The Grey escrita por Milla Lyra


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

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Já faziam dias desde a briga, e eu não vira Draco desde então. Eu deveria estar feliz com isso, mas não me sentia assim. Theo tinha me pedido desculpas pela sua explosão, apesar de a culpa de tudo ser minha. Por causa da minha estupidez, envolvi Theo e Draco em confusão. Perguntei se alguém da faculdade tinha o procurado para falar algo sobre a briga, mas Theo ficou hesitante, e disse para eu não me preocupar. ‘O Sr. Malfoy resolveu tudo.’ Ele disse, o que me deixou ainda mais curiosa. Luna dissera que Max não voltou a procurá-la, a única coisa boa que veio de todo aquele problema.

   Quando perguntei a Theo sobre Draco, ele só respondeu que ele estava bem, e que um médico da família tinha cuidado dele. Apenas isso. Não era nem perto do bastante para me acalmar. Os olhos sombrios de Draco assombravam o meu sono. Ele era louco, definitivamente perigoso, e eu não deveria me preocupar com ele, mas lá estava eu, pensando em Draco no meio da aula… outra vez. Ao sairmos da sala, Luna caminhava ao meu lado, falava sobre alguma coisa, mas eu não conseguia me focar nas palavras. Minha cabeça girava. As últimas palavras de Draco faziam minha cabeça ferver. Você pode se machucar feio na próxima. Se machucar feio na próxima. Machucar feio na próxima. Eu sabia que aquilo tinha sido um aviso claro da parte dele, eu tinha que me afastar. Mas duas palavras me fizeram esquecer meus planos.

   - Draco voltou! - Luna exclamou do meu lado. Instantaneamente meus olhos fixaram nele. Draco estava sentado no gramado junto com Theo, usava uma camisa azul escura que fazia seus olhos parecerem azuis. Os machucados no rosto tinham quase desaparecido. E ele também olhava para mim. Senti meu coração acelerar, e me xinguei por dentro. Coração estúpido. Nos sentamos com eles. - Sentimos sua falta, Draco. - Luna falou, sorridente. Draco também sorriu para ela.

   - Tenho certeza que sim. - Ele disse. - Mas não se preocupe, estou de volta. - Eu não conseguia tirar os olhos dele, e quando notou, Draco não perdeu a chance de provocar. - Também sentiu minha falta, pessoinha irritante? - Mesmo sem querer, senti o sorriso abrir nos meus lábios.

   - Nem pensar. - Falei.

   - Vamos lá? - Theo perguntou a Luna, e eles se levantaram. - Sinto muito, mas Luna e eu temos planos para hoje. Tentem não se matar, ok?

    - Sinto muito. - Luna cochichou para mim. Eu não queria ficar sozinha com Draco, aquilo era perigoso, e ele mesmo já tinha me alertado. Mas não tinha outra opção. Theo e Luna se foram, e só restamos nós. Um silêncio constrangedor se formou, e eu não sabia como quebrá-lo, e nem sabia se queria fazê-lo. O silêncio é bom, repeti para mim mesma, pelo menos não fica pior do que já está.

   - Então, Hermione… - Draco falou. Ouvir sua voz grave dizendo meu nome fez minha pele pinicar, uma sensação de formigamento que não era de todo ruim. Olhei para ele, e seus olhos estavam em mim, um sorriso provocador nos lábios. - Não sentiu mesmo minha falta?

   - Você sentiu a minha? - Perguntei, e em seguida quis que o tempo voltasse e eu nunca tivesse falado nada. Eu estava indo por um caminho perigoso, que poderia me machucar, e eu poderia sair destruída no fim. Mas, quando eu olhava aquele sorriso torto de Draco, minha razão tirava férias. Draco riu, pegou o celular no bolso e o colocou no chão entre nós, e girava o aparelho com os dedos. Ele parecia ser um pouco agitado, eu nunca o vira completamente parado, estava sempre com os dedos, os braços ou as pernas em movimento.

   - Ficou ao menos preocupada comigo? - Ele perguntou, fugindo deliberadamente da minha pergunta. Eu não podia reclamar da sua fuga, já que tinha feito o mesmo. Uma ideia que eu sabia que era estúpida me veio a cabeça, estava curiosa a respeito de uma coisa em particular, e essa era a oportunidade perfeita para esclarecer minhas dúvidas.

   - Quem deveria se preocupar com você é sua namorada, não eu.

   - Namorada? - Draco perguntou, confuso.

   - Sim, a garota que você encontrou no seu jantar de família. Qual o nome dela mesmo? Amália… America…

   - Astoria. - Ele falou, erguendo a sobrancelha, curioso com minha pergunta.

   - Exato. Nome estranho, mas Draco também não é muito comum. Vocês combinam, pelo menos os nomes incomuns. - Tentei parecer desinteressada, mas não fui muito bem na minha interpretação.

   - Ela não é minha namorada. - Ele disse. Senti um alívio que não tinha o direito de sentir, como se um peso tivesse saindo da minha consciência. Tentei me convencer que o alívio era por não ter saído com alguém comprometido, mas sabia que estava tentando me enganar. - Astoria é minha prima. Quer dizer, já tivemos alguma coisa, no passado, mas não foi nada demais. - Draco parou, olhou para mim franzindo o cenho. Parecia desconcertado por ter falado demais. - Não que isso te interesse, é claro.

   - É claro. - Falei, tentando esconder o sorriso idiota que teimava em querer aparecer. O celular de Draco tocou, vi o nome ‘Lucius’ na tela. Não ‘Pai’, ou ‘Papai’. Draco encerrou a chamada, sem nem hesitar. Olhei para o seu rosto, ele parecia incomodado, exatamente como quando seu pai nos encontrou no restaurante. Ele realmente não gostava do pai, e não escondia isso.

   - Já que você me fez uma pergunta disfarçada de acusação, tenho o direito a uma também. - Draco voltou a falar, o sorriso no seu rosto era forçado demais para convencer. - Você tem namorado?

   - Eu não fiz pergunta nenhuma. Como você mesmo disse, isso não é da minha conta. Mas, eu sou educada, então vou responder. Não, não tenho namorado, não ouviu Luna me constrangendo publicamente por isso? - Draco deu uma risada, do tipo que me fez rir com ele. Estava relaxado, e era a primeira vez que isso acontecia enquanto estava comigo. Eu queria aproveitar aquela trégua entre nós.

   - Eu ouvi, mas queria que você mesma confirmasse.

   - Porque? - Perguntei, incerta do seu tom. Ele sorriu, aquele mesmo tipo de sorriso que poderia ganhar a maioria das garotas que fossem vítimas dele. Apenas uma curva dos lábios, dando um ar de maldade que era tão atraente.

   - Eu falei para você se afastar, mas parece que eu é que não consigo, não é mesmo? - Perguntou, e meu corpo reagiu com o mesmo formigamento bom. Me esforcei para não demostrar o quanto estava gostando daquela conversa.

   - Você não consegue dá uma resposta direta?

   - Não estou sendo enigmático. - Draco disse. - Na verdade, estou tentando me convencer a não fazer o que quero, mas tem sido difícil.

   - E o que você quer? - Meu coração parecia dar pulos frenéticos, era o momento que definiria tudo, bastava só uma resposta. Draco hesitou, por um momento (para mim, longo demais) ele só me observou, como se procurasse algo no meu rosto que lhe dissesse o que fazer. Então o celular dele voltou a tocar, o nome de Lucius aparecendo na tela. Dessa vez, Draco desligou o aparelho, colocando-o de volta no bolso.

   - Tenho que ir. - Ele falou. Levantou, e estendeu a mão para me ajudar. Hesitante e contrariada, segurei sua mão. Elas estavam quentes, convidativas, ásperas e macias ao mesmo tempo. Mesmo depois que levantei, Draco continuou me segurando. - Eu realmente estou tentando me privar do que eu quero, mas tem uma coisa que eu preciso fazer. - Paralisei diante do seu olhar quente, persuasivo. Queria dizer para que ele pegasse o que quisesse de mim, só não me machucasse no fim, eu não aguentaria mais uma rasteira de ninguém, já tinha sofrido o bastante para uma vida inteira. Foi quando parei, o que eu estava fazendo? Era lógico que eu me machucaria se continuasse aquela insensatez com Draco, ele era perigoso, já tinha mostrado isso. Era isso que eu queria? Dar chance a ele para que me magoasse, ferisse meu ego e depois saísse ileso? Eu não faria isso.

    - Você tem que ir. - Falei, desfazendo o contato das nossas mãos. - Quer dizer, você disse que tem que ir.

   Draco entendeu minha deixa, se afastou e se despediu.

   - Até mais, menina irritante. - Ele disse, com um tom brincalhão que não me enganou. Ele também estava tão contrariado quanto eu me sentia.

   - Tchau, Draco. - Falei, e fui embora.

 

— Quando você volta para casa, Hermione? - Foram as primeiras palavras da minha mãe ao telefone. Poderiam ser de uma mãe ansiosa pela volta da filha, mas eu não podia me enganar. Ela queria dinheiro, e comigo longe e tendo de arcar com minhas próprias despesas, não era fácil conseguir dinheiro de mim.

   - Eu não sei, mãe. Acho que só daqui a alguns meses. Você sabe que estou trabalhando e estudando bastante. - Falei. Conversar com Helena Granger sempre me deixava emocionalmente exausta. Ela era como uma força da natureza, se não tinha o que queria, causava a devastação de um tornado, sem se preocupar se estava prejudicando a própria filha no caminho.

   - Ainda não acredito que você foi para outra cidade e me deixou sozinha aqui, sem dinheiro e sem ninguém. É um absurdo. - Disse ela, a voz soando tão indignada que bufei.

   - Mãe, estou cuidando do meu futuro, não numa viagem de férias.

   - Não importa! Você poderia continuar trabalhando na lanchonete daqui, e me ajudando. - Esse era o “futuro perfeito” que minha mãe planejou para mim. Trabalhar em qualquer lugar perto dela, e depositar o dinheiro na sua mão todos os meses.

   - Tudo bem, eu tenho que ir. Até mais, Mãe. - Falei, sem paciência para lidar com ela.

   - Até mais. - E desligou. Sem adeus, ou ‘se cuide’, nada do tipo. Lembrei da mãe de Draco, quando eles conversavam pelo telefone ela me pareceu tão preocupada com o filho. Me esforcei para tirar isso da cabeça, não queria pensar em Draco. Tinha me convencido de que não valia a pena ter qualquer tipo de relação com ele, se o próprio deixara claro que não era bom para mim. Não iria quebrar a cara por pura estupidez e teimosia.  

    Rolei na minha cama, estava estranhamente inquieta e não sabia o motivo. Por fim, levantei e fui em direção a sala, atenta aos ruídos que Luna e Theo faziam de lá, não queria presenciar nada que perturbasse a nós três. Só ouvi risos e o barulho da tv, então achei seguro aparecer. Theo estava sentado no sofá, os pés descalços em cima do pequeno móvel entre ele e a tv, Luna estava deitada com a cabeça sobre as pernas de Theo. Ela estava rindo enquanto ele imitava algum personagem do filme que eles assistiam. Quis parar para observá-los ali, tão tranquilos e parecendo tão apaixonados. Os problemas com Max estavam resolvidos, e os dois estavam mais unidos do que antes. Ao me ver ali em pé, Theo sorriu.

   - Estávamos imaginando quando você se juntaria a nós. - Falou ele. Me aproximei, sentando na poltrona velha de couro marrom que não combinava em nada com o restante da sala.

   - Não queria atrapalhar o que quer que vocês estivessem fazendo antes. - Luna riu. Pude notar a ligação entre os dois, eram como imãs. Se Theo se movesse, Luna automaticamente movia-se também, se adaptando a nova posição dele. Era interessante de se assistir. Interessante e melancólico. Já tinha aceitado que eu não queria aquilo, tinha muitas prioridades acima de um relacionamento. Mas, nos últimos dias, estava começando a duvidar se eu queria abrir mão aquele tipo de relação.

   - É a sua casa, Mione. Prometo que não fizemos nada demais. - Luna falou. - Aliás, Theo tem uma ótima proposta para gente. - Vi Theo ficar desconfortável, como se não gostasse de lembrar da própria ideia.

   - Não coloque a culpa em mim. Só comentei o que Draco me falou, você que se animou ao ponto de não tirar essa ideia da cabeça. - Theo me olhou, tenso e os olhar preocupado. - Quero deixar claro que eu não concordo com isso.

   - Do que vocês estão falando? - Perguntei, confusa com aquela conversa

Seja lá o que fosse, se Theo discordava e Luna estava animada, boa coisa não era. Principalmente se Draco estava envolvido.

   - Vamos à uma luta do Ciclo hoje! - O sorriso escancarado de Luna dava a impressão de que ela estava me convidando para uma festa na Casa Branca, e não em uma reunião de pessoas violentas e perigosas, que poderia acabar em uma desgraça. Theo suspirou, claramente contrariado, e eu concordava com ele.

   - Perdeu a noção do perigo? - Perguntei, boquiaberta com a falta de senso de autopreservação dela. O sorriso de Luna se desfez em uma expressão infeliz.

    - O que tem de errado? - Ela perguntou, a voz suave e persuasiva que sempre usava com Theo.

   - Luna, esse tipo de luta é perigosa! Tem todo tipo de gente violenta, descontrolada, cruel…

   - Hermione, é uma luta de faculdade, não uma disputa entre gangues dentro de um presídio. - Ela não entendia, simplesmente por ser ingênua demais para ver a maldade alheia.

   - Hermione tem razão, amor. Eu vou a todas as lutas de Draco, sei como funcionam. É muita gritaria, pancadaria, sangue… vocês não vão se sentir bem lá. - Theo murmurou, enrolando uma mecha do cabelo da namorada nos dedos. Mas Luna estava irredutível.

   - Se vocês não querem ir, tudo bem. Eu vou sozinha. - Ela falou, a decisão explícita nos olhos. Ela sabia que Theo não a deixaria sozinha, e que tipo de amiga eu seria se a deixasse em um lugar como aquele?

   - Tudo bem, meu amor, eu levo você lá. - Theo suspirou derrotado. Luna sorriu outra vez, feliz com a vitória.

   - Eu não vou te deixar ir sem mim. - Falei.

   - Eu sabia que não. - Luna respondeu, levantou do colo de Theo e se jogou nas minhas pernas, me abraçando.

   - Tem horas que eu tenho vontade de te matar. - Resmunguei, Theo concordou, sorrindo carinhosamente para a garotinha loira de aparência inocente que ele amava.

— Anda, amor!  Vamos nos atrasar! - Theo gritou da sala. Eu estava no quarto de Luna, a observando se desesperar enquanto se arrumava. Ela não tinha ideia do que vestir, mas por fim pegou um jeans azul e uma blusa frente única vermelha. Luna ficava linda de vermelho, parecia uma deusa ou coisa do tipo, sempre me impressionava sua aparência. Eu estava como sempre, nos jeans escuros de sempre, camiseta rosa sem mangas, e all star. Não via necessidade de me arrumar para ver uma disputa ridícula de egos. Meus cabelos estavam soltos, o que já era um avanço, os cachos espessos espalhando-se pelos ombros até o quadril.

   - Vamos lá, acho que não está tão ruim quanto poderia. - Luna murmurou, se encarando no espelho com uma expressão derrotada.

   - Ah, cala a boca. Você está linda,  agora vamos logo antes que Theo invada o quarto.

   O caminho até o campus foi muito curto para que eu me acalmasse. E, por mais que eu escondesse, não era só o fato da luta que me incomodava, eu veria Draco, e estava ansiosa com isso. Como ele me trataria? Como reagiria depois da nossa última conversa? Eu estava nervosa, e, por mais que negasse, queria muito vê-lo, e isso me deixava furiosa.

   A entrada para o local onde o Ciclo maldito se reunia era uma pequena abertura de um tipo de portão de garagem de um prédio desocupado. Theo explicou que eles tentavam não chamar muita atenção, por isso não abria totalmente o portão. Tivemos que nos abaixar e escorregamos para dentro. O lugar estava lotado, homens e mulheres, alunos e desconhecidos, se agrupavam e empurravam no pequeno salão. Theo, Luna e eu fomos para frente, sendo empurrados e com os pés pisados no percurso. No meio, havia um círculo vazio, com certeza era onde a luta aconteceria. Tinha um homem na beira do círculo, falando alto, com notas de dinheiro na mão, propondo apostas. Theo disse que aquele era o “mandachuva” do Ciclo, se chamava Mark. Ele era baixo, mas forte, tinha tatuagens por todo o braço, usava alargadores nas orelhas.

   - Melhor ficarmos por aqui, perto de Mark. Ele sabe que estou com Draco, e se por acaso eu me perder de vocês, ele sabe que deve protegê-las, já avisei a ele. - Theo nos disse. Mas saber que aquele homem com aparência rude cuidaria de nós, não me deixou mais calma. Mark foi até o centro do círculo, e gritou:

   - As apostas estão encerradas! Nosso Homem de Gelo e o seu oponente já estão à postos.

   - Homem de Gelo? - Murmurei, confusa. Theo riu, como se aquilo fosse uma piada particular.

   - É como o Mark chama o Draco. Mas não deixa que ele te escute falando isso, Draco detesta esse apelido.

   - Concordo com ele. - Disse Luna. - Não poderia ser algo melhor? Sei lá, Punhos de Aço, O Invencível… - Theo e eu caímos na risada, enquanto Luna nos encarava séria. - Estou falando sério. - Ela disse, nos fazendo rir ainda mais.

   - O nome dele é Matt, ele vem do Ciclo da faculdade estadual que mais rivaliza com o nosso Ciclo. Tem 1,90 cm de músculos aterrorizantes, até hoje só perdeu uma luta, e prometeu destruir o rostinho bonito do nosso garotão! - Mark gritou. De uma porta lateral saiu um homem enorme e muito largo, os cabelos escuros e lisos iam até o pescoço, e algumas mechas caíam sobre os olhos escuros. Ele era assustador, muito maior e mais forte que Draco, e na mesma hora fiquei em pânico por ele. Matt, o adversário, foi até o meio do círculo, em silêncio, ele exalava prepotência, sua postura deixava claro que ele sabia que ia vencer. Estava sem camisa, só com jeans azuis e botas pretas. Olhei para Theo, desesperada, mas ele parecia calmo, como se não se preocupasse com a integridade do amigo. Minha vontade era de gritar com todos, deixar claro que eram todos loucos cruéis e que eu não deixaria aquele troglodita espancar Draco. Mas percebi que Draco fazia parte daquele grupo de loucos cruéis, e era provável que ele risse de mim.

   - Meu Deus… - Luna sussurrou, estava tão assustada quanto eu, e olhava Matt com medo nos olhos. - Draco vai ficar bem, não vai?

   - Claro que vai. - Theo disse, tranquilo. Eu duvidava muito disso.

   - E agora, o nosso garotão! O Homem de Gelo, desde que descobriu como usar seus punhos mágicos, nunca perdeu uma só luta. Tem mais de 1,85 cm de pura força bruta. E ele disse que essa luta não dura mais do que dez minutos! Será que nosso garoto está confiante? - Mark gritou, o público rugia em apreciação. O chão tremia de tantos pés batendo contra ele. Draco entrou, também só usava jeans surrados e botas pretas, o peito nu era pálido e definido, com pelos loiros escassos e finos que começavam embaixo do umbigo e descia sob o cós da calça. Pela primeira vez, vi uma tatuagem na costela direita, uma linha de palavras que eu não consegui ler de longe. Os cabelos claros de Draco caíam na testa, e ele passou os dedos entre eles, colocando-os para trás. Estava confiante, um sorriso zombeteiro nos lábios, e meu coração pareceu acordar de um coma, batendo com o dobro de força. Os olhos cinzas de Draco procuravam algo pela multidão, até focar em Theo e ele sorrir. Quando viu Luna ao lado do amigo, Draco acenou para ela, até que ele me viu e paralisou. Ele estava chocado com a minha presença, duvidara que eu fosse até lá. Se recompondo, Draco me lançou aquele mesmo sorriso torto que antigamente me irritava e agora me fascinava, e em seguida, voltou sua atenção para o seu oponente.

   - Ele parece tão menor que aquele Matt. - Falei, Luna concordou com um aceno nervoso. Mark foi até eles e falou algo, baixo demais para que nós ouvíssemos. Draco se inclinou para o adversário e murmurou, em seguida sorriu largamente para Matt, que pareceu furioso

   - Ele precisa parar com isso. - Theo disse. Ao ver nossas expressões de confusão, ele esclareceu. - Draco sempre fala alguma gracinha ofensiva para desestabilizar o oponente, mas eu acho que um dia ele vai longe demais. - Eu estava totalmente tensa, nervosa e com medo por Draco. Mark se afastou, e em seguida começou a contagem regressiva.

   - Cinco! - Meus dedos estavam dormentes de tanto apertarem o tecido da minha calça.

    - Quatro! - Um frio assustador subiu pelo meu corpo.

   - Três! - O que eu fazia ali no meio daquela gente?

   - Dois! - Eu tinha a plena consciência de que minhas mãos e pernas tremiam, meu coração aos saltos. Senti Luna segurar minha camiseta, me aproximando mais dela.

   - Um! - E começou.

   Matt e Draco apenas se encaravam, um observando os movimentos do outro, até que Matt se jogou contra o adversário, o punho para cima, pronto para socá-lo. Meu coração pareceu parar, até que vi Draco desviar facilmente, apenas se inclinando e mudando a direção do soco com o braço, ficou com o rosto de Matt próximo do dele, e com um sorriso cruel, Draco cabeceou o nariz do oponente. De onde eu estava, mesmo no barulho infernal, consegui ouvir o ruido horrível da cabeça contra a cartilagem. Meu estômago embrulhou. Matt cambaleou para trás, a mão sobre o nariz ensanguentado, os olhos confusos. Draco avançou contra o rival, com um movimento de pernas ele derrubou Matt no chão com um estrondo, se posicionou em cima dele e desferiu socos contra o rosto do homem caído. Matt ainda tentava agarrar os braços de Draco, mas estava tonto e em clara desvantagem. Temi pelo rapaz no chão, Draco estava descontrolado, batendo contra o rosto dele com uma expressão fria de indiferença. Mark gritou, encerrando a luta, e a multidão rugiu em aprovação. Eu não sabia o que pensar, por um lado estava aliviada por Draco ter saído sem nenhum ferimento, mas por outro, estava aterrorizada com o que ele era capaz de fazer. Aquilo não podia ser normal, não era natural ser tão agressivo. Draco não ficou para se gabar da vitória, logo que a luta encerrou ele saiu novamente pela porta lateral, em silêncio e parecendo tão tranquilo quanto no começo. Era isso o que mais me assustava, o distanciamento que ele tinha enquanto massacrava o adversário, fazia meus pelos eriçarem.

   Theo gritou algo para nós, mas o barulho não me deixou ouvir. Luna segurou minha mão e fomos por onde Draco tinha entrado. Era um longo corredor, na entrada tinha apenas uma cadeira com uma camisa sobre seu encosto, e Draco estava sentado nela. Estava contando um bolo de dinheiro, e quando nos viu, guardou no bolso da calça e levantou com um sorriso.

   - O que achou, loirinha? - Perguntou.

   - Foi assustador! Quero vir outra vez. - Luna parecia maravilhada com o que tinha visto, e eu só queria derramar água gelada no rosto dela para que acordasse daquela insanidade. Draco me olhou atentamente, e depois abriu um pequeno sorriso provocador.

   - Não esperava ver você aqui. - Ele disse.

   - Então estamos quites, eu também não esperava vir. - Falei, tentando não olhar para o seu peito nu. A tinta preta da frase tatuada nas suas costelas se destacava contra sua pele branca. Faire le nécessaire, era o que estava escrito lá. Draco percebeu meu olhar, e não hesitou em falar em voz alta.

   - Faire le nécessaire, faça o necessário. É isso que significa. - Fiquei surpresa com a revelação, e também com seu francês perfeito. Ele pegou a camisa da cadeira e vestiu, em seguida virou-se para nós. - Vamos sair daqui? Estou de saco cheio desse barulho. - Não esperou por uma resposta, segurando minha mão, ele me levou até a saída. Eu estava em choque com o toque despreocupado, não sabia o que pensar sobre isso. Automaticamente, quando sua mão encostou na minha, a sensação de perigo iminente desapareceu. Me senti segura, mesmo no meio de toda aquela gente e do sangue nos nós dos seus dedos, eu sabia que ninguém se meteria comigo, Draco estava ali. Ao escorregarmos sob o portão, vimos uma garota sentada na borda da calçada, vestia um jeans super apertado e uma blusa curta e apertada, os cabelos eram curtos e negros, era linda, e o sorriso que ela lançou a Draco deixou claro que ela não me queria ali.

   - Oi, querido. - Ela falou, se aproximando dele, me ignorando completamente. Olhei para trás a procura de Theo e Luna, mas eles ainda estavam dentro do local, Theo tinha falado que precisava resolver algo com Mark. Eu estava sozinha entre Draco e uma garota, e não queria assistir aquilo.

   - Pansy. - Draco falou, sorrindo de modo simpático. Seja lá quem fosse aquela garota, ela merecia a simpatia dele, diferente do resto do mundo. Senti algo quente e incômodo no meu estômago, um nó na garganta, sabia que era ciúmes.

   - Não vamos comemorar hoje? - Ela perguntou, segurou a camisa de Draco e aproximou o rosto do dele. Puxei minha mão, libertando-a. Queria passar pelos dois e esperar Luna no carro, mas o que eu ouvi me fez parar.

   - Estou com Hermione. Até outro dia, Pansy. - Ele passou por ela e veio na minha direção, pôs o braço ao redor do meu pescoço e continuou a caminhar. O nó na minha garganta foi substituído por uma sensação incomum de prazer, eu me odiava por estar sentindo aquilo. Quando estávamos bem longe de Pansy, Draco falou para mim:

   - Obrigada por ajudar a me livrar da Pansy hoje. Não estava afim do drama dela. - Parecia que eu estava murchando por dentro. Então era isso, eu fui uma boa desculpa para uma rejeição, somente. A raiva (pelo menos esse sentimento eu tolerava) subia pelo meu corpo, fazia meu rosto esquentar. Me afastei bruscamente.

   - Não me use como desculpa para se livrar das suas garotas, idiota arrogante. Quem você pensa que é para achar que eu quero me prestar a esse papel ridículo? Da próxima vez que quiser dar um fora em alguém, seja um homem e diga. - Eu estava frente a frente com Draco, que estava surpreso com minha explosão.

   - Qual é o seu problema? Porque você sempre é uma cretina prepotente comigo? Estou tentando ser amigável com você, por mais que meu instinto natural seja sair correndo a cada vez que eu te vejo. - Corada de raiva e vergonha, espalmei a mão de encontro a seu rosto. Mas não completei a trajetória, Draco segurou meu braço firmemente, me impedindo de estapeá-lo. - Não ouse me bater. - Ele disse, de modo pausado. - Não sou igual a esses caras que acham bonito levar um tapa de graça, não me confunda com um deles. - Virando as costas, Draco foi embora, entrou na sua caminhonete e me deixou sozinha no estacionamento escuro e vazio.

 

Quando Luna, Theo e eu chegamos em casa, eu não me sentia nem um pouco melhor do que no momento em que Draco tinha ido. Me sentia incomodada pelo que ele disse, que estava se esforçando para ser amigável apesar do seu instinto de sair correndo. Eu era assim tão repulsiva? Qual o problema comigo? Dificilmente eu tinha rompantes de baixa auto estima, mas naquele momento eu me sentia mal comigo mesma. Era por esse motivo que eu não me aventurava em romances, não queria me dar conta de que não era o bastante para alguém.

   - Você está bem? Continua com essa cara estranha, como se fosse um balão murcho. - Disse Luna. Estávamos os três sentados no sofá, as pernas esticadas no móvel a frente, assistindo um filme qualquer que eu não prestava atenção alguma. Sorri de modo mais convincente que consegui.

   - Estou ótima, só meio afetada com aquele lugar e aquele sangue. Mas vou ficar bem amanhã. - O celular de Theo tocou. Levando o aparelho à orelha, ele falou:

   - E aí? - Seu cenho franziu, como se tivesse confuso. - Hermione? Sim, ela está bem, porque? - Olhei fixamente para ele, esperando a explicação para ter citado meu nome. - Não, ela está bem, não se preocupe. Ok, tchau.

   - O que tem a Hermione? - Luna perguntou, tão confusa quanto eu.

   - Era Draco. Ele ficou preocupado em ter deixado Hermione sozinha no estacionamento escuro, só ligou para saber se estava tudo bem.

   - Ele não precisa se incomodar comigo, posso me cuidar perfeitamente sozinha. - Falei, soando mais ríspida do que queria. - Vou dormir. - Levantei e fui até o quarto, me jogando na cama.

   Draco era um sujeito estranho e me confundia. Um momento me tratava com uma rispidez absurda, e em outro era doce comigo. Eu tinha a impressão de estar enlouquecendo. Sabia que eu também não era de toda ‘adorável’ com ele, e não tinha o direito de cobrar que Draco fosse agradável comigo, mas eu não queria pensar racionalmente, não naquele momento. Meus pensamentos estavam cheios de Draco desde que eu o conhecera, e aquilo estava passando dos limites do aceitável. Eu tinha me decidido me afastar dele, mas a toda hora pensava em como ele agia ou falava, tentava analisar sua personalidade baseada no seu comportamento. Já tinha perdido as contas das vezes em que tinha sonhado com olhos cinzentos me observando enquanto eu dormia. Aquilo não podia continuar, claramente eu não era o bastante para ele, com minhas roupas simples e corpo desproporcional, eu não chegava aos pés daquela Pansy. A quem eu queria enganar? Draco podia ser grosso e estúpido, mas era lindo, do jeito que mulheres lindas o queriam. E o que ele faria comigo? Me enganaria, me usaria, e depois me largaria. Simples. Eu queria isso?

   Pensar em Draco me deixava inquieta. O que ele estaria fazendo? Será que tinha voltado para buscar Pansy? Aparentemente, ele tinha muitas mulheres na sua vida: Astoria, Pansy, e sei lá quantas outras. Isso me incomodava, mesmo que não devesse. Fui até o espelho de corpo inteiro na porta, me virando de um lado para o outro para observar meu corpo. Muito baixa, busto avantajado demais para os padrões, quadril muito largo, pernas grossas demais… Gorda. Eu não era o que Draco queria. Ele fazia mais o tipo alta, magra, modelo famosa, e eu definitivamente não me encaixava na descrição. Também não adiantava lamentar, não mudaria nada. Bufando de frustração, me joguei na cama, dormindo um sono conturbado.  



   


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam!
Até a próxima. Bj.



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