The Grey escrita por Milla Lyra


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo!
Aproveitem a leitura.



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Viver longe dos pais seria um saco, se você fosse um filho amado e querido em casa. Bom, esse não era o meu caso. Saí de casa aos dezoito anos a caminho de uma boa faculdade, mas não era o que minha mãe queria para mim. Foi uma missão difícil fazê-la aceitar minha mudança, e eu a entendia por um lado. Minha mãe, Helena, era uma mulher sozinha, abandonada pelo marido por uma garota muitos anos mais nova, e sempre dependeu dele financeiramente. Então, para ela, é complicado ficar sozinha. Mas isso seria resolvido se ela me ajudasse nas despesas da casa, talvez trabalhando ela melhoraria um pouco. Helena Granger nunca trabalhou, dependia de uma pensão miserável que meu pai ausente mandava, e dos meus empregos temporários. Manter uma casa com um trabalho de verão e uma pequena pensão era difícil, mas eu não podia obrigá-la a nada. Mas finalmente eu me mudei, uma nova cidade, uma nova vida, pelo menos era o que eu pensava. O problema era que Helena me ligava constantemente, me pedindo dinheiro ou para voltar para casa. Eu não podia fazer isso, finalmente eu estava me sentindo em casa, feliz com minha companheira de apartamento com quem eu morava fazia quatro meses.

   Minha relação com Luna, minha colega de apartamento foi fantástica desde a primeira impressão. Luna era gentil, carinhosa, amigável, fez eu me sentir em casa rapidamente, sempre disponível para conversar. Logo nas primeiras semanas viramos amigas, conversávamos bastante sobre tudo. Ela sabia do meu drama familiar e sempre me ajudava depois das ligações da minha mãe. Eu já amava Luna, e sentia uma imenso senso de proteção a respeito dela.

   Estava tentando estudar, quando Luna irrompeu pela porta do meu quarto, os olhos tão brilhantes que logo desconfiei.

   — Tenho um convite a te fazer. — Ela disse, excitada, ergui a sobrancelha, esperando ela falar. — Theo o eu vamos sair hoje a noite, e ele chamou um amigo para ir conosco, então precisamos de alguém para fazer companhia; e você seria perfeita. —  Olhei bem para Luna, esperando que ela dissesse que era só uma brincadeira, mas ela continuou com os olhos brilhando e esperando minha resposta, ansiosa.

   — De jeito nenhum. Não vou sair com um desconhecido, então nem tenta. — Disse, virando-me para ela.

   — Mas eu vou estar lá! Não custa nada você ir também, tenho certeza de que vai ficar aqui sozinha e estudando, de qualquer jeito. — Luna falou, usando sua melhor expressão de sofrimento. Ela sabia que Theo, o namorado dela, sempre cedia a essa carinha meiga, mas eu não era Theo.

   — Não. Não vou, e pode ir desistindo. — Luna suspirou, derrotada. Abri um sorriso, crente de que ganhei a discussão, até que sua carta na manga foi posta na mesa. — Eu estava contando com você para me apoiar hoje a noite, me ajudar a não estragar tudo com o Theo, como fiz com os outros namorados que tive, e que me largaram. — Ela disse, e sua cara de sofrimento não parece falsa. Luna era sensível quando o assunto era ‘os ex-namorados’, e ela parecia realmente gostar de Theo, e eu falei, quando eles começaram a namorar, que eu a apoiaria. Levei as mãos ao rosto, sentindo a derrota chegando, respirei fundo.

   — Tudo bem, Luna. Mas só essa vez! — Falei alto, para encobrir seus gritinhos de alegria.

   — Você é a melhor amiga que eu poderia ter! Eu juro que só será essa vez, eu realmente preciso de você lá hoje. — Ela disse, quase consegui sentir a animação vindo dela como em ondas.

   - Sim, sim. Você ainda vai me dever muito por isso.



Luna estava nervosa, andando de um lugar para o outro no nosso pequeno apartamento, parando em cada superfície com reflexo para se olhar e passar as mãos pelos cabelos ou roupas. Eu já estava pronta, então esperava sentada no sofá, observando-a surtar.

   — Já falei que está linda, Luna. Parece até que é a primeira vez que vai sair com o Theo.

   — É que eu quero está perfeita para ele, sabe? — Luna disse, me olhando com um sorriso doce. — Ele é tão gentil comigo, e sempre ouve o que estou falando, por mais idiota que o assunto seja, Theo é especial para mim. — Minha boca se escancarou de admiração. Já tinha visto Luna namorando antes, quando a conheci, quatro meses antes, ela namorava um babaca capitão do time de basquete da faculdade, mas nunca tinha visto aquele olhar brilhante e nem o sorriso doce nela antes. Theo devia ser muito especial mesmo. O celular dela tocou, e Luna quase caiu enquanto corria para atender, quando desligou estava com as bochechas coradas. — Theo e Draco chegaram, estão nos esperando lá embaixo.

   — Draco? É esse o nome dele? Que tipo de pessoa coloca o nome do filho de Draco? — Resmunguei, revirando os olhos. Nunca fui de ser simpática quando estava sendo quase forçada a me socializar, então, estava com o humor particularmente ácido aquela noite.

   — Você ainda nem o viu e já está reclamando? — Luna perguntou enquanto chamamos o elevador. Quando chegamos na garagem, o carro prata de Theo estava parado a nossa espera. Nos aproximamos e notei que o banco do carona estava vazio, e um fiapo de esperança de que o tal Draco tivesse desistido encheu meu peito. Mas a porta de trás se abriu, e a esperança foi embora. Luna cumprimentou Theo, beijando-o pela janela do motorista de um modo meio grotesco.

   — Oi, Draco! — Luna exclamou, e escutei uma voz grave vir do banco de trás.

   — Olá, Loirinha. — Era uma voz forte, e com um sotaque bonito e meio arrastado.

   — Olá, Hermione. Que bom que topou sair hoje. — Theo sempre tinha sido simpático comigo, e eu tinha que admitir que gostava dele mais que o Ex-capitão-babaca.

   — Não foi por escolha própria, mas, aqui estou eu. — Disse. Theo riu e a porta de trás do carro se abriu ainda mais. Pernas compridas apareceram, e finalmente, um homem alto desceu, com um sorrisinho que não me agradou nem um pouco.

   — Olá. — O homem, que eu acreditava ser o tal Draco, falou. Ele era bonito, não tinha como negar, mas a primeira coisa que notei nele foi um hematoma roxo entre o queixo e a mandibula. E só com isso, já decidi que ele não devia ser boa pessoa. Pessoas boas não vão para encontros com a cara roxa, querem causar uma boa impressão. Ele estava vestindo uma camisa simples e lisa branca e jeans pretos e calçava uma bota de aparência pesada. Seus cabelos eram ainda mais claros do que os da Luna, e alguns fios caíam na testa.

   — Olá — respondi. — Sou Hermione Granger, prazer. — Estendi a mão e ele a apertou. Era óbvio que estava tentando ser simpático.

   — Draco Malfoy, é um prazer. — Ele disse, com um sorriso que com certeza encantaria qualquer pessoa, mas não a mim. — Você é um pouco formal, não?

   — Sou direta, acredito. — Falei, virando para Theo e Luna. — Vamos lá? Essa noite não precisa durar mais que o necessário.

   — Claro. — Luna murmurou, entrando no carro. Fiquei o mais longe possível, encostada na porta, enquanto o loiro, com uma cara tão desanimada quanto a minha, se encolhia na outra. Theo saiu da garagem feito um louco, correndo pela estrada.

   Minha curiosidade sempre foi uma característica que me fez passar por vários constrangimentos, mas é irresistível, simplesmente não consigo segurar. E naquele momento, eu estava muito curiosa a respeito do hematoma no rosto pálido daquele rapaz, então me virei para ele, corrigindo minha postura para parecer mais confiante do que realmente me sentia.

   — Eu sei que não me interessa, mas o que aconteceu com o seu rosto? — Perguntei. Draco me olhou, parecia espantado com minha pergunta súbita.

  — Eu poderia responder que realmente não é da sua conta. — Ele disse, mau humorado. — Mas hoje estou mais receptivo a perguntas invasivas vindo de completos estranhos, então vou te responder. Me meti em uma briga. — Eu já desconfiava, e ver que eu tinha razão em não ir com a cara dele me deixou satisfeita.

   — Eu desconfiei. — Falei, me virando para frente.

   — Você desaprova? — Pelo canto do olho percebi que Draco me encarava de modo insistente, esperando a resposta.

   — Você realmente não quer saber o que eu penso. — Respondi.

  — Eu perguntei, não? — Seu tom foi ríspido. Olhei para ele, e Draco estava com uma sobrancelha arqueada, e claramente não ficou feliz com minhas palavras. Parecia até com raiva, pelo que parecia, aquele garoto se irritava facilmente. Escutei Theo tossir, desconfortável, mas continuei encarando Draco, se ele achou que me assustaria com seu jeito rude, achou errado.

   — Eu acho que você é o tipo de pessoa que eu não me misturo. Te conheço a alguns minutos, mas já percebi que você é mal humorado, esquentadinho, mal educado, e pelo roxo no seu rosto você não é bom em controlar sua raiva. E agora mesmo está me olhando como se quisesse me matar. — O rosto de Draco estava ruborizado, os lábios contraídos em uma linha, seus olhos faiscavam de raiva.

   — Eu não sou mal educado. — Ele disse, como se isso resolvesse tudo.

   — Claro que não. — Falei, voltando-me para frente outra vez. A tensão no ar era evidente. Theo tossiu outra vez, e perguntou:

   — Então, comida mexicana ou italiana?

   — Italiana. — Falei, no mesmo momento que Draco disse:

  — Mexicana. — Theo arregalou os olhos, e pediu a opinião de Luna, que concordou comigo, piscando o olho na minha direção. Fomos a um pequeno - mas charmoso - restaurante, o clima entre Draco e eu ainda não estava dos melhores. Luna e Theo tentaram manter uma conversa civilizada, mas Draco não colaborou e ainda expressava uma cara de poucos amigos. Entramos no lugar, que era todo decorado em vermelho, verde e branco. Uma recepcionista exageradamente maquiada e com uma saia absurdamente apertada, veio na nossa direção, e nos levou a uma mesa, com os olhos sempre voltados para Draco, que pareceu se animar um pouco com a atenção. Ela nos estregou o menu, e sorriu de modo sugestivo para Draco antes de ir embora. Luna suspirou e balançou a cabeça.

   — É como se estivéssemos com o James Dean, a recepcionista mal olhou na nossa direção. — Ela disse, com um sorriso dirigido a Draco.

   — Se contente com o fato de que pelo menos não é com o Theo. — Draco respondeu, todo cheio de si. Olhei mais atentamente para ele. Draco era bonito, realmente, seria lindo se não fosse tão rabugento, mas, se eu admitisse, diria que ele era bonito até com a cara amarrada e expressão de tédio . Seus olhos cinzentos brilhavam nas poucas vezes em que ele relaxava, os cabelos claros pareciam tão macios quanto algodão, e os lábios - o que mais me chamou atenção - eram tão bem delineados que eu tinha vontade de tocar. Ele notou meu olhar, e me lançou um sorriso sarcástico.

   — Algum problema? — Perguntou.

   — Nenhum. — Respondi, olhando para a mesa. Theo e Luna nos observavam com cautela.

   — Então… — Luna começou, pensando em um assunto. — Draco, tem tido muitas lutas ultimamente? — Franzi o cenho, confusa. Lutas?

   — Tive duas esse mês. — Ele respondeu, mais animado. — Meu rosto já diz como foi a última, não foi das mais memoráveis. — Minha confusão estava cada vez pior.

   — Que mentira! — Theo exclamou, os olhos brilhando de excitação. — Você tinha que vê-lo lutando. Parecia um psicótico ou coisa do tipo. Só parou de destruir a cara do coitado quando eu e Mark tiramos ele de cima. Pensei que ele mataria o pobre infeliz. — Comecei a me lembrar de alguns boatos que tinha escutado desde que cheguei ao campus, de um grupo de delinquentes que se reuniam para lutarem entre si em um porão. Pensava que era mentira, mas aquela conversa estava muito parecida com os boatos. Luna encarava Draco, assustada.

   — Eu realmente te odeio, Theo. — Ele disse, e voltou-se para Luna. parecia preocupado com o que ela pensava a respeito dele, e isso me chocou um pouco. — Não foi bem assim, loirinha. Eu só acho que me empolguei um pouco. Em minha defesa, ele tirou meu sangue. Não foi nem um pouco tão feio quanto Theo falou.— Ele disse, como se isso desculpasse qualquer ato de violência que ele já teve na vida. Era ridículo! Eu já estava de saco cheio daquela noite, e definitivamente não gostava de Draco e seu modo arrogante e metido a machão.

   — Espera aí! —  Exclamei, sem conseguir me segurar nem mais um segundo. — Quer dizer que o maldito Ciclo é real?

   — Sim. Algum problema? — Ele perguntou, me olhando de soslaio. Meu queixo caiu. Sempre pensei que fosse uma estorinha exagerada dos alunos. Mas, se esse Ciclo realmente existisse, esse garoto facilmente irritável estaria metido nele, sem dúvida.

  — Mas é lógico. Como não adivinhei de cara? Você é o típico babaca que acha que violência resolve tudo na vida. — Falei, com uma risada seca. Draco pareceu novamente furioso. Eu tinha certeza de que ele achava que era apenas um menino bonzinho e mal compreendido, e que eu estava o julgando mal. Theo e Luna nos encararam, tensos, e suspiraram aliviados quando um garçom veio anotar os pedidos. Quando o garçom foi embora, eu quase tinha esquecido que Draco ainda estava com raiva, mas ele virou seu corpo na minha direção, os ombros tensos, a sobrancelha arqueada em desdém e parecendo pronto para a briga.

   — Primeiro de tudo: não me chama de babaca. Eu te acho uma coisinha irritante e metida a superior, mas você não me vê falando isso, vê? Segundo; eu não sou um louco violento. E terceiro:  eu não te conheço e você não me conhece, então vou relevar o que você disse por ser um cara legal e tolerante. Viu só? Sou totalmente equilibrado. — Ele disse, com um sorrisinho presunçoso. Falou tudo de uma vez, e lentamente, como se explicasse para uma criança pequena. Eu sempre odiei que falassem assim comigo. Quem ele pensava que era?

   — Eu não sou metida a superior. — resmunguei.

   — Claro que não. — Disse ele, com toda paciência.

    O resto do jantar passou bem longe da palavra ‘agradável’, Theo e Luna puxavam conversa, mas minha cota de tolerância já tinha estourado, e Draco também não estava muito feliz. Depois de algum tempo de um silêncio constrangedor, Theo arquejou do nada, e arregalou os olhos para Draco, quase em pânico.

   — Seu pai, atrás de você. — Theo sussurrou para Draco, que ficou paralisado na hora. Confusa com a reação deles, vi Draco virar-se de costas, os ombros tensos, e eu também me virei para olhar o porquê de tanta comoção. Um senhor de uns quarenta anos, com os cabelos loiros claros e porte alto vinha na nossa direção, com um sorriso suave no rosto de aparência altiva. Ele encostou a mão no ombro de Draco, que se retraiu, como se tivesse levado um choque.

   - Draco, meu filho, que coincidência encontrar você por aqui. Olá, Theodore. - O senhor disse, a voz era sem dúvida mais suave, mas tinha o mesmo sotaque arrastado do filho.

   - Olá, Sr. Lucius. - Theo sussurrou, contido.

   - Pura coincidência. - Draco resmungou. O senhor franziu um pouco o cenho, dirigiu seu olhar para Luna e eu e perguntou:

   - Não vai apresentar suas amigas?

   - Luna, Hermione, esse é Lucius Malfoy. Lucius, essas são Luna e Hermione. - Draco resmungou, com a voz totalmente mecânica. O senhor - que me pareceu ser bem simpático, ao contrário do filho - nos cumprimentou com um aperto de mão, e eu murmurei um ‘Olá, Sr. Malfoy’ meio constrangido pelo comportamento de Draco. ‘Malfoy’, eu tinha a impressão de que já tinha ouvido falar nesse sobrenome antes…

   - Bom, tenho que ir. Vim à uma reunião de trabalho, mas Narcisa já está me esperando em casa. - O Sr. Malfoy disse, tocando levemente na cabeça do filho, que desviou do toque como se o queimasse.

   - Até hoje me pergunto o porquê. - Draco resmungou. Sr. Malfoy,  um pouco constrangido com o filho, se despediu e foi embora.

   Já no caminho para casa, Theo e Luna conversavam animados sobre um assunto qualquer, enquanto eu me esforçava para não olhar para Draco, e ele me ignorava. Finalmente eu tinha lembrado de onde tinha ouvido falar nos Malfoy, e estava pasma de não ter notado antes. A Malfoy’s Hotel Company era uma das redes de hotéis mais famosas do país. Eu deveria saber que Draco era um irresponsável montado na grana, se tivesse que trabalhar para sobreviver, não se meteria com esse maldito Ciclo de delinquentes. Um toque de telefone interrompeu minhas divagações, e Draco puxou um celular do bolso e atendeu, e o mais surpreendente foi o sorriso afável no seu rosto.

   - Olá, mamãe. - Ele disse, e a voz não estava mais ríspida nem grosseira, mas suave. Ele deu uma risada curta e continuou. - Eu também estou com saudades. - Draco falou mais baixo, com um brilho bonito nos olhos cinzentos. Eu estava tentando não olhar, mas ver aquela aura de paz naquele garoto mal humorado era tão inesperado quanto notável. - Claro que vou aí amanhã, eu também estou com saudades de Astoria. - Revirei os olhos, Astoria devia ser a namorada riquinha dele, com certeza. - Eu estou bem, juro, tenho comido bem e dormido bem, eu prometo. - Ele disse, e senti uma pontada de inveja pela mãe dedicada que ele tinha, apesar de claramente não se dar muito bem com o pai. - Eu também te amo. Tchau. - E ele desligou, olhando para o celular e sorrindo. Eu estava boquiaberta com a mudança que essa ligação tinha causado na sua expressão. Ele até parecia… relaxado, jovem, lindo. Lindo? Nada de lindo, bonito já está bom. Ele voltou seu olhar para mim, e o brilho desapareceu em um passe de mágica, assim como o sorriso. - Quer alguma coisa? - Ele perguntou, rude.

   - Só estou surpresa de sua mãe não ter te devolvido para a maternidade quando percebeu seu gênio ruim. - Falei. Theo deu uma gargalhada e Luna colocou a mão na boca pra esconder o sorriso. Satisfeita, olhei para a janela até chegar em casa. Quando enfim chegamos, não hesitei em abrir a porta e sair rapidamente do carro, quando estava fechando, uma mão a segurou. Draco, é claro.

   - Obrigada pela noite maravilhosa e muito agradável, Hermione. - Ele falou, a voz pingando sarcasmo. Sorri falsamente também, e respondi.

   - Obrigada você pelo ótimo papo. - Me despedi de Theo, e quase corri para o elevador. Tudo que mais queria naquele momento era deitar na minha cama e esquecer daquela noite.



— Você deveria sair com alguém, Mione. - Escutei a voz suave de Luna, vindo de trás da minha cabeça. Estávamos na aula, e ela se inclinava na sua cadeira para me dá conselhos amorosos.

   - Não quero, Luna, já falei. Não estou interessada em romances, só terminar a faculdade. - Como se minha mãe já não fosse problema o bastante, eu não ia piorar tudo com um cara qualquer.

   - Não estou falando em namorar, eu concordo que para isso você tem que esperar alguém especial. Mas, pelo menos para se divertir, você tem estado de mau humor desde dois dias atrás depois do jantar com Theo e Draco. - Luna sussurrou de volta, e ela tinha razão. Desde o jantar desastroso, eu tinha estado irritadiça, sempre que via Draco pelo campus, mudava de caminho para não ter que cumprimentá-lo. Eu sabia que era uma criancisse, mas não conseguia me convencer de agir diferente.

    - Eu não estou interessada em ninguém, de qualquer forma, então essa conversa é inútil. -  Luna suspirou e voltou a encostar-se na cadeira, cruzando os braços. Satisfeita por ter vencido aquela discussão, tornei a olhar para o professor. Quando, enfim, a aula acabou, Luna me puxou até o gramado do campus, com certeza Theo a esperava lá, como todos os dias. De longe pude ver os cabelos escuros e o topete espetado de Theo, estava sentado, as pernas esticadas e apoiando-se nos braços. Ao seu lado, vi Draco, o sol deixava seu cabelo um pouco mais dourado, e ele estava sorrindo de modo relaxado. Pelo menos até me vê chegando, seu sorriso se foi, e seus olhos denunciavam que ele se lembrava do jantar tanto quanto eu. Luna sentou ao lado de Theo, beijando-o de uma forma desnecessária demais, eu sentei ao lado dela, constrangida pela demostração de afeto público.

   - Fiquei com saudades durante a aula. - Luna murmurou, beijando o queixo do namorado.

   - Urgh… vocês são nojentos. - Disse Draco. - Não podem ao menos esperar até estar sozinhos? - Theo riu, voltando a beijar a namorada, e piscando o olho para o amigo depois. Fiquei ali, observando aquela amizade mais estranha que eu já tinha visto. Theo era um cara calmo, sempre via o melhor de qualquer situação, era o apaziguador. Já Draco era o garoto mais facilmente irritável que eu já tinha conhecido, e tinha uma personalidade forte e explosiva. Era estranho ver os dois brincando e conversando tranquilamente. O hematoma de Draco já começava a desaparecer, o roxo ficando amarelado. Era tão bruto o que ele fazia naquele Ciclo, trocar socos e chutes com alguém por nenhum motivo além de dinheiro e violência gratuita, eu detestava aquilo.

   - Você não tem medo de se machucar seriamente um dia? - Perguntei a Draco. Ele olhou surpreso na minha direção, franziu o cenho, como se nunca tivesse pensado naquilo.

   - Eu já apanhei bastante no começo. E aí, um dia, eu decidi não apanhar mais. Foi quando eu comecei a bater melhor. Não tenho medo de muita coisa, para falar a verdade.

   - Isso é tão bruto. - Falei. - Se é por dinheiro, então porquê não arruma outro trabalho? Pode se sustentar com um emprego em que não precise surrar alguém. - Ele riu, os olhos brilhando, como se seu ‘trabalho’ atual fosse o melhor que ele poderia imaginar.

   - É o seguinte, menininha curiosa, se eu tenho um dom de lutar, porquê eu o desperdiçaria fazendo qualquer outra coisa? E é até prático, eu faço o que gosto e ainda ganho dinheiro com isso.

   - Seguindo essa ideia, se ele gostasse de sexo, seria um prostituto. - Theo falou, arrancando risadas de todos.

   - Eu gosto de sexo, mas esse eu prefiro fazer de graça. - Draco murmurou com um sorriso que levantava apenas um lado dos lábios.

   - Falando em sexo - Luna disse, os olhos brilhando de malícia. -  Estou tentando convencer Hermione a sair com alguém, você poderia apresentar algum amigo a ela, Draco. - Senti meu rosto esquentar, eu poderia simplesmente morrer de tanta vergonha naquela hora.

   - Luna! - Gritei, mas ela só sorriu e encarou Draco, esperando uma resposta. Draco estava franzindo o cenho, eu tinha certeza que ele soltaria uma piada para me constranger.

   - Ela não é obrigada a ficar com ninguém, se não quiser. - Ele respondeu, para minha total surpresa. Depois abriu um pequeno sorriso e completou. - Além disso, ela nunca gostaria de caras feito eu ou meus amigos.

   - Nisso você tem razão. - Luna falou, suspirando tristemente.

   - Vocês poderiam parar de falar sobre mim como se eu não estivesse presente? Eu não preciso de homem nenhum, e se precisasse não pediria dicas a ninguém. - Soei mais irritada do que pretendia, e os três me olharam assustados com minha explosão.

   - Ok, então… - Luna murmurou.

   - Tenho que ir. - Disse Draco, levantando e alongando o corpo. Quando levantou os braços sua camisa subiu, revelando uma pequena linha de pelos finos e muito claros que desciam do umbigo e entravam no cós do jeans. Desviei o olhar, receosa de ser pega no flagra. - Tenho que ir para o maldito jantar de família. - Ele completou, acenando para Theo.

   - Boa sorte, cara. - Draco se foi, observei seu andar, ele tinha uma postura agressiva, como se tivesse preparado para socar alguém a qualquer momento. A camisa preta que ele usava contrastava com a pele pálida de modo bonito.

    - Theo, o pai do Draco, Sr. Malfoy, é dono da Malfoy’s Hotel Company, não é? - Perguntei, tentando parecer desinteressada. Theo arqueou a sobrancelha e respondeu de modo bem hesitante.

   - É sim. A família do Draco é dona da rede de hotéis, porquê?

   - É que é estranho, ele diz que luta por dinheiro, quando eu não acho que esse seja o real motivo. E ontem ele tratou o pai super mal, mas quando falou com a mãe no telefone, riu e sorriu como não fez a noite inteira. - Theo desconfiou das minhas perguntas e suposições, mas vendo que Luna também olhava para ele com interesse, ele respondeu:

   - Draco e o pai não se dão bem, mas ele ama a mãe. Isso é tudo que vou dizer. Não me meto com a família de Draco, o pai dele me aterroriza, para falar a verdade. Ele parece uma versão britânica do Poderoso Chefão. - Ele disse, com o cenho franzido.

   - Draco sempre parece mal humorado, quando o vemos, mas é uma boa pessoa, percebi isso. - Luna falou, encostando-se mais no namorado.

   - Ele é rabugento e pavio curto, mas é uma das pessoas mais confiáveis que já conheci. Quer dizer, pelo menos com os amigos. - Theo completou, com uma cara estranha. Desconfiei que ele escondia alguma coisa em relação a Draco, que nem Luna sabe, mas que tipo de amigo não esconde segredos?

 

Chegar em casa foi um alívio, tirei o all star e  joguei-os pelo quarto de qualquer jeito, já desabotoando e tirando os jeans justos. Sentei na frente do meu notebook velho e decidi estudar um pouco. Quando Luna bateu na porta e anunciou que já passava da hora de jantar, fiquei surpresa em perceber que não estudei quase nada. Minha cabeça ficava indo na direção de Draco Malfoy, tentando adivinhar seus segredos e o mistério que é sua relação com a família. Lembrei que, no carro, ele falou de uma garota com a mãe, Ângela… Amélia… não conseguia lembrar do nome. Será que é a namorada? Mas como tivemos quase um encontro duplo, eu suspeitava que não, ou então ele a enganava. Ele tinha cara de quem teria a coragem de trair. Pensei, e fiquei espantada comigo mesma. Porque o odiei logo de cara?

   Enquanto fazia sanduíches grelhados, Luna me contava sobre cada conversa que teve com Theo. Eu via que ela realmente gostava dele, falava de Theo com tanto carinho que eu ficava constrangida, como se tivesse presenciando uma coisa íntima demais. De repente, Luna ficou em silêncio. Olhei para ela, e ela parecia hesitante, como se quisesse me contar algo, mas tivesse medo. Finalmente ela falou:

    - Eu quero te contar uma coisa, mas me prometa que não vai surtar. - Senti um frio nervoso no estômago. Luna não era de dramatizar, se ela estava preocupada, com certeza eu também ficaria.

   - Fale.

   - Max tem me procurado esses dias.

   - Luna! - Gritei, antes mesmo que ela terminasse o que dizia. Larguei a espátula na frigideira e olhei para ela, pasma. Max era o ex-namorado-babaca-capitão-do-time-de-basquete  de Luna, era também o cara mais idiota e presunçoso que eu já tivera o desprazer de conhecer. Pouco antes de eu chegar na cidade, Luna namorava com Max já faziam três anos, até que descobriu que ele mantinha um outro relacionamento com mais dez garotas diferentes. Luna ficou arrasada, e só algumas semanas depois que eu cheguei, quando conheceu Theo, ela parecia realmente feliz. - O que ele queria com você?

   - Queria que eu fosse na casa dele, para conversarmos. Eu já disse milhares de vezes que estou namorando Theo, e o amo, mas Max não me escuta. Ele fica dizendo que Theo não precisa saber de nada, e que sabe que eu sinto falta dele. Max até já chegou a tentar me beijar a força, mas eu consegui me livrar dele. - Luna parecia tão inofensiva daquele jeito, os olhos marejados e com medo. Senti uma fúria imensa daquele babaca, Luna era muito inocente para passar por coisas desse tipo, eu ia resolver aquilo.

   - Não se preocupe, eu vou resolver isso. - Falei, Luna fungou e limpou uma lágrima que escapou dos olhos.

   - Eu amo o Theo, Mione. Sério, amo muito. Eu não quero dizer isso a ele e assustá-lo, ele vai fugir de mim. - Ouvir sua voz doce e magoada me partiu o coração. Fui até ela e a abracei, acariciando seu cabelo.

   - Theo também te ama, Luna. Ele iria gostar de saber disso. Vou te ajudar, tudo bem? Vamos contar para Theo, e em seguida, vamos resolver essa situação com Max. - Luna acenou, e sorriu de maneira mais convincente. - Vamos assistir um filme meloso e comer até não aguentarmos mais, é disso que precisamos. - Falei, pegando nossos pratos e puxando Luna até a sala, onde ficamos o resto da noite até cairmos no sono abraçadas.

 

Na manhã seguinte, do trabalho fui direto para o campus. Sentia os efeitos da noite mal dormida por todo o corpo, meu pescoço estava duro por dormir no sofá, e meu humor não estava dos melhores. Luna esperava por mim nos portões, seu rosto mostrava que ela estava preocupada e triste, meu senso de proteção aflorou subitamente.

   — O que aconteceu? Brigou com o Theo? — perguntei, preocupada. Luna fungou e respondeu:

   — Encontrei Max, mais cedo. Estava saindo da aula e ele segurou meu braço e me levou para uma sala vazia. Queria me beijar, mas eu não deixei, e ele ficou com raiva. Eu falei que não quero mais nada com ele, mas Max só riu da minha cara, dizendo que eu sentia saudades dele, e que ele também sentia falta de mim. Então eu dei um tapa na cara dele e saí correndo. — Ela disse tudo de uma vez só. A cada palavra que escutei, meu corpo ficava mais tenso. Minha raiva foi se elevando até ficar intolerável. Isso não ia ficar assim. Quem aquele babaca pensa que é para fazer isso com qualquer garota?

   — Você vai contar isso para o Theo! — Exclamei. Eu mesma queria arrancar a pele daquele idiota, mas tentei me controlar e pensar com racionalidade.

   — Não, Hermione! Não quero que Theo se meta em confusão, principalmente por minha culpa.

   — Sua culpa? Foi aquele ser asqueroso que tentou agarrar você à força! — Luna estava mais nervosa do que antes, então tentei falar mais suavemente e acalmá-la. — Theo vai resolver isso civilizadamente, ele não é o Draco, não vai sair batendo em qualquer um por qualquer coisa. Você não pode deixar por isso mesmo, vai contar ao Theo, e vocês vão no mínimo procurar alguém que possa resolver isso com a polícia.

   — Mas… — Luna tentou procurar algo para argumentar comigo, mas ela sabia que eu tinha razão. Max não iria parar se não fosse obrigado a isso. — Tudo bem. — Ela sussurrou, suspirando.

    — Vamos lá, então. Ele deve está sentado em algum lugar por aqui. Vamos procurá-lo e resolver o que fazer. — Peguei o braço de Luna, puxando-a comigo e procurando pelos cabelos escuros de Theo, possivelmente acompanhado pelos cabelos claros e o corpo gigante de Draco. Encontrei-os sentados na grama, como da outra vez, conversando tranquilamente.

   - Temos que resolver uma situação, Theo. - Falei, olhando fixamente para ele. Era naquele momento que eu testaria seu nível de preocupação com Luna. Se ele realmente a merecesse, ajudaria a pôr um fim naquele problema com Max. Theo nos olhou, surpreso. Draco parecia desconfiado.

   - O que houve? - Theo perguntou.

   - Tem um cara que não para de me incomodar. Mas não quero que você se zangue, Theo. É besteira, mas ele tem me perseguido. — Theo levantou num salto, e olhou para Luna.

   — Quem é ele? — Luna parecia assustada. Aliás, todos ficamos um pouco assustados com a reação de Theo. Ele nunca foi violento, mas naquele momento fiquei pensando se ele faria exatamente o que eu disse a Luna que ele não faria, brigar.

   — Calma, valentão, vai assustar a garota. — Draco disse, parecendo surpreso, mas Theo o fuzilou com o olhar, e por um momento pensei se não seria melhor Draco ficar calado.

   — Qual o nome desse babaca, Luna? É aquele filhinho de papai que tentou te agarrar, não é? — Luna abaixou a cabeça, e eu fiquei alerta na hora. Do quê que eles estavam falando? Max já tinha feito isso mais vezes?

   — Quem tentou te agarrar antes, Luna? — Perguntei, mas Luna não respondeu, ao invés disso Theo falou:

    — Eu não falei nada antes, porque Luna me pediu. Mas esse babaca filho da puta tentou forçá-la a… Eu não consigo nem falar sobre isso que minha cabeça ferve! Foi assim que eu a vi pela primeira vez. Ela estava saindo com ele de uma festa de fraternidade, e eu vi quando eles começaram a brigar. Aquele infeliz queria tocá-la ali mesmo, no meio de um estacionamento escuro! Eu fui lá e ameacei chamar a polícia, então ele foi embora. Eu realmente quis prestar uma queixa, mas Luna me implorou para deixar pra lá. Mas agora não vai ficar assim, eu vou acabar com aquele babaca! — Theo estava realmente furioso. Os olhos faiscavam, a raiva era quase palpável.

   — Luna! — Chamei, os olhos grudados nela. Mas Luna só abaixou a cabeça, parecendo constrangida demais para levantar o olhar. Ela não tinha me contado nada sobre isso, só disse que conheceu Theo quando terminou com Max.

    — Theo? — Draco chamou. Theo olhou para ele, eles pareciam se comunicar pelos olhares, algo que eu já vira acontecendo antes, entre amigos, mas nunca comigo.

   — Eu posso lidar com ele, ok? Sou tão homem quanto você, posso defender minha garota sozinho. — Theo murmurou, e saiu andando com passos furiosos. Draco começou a seguí-lo, eu e Luna logo atrás dele. Luna estava com a mão gelada apertando meu braço. Theo foi direto para o refeitório, passou pelas portas duplas como um furacão, e foi direto para a mesa onde um bando de jogadores do time de Basquete estavam sentados. Quando chegou até lá, ele pegou o colarinho da camisa de Max, que era bem  mais alto do que ele, e o levantou da cadeira. Theo e o babaca ficaram frente a frente, os narizes quase se tocando. Draco pegou minha mão e puxou para trás do seu corpo, e comecei a temer o pior.

   — Escuta aqui, seu infeliz pretensioso, você vai deixar minha namorada em paz, ou eu vou direto para a delegacia e vou te meter em problemas. Você me entendeu? — Falou Theo, olhando fixamente para o homem a sua frente.

   — E porque já não fez isso? Precisa da minha autorização? Vai ver sua namorada ainda gosta de mim e te pediu para não fazer nada. Foi exatamente isso, não foi? — Luna soltou um murmúrio baixo do meu lado. E o que aconteceu depois foi muito rápido. Theo deu um soco em Max, mas Theo era visivelmente menor e mais magro que ele. Max o agarrou pela camisa e o empurrou em cima da mesa, o arrastando por quase toda a superfície e jogando-o no chão. Luna gritava atrás de mim, e eu gritei para Draco fazer alguma coisa, para que ele separasse os dois. Os funcionários sabiam que o melhor era não se meter nesse tipo de confusão. E um pensamento sem sentido passou na minha cabeça, se Theo fosse pego brigando, acabaria sendo expulso. Draco pareceu até ouvir meus pensamentos, porque foi como se ele saisse de um transe. Com Theo ainda caído no chão, Draco partiu para cima do idiota que estava indo na direção de Theo. Max viu a aproximação de Draco, e virou-se para ele, já se preparando para dar o primeiro golpe.

      O primeiro soco que Draco acertou o deixou zonzo, e ele se aproveitou disso para dar mais dois seguidos. Quando Draco levantou o punho para o próximo soco, Max o agarrou pela barriga e o jogou no chão, ficando em cima de Draco, colocando o joelho sobre o abdômen dele. Draco fez uma careta de dor, o joelho de Max pressionando com força sua barriga para o chão. Quase consegui sentir a pancada certeira que Max deu no olho de dele, e por um momento Draco ficou atordoado; vi mais um golpe de Max na mandíbula de Draco e notei que tinha sangue na sua boca. Draco levantou o joelho com toda força, atingindo Max na virilha, ele se inclinou, colocando a mão sobre o saco e Draco bateu o cotovelo em sua têmpora com força, Max caiu para o lado. Eu ouvia os gritos ao nosso redor, enquanto Draco, com uma expressão aterrorizante, montou em cima Max e acertava os punhos em ambos os lados da sua cabeça repetidamente. Max parecia estar tonto, tentava tirar o loiro de cima, mas não sabia como. As mãos de Draco sangravam tanto quanto o nariz, o supercílio e os lábios de Max. Mas ele não parecia sentir dor, só uma raiva que me deixou com a pele formigando de medo, e que o fez bater mais, com mais força, com mais entusiasmo. Comecei a gritar, desesperada, temendo que Draco matasse Max, corri até os dois, o medo de me meter entre dois homens grandes era menor do que o medo que senti de Draco matá-lo naquele momento, puxei a camisa dele atrás, rasgando-a.

   — PARA, DRACO! — Gritei, com toda força que consegui. Ele parou e olhou para trás, atordoado. Ainda estava segurando a camisa rasgada dele, quando Theo apareceu e tentou tirá-lo de cima de Max. Eu estava com medo, mas não de Draco (por mais que essa seria uma reação normal), e sim da raiva e violência que ele guardava dentro de si, isso não podia fazer bem, não só a ele, mas para quem o cercava também. E uma fúria insana começou a crescer dentro de mim. Ele tinha perdido a cabeça? Poderia ter matado Max e de certa forma, eu seria a culpada disso. Eu que gritei para ele fazer algo, eu que contei tudo para Theo. O que deu em mim?

   Draco olhou para baixo e viu Max com o rosto todo inchado, mas consciente. Ele levantou, puxando a camisa das minhas mãos e saiu do refeitório com passos fortes. Corri atrás dele, decidida a gritar o quão descontrolado ele era. Draco andava muito rápido, e minhas pernas estupidamente curtas só o alcançaram quando ele chegou até a sua caminhonete. Ele abriu a porta, e eu o empurrei pelo ombro, virando-o e o pressionando contra a caminhonete. Draco parecia surpreso por eu tê-lo seguido. E eu estava com tanta raiva por ele ter me feito sentir medo, que tudo que eu queria é gritar com ele. Eu odiava sentir medo, não suportava a sensação de fragilidade que acompanha esse sentimento, e naquele refeitório eu quase pude sentir o cheiro da desgraça prestes a acontecer, o cheiro de sangue. Eu não tinha nascido para ser frágil, a vida que eu tivera me forçara a ser forte, e não ia ser Draco e nem ninguém que me faria fraquejar.

   - O que deu em você?! - Gritei, batendo no seu peito. - Poderia ter matado Max, seu maníaco descontrolado! - Os olhos de Draco ainda estavam com a mesma expressão insana, mas me forcei a não temer.

   - Preferia que Theo apanhasse ou fosse expulso, porra?! - Draco gritou de volta, segurando meus pulsos. - Não pedi para você me tirar de cima de ninguém, e nem para vir atrás de mim! Nem te conheço, garota, para de se meter comigo!

   — Sabe de uma coisa? Você é o psicopata com problemas de comportamento mais babaca que eu já vi!

   — Tenho certeza que você nunca conheceu nenhum para ter a porra de um parâmetro, amor, já que você foge dos tipos mal humorados como eu, como você mesma disse. — Era incrível como seus olhos acinzentados brilhavam quando estava com raiva, e eu não deveria ter notado aquilo no meio de uma discussão. Provavelmente ninguém nunca tinha o enfrentado como eu estava fazendo, principalmente uma mulher. Mas se ele achava que berros me assustavam, tinha se enganado feio, a cada grito dele, eu gritava ainda mais alto. — Porque você ainda não fugiu de mim, então? — ele perguntou, mais baixo, olhando pra mim. - Porquê veio atrás de mim? -  Hesitei um pouco, procurando uma resposta. A verdade era que estava curiosa com o mistério que ele era, mas eu não podia admitir isso nem para mim mesma, e falar isso assim, me faria parecer louca. Abri e fechei a boca uma par de vezes, e finalmente respondi.

   — Eu não sei. Eu não deveria, mas… eu não sei porque vim. — me dei conta que estava à com centímetros dele, o corpo de Draco quase colado no meu, o meu peito subindo e descendo numa respiração rápida. Ele também percebeu a proximidade, e se afastou subitamente.

   - Tenho que ir. - Ele disse, entrando na caminhonete, fechou a porta e voltou a olhar para mim. - Não volte a se meter em uma briga minha, pode se machucar feio na próxima. - E foi embora, me deixando totalmente consternada e confusa no estacionamento.





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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal. Primeiro quero dizer que os capítulos vão sair conforme eu vou escrevendo, e como são bem grandes, talvez demore um pouco, mas não vou desistir, ok?
Espero que estejam gostando da fic, comentem o que acharam.
Até a próxima. Bj.



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