The Grey escrita por Milla Lyra


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Voltei com capítulo novo!!! Vim atualizar mais cedo porque recebi sérias ameaças pelo wpp... Não posso denunciar as meliantes Alice e Érica, mas...
Gente, tô amando os comentários de vocês, inclusive as ameaças hahaha
Sério, fico toda boba aqui lendo. Obrigada, e espero que continuem gostando e comentando.
Aproveitem a leitura!



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— Isso é culpa sua! - Ele gritou, vindo na minha direção. - Tudo isso que está acontecendo É CULPA SUA!

   Fiquei paralisada no lugar, só ouvindo-o gritar.

    - Perdi essa porra de luta por sua causa! Está feliz agora?! Porque você não sai da minha cabeça, porra?! O que você fez comigo?! - Draco pôs as mãos na cabeça, andando de um lado para o outro no corredor. - Não consegui me concentrar, não prestei atenção nos movimentos, não fiz nada que preste hoje! Só conseguia ver você de mãos dadas com o imbecil do Blásio! É essa sua vingança? Quer tirar a única coisa que eu tenho?! O que eu fiz para você?!

   - E-eu… - Gaguejei, sem ter o que falar. Nunca tinha visto Draco tão fora de si, ele caminhava de um lado para o outro, batia nas paredes, gritava. - O que você está falando? Eu não fiz nada.

    - Você fez sim! Fez alguma coisa comigo, eu não sei o que é, mas você fez! Não consigo tirar você da minha cabeça, não consigo dormir por sua causa! FICA LONGE DE MIM! - Ele pegou uma camisa pendurada na parede e saiu rapidamente. Fiquei lá, sem entender nada, pensando no que é que eu tinha feito para deixar Draco desse jeito.

   Quando saí do corredor, Theo, Luna e Blás me esperavam. Pareciam surpresos e assustados, e eu ainda estava sem ação com tudo que tinha ouvido. O que eu tinha feito a Draco? Do que ele estava falando?

   - Você está bem? - Luna perguntou, hesitante. Acenei positivamente. Blás veio até mim e segurou minha mão.

   - Você não me parece bem, linda. Ouvi Draco gritando, ele não devia ter feito isso. - Blás falou.

   - Eu estou bem. - Consegui responder. - Quero ir para casa. - Falei para Luna, que acenou.

 

Deitada na minha cama, eu não conseguia dormir. Tinha chegado em casa, tomado banho e me jogado na cama. Estava exausta física e mentalmente, mas meus olhos se recusavam a fechar. Decidida, peguei meu celular e digitei uma mensagem.

Onde você está?

 

Hesitei no botão de enviar, pensei em desisti, mas sabia que não dormiria sem ao menos saber que eu tentei. Enviei e fechei os olhos, não esperava uma resposta. Me surpreendi ao ouvir o alerta de mensagem, e quase derrubei o aparelho na pressa de ler.

Não sei quem é, mas não te interessa.

 

O quê?

 

Sou eu, Hermione. Fala logo onde está!

 

A apreensão estava me matando. Theo já tinha ligado para Luna dizendo que Draco não aparecera pelo apartamento, e que não tinha ideia de onde ele estava. Draco estava machucado, furioso, e andando sozinho no meio da noite.

Aaaah. É a garota que tá acabando com a minha vida. Ainda não te interessa onde eu estou.

 

Olhei para aqueles a’s, atônita. Aquilo não fazia o estilo de Draco, eu não o imaginava digitando aquilo. Uma ideia me veio a cabeça.

Draco, você está bêbado?

 

A resposta foi a que eu temia.

Só um pouco.

Mas ainda não é da sua conta.

 

Suspirei, derrotada. Draco era pior do que eu imaginava. Estava bêbado e ferido em um lugar qualquer, podendo se machucar ainda mais.

Me diga onde você está, eu vou te buscar.

 

Só de imaginar Draco correndo naquela caminhonete, bêbado, meu coração apertava. Draco não respondeu, passou-se minutos, e nada. Irritada, digitei outra vez, sabia que aquilo ia chamar a atenção dele.

Se não me disser onde está, Theo irá ligar para sua casa!

Me fale onde está, AGORA!

 

Sabia que mesmo que Draco não se importasse com o pai, ele não quereria preocupar a sua mãe. Já tinha os visto conversando pelo celular, ele a amava.

No Blue.

Você é uma cretina, já falei isso?

 

Pulei da cama, pegando um jeans e uma camisa qualquer e vestindo, sem nem me importar em olhar no espelho. Saí do quarto e corri até o quarto de Luna. Ela estava dormindo, com uma máscara para dormir de unicórnio, com um chifre de tecido na frente.

   - Luna?  - Chamei. Ela reclamou, e puxou um lado da máscara. - Posso pegar seu carro emprestado?

   - Só se eu puder voltar a dormir. - Ela murmurou, voltando a deitar. Peguei as chaves e corri até a porta, calcei o all star e saí.

   O Blue era um bar frequentado por muitos estudantes da faculdade. Ficava a poucos metros do campus e estava sempre cheio. Quando cheguei lá, vi que aquele dia parecia pior, muitas pessoas que estiveram na luta estavam lá. A fachada do bar era simples, toda em uma pedra escura e ‘Blue’ escrito sobre a entrada em néon azul. Entrei, notando que muita gente olhava para mim como se eu fosse louca, se por causa da minha expressão ou da minha roupa, eu não sabia dizer, nem me importava. Procurei Draco por todas as mesas, mas não o encontrava. Até chegar no final do bar, e lá estava ele. Draco estava sentado em um sofá com formato de U, em uma mesa reservada. A mesa estava cheia de bebidas, e tinham dois homens e três mulheres ao seu redor. Mas a primeira mulher que eu vi foi Pansy, que estava sentada nas pernas de Draco, com o braço ao redor do seu pescoço.

   Caminhei até a mesa, fervendo de raiva. Eu não sabia o que tinha dado em mim, mas eu não sairia daquele lugar sem Draco.

   - Vamos embora, Malfoy. - Falei, olhando bem no seu rosto. Ele estava muito machucado, só tinha limpado o sangue, mas os cortes ainda estavam sem qualquer cuidado. Ele levantou a cabeça, os olhos injetados e atordoados pela bebida. Pansy virou para mim, e parecia ainda mais bêbada do que ele. A blusa de frente única estava desamarrada na nuca, e seus seios só não estavam à mostra porque a blusa era bem colada ao corpo, mas eu não queria nem pensar no que eles estavam fazendo para que ela precisasse ter desamarrado.

   - Quem é ela, Draco? - Pansy murmurou, a voz enrolada.

   - Ela acha que é minha namorada. - Draco falou, rindo. Pansy riu junto com ele.

   - Ele não namora, querida, acredite, eu já tentei.

   - Vamos logo, levanta! - Falei, olhando fixamente para ele. Eu não sabia porque que já não tinha ido embora, mas algo em mim se recusava a deixá-lo lá. Draco nem sequer pareceu ouvir. Decidida a levá-lo embora, resolvi apelar. - Vai levantar daí ou vou ter que chamar Theo e Blás?

   Draco me olhou, e não tinha mais humor nele. Empurrou Pansy para o sofá, fazendo-a reclamar.

   - Ah, agora você é amiguinha do Blásio? Você nem o conhece e já estão até andando de mãos dadas? - Ele falou, os olhos mais despertos e fixos em mim.

   - Não vou falar sobre isso aqui, Draco. Mas se você não quiser ir embora, eu vou. - Virei as costas e saí do bar apressadamente. No fundo, eu só rezava para que Draco me acompanhasse, e quando olhei para trás e o vi caminhando na minha direção, suspirei aliviada. Fui até o carro de Luna, quando abri a porta, Draco me puxou, fechando-a novamente.

   - Porque veio aqui? - Perguntou ele.

   - Para te buscar, é claro. Você não pode levar uma surra daquela e desaparecer para beber! Ainda mais de carro, Draco!

   - O que você tem com Blás? - Draco perguntou, murmurando tão baixo que quase não ouvi. Parecia tão frágil naquele momento, bêbado, machucado, sozinho.

   - Porque você está perguntando isso? Não foi você mesmo que disse que não tínhamos nada um com o outro? Estávamos nos divertindo, lembra? - Ele vacilou ao ouvir minhas palavras. Cambaleou para trás, como se eu o tivesse empurrado.

   - Eu não sei o que eu tenho. - Ele falou, os olhos confusos. - Só sei que você não pode ficar com ele, Hermione. E-eu… eu não consigo parar de pensar naquele beijo estúpido, e no seu perfume, eu não sei o que fazer.

   Suspirei, colocando as mãos no rosto. Quando minha vida tinha ficado tão confusa? Tudo costumava ser tão tranquilo e em ordem, e agora eu não sabia mais nada.

   - Vamos embora, Draco. Por favor. - Pedi, quase suplicando para que ele não ficasse naquele lugar, não tão machucado, não com aquela garota. Draco me abraçou, me puxando contra ele fortemente, colocando a cabeça no meu pescoço e inspirando. Surpresa com o gesto, apenas senti meu corpo relaxar contra o dele, como se fosse um instinto natural.

   - Vamos embora daqui. - Ele sussurrou. Me soltou, e deu a volta, entrando no carro. Meu alívio foi tanto que quase fraquejei ali mesmo. Entrei e dirigi de volta para casa.

   No caminho, Draco estava calado. Só segurava minha mão sobre seu joelho, acariciava os nós dos meus dedos, e as vezes olhava para mim com uma expressão estranha. Quando estávamos chegando em casa, ele falou:

   - Minha casa não fica por aqui.

   - Estamos indo para a minha. Não vou te deixar sozinho para que saia outra vez. - Vi Draco sorrir, como se gostasse do que eu havia falado.

   Chegamos em casa, estava tudo silencioso e escuro. Draco tropeçou numa mesinha e quase caiu no meio da sala.

   - Fica quieto! - Sussurrei. - Vamos logo para o quarto.  

   - Para o seu quarto? Ótima ideia. - Ele sussurrou de volta, bem entusiasmado com a ideia.

   - Não é para… isso, idiota! Tenho que limpar esses cortes, e não podemos acordar a Luna. - Levei até meu quarto e o disse para que ficasse lá. Fui no banheiro buscar o kit de primeiros socorros e voltei. Draco estava parado no meio do quarto, desconfortável, olhando ao redor. - Sente-se. Temos que limpar esses cortes antes que infeccione. - Sem reclamar, Draco sentou na cama.

   Limpei os machucados o melhor que pude, o olho esquerdo estava inchado, mas depois de um pouco de gelo parecia melhor. O tempo todo, Draco me olhava com uma cara estranha.

   - Você usa pijama dos Simpsons? - Ele falou, rindo. Olhei minha blusa e vi que tinha saído com uma camisa de pijama do Homer Simpson.

   - E daí? - Perguntei.

   - Nada, só é curioso. - Terminei de limpar tudo e joguei os algodões usados fora.

   - Tira os sapatos e deita direito. Se dormir um pouco, talvez acorde com o olho desinchado amanhã.

   - Vou dormir aqui? Na sua cama? - Draco perguntou, ansioso. Quase caí na risada, talvez tivesse rido se não tivesse tão exausta.

   - Tem ideia melhor?

   - Não, aqui está bom. - Ele murmurou. Tirou as botas e meias, em seguida a camisa e deitou. Hesitei, pensando no que faria, mas suspirando de cansaço, me deitei ao lado dele, nos cobrindo. Draco virou-se para mim, e ficamos frente-a-frente, só olhando um para o outro, naquela pouca luz que vinha da janela. - Porque você foi atrás de mim no Blue? - Draco sussurrou, os olhos nos meus.

   - Não sei, tudo bem? Não é só sua vida que está confusa, Draco. Eu também não sei o que estou fazendo.

   - Você beijou o Blás? - Fiquei paralisada. Após alguns segundos sem resposta, vi que os olhos de Draco se arregalaram. - Você beijou, não foi? - Ele perguntou, apressado.

   - Não, não nos beijamos. - Vi quando ele respirou fundo, como se um peso enorme tivesse saído das suas costas.

   Draco colocou a mão em cima da minha na frente dos nossos rostos, ainda olhando nos meus olhos. Delicadamente, foi subindo, apenas os dedos resvalando na minha pele, subindo pelos meus braços. Onde ele tocava, minha pele arrepiava. Seus dedos desceram pelas minhas costelas, passando pela minha cintura, onde espalmou a mão sobre meu quadril. Minha respiração estava tão audível que era constrangedor. Draco aproximou o rosto, beijou meu ombro, minha clavícula, meu pescoço, passando o nariz pela pele arrepiada e inspirando, em seguida beijou minha mandíbula, e foi quando lembrei de Pansy com a blusa aberta na frente dele. Quando seus lábios chegaram perto da minha boca, eu me afastei.

   - Não. - Falei. Draco levantou a cabeça, o cenho franzido em confusão.

   - O que houve?

   - Não vou beijá-lo depois de ver você com aquela garota, Draco. Você me pergunta se eu beijei Blásio, mas quando te vi, você estava com a Pansy no seu colo com a blusa aberta. Isso não é justo.

   - Eu não a beijei. - Ele falou. Subitamente empurrei sua mão de cima de mim, furiosa pela mentira sem cabimento. Draco me puxou para mais perto dele, pressionando meu corpo contra o seu, a mão apertando a base das minhas costas. - Eu juro para você, eu não a beijei. Ela só sentou no meu colo, já estava com a blusa aberta. Na verdade, eu nem notei isso até você falar agora. Eu não a beijei, Hermione. Não consigo tirar a maciez dos seus lábios da minha cabeça, nenhum outro vai funcionar mais para mim. - Sussurrou. Eu acreditei, não sabia porque e nem como, mas tive certeza de que ele estava falando a verdade.

   O toque dos nossos lábios começou tão suave, tranquilo. Era como se finalmente eu pudesse respirar, depois de tanto tempo embaixo d’agua. O beijo tinha gosto de álcool, mas eu não me importei com isso. Em segundos estávamos entrelaçados um no outro, minhas mãos passeando pelo corpo dele, os braços fortes, o peito duro. O beijo se tornou mais urgente, rude, a mão de Draco me pressionava mais e mais contra ele, até que lembrei dos seus lábios machucados e me afastei rapidamente.

    - Seus lábios, desculpa! - Falei, pondo os dedos no corte do lábio inferior. Draco beijou a ponta do meu dedo.

   - Eu não me importo. - Falou, aproximando-se para mais um beijo.

    Meu corpo inteiro parecia em chamas. Alguns minutos depois, eu já estava por cima de Draco, suas mãos pelas minhas pernas, meu quadril, minha cintura, logo abaixo do meus seios, seus dedos roçando neles. Arfei, sentindo um calor subir pela minha barriga. Era a hora de parar, antes que fôssemos longe demais. Me distanciei de Draco, buscando ar.

   - Melhor dormirmos. - Draco estava atordoado com meu afastamento.

   - Porque? Eu quero você, você não me quer? - Como eu queria… mais do que era certo querer algo.

   - Claro que quero. Mas não assim, com você bêbado e machucado. Não foi assim que eu imaginei minha primeira vez. - Me arrependi das minhas palavras instantaneamente.

   - Você… Sério? - Draco estava tão cético que me senti afrontada com sua reação.

   - Qual o problema? - Perguntei, saindo de cima do seu corpo, deitando-me ao seu lado.

   - Nenhum, claro que não. Só nunca fiquei com nenhuma virgem antes. Aliás, não conheci uma garota virgem nos últimos anos.

   - Pois conhece agora.

   - Sério que você é virgem? - Perguntou mais uma vez.

   - Quer parar de repetir isso? - Disse eu, resignada com Draco. Ele riu, me puxando contra ele, apoiando o queixo no topo da minha cabeça.

   - Tudo bem, esquentadinha. Vamos dormir.

   Foi a primeira noite em que dormimos juntos, abraçados e sentindo o calor um do outro.



Soube que algo estava errado quando acordei e Draco não estava ao meu lado. Primeiro veio a confusão, onde ele estava? Para onde tinha ido? Em seguida veio a decepção. Ele se foi, antes mesmo que eu acordasse, Draco foi embora. Tentei pensar mais claramente, talvez ele só tivesse ido comprar café, ou algo assim. Peguei meu celular e liguei para Draco. Nada. A cada chamada não atendida, meu coração despencava. Mandei mensagem também. ‘Onde você está?’ ‘Porque foi embora sem se despedir?’ Mas não adiantou, Draco não às respondeu.

   Luna já estava acordada quando levantei. Não sabia se ela tinha visto Draco sair, mas preferi não contar. Ela já tinha me avisado para ficar longe dele, eu não queria ouvir um ‘eu te avisei’.

   - Bom dia. Está melhor, depois de ontem? - Disse ela. Estava em dúvida sobre o que ela se referia.

   - Ontem?

   - Sim. A luta, a derrota de Draco seguida da explosão dele.

   - Ah. - Ela não tinha visto nada. O alívio disso me fez sorrir. - Estou bem, sim.

   - Que bom. - Luna disse, sorrindo. - Então, vamos lá. Temos castigos disfarçados de aulas.

   Ao chegarmos no campus, a decepção que eu sentia se dissolveu em raiva. Mais uma vez eu tinha confiado em Draco, e ele me enganou, e em seguida me deixou totalmente confusa. Tinha decidido não contar nada a Luna, já que ela nem se lembrava de eu tê-la acordado para pegar as chaves do carro, isso só podia ser um sinal para ficar calada. Também não iria agir diferente com Draco, voltaria ao mesmo ponto onde paramos, depois do passeio no seu ‘lugar especial’, nos ignoraríamos, como era o certo fazer. No fim das aulas, eu já estava confiante outra vez. Não seria mais uma palhaçada de Draco que me colocaria para baixo, com meu histórico de problemas familiares, eu já era expert em me reerguer.

   Lá estava Theo, como sempre, sentado no gramado e lendo um livro qualquer. Em silêncio, caminhamos até ele e sentamos ao seu lado.

   - Como foi a última noite? - Luna perguntou, depois de um beijo constrangedoramente longo. O semblante de Theo entristeceu, era óbvio que ele se preocupava com o amigo.

   - Draco só chegou em casa hoje de manhã. O curioso é que ele parecia melhor, os hematomas pareciam cuidados e não haviam olheiras sob os olhos. Eu perguntei onde ele estava e Draco não falou nada, só deu um sorriso estranho e falou que estava bem. - Fiquei paralisada, não queria ter uma reação que me expusesse. Theo suspirou. - Eu queria que ele parasse de fazer isso, toda vez que tem algum problema, Draco desaparece e chega com cara de quem entrou em várias brigas seguidas.

   - Pelo menos ele chegou melhor, dessa vez. - Luna disse, tentando animar o namorado. - Vai ver ele encontrou alguém que cuidasse dele ontem.

   Não me movi nem um músculo por dois motivos: Primeiro que Luna estava completamente certa; e segunda, que Draco estava vindo na nossa direção. Eu esqueci de tudo que tinha decidido fazer a respeito dele, não sabia nem meu nome mais.

   - Melhor pararmos de falar sobre isso, ele está vindo aí. - Luna sussurrou e Theo riu, abraçando-a.

   - Tudo bem por aqui? - A voz tranquila e despreocupada de Draco foi como um soco. Porque ele tinha que está tão bem quando eu me sentia horrível por dentro?

   Theo tinha razão, a expressão de Draco era descansada e imperturbável, até feliz, se é que Draco sabia o que era isso. Ele estava sorrindo, mas não era para mim.

   - Bem… eu acho. - Luna respondeu, franzindo o cenho. - E você, como está?

   - Está falando da luta? - Só dele mesmo ter tocado naquele assunto, já era motivo de espanto. Mas ele continuou, calmo. - Foi uma bela surra, eu acho, mas um dia isso tinha que acontecer; não dá para ganhar sempre.

   Silêncio. Ninguém disse uma palavra sequer, surpresos. Draco apenas riu. Eu não podia mais aguentar aquilo. Levantei, pronta para acabar com aquela situação ridícula.

   - Tenho que ir, agora. Provas e… bom, provas para estudar. - Falei rapidamente, me atrapalhando com as palavras. Luna quis protestar, mas fui embora o mais rápido que minhas pernas puderam.

   Depois que já estava longe do campus, eu lembrei que não tinha como ir para casa, a não ser que chamasse um táxi. Suspirei, derrotada, Draco estava acabando com meu raciocínio, qualquer lógica e inteligência que eu tivesse, acabava quando ele aparecia. Passando por uma praça, sentei em um dos bancos, pensando no que fazer. Uma caminhonete preta estava se aproximando, meu corpo entrou em estado de alerta, meus olhos vidrados naquele carro. A caminhonete parou, e em seguida, Draco saiu dela, vindo sentar ao meu lado, como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse fugido de mim no meio da noite. Depois de sentar-se ele sorriu, daquele mesmo jeito que fazia minhas pernas fraquejarem.

   - Porque saiu correndo? - Perguntou ele, afastando meu cabelo do rosto. Bati na sua mão, afastando de mim.

   - Eu que pergunto, Draco Malfoy, porque fugiu da minha cama no meio da noite? - Ele parecia surpreso com minha reação, e eu quis rir, cética.

   - Eu…

   - Sério que você está surpreso em eu não ter gostado disso? - Interrompi. - Eu te busco de madrugada em um bar qualquer naquele estado deplorável que você estava, cuido dos seus ferimentos, você me beija, dorme comigo, e em seguida sai correndo antes que eu acorde; e você está surpreso por eu não ter falado com você? - Despejei tudo que estava sentindo, toda fragilidade e insegurança.

   - Hermione - Ele falou, calmo. - Eu fui embora antes que a Luna acordasse, só isso.

   - Então foi só por isso? - Perguntei, duvidando. Não podia ser por isso, era muito ridículo, até para Draco.

   - Sim, eu pensei que fosse melhor ir antes que a Luna acordasse cheia de perguntas e essas coisas. Não sabia que era importante para você que eu ficasse.

   Eu me sentia uma idiota. Minha insegurança era tanta que eu tinha feito uma confusão por nada.

   - Então porque não atendeu minhas ligações nem respondeu minhas mensagens? - Perguntei, a dúvida ainda rodeando meus pensamentos.

   - Eu não vi. Ontem à noite eu silenciei o celular e não o ouvi chamar ou alertar o dia inteiro hoje, nem peguei nele, esteve no meu bolso. - Constrangida com meu comportamento, eu não sabia o que dizer. Draco se aproximou, e dessa vez eu não o afastei, ele me beijou calma, lentamente, fazendo meu sangue pulsar com toda força e meus ouvidos zumbirem. Sua mão no meu cabelo, seus lábios nos meus, era tudo o que eu pensava.

   - Desculpa. - Falei, sorrindo. - Eu fiquei meio louca depois que acordei e você não estava, me vieram ideias ruins a cabeça.

   - Eu não fugi. - Disse Draco, acariciando meu rosto. - Eu só acho melhor não alarmar todo mundo com… isso que está acontecendo com a gente. Melhor ficar apenas entre nós.

   Franzi a testa, incomodada. Aquilo não me soava bem, não me parecia certo. Na minha cabeça, você escondia coisas quando tinha vergonha delas, e Draco queria me esconder. Mas meus pensamentos confusos se perderam quando Draco voltou a me beijar. Como podia apenas toques me fazerem esquecer até meu nome?

    Eu tive certeza, naquele momento, que estava apaixonada por Draco. Não podia voltar atrás, nem se quisesse. Estava tão assustada com aquilo, sabia que o sentimento não era recíproco, e que eu me machucaria no fim. Mas eu queria tanto salvá-lo daquela armadura de tristeza que parecia envolver Draco, ele não era feliz, eu sentia isso. Queria arrancá-la dele, nem que fosse para usá-la eu mesma, já estava acostumada a decepções, de qualquer forma. Meu desespero em perdê-lo era quase tangível, a cada pensamento ruim, eu o abraçava mais, o beijava mais, queria Draco ainda mais. Eu estava me perdendo nele, já era totalmente de Draco Malfoy, mesmo que ele não soubesse disso.

   - Como pode você ter um cheiro ainda melhor do que eu me lembrava? - Draco sussurrou no meu ouvido. Seus lábios resvalavam por meu pescoço, um arrepio de satisfação subia pelo meu corpo. As poucas vezes em que estivemos juntos, eu experimentara um prazer que para mim era desconhecido até Draco chegar. Nunca entreguei tanto de mim a alguém, e naquele momento, eu era dele. Meus dedos se entrelaçaram nos cabelos claros de Draco, eram tão macios. Seus olhos cinzas me faziam perder a linha de raciocínio todas as vezes em que eu os olhava.

   Aquele momento bom foi interrompido pelo toque do celular de Draco. Suspirando, ele atendeu a ligação, o relaxamento de antes substituído por uma expressão de incômodo.

   - Sim? - Falou ele, soando rude. Eu estava curiosa para saber quem tinha ligado, e o que tinha feito para receber esse tipo de tratamento. - O quê? Não pode mandar alguém me entregar isso em casa? Tenho mesmo que ir aí, Lucius? - Surpresa, percebi que ele falava com o pai. Draco parecia com raiva, falando o nome do pai como se fosse um xingamento. - Está bem, se não tem outra alternativa, eu irei. Sim, sim, tchau. - Ele desligou, bufando resignado.

   - O que houve? - Perguntei, hesitante. Draco não gostava quando eu perguntava sobre sua família, mas a curiosidade já atingia um ponto perigoso em mim.

   - Vou ter que passar na casa da minha família. - Draco respondeu, todo o bom humor anterior tinha desaparecido.

   - Tudo bem. - Falei. - Posso pegar um táxi.

   - O quê? Não, eu vou te levar para casa. Foi por isso que eu vim até aqui. - Respondeu ele, de modo ausente. Logo depois, Draco me olhou com uma cara estranha, o cenho franzido, parecia pensar em algo importante. Depois ele sorriu, apenas uma leve curva nos lábios. - No caminho para sua casa nós passamos na casa do meu pai. Só te peço um favor. Não saia do carro, Hermione. Por favor.

   Seu tom foi tão intenso que eu não pude negar aquele pedido. Apesar de não gostar de ser um segredo, se Draco queria tanto que eu não saísse do carro, eu não sairia.

   Pelo percurso até a casa da família Malfoy, Draco segurava a minha mão. Seus olhos não saíam da estrada, mas as vezes ele apertava minha mão, como se precisasse de apoio. A relação de Draco com a família era uma incógnita para mim, ele amava a mãe, eu já tinha presenciado uma conversa entre eles cheia de carinho e amor. Mas, com o pai, Draco era rude, agressivo, eu estava a cada segundo mais curiosa sobre isso. Resolvi arriscar, se tinha alguma chance que ele me respondesse, eu aproveitaria.

   - Draco. - Chamei suavemente. Ele virou o rosto para mim, curioso. - O que há entre você e seu pai? - Na mesma hora sua expressão mudou. Draco tirou a mão da minha, desviando o olhar.   

   - Nada. - Respondeu, seco.

   - Vocês claramente não se dão bem, porque você não me fala sobre isso? Pode ajudar, se você falar.

   - Hermione, eu não vou falar sobre isso. - Seu tom ríspido deveria ter me feito calar, mas antes que eu pudesse me conter, já estava protestando.

   - Mas, Draco…

   - Mas que droga, Hermione! Eu já falei que não quero falar sobre isso! - Ele exclamou. Sua voz forte me assustou, mas também me irritou. Ele pensava que podia gritar comigo assim?

   - Não precisa ser grosso, idiota! Eu só estava tentando ajudar! - Falei, cruzando os braços. Draco suspirou.

   - Me desculpe, tudo bem? - Disse ele, com a voz mais calma. - Eu só não gosto que me forcem a falar sobre algo, principalmente sobre isso. Só… deixe para lá, ok? Não quero que minha família se envolva em nada na minha vida.

   Sua voz soou tão desesperançosa, tão vulnerável. Eu não sabia o que tinha acontecido, mas parecia muito sério. Engolindo a seco as perguntas, peguei novamente sua mão, acariciando os nós dos seus dedos.

   - Tudo bem. Não vou me meter novamente. - Falei, com a voz mais afetuosa que consegui. Draco sorriu de modo quase imperceptível.

   - Eu quero te ver, hoje a noite. - Disse Draco. Aquelas palavras me fizeram perder o fôlego. Não era eu quem estava propondo, ele tinha, finalmente, tomado a iniciativa.

   - Claro. Podemos ir para sua casa…

   - Não, Theo estará lá. - Ele cortou. Franzi o cenho, ainda incomodada com a ideia de ser escondida. - Podemos ficar na sua, então. Luna estará com Theo, ele me avisou para ficar longe do quarto dele essa noite. - Disse, sorrindo.

   - Tudo bem, então. - Falei, condescendente.

   - Algum problema? - Ele perguntou, notando meu incômodo. Pensei, Draco já me surpreendera de tantas formas naquele dia, porque forçá-lo ainda mais?

   - Não, nenhum. Só estou satisfeita que você queira estar comigo. - Draco parou o carro, se inclinando sobre mim. Segurou meu rosto entre as mãos grandes e beijou a ponta do meu nariz.

   - Você sempre me surpreende, Hermione. É uma garota tão forte e impressionante e inabalável, eu nunca pensaria em você como sendo sensível. E aí, você me fala isso, e eu fico tão ciente de como você é delicada, de certa forma, e meu instinto protetor aflora só para cuidar de você. - Meu coração estava aos saltos. Eu não conseguia tirar o sorriso ridículo do meu rosto depois daquelas palavras de Draco. Ele me beijou, inclinando-se ainda mais sobre mim, ao mesmo tempo que me puxava contra ele. Seu cheiro era tão bom, não só o perfume que ele usava, eu também podia sentir o cheiro da sua pele, cheiro de Draco. Eu adorei.

   Subitamente, Draco se afastou, os olhos presos no que estava a nossa frente.

   - Merda. - Falou. - Fica no carro. - Disse em seguida.

   Quando Draco desceu do carro, foi quando notei onde estávamos. A casa da família Malfoy era enorme e linda. Era dividida em três construções. Uma delas era uma garagem branca, com portões claros, a outra era o que parecia um chalé, com um jardim bem cuidado na frente. Mas a mais bonita, era a casa principal, era enorme, os degraus brancos levavam até uma varanda de aspecto moderno com portas duplas de vidro, uma das paredes do terceiro andar era toda envidraçada. A casa era toda branca com grandes janelas de vidro e persianas, e, em uma das janelas, tinha uma garota olhando fixamente para o carro de Draco. Ele estava na porta, e o vi cumprimentar a mãe com um beijo na testa. Voltei a olhar para a janela, mas não havia mais ninguém lá.

   A mãe de Draco era uma mulher alta, só um pouco mais baixa que o filho, os cabelos um pouco mais escuros que os dele. Ela estava tão feliz enquanto  abraçava Draco, sorria para ele, acariciava o seu rosto. Draco também sorria para a mãe, com um carinho surpreendente. Até eu pude sentir o amor óbvio nos dois, era lindo de presenciar. Então, a mesma garota que estava na janela apareceu na entrada da casa. Ela sorriu e jogou os braços ao redor de Draco. Meu sorriso lentamente murchou. Era evidente que ela gostava dele, e não era uma amizade verdadeira que rolava alí. Senti meu estômago revirar, meu coração parecia querer sair pela boca. Draco também a abraçou, falando algo no ouvido dela. E então, ela apontou para o carro, e todos olharam na minha direção.

   Eu não sabia se estavam me vendo ou não, mas fiquei parada, sentindo minha face esquentar. A mãe de Draco falou algo para ele, e depois acenou para mim, sorrindo. Ela tinha me visto. Eu não sabia como reagir. Acenei de volta, hesitante. Draco não parecia feliz com a situação, estava sério, com o cenho franzido. A Sra. Malfoy vinha até a caminhonete, deixando Draco e a garota surpresos na porta. Receosa com a reação de Draco, abri a porta e saí, esperando que ela chegasse a mim.

   - Olá, querida, é um prazer conhecê-la. - Disse a Sra. Malfoy, me puxando para um abraço. Eu estava mais que surpresa com a amabilidade daquela mulher, que nunca tinha me visto antes, e agora me abraçava com tanto carinho. Sorri timidamente.

   - O prazer é todo meu, Sra. Malfoy.

   - Ah, por favor! - Ela falou, brincalhona. - Sra. Malfoy era minha sogra, me chame de Narcisa.

   - Ok, Narcisa. - Com um sorriso alegre, ela me levou até a porta, onde Draco me encarava impassível.

   - Desculpe os maus modos do meu filho, eu não sei o que aconteceu para ele ser tão mal educado. - Brincou ela. A garota da janela estava segurando o braço de Draco, como se estivesse segurando-o para que eu não o tomasse.

   - Olá. - Disse a garota. Ela era mais linda do que meus piores pesadelos. Era alta, magra, os cabelos pretos e lisos chegavam até os ombros, e o pior, ela combinava perfeitamente com Draco. Eu a odiei.

   - Olá. - Respondi, com um sorriso forçado. A Sra. Malfoy olhou para o filho, como se estivessem se comunicando por olhares. E então, Draco bufou.

   - Hermione, essas são Narcisa, minha mãe, e Astoria, minha prima. Mamãe, Astoria, essa é Hermione. - Disse, mecanicamente. Senti o mesmo incômodo de antes, mas decidi afastar aquilo, pelo menos por enquanto.

   - Que nome bonito, Hermione. - Disse Narcisa. - Uma menina linda com um nome lindo.

   - Sim, verdade, tia. É um prazer conhecê-la, Hermione. - Astoria falou. Ela era tão meiga, eu só tinha vontade de gritar com ela.

   - Obrigada. - Disse, ainda olhando a mão possessiva da garota sobre Draco.

   - Só era isso que ele queria me dar? - Draco perguntou, mostrando alguns papéis na sua mão.

   - Sim, querido. E seu pai falou que era urgente. - Disse Narcisa. - Mas vamos entrar um pouco…

   - Não. - Draco a cortou. - Eu e Hermione temos que ir.

   Draco não esperou por reclamações, soltando o braço da garota, ele segurou minha mão, já se despedindo da mãe.

   - Até logo, Hermione. Volte sempre que quiser. - Narcisa falou, enquanto Draco já me levava para o carro.

   - Até logo! - Gritei de volta.

   Rapidamente, Draco me colocou dentro da caminhonete, deu a volta e entrou, saindo da propriedade antes mesmo que eu falasse qualquer coisa.

   - Meu Deus, Draco, porque essa pressa toda? - Falei. - Você foi rude com a sua mãe.

   - Eu falei para não sair do carro, droga! - Draco reclamou, furioso. Segurava o volante com tanta força que os dedos estavam esbranquiçados. - Falei para você. Porque nunca me ouve?!

   - Eu não sei se você percebeu, mas sua mãe veio me buscar! - Eu não aguentava ouvir alguém falando desse jeito comigo, meu senso de defesa gritava.

   - Isso é culpa da Astoria. Minha mãe não tinha visto você até ela falar.  

   - E daí? O que tem se ela me viu? - Perguntei, provocando. Draco deu uma risada seca.

   - E daí que ela acha que temos algo que na realidade não temos!

   - Tudo bem, Malfoy! Eu posso esclarecer para ela que, na verdade, você não me acha suficiente para ter um relacionamento comigo; que você só quer ‘se divertir’! - Já estava cansada daquele joguinho estúpido.

   - Não é você, Hermione! Eu não tenho namoradas, nenhuma, nunca! Não seria tão egoísta a ponto de arruinar a vida de uma garota, mantendo-a presa a mim de alguma forma. - Falou, e pela primeira vez Draco parecia tão sincero, o que era ainda pior. - Vou te explicar novamente: Eu não vou te fazer bem. Sou problemático, agressivo, volátil e complicado demais para que alguém se mantenha por perto por vontade própria, e não quero deixar ninguém exatamente como eu, tendo um relacionamento com ela. Então perca as esperanças de que vai sair um namoro disso aqui, porque você fugiria de mim correndo quando me conhecesse de verdade.

   - Me leva para casa. - Sussurrei. Não tinha mais forças nem disposição para brigar mais uma vez naquele dia. Estava cansada daquele humor instável de Draco. Uma hora ele estava tranquilo e sorrindo, e de repente mudava, ficava ríspido e agressivo. Eu não queria mais daquilo, só ir para casa. Em silêncio, Draco me levou até lá. Saí do carro, sem nem uma última olhada, e corri para dentro.

   


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Notas finais do capítulo

Comentem o que estão achando!
Até a próxima. Bj.



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