Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 9
Capítulo 8 - Derrotas




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  Lyen ligou, mas eu não atendi, não queria ter que explicar porque eu não fui nas duas últimas aulas. Na verdade, eu não gostaria de contar o que aconteceu para ninguém. Eram minhas dores e eu tinha que aprender a superá-las. Deitei em minha cama assim que tomei um banho e tirei a tinta de todo o meu corpo, o que não foi nada fácil, por muito pouco a tinta não começou a secar na raiz de meu cabelo, as pontas, nada pude fazer, a tinta vermelha tinha secado já.Queria dormir para evitar as lágrimas, mas elas recomeçaram a cair assim que encostei minha cabeça no travesseiro. Agarrei meu travesseiro e deixei as lágrimas caírem, deixando minha emoção fluir. Mas isso não estava ajudando em nada. Olhei para o relógio, já passavam das três horas e Noah já deveria estar na oficina.

  Pensei bem antes de levantar da cama.                                      

  Assim que decidi, levantei, joguei água em meu rosto e olhei-me no espelho, minha aparência não estava muito boa, mas quem sabe se eu for caminhando daqui até lá eu fique melhor. Mas nada poderia fazer com relação à tinta vermelha.

  O caminho para a oficina não era muito longo, só ficava a três quarteirões de casa. Logo, avistei o enorme galpão com uma placa enorme escrita “Oficina Holloway”. Assim que entrei, vi Noah embaixo de um carro, sabia que era ele por causa de seu tênis da Nike e as calças rasgadas. Não vi papai por perto, o que agradeci silenciosamente.

  - Hey, Noah. –chamei enquanto agachava ao lado do carro, que era um Audi; logo, pude ver o rosto de Noah sujo de graxa.

  - O que você está fazendo aqui? – perguntou ele, ainda deitado no chão.

  - Qual é Noah, é assim que me recebe? – exibi um sorriso fraco.

  - E aí maninha! – ele deu um sorriso irônico – Satisfeita? – ele desfez o sorriso.

  - Bem melhor.

  - O que houve Alice? – perguntou ele, assim que analisou-me melhor, ele saiu debaixo do carro e sentou ao meu lado.

  - Nada. Papai está aí?

  - Não. Ele saiu. Alice, você estava chorando?

  - Não. – ele olhou fundo nos olhos.

  - Sim. Chorou sim. O que aconteceu?

  Não quis responder a Noah, levantei-me, fui até a mesa onde tinha ferramentas emcima, empurrei algumas para o lado e sentei, olhei para Noah que ainda estava sentado, acompanhando cada movimento meu.

  - Se você não contar para mim, vou falar para a nossa mãe que você chorou. –chantageou Noah, ele parecia uma criancinha de seis anos fazendo birra.

  - Noah... eu não quero falar sobre isso.

  - Então você chorou mesmo. – eu devia ter persistido no “não chorei” – E o que é isso no seu cabelo? Você o pintou sua louca?

  Noah voltou para baixo do carro, continuou fazendo seu trabalho, mas não o impediu de me atormentar. Talvez não devia ter vindo.

  - Estou esperando você falar, maninha.

  - Você joga sujo, sabia?

  - Eu sei. Eu gosto assim. Fale logo.

  - Até onde você sabe sobre... Max e... nossa amizade? – escolhi as palavras cuidadosamente.

  - Só sei que vocês estavam se dando super bem e simplesmente pararam de se falar. Eu gostei dele, é um cara bem legal. – a voz parecia distante por causa do carro em cima de sua cabeça.

  - Ele não é. – disse com muita tristeza na voz.

  Noah colocou a cabeça um pouco para fora, analisando-me.

  - Como?

  - Você... – como eu diria para ele que amo Max mas ele não me ama? – Ele... Noah, eu não sei como dizer isso.

  - Você ama ele, não ama?

  - Amo.

  - Mas ele... – Noah não quis terminar a frase, então eu a conclui.

  - Não me ama.

  - Isso não o torna menos legal. – ele voltou sua atenção para o carro novamente.

  - Lyen foi convidado para uma festa na casa da Juliet ontem à noite, ele levou nosso grupo junto, Kim... bom, Kim é a Kim, então você deve imaginar.

  - O que ela quebrou?

  - Na verdade, fui eu quem quebrou algo.

  - Como assim? – ele novamente saiu para olhar em meus olhos.

— Kim vomitou de propósito no tapete da mãe de Juliet, ela começou a falar muito mal de Kim, eu não me segurei, quebrei um vaso da casa, e meio que fiz as outras pessoas quebrarem também. – não expressava reação alguma à lembrança, mas Noah sorriu, ficando impressionado.

  - Uau! Isso aí maninha! – disse ele fazendo um “beleza” para mim.

  - Max não gostou disso. – rapidamente ele desfez o sorriso – Ele veio falar comigo, ele... Me chamou de idiota, me tratou muito mal.

  - Mas que canalha! Você sabe que você não é idiota, Alice, não se deixe abalar pelo que aquele cara diz. – ele olhou nos meus olhos, sabendo que havia algo a mais na história, notando que eu estava segurando algumas lágrimas.

Ele saiu debaixo do carro, foi até seu Chevy e encostou-se ao capô do carro.

  - Tem mais, não tem? – perguntou ele.

  - Hoje ele e a Juliet se vingaram pelo que eu fiz. Na verdade ele não se vingou, só ficou lá parado, observando.

  - O quê? – ele quase gritou – O que eles fizeram com você? – ele começou a me analisar de outro modo, procurando alguma marca ou ferida.

  - Eles jogaram tinta em mim. – levantei o cabelo com as marcas vermelha – Não consegui tirar essa parte.

  - Tinta? – fiz que sim com a cabeça, lembrando cada palavra que ele disse – Alice, eu não sei o que dizer. – sua expressão ficou abalada, um pouco triste também.

  - Por favor Noah, não diga nada.

  - Eu podia quebrar a cara dele. – raiva começou a surgir em seus olhos.

  - Não podia não.

  - Quebrar a cara de quem? – perguntou Lyen, entrando na oficina.

  - Lyen? O que você faz aqui? – perguntei, já não existia mais necessidade em chorar.

  - Pensei que te encontraria aqui, e estava certo. – ele sorriu pra mim – Fiquei preocupado por você não ter ido nas últimas aulas, e... o que é isso em seu cabelo? – ele se aproximou rapidamente de mim, pegando uma mecha com a ponta vermelha na mão, analisando-a.

  - E você sabe por que ela faltou? – perguntou Noah. O adverti com um olhar, mas ele não me deu atenção – Max e Juliet jogaram tinta nela.

  - O quê? – Lyen me olhou assustado – Por que ele fez isso?

  - Por causa da festa. Mas ele não jogou tinta, ele apenas ficou olhando enquanto Juliet e Tyler jogavam.

  - Quem eles pensam que são?! – gritou Lyen.

  - A gente devia ir lá dar uma boa lição nele. – disse Noah

  - Aquele cara vai aprender que não se deve mexer com a Alice.

  - Sem mexer com a gente também. – completou meu irmão.

  - Você vai usar aquele pé de cabra? – perguntou Noah, apontando para um pé de cabra no canto da oficina.

  - Vou, tenho que bater em um palhaço amanhã, mas tenho um taco de baseball em casa.

  - Serve.

  Os dois não pareciam estar brincando.

  - Aquele Max Rossi vai ver só...

  - Chega! – gritei – Parem com isso.

  - Você vai defender ele? – perguntou Noah.

  - Alice, olhe tudo o que ele fez com você. – disse Lyen com a expressão dolorosa.

  - Vocês podem parar por um minuto? Sou eu quem tem xingar Max, sou eu quem ter que bater nele, se eu quiser. – respondi um pouco histérica.

  - Ele magoou você, e você não quer revidar. Queria que ele soubesse que pessoa maravilhosa você é. 

  - Mas ele não sabe. E espero que fique assim.

  - Alice, eu sinto muito.

  - Pelo que? – fiquei confusa por um momento.

  - Por tudo. – silêncio – Quer dar uma volta comigo?

  - Claro. – saí de cima da mesa e Noah veio ao meu encontro, envolvendo-me em seus braços.

  - Tudo vai melhorar mana. – ele deu um beijo em minha testa – Se divirta.

  - Obrigada meu irmão. Até mais. – disse com um sorriso leve nos lábios.

  Caminhei ao lado de Lyen até seu carro, ele ligou uma música baixa, reconheci a voz da Rihanna, o nome da música era I Love The Way You Lie.

  - Eu gosto dessa música. – comentei baixando o vidro do carro e debruçando-me na porta.

  - Eu sei que você gosta da Rihanna. – senti o olhar de Lyen em mim, fechei os olhos e senti o vento acariciar meu rosto, era tão bom.

  - Para onde vamos? – perguntei.

— Primeiro vou te levar a um salão, ver se tem algum jeito de tirar essa tinta do seu cabelo.

  Ele levou-me até um salão chique, mesmo sendo chique, milagre não conseguiu fazer em meus cabelos, tive que cortar as pontas, deixando meu cabelo comprido, na altura dos ombros. Lyen pagou a conta do salão, por mais que eu tenha insistido em que ele não fizesse isso.

  - Fiquei feia? – perguntei quando entramos no carro.

  - Alice, você não ficaria feia nem careca. – respondeu ele sorrindo.

  - Obrigada Lyen. – correi levemente – E agora, para onde vamos?

  - Não sei. Para onde você quer ir?  - perguntou ele.

  - Não sei. Só sei que não quero ir para casa.

  - Então vamos rodar por aí e vemos onde vamos parar.

  Lyen andava calmamente pela cidade, sem rumo, com Rihanna tocando no rádio. O céu começava a escurecer, as nuvens estavam carregadas, logo iria chover.

  - Por que o Max?

  - Como?

  - Com tantas pessoas no colégio você foi logo se apaixonar por Max. Por quê?

  - Eu não sei Lyen. – olhei para ele - Não existe um porquê. Não escolhemos quem amamos, simplesmente amamos.

  - Eu não sei o que você viu nele.

  - Você conheceu um Max diferente, o popular, você deveria ter conhecido o Max que foi meu amigo. – imagens dos momentos que eu passei com Max passaram diante dos meus olhos, eu estava sorrindo e não percebi.

  Pequenas gotas de chuva começaram a cair, batendo no teto do carro, com um barulho agradável, coloquei minha mão fora do carro, deixando as gotas de chuva molharem minha mão.

  Lyen desacelerou, olhei ao redor pensando em qual lugar nós iríamos.

  - Você se incomoda de se molhar um pouquinho? – perguntou ele.

  - É claro que não. – respondi sorrindo – Não sou fresca.

  - É por isso que gosto tanto de você. – ele sorriu para mim, deixando-me um pouco zonza, tamanha era a beleza de seu sorriso - Então vamos tomar um banho de chuva.

  - É isso que você chama de “pouquinho”? – ri, pois a chuva tinha aumentando, agora os pingos que caiam eram grossos.

  - Se você não quiser...

  - Eu quero. –  interrompi, seria bom para eu esquecer dos últimos acontecimentos.

  Lyen estacionou o carro na frente de uma cafeteria e fomos em direção à praça, a chuva molhava meus cabelos, levando embora todas as minhas dores, por enquanto. Caminhamos até o centro do parque, algumas pessoas passavam pela gente fugindo da chuva, colocando qualquer coisa que tinham na cabeça, para se proteger.

  Era até engraçado, pois Lyen e eu queríamos nos molhar, e todas aquelas pessoas fugiam da chuva inesperada.

  - Hey, aposto que chego antes que você na fonte. – disse ele, correndo logo em seguida.

  - Ei, isso é injusto! Você saiu primeiro! – corri logo atrás dele.

  É claro que eu não fui a primeira a chegar. Lyen estava sentado na fonte, sua expressão era de vitória. Eu ia parar em sua frente, mas escorreguei no piso molhado e acabei caindo por cima dele, derrubando ele, e por consequência a mim mesma, na fonte.

  Nossos corpos se enrolaram desengonçadamente, seu corpo tão perto do meu, que mesmo se eu estivesse fora d’água, estaria sem ar. Lyen logo emergiu me puxando para cima, mas sem atrapalhar aquela distância. Sua respiração acelerada tão perto da minha, seu coração batendo em ritmos acelerados embaixo de minha mão – eu não havia percebido que minha mão estava em seu peito - podia ver com clareza o contorno dos lábios, o modo como o lábio inferior era maior que o superior, as curvas de seus olhos, até mesmo a grossura de seus cílios, podia sentir o cheiro do seu perfume misturado ao cheiro de roupa molhada.

  Como se ele fosse um ímã, meu corpo aproximava-se mais dele, mais e mais perto, fazendo um arrepio percorrer meu corpo.

  Eu estava a poucos centímetros de seus lábios, quando caí na realidade.

  Por sorte vi meu pequeno brinco preso em seus cabelos, estendi a mão e peguei-o, afastando-me rapidamente depois.

  - Meu brinco. – disse, e ele deu uma leve risada.

  - Que demora foi essa Littleton? – um sorriso brincou em seus lábios – Pensei que nunca iria chegar.

  - Você trapaceou. – reclamei.

  - Eu? – ele apontou para si mesmo.

  - Não Lyen, foi meu pai. – nós dois rimos.

  Lyen saiu da fonte e ajudou-me a sair também, os dois completamente encharcados.

  Ele pegou meu braço e puxou-me para junto de si, fazendo-me sentar em seu colo, aninhada, logo ele começou a fazer cócegas em mim, eu contorcia-me, cutucava ele, mas ele não parava. Depois de alguns minutos de pura tortura, ele soltou-me e eu pude sentar do seu lado, curtindo a chuva banhar meu corpo.

  - Você sabe o que tem hoje, na verdade neste exato momento? – perguntou ele pra mim, olhei fixamente em seus olhos, seu rosto era uma máscara, não permitindo que eu decifre o que ele estava sentindo, mas seu olhar era cauteloso.

  - Não faço a mínima ideia. – disse, confusa.

  - O jogo.

  - Droga! Eu esqueci! – me levantei de um salto, Lyen permaneceu imóvel, observando, e então eu cai na real.

  Em um minuto eu estava em pé, pronta para ir no jogo de Max, e no outro eu estava sentada, relembrando de suas palavras. Ele não se importava comigo, nunca se importou, mas no fundo eu ainda me preocupava com ele e com seu estúpido jogo.

  - Se serve de consolo ele não vai ser o titular.

  - Por que não? – parte de mim alegrou-se com a notícia; outra parte, aquela que ainda gostava de Max, recebeu essa notícia como um bombardeiro.

  - O rendimento dele caiu muito nos últimos jogos, você estava nos jogos Alice, não notou?

  - Não. – confessei, além de não entender nada sobre o jogo, eu tentava – sem sucesso nenhum – não manter os olhos em Max.

  - O jogo deve estar quase terminando. Se já não terminou.

  - Vamos mudar de assunto? – perguntei a ele com um olhar suplicante.

  - Claro. Venha.

  Ele levantou e estendeu a mão para mim, eu peguei e ele ajudou-me a levantar, conduzindo-me, caminhamos um pouco para longe da fonte. De repente, Lyen parou e fez uma reverência pra mim.

  - Me permite a honra dessa dança?

  - Claro. – concordei com um sorriso nos lábios.

  Ele conduziu-me em uma música lenta, nossos corpos em contato o tempo todo, era tão bom estar ao lado de Lyen, o silêncio nunca era um desconforto, e as palavras ditas de algum modo nunca feriam ninguém, e o “fazer nada” era uma coisa boa.

  Mas o melhor de tudo é que os problemas não existiam mais ao lado dele, com se tivessem desaparecido.

 Ele deslizou suas mãos até a minha cintura e fez meu corpo girar, joguei meus braços e minha cabeça para trás, a chuva batia em meu roso, eu sentia Lyen olhando para mim, e mesmo com os olhos fechados eu sabia que ele estava sorrindo, e eu sorri também.

  Em algum lugar não muito distante, uma música tocava, eraI'd Come For You do Nickelback. Reconheceria em qualquer lugar, era a banda favorita de Noah, praticamente cresci ouvindo a música deles sair por entre as paredes do quarto de meu irmão.

  Lyen parou de girar e eu levantei, meu rosto ficou a poucos centímetros de seu rosto, sentia sua respiração lenta em minha pele, podia sentir seu coração batendo rapidamente, seus olhos tinham um brilho que eu quase nunca via.

  - Alice... – disse Lyen lentamente, olhando fundo em meus olhos.

  Senti alguém colocando a mão em mim, essa pessoa afastou-me de Lyen, eu reconheci aquele toque, mas essa pessoa estava consumida por um ódio intenso.

  - Max? – disse.

  - O que está acontecendo aqui? – perguntou ele.

  - Nada que você possa se intrometer. – respondeu Lyen, em um tom ríspido.

  - Nada que eu não possa me intrometer? Eu me intrometo no que eu quero. – respondeu Max no mesmo tom, cruzando os braços.

  - Qual o seu problema Max? Por que você não vai dar uns amassos com a Juliet e nos deixa em paz?

  - Sinto muito, mas eu não posso deixar ela em paz. – ele fez um gesto em minha direção.

  - Ou você deixa ela em paz por bem ou por mal. – Lyen se aproximou mais de Max, com uma expressão voraz nos olhos.

  - Uii, estou morrendo de medo. – ele fez uma encenação, como se estivesse com medo. Lyen cerrou as mãos em punho.

  - O que você quer Max? – disse, ficando no meio dos dois.

  - Nada. – respondeu ele, sério.

  - Por que você não vai embora? – perguntei, ainda na frente dele, numa atitude que protegia os dois de se matarem.

  - E se eu não quiser?

  - Eu te faço ir. – respondeu Lyen em meu lugar.

  - Se for assim então eu vou, não quero apanhar do garotão. – respondeu Max, suas palavras carregadas de ironia – Juliet mandou avisar para você nunca mais levar seus amiguinhos para as nossas festas, caso contrário, nunca mais será convidado. – disse ele para Lyen.

  - Ótimo, que seja assim, aonde eu for, meus amiguinhos vão comigo. Seu recado foi dado, agora vá.

  Max hesitou, mas virou as costas e partiu, ele entrou em seu carro e rapidamente desapareceu pelas ruas de Littleton, não sei se Lyen notou, mas Juliet não estava no carro. Certamente aquele recado era falso, havia é claro, outro motivo para Max ter parado seu carro no meio da rua para vir atrapalhar meu momento com Lyen.

  As últimas notas da música tocaram e depois tudo ficou em silêncio, fora o som da chuva batendo na água da fonte, e na grama.

  - Você ficou sabendo? – perguntou Janel assim que sentei na mesa do almoço.

  - Não. – respondi sem muita emoção, eu estava acabada.

  - Perderam ontem no jogo e Max nem entrou em campo.

  - Surgiu uns boatos que ele foi expulso da equipe. – disse Kim, mordendo uma maçã.

  Lyen, Gabriel, Kevin e Erick estavam na fila do almoço, olhei para as minhas amigas, elas tinham que saber sobre o que aconteceu ontem depois do almoço.

  - Eu preciso contar uma coisa para vocês... – elas ouviram tudo o que eu tinha pra dizer sem me interromper, quando eu terminei Kim deu um soco na mesa.

  - Eu vou matar ele! – disse ela, quase gritando.

  - Ssssh. Além do mais, ele não jogou tinta em mim, apenas ficou olhando.

  - Eu vou desfigurar aquele rostinho de boneca de Juliet. – ela ignorou meu pedido de silêncio – Ele pode não ter jogado, mas no mínimo participou do plano, e não impediu o que estavam fazendo.

  - Kim, cala essa boca! – disse Janel.

  - Desculpa, eu me empolguei.

  - Não comentem nada na frente dos meninos, não quero que eles saibam. – pedi.

  - Você não contou para o Lyen? – perguntou Amanda.

  - Contei.

  - E para Erick?

  - Não.

  - E vai contar?

  - Acho que não.

  - Ouviu Kim, ela não vai contar, então mantenha a boca fechada.

  - Eu? E desde quando eu tenho a matraca solta? – perguntou Kim.

  - Kim, você sempre tem a matraca solta. – disse Janel rindo.

  - E Alice, - disse Andy – você ficou linda com o novo corte de cabelo.

  - Obrigada, eu acho. – respondi com um meio sorriso.

  Logo os garotos estavam de volta, e é claro que Kim, sem querer, soltou a “matraca”, Kevin me pressionava para eu contar toda a história a ele, eu não estava aquentando ficar ali no meio de tantas perguntas sobre a minha dolorosa vida. E muito menos ouvir Kevin falando de meu cabelo novo.

  - Eu preciso ir... na biblioteca. – disse levantando.

  - Vou com você. – disse Lyen, levantando; Janel o puxou, fazendo ele sentar novamente.

  - Você fica aqui. – disse ela – Tenho assuntos para tratar com você.

  Ouvi ela sussurrando “não tá vendo que ela precisa de um tempo a sós?” e depois suspirou “Homens”.

  Eu não tinha nenhuma vontade de ir até a biblioteca. Saí do refeitório carregando meus livros de Biologia, vi a tinta no chão e nas paredes da saída do refeitório, desviei o olhar delas. Alguém esbarrou em meu ombro e meus livros caíram no chão, me abaixei para pegá-los, quando olhei para a pessoa que havia esbarrado em mim, vi que era Max, ele olhou para mim com uma expressão séria, ao seu lado estava Juliet, ela segurou a mão de Max assim que notou que eu os fitava.

  - Idiota. – sussurrei para mim mesma, sem saber ao certo se era isso mesmo que eu pensava dele.

  Levantei depressa, ficando um pouco tonta, teria caído se Max não tivesse segurado meu braço. Ele nada disse, apenas ficou encarando-me, e eu o encarei de volta. Com um puxão de Juliet, ele afastou-me.

  Durante a aula, fiquei me sentindo insegura, pois Max ria com seus amigos o tempo todo e olhava em minha direção. Por dentro eu estava sentindo-me uma derrotada que perdeu tudo o que mais amava. Mas ao mesmo tempo parecia que o seu riso era falso, que ele apenas ria para... disfarçar.

  Na segunda aula da tarde, nossa diretora veio dar alguns recados.

  - Não sabemos quem – disse ela – foi que jogou tinta no refeitório ontem, mas vamos descobrir, e para o bem do culpado, ou dos culpados, é melhor se entregarem hoje, antes do final da aula, caso contrário vai ser pior quando descobrirmos.

  Olhei na direção de Max e Juliet, Max me olhava com uma expressão séria, não conseguia saber que sentimento o dominava naquele momento, mas Juliet me olhava com medo. O destino deles poderia estar em minhas mãos.

  - Mas deixando as notícias ruins de lado, vamos falar sobre coisas boas. Estamos organizando uma viagem para os alunos dos primeiros, segundo e terceiro anos. – todos na sala, menos eu e Lyen, vibraram com a notícia.

  - E para onde vamos? – perguntou Juliet, o medo deixado de lado.

  - Ainda não sabemos, mas posso disser que vamos para uma praia. Se a avaliação de vocês concordarem que não irão se afogar no meio do oceano.

  Mais gritos surgiram na sala. A diretora saiu da sala, e logo em seguida Juliet, e mais tarde Tyler. Concentrei-me na aula o máximo que pude, mas alguns segundos depois fui chamada para ir na sala da diretora. Quando cheguei lá, vi Juliet e Tyler sentados do lado de fora nas cadeiras, Juliet sorria. Bati na porta e a Sra. Mikeson mandou-me entrar.

  - Srta. Holloway, eu estou muito desapontada com você. – disse ela antes mesmo de eu me sentar.

  - Por quê? – perguntei, minhas mãos começaram a suar e a tremer.

  - Jogar tinta no nosso refeitório! Quase caí no chão quando aqueles garotos vieram me contar, Alice Holloway uma de nossas alunas exemplo fazendo atos de vandalismo. Acredite Srta Holloway, agora você não será mais uma de nossas alunas exemplos. Posso saber o motivo de seus atos? – não podia acreditar no que eu ouvia.

  - Mas não fui eu! – quase gritei, mas controlei minha voz, pois Juliet e Tyler estavam do outro lado da porta.

  - Como você pode provar isso?

  - Eu... eu não posso. – disse, suspirando, como iria provar? Se eu faltei nas últimas aulas e ninguém me viu com tinta no corpo?

  - Eu tenho dois garotos, não apenas um, me dizendo que viram você cometendo tais atos. Em quem você acha que eu posso acreditar Srta. Holloway?

  - Mas não fui eu!

  - Você vai repintar as paredes e o chão, hoje, na verdade, agora mesmo.

  - Mas...

  - Sem mas. Vá falar com o zelador, ele lhe dará a tinta. Estou muito decepcionada com você. Terei que comunicar o acontecido para seus pais. Agora vá, você tem muito trabalho a fazer.

  Saí da sala com a cabeça baixa, sem olhar para as pessoas que estavam sentadas do lado de fora. Não podia acreditar que Max estava no meio de tudo isso. Fui direto falar com o zelador, logo já estava pintando as paredes do refeitório com tanta raiva que por pouco não chorei. As palavras “por quê?” ecoavam em minha mente.

  Eu olhava para a tinta que ontem estava espalhada por todo meu corpo, e lembrava de cada momento do dia anterior, cada palavra, cada lágrima. Não sei ao certo o sentimento que me invadia, eu sentia ódio, dor, angústia, sentia raiva de mim mesma, tudo ao mesmo tempo, e se não bastasse tudo isso, ficava pensando em Max. E depois eles apareceram, eu estava abaixada pintando a parte debaixo da parede.

  - Pinta isso aí direito. – disse Juliet, fazendo Tyler rir.

  - O que acham de dar mais um banho de tinta nela? – perguntou Tyler, levantei de um salto.

  - Escuta aqui garota, - disse Juliet – dissemos que foi você, para que você aprenda que se você pensar em ferrar a gente, a gente ferra você antes. - Tyler fez um movimento, parecia que ele ia chutar o balde de tinta, mas Max o impediu com um simples aceno de mão.

 - Ela já entendeu o recado. – disse Max.

  Eles viraram de costas pra mim, prestes a saírem, mas Max hesitou um pouco.

  - Max, – chamei por ele – posso falar com você? – falei baixo, de modo que seus amigos logo à frente não pudessem ouvir, ele olhou para eles, depois pra mim, e os deixou seguir sem dizer nenhuma palavra.

  Ele olhou em meus olhos por um tempo e eu pude ver que não existia dentro dele apenas raiva e ódio. Por que ele estava fazendo tudo aquilo? Queria perguntar isso a ele, mas não tive coragem. Por um curto momento seu olhar parou de transmitir raiva, mas eu não consegui dizer qual sentimento tomou o lugar da raiva.

  - Fale. – disse ele vendo que eu não falei nada.

  - Eu não ia dedurar vocês. Eu nunca faria isso. – disse por fim.

  - Eu... – sua expressão estava séria, eu esperava ele dizer que não acreditava nisso, mas ele surpreendeu-me ao “relaxar” a sua expressão e mais ainda com o que ele disse – Sinto muito. – ele se virou e saiu, sem dizer mais nada.


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