Capítulo betado pela Boobie (London Designs)

04:59 AM – Acampamento Meio-sangue, chalé de Afrodite.

Vozes.

“Cammy”.

“Camille”.

Muitas vozes.

“Sabia que você voltaria querida.”

“Você sempre volta....”

“On-onde estou?”

Risos...

“Você sabe querida...”

“Sempre soube”.

“Nã-não... Eu não estou aqui... Eu não posso estar aqui...”

Mais risadas sarcásticas...

“E porque não, fofa?”

“Você nunca deveria ter saído daqui...”

“Deveria estar nos fazendo companhia...”

Vozes. Vozes. Muitas vozes. Pedidos... Risadas.

“Cammy...”

“Camille...”

“Cammy Dousseau...”

“Volte pra nós Camille”

“Isso, volte para nós...”

“Sentimos tanta sua falta...”

“Camille...”

“Cammy...”

— Cammy?

Abri os olhos, pulando da cama sobressaltada. Senti o suor escorrer por minha testa. Estava soando frio.

— Calma — Piper colocou uma mão no meu ombro — pesadelo?

— Pesadelo.

Chacoalhei a cabeça, tentando tirar aquelas vozes do meu pensamento e percebi através da janela que ainda estava escuro lá fora.

— Que horas são?

— Cinco.

Com pesar, fui lembrando dos acontecimentos de ontem à noite. Eu havia saído das arquibancadas tão raivosamente, xingando Afrodite e o mundo, que nem percebi que tinha adentrado a floresta. Quando me cansei de andar sentei em um tronco de árvore qualquer, e meus pensamentos começaram a vagar em minha vida até aquele presente momento. O Acampamento Meio-Sangue, e o Acampamento Júpiter... As lembranças foram apenas aparecendo em uma ordem descoordenada na minha cabeça. Fiquei refletindo tanto sobre o assunto que só voltei para o chalé as duas da madrugada, sendo quase pega e comida (literalmente) pelas harpias da limpeza.

Voltei para o presente.

— Piper, porque diabos você me acordou às cinco horas da manhã de um sábado? Você fumou alguma flor de lótus por acaso?!

— Não — ela deu uma risada baixa — Só achei que você iria querer acordar e se arrumar para conhecer o seu noivo gostosão que está esperando sua chegada lá no Monte Olimpo.

Soltei um palavrão, apertando os olhos. Estava prestes a revidar quando percebi que isso não iria adiantar em nada. Talvez um bumbum queimado... fiz uma careta. Com certeza eu não estou querendo levar uma trovoada de Zeus. Não agora, pelo menos.

— Você arruma minhas coisas — ordenei enquanto me levantava indo em direção ao banheiro — e eu me arrumo.

Ela ficou apenas me encarando enquanto eu entrava no banheiro. Tomei um banho rápido, já que já havia lavado meus cabelos ontem, fiz minhas higienes matinais, penteei o cabelo, embora não precisasse, e voltei para a minha cama em passos largos.

Piper estava colocando as últimas peças de roupa do baú em minha mala, fazendo caretas quando via alguma roupa muito amarrotada enquanto as dobrava adequadamente.

A mala pequena e trancada estava bem separada no canto, intocável. Agradeci mentalmente a Piper por isso, já que ela era uma das poucas dali que não fazia questão de ser intrometida na vida dos outros, diferente da maioria dos ocupantes do chalé que estavam dormindo no presente momento.

Peguei minhas roupas, vestindo rapidamente minha jardineira longa, meu top cinza da Nike e calçando minha bota preta. Também coloquei uma jaqueta e cachecol cinza por causa do frio, e passei alguns produtos na minha cara pra “não parecer um zumbi” – palavras de Piper.

Ajudei Piper a terminar de entulhar minhas coisas na mala e peguei a menor na mão.

— Boa sorte! — desejou me dando um abraço. — Não se esqueça de me convidar pro casamento viu? Vou adorar ver você de noiva. Aliás, quero se a madrin...

— Vai cagar Piper — comecei a puxar minha mala de rodinhas.

— Também te amo! — gritou, acenando do chalé, enquanto eu andava até a entrada do acampamento.

Emily estava me esperando na Colina Meio-Sangue, e deu um suspiro ao me ver.

Aparentemente as outras semideusas do acampamento já tinham ido, só ficou ela me esperando.

— Você deu sorte — disse ela — Só tinha sobrado uma carruagem, que eu, sendo a amiga perfeita que sou, guardei para nós.

— Ótimo — comemorei — Pelo menos assim não teremos que suportar as outras garotas, seremos só nos duas!

Enquanto um sátiro nos ajudava com as malas, olhei ao redor, encontrando um drone nos filmando. Rolei os olhos, enquanto sussurrava um “Sorria, você está sendo filmado!” pra mim mesma. Franzi as sobrancelhas, ao olhar pra carruagem e logo depois para os pégasus, chegando à conclusão que iriamos voando até o Monte Olimpo. Como, eu não sei.

Eu e Emy subimos na carruagem, nos sentando lá dentro. Ela era bem aconchegante, com carpete vermelho felpudo, assentos acolchoados e janelas com cortinas de veludo.

— Cammy... — Emily me chamou, o que me fez parar de olhar a paisagem e me concentrar nela — Pode não parecer, mas... eu estou feliz por ter você aqui comigo nessa seleção idiota — me voltei para ela.

— O que você disse?

— Disse que estou feliz com a sua companhia.

— Não essa parte. A outra.

— Que outra? — se fez de desentendida.

— A parte em que você disse “seleção idiota”. — rapidamente ela olhou para baixo, ajeitando sua postura desconfortavelmente.

— Ah — ela riu — Você deve ter escutado errado. Eu disse seleção maravilhosa, não seleção idiota — revirou os olhos, como se o que eu disse fosse completamente retardado.

Voltei a fitar a janela, ainda mais desconfiada. O comportamento de Emily estava estranho. Eu nem a reconhecia mais em alguns aspectos.

— Emy... — comecei cautelosa — Você sabe que pode me contar qualquer coisa não é? Somos melhores amig...

— Não está na hora de você fazer a aplicação? – me cortou.

Nossa. Aquilo tinha doído. Mesmo.

Suspirei assentindo, enquanto pegava a mala menor.

***

Quando chegamos no Monte Olimpo, logo após o cocheiro nos ajudar a descer da carruagem e ir dar água aos pégasus, fomos recebidos pela TV Hefesto.

Atravessamos todo o caminho em cima de um tapete felpudo vermelho, enquanto tirávamos fotos ou dávamos autógrafos para as ninfas e sátiros que pediam, do outro lado da grade.

Depois de cinquenta minutos fazendo o percurso que normalmente faríamos em dez, finalmente chegamos a entrada principal. Meus olhos já estavam lacrimejando de tantos flash’s que o atingiram, minhas mãos já estavam doendo de tanto assinar meu nome e eu já estava morrendo de fome.

Tully, uma ninfa muito agradável, se apresentou, enquanto íamos em direção ao imenso pátio. Ela nos levou até os nossos quartos, parando no de Emily primeiro, e depois no meu, com um aviso de que não poderíamos sair do quarto em hipótese alguma, e que logo trariam algo para eu comer.

Quando finalmente fiquei sozinha, resolvi checar o quarto, que descobri ser uma suíte. Tinha cozinha, banheiro, sala, escritório e quarto. Não pensei muito nisso - mesmo sabendo que com certeza absoluta mudaria aquela decoração monótona -, me jogando na cama.

Estava quase pegando no sono quando um cheiro inconfundível pairou pelo quarto.

— O que você quer aqui? — perguntei sem me dar o trabalho de levantar — Pensei que soubesse que eu não queria falar com você. Vai embora.

— Não fale assim comigo mocinha — Afrodite repreendeu — Mesmo que não goste...

— E eu não gosto.

— Eu sou sua mãe — completou em um tom decepcionado, mas logo voltou a sua postura fodona de antes — Nós não temos muito tempo, se Zeus descobrir que eu estou falando com você, ele vai confiscar minhas maquiagens de novo.

— Que trágico —  ironizei.

— E sem ironias também! — decretou.

Calmamente me sentei, escorando minhas costas na cabeceira da cama, e passei a fitar mamãe com raiva. Afrodite me imitou, se sentando perto de mim, e eu consecutivamente fiz questão de me afastar, ficando no meio da cama. Ela apenas suspirou.

— Sei o que está pensando, mas tudo que faço é para o seu bem.

— Ah, conta outra! — bufei.

— Escute primeiro, julgue depois. Filha... — começou com a voz mais suave — você se casar com Apolo foi a melhor maneira de te salvar, até resolvermos isso tudo. E acredite, ele não é tão ruim assim.

— Está de brincadeira comigo mãe?! — afirmei cética.

— Não querida, não. Eu nunca brincaria com uma coisa séria dessas, você sabe muito bem disso. O que estou querendo dizer é que você ainda não o conhece. Apolo é sim, narcisista e vingativo, mas no fundo, bem lá no fundo mesmo, ele é uma boa pessoa. Você verá! É um dos melhores olimpianos — afirmou — Carinhoso, engraçado, gostoso...

— Já acabou? Eu estou com sono.

Ela suspirou novamente, rolando os olhos.

— Você sabe como me chamar, caso queira falar comigo. E não se esqueça querida, eu amo você — se inclinou, beijando a minha testa e logo evaporou em uma nuvem rosa, sobrando apenas seu perfume doce.