Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 10
Capítulo 9 - Será que é amor?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696596/chapter/10

Entrei em casa com a cabeça baixa, já esperando o que estava por vir. Meus pais estavam sentados no sofá, olhando fixamente para porta, Noah descia as escadas, ao ver meus pais olhando tão seriamente para mim, parou sobre o último degrau.

  Meu pai levantou e cruzou os braços, com uma expressão fechada no rosto.

  - John... – disse minha mãe, em um tom que mandava ele se acalmar.

  - O que eu devo dizer Alice? – perguntou ele – Que estou decepcionado com minha filha? Que não a criei para isso? – ele ficou em silêncio por um momento, esperando que eu falasse alguma coisa, porém eu nada disse, e ele continuou –Você tem noção do que você acabou de fazer?

  - John, fique calmo, por favor. – disse minha mãe enquanto levantava, ela colocou uma mão nos ombros de meu pai, para acalmá-lo.

  - Ficar calmo Nicole? – o uso do nome de minha mãe, e não o apelido, indicava que ele estava irado – Como posso ficar calmo quando recebo a ligação do diretor do colégio, dizendo que nossa filha cometeu atos de vandalismo? Que jogou tinta no refeitório?

  - Jonh Holloway, olhe para sua filha e diga se ela tem a capacidade de fazer isso. – disse minha mãe, mantendo a voz calma.

  - Nick, - suspirou meu pai, suavizando a expressão – eu não quero acreditar nisso, eu sei que nossa filha não é desse tipo, mas o diretor ligou para mim e afirmou por A mais B, que Alice jogou a tinta, e que dois alunos viram.

  - Filha, você tem algo a dizer? – perguntou minha mãe.

  - Não mamãe. – respondi.

  Noah lançou para mim um olhar furioso e ao mesmo tempo confuso.

  - Mãe, Alice... – começou Noah mas eu o interrompi.

  - Não precisa me defender Noah, obrigada. – disse.

  - Mas, Alice...

  - Noah. Não. – disse entre dentes.

  - Me desculpe Alice, - disse meu pai – mas terei que colocar você de castigo.

  - Tudo bem. – suspirei e baixei a cabeça – Posso ir agora?

  - Pode querida. – respondeu minha mãe em lugar do meu pai.

  Subi as escadas e pude ouvir que ambos começaram a discutir sobre isso, mas eu não quis prestar atenção em nenhuma palavra. Fechei a porta de meu quarto e joguei-me na cama, mas não esperava uma batida na porta, alguns minutos depois.

  Suspirei com raiva e levantei, abri a porta e encontrei Noah com uma expressão estranha no rosto, uma mistura de pena, decepção e raiva.

  - Alice, assim você me desaponta como irmã. – disse ele – Por que não me deixou contar para nossos pais a verdade?

  - Porque eles iriam ligar para o colégio. – respondi – Iam contar quem realmente havia feito aquilo.

 - Você tem medo deles atormentarem você depois? – perguntou ele, suspirando e assumindo uma expressão de consolo.

  - Não é isso Noah.

  - Então o que é?

— Eu não quero... dedurar eles.

  - Você tá falando sério? Alice Holloway, me diga que você está mentindo! – disse ele em um tom um pouco alto.

  - Não. – respondi me encolhendo.

  - Então me diga pelo amor de Deus, no mínimo, que é ele e não eles. – disse ele, e eu hesitei em responder.

  - É ele.

  - Alice, você tem que esquecer ele, pelo amor de Deus, viva a sua vida. Têm tantos homens atrás de você.

  - Homens atrás de mim? Noah, é mais fácil vir mulheres atrás de mim do que homens. Ninguém quer uma garota como eu.

  - Alice, sério que você não vê que tem alguém atrás de você? – ele estava incrédulo.

  - Não.

  - Meu Deus, quero um teste de DNA, você não é minha irmã! Como você pode ser tão burra? – ele disse brincando, e eu dei um soco em seu ombro.

  - Sou mais esperta do que você. – respondi com um sorriso fraco.

  - Não para questões amorosas.

  - Falou o garoto que nunca teve realmente uma namorada.

  - Para seu interesse eu e Isabella estamos indo muito bem, e ela vai vir conhecer nossa família um dia desses. – ele se levantou e caminhou até a porta, abriu ela e se virou para mim – Nós vamos sair para jantar hoje à noite, e eu pensei, já que Lyen está aqui na nossa sala esperando por você, que nós quatro poderíamos sair jantar juntos.

  - Lyen? – perguntou confusa, com o coração acelerado.

  - Se arruma porque ele já concordou com o jantar. Ele convenceu nossos pais de fazer o castigo começar apenas amanhã.

  - Meu Deus, eu estou horrível!

  - Mana, você é horrível. - peguei o travesseiro em minha cama e joguei na direção dele, mas ele fechou a porta, o travesseiro bateu na madeira escura e escorregou até o chão, Noah abriu a porta novamente e colocou somente a cabeça para dentro do quarto – A propósito, Lyen já sabe sobre seu trabalho de pintora no colégio.

  - Noah! – gritei, mas ele já tinha fechado a porta e supostamente não me ouviu.

  Abri meu armário à procura de uma roupa bonita, peguei meu vestido azul-claro e um sapato preto com um pequeno salto, prendi o cabelo em um coque, lavei o rosto e passei rímel, uma base líquida, levemente, escolhi uma sombra escura e passei delicadamente sobre minhas pálpebras. Coloquei um brinco prata e o colar que Erick havia dado para mim. Engraçado, porque ele tinha dado o colar no dia em que Max começou a ser meu “amigo novamente”.

  Desci as escadas lentamente, ouvia a voz de Lyen na sala, junto com as vozes de meus pais, Noah e uma voz feminina, Isabella. Lyen estava virado de costas para mim, meus pais estavam ao seu lado, Isabella estava logo atrás dele com Noah ao seu lado com um braço ao redor de sua cintura. Parei no último degrau da escada não querendo interromper a conversa.

  - É muito bo... – dizia Lyen, mas ele não completou a frase, assim que ele viu Noah olhar abobalhado para algo atrás dele, ele se virou para olhar também – Uau! – disse ele assim que me viu, seu rosto espelhando a expressão que eu via em Noah.

  - Bom, acho que está na hora de nos mandarmos. – disse minha mãe, segurando o braço de meu pai e levando-me junto com ela em minha direção – Você está linda minha querida. – disse ela tocando meu braço.

  - Ainda não me esqueci do seu castigo. – avisou meu pai com uma cara séria – Mas você está linda. – sua expressão suavizou com um sorriso, ele segurou meu queixo – Volte cedo ou seu irmão vai se meter em problemas. – meus pais deram eu beijo em minha testa e subiram as escadas.

  - Nossa maninha, você está linda. – disse Noah.

  - Meu Deus, eu só passei um rímel e coloquei um vestido, nada de mais. – respondi.

  - E passou base e sombra. – Isabella se aproximou de mim – Maravilhosa. – ela estendeu a mão em minha direção – Sou Isabella Clare. – cumprimentei-a com um aperto de mão.

  - Alice.

  Isabella era uma garota realmente muito linda, tinha cabelos em um tom de loiro- escuro com mechas escuras, olhos castanhos, o rosto oval, suas maçãs do rosto eram levemente rosadas, e seu corpo era magro com curvas perfeitamente definidas.

  Lyen  aproximou-se de nós, estendeu sua mão e eu levei a minha em direção a sua, ele beijou as costas da minha mão.

  - Você está muito linda. – disse ele.

— Obrigada. – disse timidamente.

  - Vamos? – perguntou Noah.

  - Sim. – respondemos Lyen e eu juntos.

  Noah nos conduziu até o carro dele, falando o tempo todo de como estava animado para terminar as aulas para poder levar Isabella a uma viagem, apenas ele e ela. Tive muita vontade de perguntar quem era aquele Noah, desconhecido aos meus olhos, mas me contive, guardei a pergunta para mais tarde.

  Fomos a um restaurante chamado Marina, especializado em frutos do mar. Pela escolha do lugar, supus que Isabella gostava de frutos do mar, pois Noah odiava. O restaurante ficava em uma antiga casa, ela levava um pequeno toque gótico em sua decoração; as paredes do lado de dentro tinham papéis de paredes floridos; perto do caixa havia um aquário enorme com alguns animais marinhos como peixinhos e até cavalos marinho. O aquário exibia uma delicada luz azul do seu interior. Ao redor, distribuído com cuidado, havia nas paredes candelabros, só que no lugar de velas, havia pequenas lâmpadas, e no centro do restaurante, no teto, havia uma luminária “medieval”, no mesmo estilo dos candelabros, deixando de lado as velas e dando lugar às lâmpadas, só que dessa vez, maiores. Em um canto do restaurante, havia um piano de cauda branco, um homem de terno tocava River Flows In Your perfeitamente.

 Sentamos em uma mesa perto da janela, em cima da mesa havia uma toalha bege com um vaso de tulipas brancas. Um garçom com um terno vermelho, provavelmente o uniforme dali, veio até nossa mesa, entregou quatro cardápios e retirou-se. Olhei para o cardápio e decidi pedir para mim um prato com salmão, e Noah por sua vez, pediu um pequeno prato com camarão, que ele quase nem tocou.

  - Garçom? – chamou ele assim que todos escolhemos nossos pratos – Vocês não têm batatas fritas?

  - Temos purê de batata. – respondeu o homem, com cara de “o que você está fazendo aqui?”.

  - Serve. Traga uma porção grande. Pode ser pessoal? – concordamos com o pedido e o garçom saiu. Suspeitei que Noah comeria o purê sozinho.

  - Então Isabella, - disse – como você conheceu Noah?

  - Estamos juntos em quase todas as nossas aulas, a primeira vez que falei com ele foi na aula de Trigonometria, tivemos que fazer um trabalho, e fomos os últimos que sobraram, então fizemos juntos. Digamos que seu irmão não leva muito jeito para Trigonometria. – ele abriu um sorriso enorme para Noah, que sorriu envolvendo seu braço na cintura de Isabella beijando-a.

  - Duvido muito que Noah leve jeito para alguma coisa.

  - Maninha, está estragando minha reputação! – disse Noah, tentando fazer uma cara de magoa sem muito sucesso.

  - Mas que reputação, amor? – perguntou Isabella rindo, Noah afastou-se dela, tomando seu lugar em sua própria cadeira.

  - Isso é um complô contra mim? – disse ele.

  - Noah leva jeito para muitas coisas. – disse Lyen, defendendo meu irmão.

  Era como uma guerra entre homens e mulheres.

  - Tipo o que? – dissemos eu e Isabella juntas.

  - Hmm... – Lyen não conhecia meu irmão, pela sua expressão parecia que ele estava tentando pensar em alguma coisa para dizer, e encontrou – Ele leva jeito com carros.

  - Isso aí! Alguém está do meu lado aqui! – disse Noah levando sua mão por cima da mesa em direção a Lyen, que bateu na mão dele.

  - Lyen, você é meu amigo, deve ficar do meu lado. – reclamei.

  - Desculpa Alice, tenho que defender a raça.

  - Mas que raça? – perguntou Isabella – A raça machista, egoísta e narcisista? – ela riu.

  - Ei! – disse Lyen.

  - Ai, essa doeu. – disse Noah, deixando seu peso cair sobre a cadeira, a língua caída de lado, e as mãos no peito, fingindo que as palavras da namorada o mataram. Isabella deu um leve tapa em seu peito – Ai.

  - Nem todos os homens são assim. – disse Lyen defendendo sua “raça”.

  - Cite um exemplo. – pediu Isabella.

  - Tem um bem do seu lado minha linda. – respondeu Noah no lugar de Lyen.

  - Você não. – respondeu ela rindo.

  - Como não?

  - Maninho, - imitei sua voz – você bateu o recorde de menor tempo de namoro do mundo, você é o segundo da minha lista.

  - Quem é o primeiro então? – pediu ele, abaixei a cabeça e sussurrei a resposta.

  - Max.

  - Desculpa mana. – disse ele com uma expressão de quem pisou na bola.

Isabella notou a tensão e o silêncio que ficou depois de minha resposta, ela moveu-se desconfortavelmente na cadeira. Eu senti um peso descer sobre mim pela simples menção desse nome.

  - Não existe nenhum homem bom e perfeito, – disse ela baixinho, medindo suas palavras – apenas homens tentado serem bons e perfeitos. São todos uns canalhas, cafajestes que deviam ser enforcados e queimados. – seu tom de voz aumentou, ao que parecia tentado quebrar o clima com uma piada.

  - Querida, estou aqui do lado. – disse Noah com um biquinho nos lábios.

  - Você é diferente. – disse ela apertando o biquinho do namorado.

  - Sou né?

  - Sim. Vocêeu jogaria em uma piscina cheia de gasolina e ateava fogo. E depois dava as suas cinzas para o Fofo comer.

  - Pelo amor de Deus, tudo menos o Fofo! – respondeu Noah, fingindo estar assustado.

  - O Fofo é a parte mais divertida. – rimos dos dois, Isabella tentando fazer um papel de má e Noah o papel de quem se sentia magoado, mas ele não tinha ideia de como era ser magoado de verdade. No fim da “discussão”, Isabella deu um longo beijo em Noah.

  - Na verdade, existem homens perfeitos. – disse.

  - Como? – Isabella afastou-se de Noah, que me olhou com uma cara confusa.

  - Existem homens perfeitos. – repeti, deixando minha mágoa de lado e dando lugar a alegria.

  - Quem? – perguntaram os três juntos.

  - Para começar, Johnny Deep, seguindo pelo meu pai, Gabriel, Erick, e talvez Kevin, ele é perfeito a sua maneira. E Lyen. – olhei para Lyen que mefitava com um olhar doce, ao ouvir seu nome, uma luz brilhou em seus olhos escuros, como se ele não esperasse seu nome nessa minha lista.

  - E eu? Por que todo mundo esquece de mim? – disse Noah levantando os braços em um gesto de protesto, Isabella mandou ele calar a boca e arrastou sua cadeira mais perto da dele, depois se aninhou em seu peito. Desviei os olhos de Lyen e pousei meu olhar no casal a minha frente.

  Noah combinava com Isabella, e eu que pensava que Noah nunca iria achar alguém com que iria realmente combinar, mas ali estávamos nós. É engraçado,ás vezes, o rumo que o destino nos leva, Noah nunca pensou em namoro sério, até quando era uma criança e andava pelado pela casa, ele vivia dizendo que nunca ia querer nada sério, muito menos casar, a única diferença era que naqueles tempos Noah achava beijos nojentos. E hoje, eu vejo um brilho diferente no olhar de Noah, eu via que ele realmente amava a garota diante dos seus olhos.

  Será que algum dia eu vou achar alguém com quem eu combine?

  Bom, por enquanto a resposta é não.

  - Quem é Fofo? – perguntou Lyen, puxando um assunto.

  - Meu cachorro. – respondeu Isabella.

  - Ela quis dizer “meu demônio”.— disse Noah.

  - Por que o Fofo seria um demônio? – perguntei, rindo da cara de assustada de Noah.

  - Ele é um Buldoguebranco, e é muito lindo. – disse Isabella, defendendo o cachorro.

  - Que gosta de morder as pessoas. – completou meu irmão.

  - Mentiroso. – disse Isabella.

  - E arranhar.

  - Não é verdade!

  - Ah, e ele ama rasgar calças alheias.

  - Noah! – a garota exibia uma expressão de contrariada.

  - Confessa Isabella.

  - Tá, talvez seja verdade. – ela riu – A primeira vez que Noah foi lá em casa, Fofo rasgou a calça dele.

  - E bem na minha bunda! – reclamou Noah e nós rimos dele – Ele rasgou minha cueca também!

  - Ele teve que voltar para casa de saia. – ela começou a rir, quase histericamente.

  - Sério? – perguntei.

  - Sim.

  - Por que você não deu uma calça pra ele? – perguntou Lyen que ria muito.

  - Porque não tinha nenhuma limpa, era a saia ou um vestido. E também porque foi engraçado vê-lo de saia. – rimos.

  - Rárárá. Engraçado. Riam, podem rir, se fosse com vocês... queria só ver. – protestou Noah, cruzando os braços.

  - E ele teve que voltar para casa a pé. – completou Isabella.

  - Nossa! – disse, quase me dobrando de rir.

  - Com licença. – pediu o garçom e serviu nossos pratos, encerrando a conversa sobre Fofo.

  Durante a janta, Noah quase nem tocou em seu prato de camarão, mas devorou quase sozinho o purê. A comida era muito boa, e também cara. Continuamos conversando sobre diversas coisas, sobre gosto musical, filmes, e muitas outras coisas. A noite passou rapidamente, é sempre assim, quando estamos nos divertindo as horas passam voando, mas quando estamos atolados até o último fio de cabelo em tédio, os ponteiros arrastam-se lentamente pelo relógio, e as horas parecem não passar.

  - Acho melhor irmos, já são quase dez horas. – disse Noah – Não quero me meter em problemas com nossos pais, maninha.

  - Ok. – disse Isabella, levantando-se e puxando o namorado com ela – Eu já estava com saudades de Fofo mesmo.

  Noah e Isabella foram até o caixa pagar a conta, eu parei para observar o aquário e Lyen foi junto comigo.

  - Maravilhoso, não acha? – perguntou ele.

  - Sim, é maravilhoso. – respondi.

  - Você me acha perfeito? – corei ao ouvir a pergunta, senti um frio na barriga. Por que eu me sentia assim? Lyen era meu melhor amigo, eu não devia sentir-me tímida ao lado dele.

  - Acho. – confessei.

  - Eu também acho você perfeita.

  - Obrigada. – sorri. Uma mecha de cabelo caiu na frente do meu rosto.

  - Seu sorriso é lindo. – ele colocou a mecha atrás da minha orelha, demorando para tirar a mão – Ele me hipnotiza.

  - Tudo em você me hipnotiza. – corei mais ainda, se é que era possível, eu não pensei no que ia dizer, apenas disse e arrependi-me plenamente depois, e eu não sei porque.

  Senti a mão de Lyen se aproximar da minha, mas antes que ela pudesse tocar a minha, Noah nos chamou para irmos embora.

  Primeiro deixamos Isabella em casa, ela tinha uma casa grande e bonita, que não ficava tão longe da nossa. Assim que paramos o carro, ouvimos os latidos de Fofo.

  - O Fofo me chama. – disse ela colocando a mão na maçaneta.

  - Isabella, - disse – você prefere que eu te chame de Bella ou Iza?

  - Izzy. – disse ela e Noah junto.

  - Com dois Zs. – completou ela.

  - Boa noite Izzy.  – disse.

  - Até mais. – disse Lyen.

  - Tchau, foi um prazer conhecer vocês. – ela sorriu para nós e saiu do carro.

  Noah levou-a até a porta, deu um beijo nela, que demorou muito tempo, e voltou correndo.

   - Aquele Fofo me dá arrepios. – disse ele assim que entrou no carro.

  Chegamos em casa, e percebi que o carro de Lyen estava estacionado do outro lado da rua, Noah se despediu de Lyen com um toque de “mano” e entrou dentro de casa correndo.

  - Bom, então eu vou indo. – disse – Boa noite Lyen. –virei em direção à porta, mas ele segurou meu braço.

  - Eu me diverti muito hoje. – ele sorriu.

  - Eu também. – sorri de volta.

  - Eu queria dizer... – seu olhar se voltou para a minha casa, e de volta para mim, ele aproximou seu rosto do meu, seus lábios a poucos centímetros do meu, tão perto que eu podia sentir sua respiração, mas seus lábios tomaram um rumo diferente.

  Ele beijou levemente minha bochecha, fazendo-me corar, sua boca foi até a minha orelha e sussurrou:

  - Seu pai está nos olhando. – ele se afastou de mim – Boa noite Alice, mia ragazza.

  - Boa noite Lyen. – disse sorrindo.

  Observei ele partir, sentindo um peso no coração, sentia-me vazia e sozinha sem sua presença. Entrei em casa com um sorriso de orelha a orelha, ouvi barulhos na cozinha, dirigi-me até lá, pensando ser Noah atacando a geladeira.

  - Mãe? – ouvi uma voz abafada, mas não consegui ouvir o que dizia, fui até a cozinha e encontrei Noah com a boca cheia, um sanduíche na mão e um copo de refri na outra – Comendo de novo?

  - Sim. – disse ele entre outra bocada – Não comi nada no restaurante.

  - Fala sério, você comeu o purê praticamente sozinho.

  - Pure não mata a fome. – ele se sentou na mesa para comer – Gostei do seu namorado.

  - Ele não é meu namorado.

  - Somente uma das pessoas que você acha perfeitas. – não respondi.

  Subi arrastando os pés na escada, coloquei meu pijama e tirei a maquiagem, deitei na cama, mas o sono não veio, fiquei repassando cada momento da noite, cada detalhe, para nunca me esquecer de Izzy, do olhar de meu irmão e a surpresa nos olhos de Lyen e o beijo que ele me deu em frente a minha casa.

  O que eu realmente sentia por Lyen?

 

 

 

   Hoje eu acordei sentindo um vazio em meu peito, um vazio que só poderia ser preenchindo com a presença de Lyen. Levantei e fui até meu armário, olhei para todas aquelas roupas sem-graça, acabei optando por uma saia jeans de cintura alta, uma blusa branca simples e uma sapatilha preta. Um visual que eu nunca pensei que iria usar. Peguei dois colares, um grande cheio de penduricos e o que Erick deu pra mim. Não sabia se estava combinando, mas não me importava. Passei um pouco de rímel e fui para o colégio.

  As primeiras aulas foram meio monótonas: a minha primeira aula era com Amanda, Kimberly e Janel, elas ficaram de queixo caído quando entrei na sala, e não foram as únicas, Max e Juliet também. Durante toda aula senti o olhar de Max sobre mim.

  E na hora do almoço também.

  E nas últimas aulas.

  Quando Lyen me viu no refeitório vestida desse jeito, ele perdeu a fala e eu tive que rir da cara dele.

  - Parem de me olhar assim. – disse para meus amigos na mesa – Estou normal.

  - Você está parecendo uma patricinha. – disse Kim, rapidamente ela foi atingida por uma cotovelada de Janel. – Jany! Ui!

  - Cala essa boca Kimberly Roosevelt! – disse Jany depois se virou para mim – Você está linda amiga.

  - Não dá bola para Kim, você sabe que ela tem... – disse Gabriel – certos problemas.

  - Hey, eu não tenho problemas! – defendeu-se Kim – Vocês é que têm!

  - No fundo – disse Kevin colocando os braços ao redor de Kim – Kim está querendo dizer que você está muito linda, igual as paty ali. – ele apontou para Juliet e seu grupinho.

  - Valeu gente. – disse – Mas será que não podemos falar de outra coisa que não seja meu visual?

  - Certo. – concordou Kim.

  - Ok. – disse Erick – Alyson quer sair com a gente de novo. Ela gostou de vocês, especialmente de você, Alice.

  - Bom, da Kim não podia ser. – respondi rindo.

  - Como não? – pediu Kim indignada.

  - Bem, digamos que você não era você na festa. – disse Janel – Era uma Kim bêbada.

  - Essa Kim aí tem estilo também! – protestou minha amiga.

  - Ah tá, conta outra.

  - Alice, - disse Amanda – precisamos achar um apelido pra você.

  - Littleton. – disse Lyen.

  - Muito grande. – disse Erick.

  - É bem maior que Alice. – disse Amanda – Que tal Aly?

  - É o apelido da Alyson.

  - Eu sei um. – disse Kim – Lice.

  - Sem graça. – disse Kevin. Kim o fuzilou – Eu quis dizer magnífico, brilhante, adorei!

  - Mas meu apelido é Lice. – disse com um olhar penetrante em Kevin.

  - Mas Lice parece tanto com alce. – disse Kevin.

  - Não tem nada haver com alce. – disse Erick revirando os olhos.

  - Na mundo de Kevin, - disse Lyen – que tem sua própria língua, Lice, se parece com alce. – respondeu ele rindo.

  - Lice é apelido de alce! – disse Kevin protestando.

  - Andy, você está querendo dizer que eu sou um alce? – perguntei com uma falsa expressão triste no rosto

  - Não! Claro que não! – disse Amanda corando – Só achei Lice... Um pouco antiquado.

— Andy, Alice está bom. – disse.

  O sinal tocou e fomos cada um para sua aula, para mais algumas horas de tortura. Olhei para Lyen e ele parecia estar pensativo.

 - Hey, eu gosto de Littleton. – ele sorriu pra mim assim que disse isso.

  - Lice não se parece com alce. – ele riu – Obrigado.

  - Obrigado pelo que?

  - Por tudo.

  Entramos na sala e nos sentamos, o professor entrou logo em seguida e já começou a aula, reclamando por estar atrasado de mais no conteúdo.

  Finalmente o sinal da última aula tocou. Separei-me de Lyen, fui até o corredor dos armários guardar meus materiais, o corredor estava lotado de estudantes conversando alto sobre suas vidas pacatas. Cheguei ao meu armário, olhei para a porta de saída do colégio e vi Max e Juliet parados me observando, Juliet com um sorriso sombrio nos lábios, e Max com uma expressão cansada e triste. Abri a porta do meu armário e levei um susto quando uma cobra pulou em mim e caiu no chão, comecei a gritar desesperadamente, todos começaram a rir, olhei para meu armário e seu interior estava todo pichado, incluindo meus livros e cadernos com palavras do tipo “interesseira”, “feia”, “burra”, e piores ainda. Em cima de um caderno havia um bilhete com meu nome, peguei ele furiosa, lágrimas corriam pelos meus olhos.

  - Viram? – disse a voz irritante de Juliet – Alice tem medo de cobras de mentirinha.

  Todos ali presentes estavam rindo de mim, olhei para o chão a procura da cobra falsa, mas ela não estava mais ali, agora ela estava na mão de Tyler que fazia sons de cobras e ficava avançando com ela em minha direção. Fechei com raiva a porta do armário e saí correndo dali, passando no meio de Juliet e Max, esbarrando neles. Não pude ouvir as palavras que Max disse a Juliet, mas não pareciam amigáveis.

  - Olha por onde anda, cega. – disse ela.

  Cheguei em meu carro e me encostei na porta, incapaz de entrar no veiculo, abri o bilhete em minhas mãos, era a caligrafia de Max que enchia aquela página de caderno amassada. Só que ao mesmo tempo não parecia, como se outra pessoa tivesse escrito o bilhete, tentando se passar por ele. O bilhete dizia:

“Alice, pare de me provocar, eu não te amo, ficou claro? Eu amo a Juliet e não você. Não fale mais comigo. Interesseira.

  Max”

  As lágrimas começaram a cair em maior quantidade, não podia acreditar no quanto ele fora frio comigo, suas palavras feriam mais do que qualquer dor física. Nesse momento havia esquecido que a caligrafia não era 100% confiável de ser de Max, meu coração simplesmente aceitou o fato que era.

 Ouvi a voz de Izzy e Noah se aproximando, tentei segurar as lágrimas, mas não consegui, me esforcei mais ainda quando ouvi a voz de Lyen junto com eles.

  - Alice? – era a voz de Lyen se aproximando, quando ele viu que eu estava chorando ele se aproximou correndo de mim e me tomou em seus braços – O que houve? – não consegui responder, eu chorava tanto que chegava a soluçar. – O que aconteceu? – senti Izzy colocar sua mão em meu ombro em um gesto de conforto.

  Noah não disse nada, apenas arrancou o bilhete de minha mão.

  - Foi Max. Foi isso que aconteceu. – disse ele assim que terminou de ler o bilhete.

  Lyen se afastou de mim e olhou Noah, e eu podia ver raiva nos olhos dos dois. Como se um lesse a mente do outro, eles caminharam para a mesma direção, e eu soube assim que vi Max ao longe sozinho, o que eles iriam fazer. Corri atrás deles com Izzy seguindo meu calcanhar.

  Noah foi o primeiro a chegar perto de Max, ele não perdeu tempo e o empurrou.

  - O que você fez com minha irmã seu canalha? – gritou ele, Max ficou assustado.

  - Do que você está falando?

  - Escute bem Max, - disse Lyen – deixe a Alice em paz. Eu não quero ver ela nunca mais chorando por sua causa, para o seu próprio bem.

  - Eu não fiz nada. – rebateu Max.

  - Claro que não, - disse Noah – o santo Max não fez nada. – Noah cerrou sua mão e bateu em Max, ele cambaleou para trás com a mão em seu queixo – Isso é para você aprender a não mexer com minha irmã. - Max se recuperou do susto e estava indo na direção de Noah quando Lyen acertou Max, fazendo ele cair no chão.

  - Parem! – gritei, mas eles não pareciam me ouvir.

  - Nunca mais se aproxime dela. – disse Lyen.

  - Você não manda em mim. – disse Max se levantando.

  Foi quando eu tive que intervir, os três começaram a brigar, comecei a gritar para que eles parassem, mas novamente não fui ouvida; Izzy e eu nos aproximamos deles e tentamos separá-los, mas essa tentativa era inútil. Acabei ficando no meio dos três, separando Noah e Lyen para um lado, e Max para outro, mas mesmo assim eles continuavam brigando.

  - Parem! – gritei novamente.

  De nada adiantou, Max me empurrou – Lyen e Noah não perceberam que também haviam me empurrado com força na direção do seu carro para me tirar dali, bati com a cabeça com força contra o vidro traseiro do carro de Max, o vidro que já estava trincado quebrou com a força do impacto, minha cabeça começou a latejar, meu corpo caiu no chão.

  - Alice! – disseram Noah e Lyen juntos, vindo em minha direção junto com Izzy. Max ficou parado observando a cena, completamente apavorado. Lyen ajudou-me a levantar, ignorando a dor que invadia minha cabeça,afastei-me deles, eles tentaram me seguir, mas eu não permiti.

  - Me deixa em paz. – gritei para eles.

  Fui em direção do meu carro, um pouco tonta, deixando os quatro para trás. Eu precisava ir para o pronto-socorro, e não conseguiria ir sozinha, por sorte Amanda e Gabriel estavam saindo do colégio nessa hora.

  - Alice! O que houve com você? – pediu Amanda, os dois vindo a meu encontro.

  - Nada. – respondi.

  - Você está sangrando! – disse Gabriel, dando uma olhada no meu ferimento, eu nem tinha notado que estava sangrando.

  - Preciso de um médico. – disse.

  - Venha. – Gabriel colocou uma de minhas mãos sobre seu ombro, e sua mão sobre minha cintura, sustentando todo meu peso, ele me ajudou a caminhar até seu carro, Amanda abriu a porta da frente para eu me sentar.

  E partimos para o hospital.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ansioso de mais? Adquira seu exemplar de Alice agora mesmo! Use o cupom premia25 para ganhar 25% de desconto na compra do livro!
http://editoramultifoco.com.br/loja/product/alice/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alice" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.