17:58 PM – Monte Olimpo.

Calcei meus sapatos mocassim e fui em direção ao espelho dar uma última ajeitada no meu cabelo, constatando o óbvio: eu estava maravilhosamente gostoso. O meu jeans, acompanhado de uma camiseta branca e um blazer preto concordavam fielmente comigo. Me concentrei, imaginando uma rua qualquer e... Nada. Me concentrei mais uma vez, só que nada aconteceu. De novo. Era como se uma força maior estivesse me prendendo bem ali...

— Pai...— bufei.

Saí irritado do meu templo, caminhando em passos apressados até o Olimpo a procura de Zeus. Subi as escadas do templo de dois em dois degraus, parando subitamente quando passei pela porta central. Porque as ninfas estavam correndo de lá pra cá? Dei uma pequena checada, percebendo que duas delas estavam decorando a entrada com vasos de jacinto. Outras três empurravam um sofá sabe-se lá para onde e uma outra saia dando ordens, escrevendo ou conferindo algo em seu bloquinho de minuto a minuto.

— Calminha ai... – mandei, ao perceber o que elas estavam fazendo: redecorando. – O que vocês pensam que estão fazendo? Quem mandou mudar o sofá de posição e... CADÊ O MEU MARADIVOSO QUADRO QUE ESTAVA BEM ALI? – gritei, o que confesso, foi meio gay.

Elas pararam subitamente amedrontadas e se juntaram, fazendo uma reverência todas ao mesmo tempo.

— F-foi A-Afrodite, se-senhor Febo-bo. – gaguejou a ninfa dos bloquinhos.

— Por que? – perguntei mortalmente.

— É-é para a chegada das selecionadas, senhor.

Me virei furioso partindo como um raio – não literalmente, é claro – até a sala do trono, encontrando a pessoa que tanto procurava. Zeus. Ele e Dite estavam aparentemente conversando, e eu, sorrateiro que sou, escutei algumas falas, como “carpetes vermelhos”, “decoração neutra” e “cortinas que não tem o tom adequado”.

Eu queria chegar gritando com Zeus, mas fiquei ali parado, imóvel, apenas os ouvindo, atônito. Eles estavam fazendo planejamentos! Papai nunca havia feito nenhum planejamento em seus longos milênios de vida, pelo que me recordava. Aquilo seria algo irreal, se eu não estivesse lá presenciando tudo - infelizmente.

— Ah Apolo... – disse Zeus, virando-se para mim. – Já sei até o que vai fazer. Terá uma de suas enormes crises existências por eu não o ter deixado sair. Acertei?

— Eu não tenho crises existências. – foi a primeira coisa que pensei (e soltei).

— Tenho que descordar de você filho. Ainda me lembro da sua última crise. Foi quando mesmo?... – ele colocou uma mão no queixo, fingindo pensar. – Ah sim, ainda nessa semana, quando anunciei que você iria se casar. – concluiu com voz dura.

Ele deu um de seus insuportáveis sorrisinhos, o que me deixou brevemente sem fala. Só fiquei olhando dele para Dite e de Dite para ele, enquanto pensava que isso não estava realmente acontecendo. Meus olhos começaram a marejar num ato totalmente infantil, e logo desviei o olhar para eles não perceberam. Tarde demais.

— Ownt, meu querido! – Dite me abraçou de lado. – Não fiquei assim não, meu solzinho!

Olhei para ela com uma expressão de total desespero, o que a fez me dar um sorriso solidário.

— As coisas estão indo rápidas de mais, não estão?

Assenti com a cabeça, fazendo um biquinho, com uma criança que acaba de se perder dos pais em um supermercado, e não sabe o que fazer. Ela puxou minha cabeça de encontro ao seu peito, de modo que minhas bochechas encostavam em seus seios e ficou dando palmadinhas em meu cabelo, com se eu fosse mesmo uma criança que se perdeu dos pais. Zeus revirou os olhos, enquanto eu fazia uma careta.

— Ele já é adulto Afrodite, tem que saber lidar com as consequências de seus atos! Além do mais... Tire esse bico da cara Apolo, você tem milhões de anos! – exclamou enfurecido, enquanto ouvíamos um barulho de um raio.

Desfiz meu bico, semicerrando os olhos irritado e abraçando a cintura de Dite, enquanto erguia cabeça, pronto para confronta-lo.

— Exatamente pai, eu tenho milhões de anos e em todo esse tempo eu fiquei muito bem sem esposa! – fiz um muxoxo. – Eu não preciso disso pai...

— Ah querido, - Afrodite interveio. – todos precisamos de amor!

— Eu posso ter isso sem me casar. – contrapus.

Ela negou.

— Não estou falando dos amores passageiros que você tem. Estou falando de amor eterno.

— Isso não existe!

— Claro que existe! Veja só eu e A... Hefesto.

— Você ia dizer Ares. – constatei o óbvio, revirando os olhos.

— Isso não é verd...

— Tudo bem Afrodite. – a interrompi. – Todos já estão cansados de saber de seus inúmeros casos.

Ela corou me soltando imediatamente, enquanto seu lábio começava a tremer.

Era só o que me faltava! Ironizei mentalmente. A deusa do amor chorar porque eu joguei em sua cara que ela não é fiel.

— Seu pai tem razão. – disse afinal.

Eu arqueei a sobrancelha, como se dissesse “sério?” totalmente entediado. Foi ai que ela entrou na sala.

— Não, o papai não tem razão Dite.

Sorri agradecido pela intervenção da minha adora irmã. Finalmente alguém que pensava como eu!

— Isso é um completo absurdo! – completou ela, olhando para os dois furiosas. Então, sabe quando eu disse “minha adorada irmã”? Esquece. – Garotas não devem se curvar assim por um homem, ainda mais esse homem for Apolo! – apontou acusadoramente para mim.

Parei de sorrir, a fitando irritado.

— Querida. – Dite revirou os olhos para Ártemis. – Não comece. Daqui a pouco vai estar nos chamando de machistas.

— Mas vocês são machistas!

Afrodite suspirou, chamando Zeus para irem conversar em outro lugar, longe de nós. Logo após saírem, me virei para Ártemis, meus olhos reluzindo em fúria.

— Irmãzinha, a última coisa que eu sou é machista, capiche?

Ela revirou os olhos, me fuzilando com o olhar.

— Você é o pior de todos! – acusou. – Todas as mulheres que se relacionaram a você tiveram um fim trágico! Dafne, Ciparisso... – começou a listar.

—Isso foi na antiguidade. – me defendi. – E a minha esposa será uma deusa! Não terá fim trágico nenhum!

— Será mesmo? – indagou fingindo pensar. –Ter que competir por você com outras trinta e quatro garotas tendo o risco de morrer me parece um fim trágico sim! As mulheres precisam se valorizar e não ficar brigando por motivos tão tolos quanto homens!

Suspirei. Já estava acostumado com seus discursos.

— Não quando esse homem sou eu.

Ela apertou os olhos e bufou.

— Quer uma novidade irmãozinho? – ironizou. – Nem todas as garotas querem dar pra você!

Ela simplesmente me deu as costas e saiu pisando duro.

— Ei! – chamei sem obter respostas. – Ártemis! Ártemis!