mas sua expressão continuava tensa.

— E o que tem ela?

—Foi cancelada.

— Graças a Deus…

— Ao invés, será um jantar na casa do seu pai.

—O quê?! — Exclamou ele, horrorizado. —Mas que porra! Por que ele sempre faz essas merdas?

—Vamos lá, Draco. Seu pai não é nem de longe tão ruim como você faz parecer. — Imediatamente Draco tencionou todo o corpo, me pegou pela cintura e me colocou no sofá. A guerra só estava começando. Ele levantou e começou a andar de um canto para o outro da sala.

—Já falei que não quero que você se meta nesse assunto. Minha família é fodida, eu não quero te meter no meio disso. Quero você longe desses assuntos.

— Bom, isso vai ser difícil. —Falei, chateada. —Já que eu também fui convidada. —O olhar de Draco passou de gélido para mortalmente furioso.

— Você está brincando! —Gritou, acionando meu lado de autodefesa.

—Qual é o problema?!

—Meu Deus, Hermione! Quantas vezes eu já te falei? Fica longe desse assunto, porra!

—Eu não tive escolha, seu imbecil! Foi você que me arrumou esse cargo de assistente pessoal, eu tenho que estar nas reuniões importantes!

—Mas não nas minhas reuniões particulares com ele! Eu falei para Lucius deixar você de fora disso! Eu não quero você perto quando estou com ele, caralho! —Senti todo o ar deixar meus pulmões. Aquelas palavras foram como uma facada no meu peito. Draco não confiava nem um pouco em mim, tinha regras sobre meu afastamento dos seus assuntos mais particulares. — Porque você não deixa esse assunto em paz?!

—Você é muito injusto, sabia? Eu te contei cada detalhe sobre minha vida, e você aí, todo patético, só porque tem uma briguinha ridícula com o seu pai! —Foi quando percebi que tinha ido longe demais. Draco estava com o rosto vermelho de fúria, os olhos brilhando. Ele levou as mãos à cabeça e depois pegou um enfeite de vidro da mesa de centro, e com um rugido, Draco o jogou na parede, estilhaçando-o. Me encolhi e gritei com o susto, e Draco me olhou, sobressaltado. Seu rosto tinha passado de vermelho para pálido, os olhos estavam assustados. Ele expirou subitamente. Parecia tão perdido, como se tivessem tirado o chão dos seus pés. E em seguida pegou a carteira do sofá e saiu, batendo a porta com força. 


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Notas finais do capítulo

Aí está, amores!
Comentem o que acharam!
Obrigada, e até a próxima!



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