John Wolfram parou em sua caminhada e olhou par trás, na direção de seus dois filhos. Os meninos pareciam cansados da viagem. O menor dos garotos sentou no chão.

─Quando chegaremos, papai? ─O outro garoto indagou ao pai, juntando-se depois ao irmão.

─Certo, faremos uma pausa aqui. ─Disse.

Ele olhou novamente para seus filhos. Sebastian, com dez anos, e Solomon,com apenas seis. Aquelas crianças eram tudo que lhe restava em vida. Perdera a esposa anos antes, e criara sozinho os garotos. Observou Solomon, seu filho favorito, massageando os pezinhos doloridos. Sebastian, no entanto, via com ciúme o olhar do pai. Prontamente ele ficou de pé.

─Já posso continuar, papai.

─Ótimo, ajude seu irmão e seguiremos viagem...

Mesmo não contente Sebastian obedeceu e caminhou aos arrancos com Solomon. Depois de quase uma hora, chegaram a uma clareira no meio da floresta. De onde estavam, via-se perfeitamente o céu escurecendo ao longe.

─Não deveríamos estar aqui. ─Exigiu Sebastian. ─Esta é a floresta maldita!

─Apenas para aqueles que não a conhecem. Vamos, ajude-me com a fogueira...

Tempos depois, o calor aquecia o trio enquanto a noite avançava mais e mais. solomon não tirava os olhos do céu, impressionado com o tamanho da lua. Estava alheio à família, até John chamar sua atenção. Ele correu para se sentar ao lado do irmão mais velho, seu precioso irmão.

─Séculos atrás, um velho homem chamado Magnus chegou a estas terras. Algum dia ouvirão falar neste homem e espero que o temam. Eu fui tolo demais e não posso voltar atrás em mim, entretanto, espero que não cometam o mesmo erro.

Sebastian ergueu a mão.

─O que este homem tem de tão ruim que devemos temê-lo?

─Poder...                                                           

Sebastian parou nas portas de sua casa, esperando o irmão. Quando Solomon conseguiu alcançá-lo, ele apenas o encarou antes de empurrar aporta. Ela abriu com um rangido e lhes deu passagem. Via-se corpos espalhados, e poças de sangue. Os moveis estavam derrubados, mas sem sinal de Elizabeth, ou dos Fenrir.

─Não há ninguém. ─Disse Solomon. ─Chegamos tarde.

Aquelas foram suas ultimas palavras como o mundo ficou escuro.

*****

Elizabeth abriu os olhos e sentia a cabeça explodir. Tentou mexer os braços e se viu acorrentada. Ela então se lembrou da traição de seu marido. Esteve ao lado de Sebastian todos esses anos e para nada. Ela tentou mantê-lo longe de Solomon, aceitou servi-lo e para que? No final, ele teria sua vingança. E ela não poderia fazer nada para impedi-lo.

Ouviu murmúrios e choros ao seu redor e percebeu não estar sozinha. Havia sobreviventes junto dela. Mas estava escuro, e ela não podia vê-los. De repente, ouviu-se passos ao redor. Uma luz se acendeu e ela teve que se acostumar com a claridade. Magnus e os irmãos Cezarium apareceram. Os irmãos seguraram um dos lados da corrente e começaram a puxar.

Magnus sorriu quando Elizabeth passou por ele.

─Seu amante está aqui, querida. Você tentou protegê-lo e no entanto o trouxe para perto de nós.

Ela cuspiu em seu rosto enrugado e em troca recebeu um soco duro. Elizabeth não abaixou a cabeça e continuou como Cezarium puxou as correntes fazendo-a andar.

*****

Os gritos de mulher trouxeram Solomon de volta a realidade. Ele se viu acorrentado, com os braços pendurados na enorme biblioteca. Os gritos eram de Elizabeth, também acorrentada, juntamente com um grupo de meia dúzia de pessoas. Seu desespero parecia real o suficiente para duvidar da culpa da mulher.

Seu irmão Sebastian estava sentado em um canto, pernas cruzadas e olhos fechados, alheio aos homens ao redor. Magnus, Albert e Cezarium mantinham as vitimas em seu lugar. Puxou as correntes, mas não se mexia.

─Acalme-se, irmãozinho. ─A voz de Sebastian veio calma. ─Estas correntes são fortes o bastante para segurar você. Verá esta noite meu triunfo.

Os raios da lua cheia entraram pela janela, cobrindo o homem sentado no chão. Quando reabriu os olhos, suas orbes eram negras e brilhantes. Sua voz se tornou profunda. Ficou de pé olhando os quatro homens ajoelhados diante dele.

─Esperei tanto por esta noite.

Tocou a cabeça de Magnus, o ancião. Amedrontado, o velho o encarou.

─Meu... meu senhor. Estás livre. ─Beijou-lhe a mão, deixando-se ser tocado novamente. ─Fui seu servo fiel por todos estes anos. Onde está minha recompensa?

A criatura riu. Sua voz enchendo os cômodos da casa.

─Agradeço a lealdade, meu filho. Fará agora parte de mim...

Magnus arregalou os olhos ao perceber a mão em forma de garra atravessar seu peito. Sebastian encarou sua mão enquanto o corpo do ancião caia no chão. Albert e Cezarium ficaram de pé.

─Todos se juntarão a mim esta noite. Não há como escapar da noite do Lobo.