Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 8
Capítulo 7 - Um novo Max




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  - Eu quero falar com você. – disse Max.

  - Eu vou te esperar no carro, Littleton. – disse Lyen, com um tom de preocupação na voz.

  - Pode ir Lyen, eu sei o caminho, vou depois. – ele hesitou – Está tudo bem Lyen, pode ir.

  - Você sabe meu número, é só ligar se alguma coisa acontecer. – depois de uma breve olhada de mim para Max, Lyen partiu.

  Max esperou até ele ter saído com o carro fora do seu campo de visão para começar a falar. Ele estava irritado, eu podia perceber.

  - Por que você fez isso?! Você é maluca! Eu devia ter ouvido Juliet! – gritou ele.

  - E por que não ouviu? Isso tudo não teria acontecido. – a raiva de Max dominou-me, como se tivesse sido passada dele para mim pelo ar, e agora essa raiva corria em minhas veias.

  - Porque eu fui burro! Qual o seu problema Alice? Você e seus amigos destruíram a casa de Juliet!

  - Ela merecia isso.

  - Ela não merecia isso, você merecia.

  - Como? Eu? Ela é a bruxa dessa história! Você ouviu o que ela falou sobre Kim? – cruzei os braços com uma expressão de espantada no rosto.

  - Sua amiga é outra idiota como você. – eu fiquei mais espantada ainda, esse não era o Max que vinha toda noite atirar pedrinhas em minha janela.

  - Max... – minha voz falhou, a raiva havia sumido de mim, dando espaço ao espanto e a dor.

  - Eu pensei que você fosse diferente, que você não fosse como essas patricinhas idiotas que vivem humilhando e usando as outras pessoas, mas você é igual a elas. Na verdade, você é pior do que elas. A única coisa que você sabe fazer é usar as pessoas, pisar no coração delas.

  - Do que você está falando? Eu apenas defendi minha amiga! Eu nunca humilhei ninguém! Você está se enganando, essa pessoa a quem você se refere é a Juliet.

  - Não Alice, - sua voz ficou mais suave, sua expressão era dolorida – é você. – seu olhar desceu até meu pulso, ele o segurou – Fui eu quem te deu essa pulseira. – não havia notado a pulseira que tinha colocado, foi um tremendo erro. – Como você ousa ainda usar essa pulseira? – ele arrancou a pulseira de meu pulso, uma leve dor percorreu meu pulso – Você não merece isso.

  As pessoas começaram a sair da casa, passando por nós sem prestar atenção. Max olhava em meus olhos e eu nos dele, lágrimas queriam cair e meus olhos ardiam. Quem era esse Max diante de mim?

  Sem dizer nada, ele foi ao encontro de Juliet, ela lançou um olhar de vitória e os dois entraram na casa, deixando-me ali fora, no meio da multidão que ia embora, chorando.

  Voltar para casa ou ir para casa de Gabriel. Minhas duas opções. E nenhuma e nem a outra eram uma boa opção no momento. Fui para a praça e sentei no mesmo banco onde eu e Max nos sentamos e ele contou sobre sua mãe. Coloquei os dois pés sobre o banco e abracei minhas pernas. A noite estava fria, minhas lágrimas pareciam quentes e acolhedoras. Estava sozinha, chorando em uma praça. Talvez aquele cara com o violão fosse uma boa agora, música é a melhor companhia nas horas dolorosas da vida.

  O amor não é algo que desaparece de uma hora para outra, não é algo que possa simplesmente passar a borracha em cima e apagar, por mais que tente. E eu tentei desesperadamente nos últimos dias fazer esse sentimento ir embora, e na verdade todo esse tempo ele ficou ali, dormente em meu coração. Agora ele voltava com força total, batendo em minha cara, mostrando o quanto é dolorido amar.

  Não sei exatamente quanto tempo passei ali, mas deduzi que foi muito tempo.

Alguém se aproximou, assim que me viu suspirou e sentou ao meu lado, não disse nada, apenas ficou do meu lado em silêncio. Não pude segurar, abracei Lyen que retribuiu o abraço, fiquei ali chorando em seus braços.

  - Isso é culpa do Max? – perguntou ele, apenas fiz que sim com a cabeça, incapaz de dizer uma palavra – Agora você quer me contar o que aconteceu com vocês dois? – não respondi – Se você não me contar, não poderei ajudar.

  - Eu... amo ele. – confessei algo que com certeza ele já deveria saber, ou no mínimo suspeitar.

  - Ele magoou você? – perguntou ele.

  - Sim... Na verdade não. Não sei. – suspirei - Ele não sabe que o amo.

  - O que aconteceu exatamente? – pressionou Lyen.

  - Eu sempre... Gostei dele, desde que éramos crianças, mas ele afastou-se de mim com o tempo, fechou-se para muitas pessoas depois da morte da mãe. Um dia Kim fez eu ir ao cemitério abandonado, eu não queria ir, mas acabei gostando porque o encontrei lá, ele tinha acabado de brigar com Juliet e Erick me deixou sozinho com ele. Começamos a conversar e desde então somos “amigos secretos”, ele disse que só podia ser ele mesmo ao meu lado, eu pensei que ele também me amasse, sinceramente acreditei nisso, alimentei falsas esperanças, e um dia decidi que se ele não desse... “um passo na nossa relação”, eu daria. Não dava pra continuar ao seu lado escondendo isso, alimentando isso se no final não fosse correspondido. Mas aí ele deu um discurso de como ele amava Juliet, foi aí que eu me toquei que cada dia que eu passava com ele, eu estava me iludindo, criando uma ferida que antes nunca existia. Então disse que nunca mais queria falar com ele. Mas ele ainda não sabe que o amo.

  - E o que ele queria falar com você hoje? – perguntou ele depois de um tempo de silêncio, visto que eu não tinha mais nada a dizer.

  - Só queria falar o quanto eu sou idiota. – respondi com os olhos se carregando de lágrimas.

  - Cadê a sua pulseira? – ele segurou meu pulso, notando a falta dela.

  - Ele pegou de volta.

  - Pegou de volta?

  - Foi ele quem me deu. Sabe Lyen, tudo aconteceu tão rápido, ficamos tão próximos tão rápido que eu pensei... – não queria completar aquela frase e admitir isso.

  - Que ele a amasse.

  - Isso. – disse um pouco rouca, tentado segurar as lágrimas que ameaçaram voltar a cair.

  - Não chore Alice, eu estou aqui, vai ficar tudo bem.

  - Como vai ficar tudo bem, Lyen?

  - Eu não faço a mínima ideia, mas só sei que não vou deixar você sofrer. – não sabia o que responder, ficamos um pouco assim, eu em seus braços sem dizer uma única palavra, ele passando uma das mãos em minhas costas, em um gesto de conforto.

  - Eu não devia ter feito aquilo. – confessei.

  - Feito o quê? – perguntou ele, confuso.

  - Quebrado aquele vaso.

  - E por que não?

  - Porque... Parece que ele ficou diferente, ele brigou comigo e disse que eu era igual a Juliet e suas amigas.

  - Como ele ficou diferente?

  - Como se tivesse ódio de mim.

  - Alice, esqueça ele, por favor.

  - Como eu posso esquecê-lo? – olhei em seus olhos, eles transmitiam uma tranquilidade incrível.

  - Você quer esquecê-lo? – ao dizer isso, seu olhar transmitiu um pouco de ansiedade, e quem sabe, esperança.

  - Eu... não sei. - apesar de todas as coisas ruins, ainda lembrava dos bons momentos juntos, do dia em que ele dormiu em meu ombro, do meu coração acelerar quando ele chegava perto.

  - Você pode fazer isso por mim? – pensei um pouco antes de responder, os olhos de Lyen continuavam ansiosos, querendo loucamente que eu respondesse o que ele tanto queria ouvir.

  - Sim. – pensei ser isso o que Lyen queria ouvir, e acertei, pois ele havia relaxado, eu nem havia notado o quão tenso ele estava.

  - Obrigado, Alice.

  - Por que você se importa tanto? – perguntei gentilmente, e logo meu coração se acelerou, sem motivo nenhum.

  - Com você? Porque somos amigos.

  - Não isso, mas com o fato de eu esquecer ou não, o Max.

  - Olha o seu estado, Alice. Você está sentada sozinha em uma praça deserta a essas horas da noite, chorando por um garoto. – sua voz era suave, eu sentia como se elas tocassem a minha pele e acariciasse-a.

  Mas, por algum motivo, suas palavras decepcionaram-me.

  - Obrigada por se preocupar tanto comigo Lyen. – disse com a voz um pouco falha.

  - Não quero nunca mais ver você sofrendo. – ele ficou um instante em silêncio, depois levantou do banco e estendeu a mão para mim – Venha, vou te levar para casa. – peguei sua mão e ele ajudou-me a levantar, conduziu-me até o seu carro com sua mão em minha cintura.

  Não queria ir para a aula no próximo dia, queria ficar em casa e enterrar-me sobre meus travesseiros, não queria de jeito nenhum ver Max.

Mas queria ver Lyen. Eu devo muito a ele, como eu estaria agora se não fosse ele? Além do mais, minhas amigas vão querer uma explicação.

  Levantei relutante, fui até o armário arrastando o pé, peguei uma calça jeans qualquer, uma blusa qualquer, um tênis qualquer. Beleza não importava mais para mim, não nessa vida. Desci as escadas com a mochila nas costas, joguei-a em uma cadeira e sentei à mesa ao lado de meu pai e de Noah.

  - Bom dia filha. – disse meu pai assim que sentei.

  - Bom dia pai.Mamãe já foi trabalhar? – perguntei, notando a falta dela na mesa.

  - Já. – respondeu ele – Um cliente queria se encontrar com ela cedo hoje. – mamãe era advogada, e era uma das melhores, não querendo me gabar.

  - Hey, maninha, - chamou Noah – você tem um recado.

  - Recado? – perguntei enquanto mordia minha torrada.

  - Ontem um garoto ligou aqui, Lyen – respondeu meu pai – queria falar com você, mas você estava dormindo, ele pediu como você estava. Alice, tem alguma coisa errada acontecendo? Porque ele parecia preocupado.

  - Não pai. Só briguei com um amigo ontem. – disse, baixando os olhos para minha torrada.

  - Erick? – perguntou meu pai, já sabendo a resposta.

  - Não pai. Qual o recado? –mudei de assunto rapidamente.

  - Ele só queria avisar que ligou. – respondeu Noah no lugar de meu pai, que estava com a expressão pensativa – Belo recado, não acha? Quando vão se casar?

  - Noah. – repreendeu meu pai, avisando para calar a boca.

  - Por que você não conta para o papai quando você vai casar? Ou ainda não contou que está namorando? – disse um pouco grossa, e logo me arrependi, peguei minha xícara de café e subi até o banheiro, deixando meu pai e Noah tendo uma conversinha.

Terminei o café e deixei a xícara sobre a pia do banheiro enquanto escovava meus dentes, meu pai gritou um tchau alguns minutos depois. Peguei a xícara e desci as escadas, fui até a cozinha e a deixei na pia, peguei minha mochila e fui ao encontro de Noah, que esperava parado na frente da porta.

  - Muito obrigado maninha. – disse ele com os braços cruzados.

  - De nada, estou sempre aqui quando você quiser alguém para te dedurar. – exibi um sorriso fraco – Me desculpa Noah, - disse passando a mão na testa, em um gesto cansado –é que eu tive uma noite do cão.

  - Sorte sua papai ter levado na boa. Mas você pode me compensar, preciso de carona.

  - O que houve com seu carro? – perguntei curiosa, ele mesmo havia reformado um antigo Chevy da família, e esse carro era um xodó para ele.

  - Você não vai entender se eu falar o problema. Vam... – antes que ele pudesse terminar de falar, a campainha tocou – Esperando visitas irmã? – ele abriu a porta, alguém perguntou por mim, e eu já sabia quem era.

  - Lyen? O que faz aqui? – perguntei, aparecendo na porta.

  - Vim te oferecer uma carona para o colégio. – respondeu ele.

  - Alice, me dê as chaves do seu carro. – joguei as chaves para Noah, mandei ele não causar nenhum dano em meu carro, senão eu o matava.

  Depois das apresentações entre Lyen e Noah, seguimos o mesmo caminho até o colégio. Lyen queria saber como eu estava, como foi minha noite, se eu dormi bem, se eu acordei no meio da noite. Parecia um interrogatório, como se eu tivesse sendo julgada pelo crime de matar meu próprio coração.

  - Primeira regra básica. – disse ele enquanto dirigia para o colégio – Nada de ficar trancada em seu quarto chorando.

  - Mas eu não...

  - Nem pensar Alice, vou pedir para seu irmão... Como é mesmo o nome dele? – perguntou ele.

  - Noah. – respondi revirando os olhos.

  - Vou falar com Noah, e ele vai ser meu espião. Ok?

  - Ok. – respondi suspirando – E qual a segunda regra?

  - Toda sexta-feira você vai sair comigo. – um brilho invadiu seu olhar.

  - Eu... – por um instante pensei em recusar, mas aí senti que meu coração palpitava e eu sabia, de algum modo, que meus olhos brilhavam – Tudo bem.

  - Sério? Você concorda? – perguntou ele exibindo seu sorriso.

  - Sério Lyen, vai ser legal. – ele se virou para olhar em meus olhos, e o que pude ver nos dele era pura alegria.

  - Ok. Terceira regra, nada de filmes românticos e melosos. – eu abri minha boca para protestar, mas ele me cortou – Shhh. E músicas melosas também não. Ah, e você não pode ficar em casa nos finais de semana.

  - Tem um milhão de regras em uma só. – protestei – Ei, então posso ler livros românticos e melosos?

  - Se vê que você é filha de advogada, tentou achar um furo em minhas regras. – ele riu – Não pode também. Te quero firme e forte, Alice.

  - Eu estou firme e forte.

  - Isso não me convenceu. – disse ele, com uma voz triste.

  Na escola todos olhavam para mim, como se todos soubessem o que aconteceu na casa da Juliet, algumas pessoas até parabenizaram-me pelo que eu fiz, eu apenas sussurrava um “obrigada”. Em outra ocasião, em outro tempo, eu teria ficado feliz com isso, receber essa atenção, ser notada, destruir a casa de Juliet, receber os parabéns por algo que eu fiz, mas hoje não, pois a pessoa que eu amo feriu-me muito por causa disso.

  Kim e Janel também recebiam atenção do pessoal do colégio, menos discreta do que as minhas. As pessoas passavam e cumprimentavam as duas, levantavam aos mãos para que Kim batesse, em um cumprimento. Era como se as duas fossem alguma espécie de heroína da escola.

  Tive que dar boas explicações por não ter ido ontem na casa de Gabriel, o problema era que eu não queria ainda contar para elas sobre tudo o que aconteceu. Mas foi preciso, elas eram minhas amigas, se eu não contasse para elas, para quem mais eu iria contar? – fora Lyen.

  Contei tudo na hora do almoço, inclusive o motivo de eu ter deixado de falar com Max.

  - Ah Alice! – disse Janel com uma voz extremamente doce.

  Todos que estavam em nossa mesa, que eram os mesmos de sempre, diziam “sinto muito” ou algo do gênero, menos Kim.

  - Cafajeste! – gritou ela, atraindo um pouco de atenção para nós.

  - Shhhh, fale mais baixo. – disse, não querendo receber mais nenhuma atenção de alguém que não fizesse parte do meu círculo de lhamas.

  - Eu vou tirar satisfação com ele! – ela levantou, olhou para onde estava Max, rodeado pelo time de futebol americano – Quando ele estiver sozinho. – e ela sentou de novo.

  - Kim, deixa isso pra lá, por favor.

  - Não entendo, - disse Amanda – o Max que era amigo de Alice não era assim. Ele não tratou você mal quando você parou de falar com ele.

  - O que você está querendo dizer? – pediu Janel.

  - Que tem alguma coisa errada. – respondeu Andy, com um olhar curioso.

  - Eu vou te dizer o que tem de errado, Andy: ele é popular, joga no time de futebol, namora a Juliet e é um cafajeste, igualzinho ao Tyler.

  - Um voto para Janel. – disse Kim.

  - Pessoal, - disse Gabriel, que tinha ficado o tempo todo calado, ouvindo; Kevin ao seu lado comia um cup cake como se nada tivesse acontecido – a questão aqui não é de votação, não é uma democracia, o que importa é como Alice está se sentindo em relação a tudo isso. – todos olharam pra mim, inclusive Kevin, como se o final da frase de Gabriel fosse “como você está se sentindo?”.

  - Exatamente. – disse Erick, com uma voz tranquila – Quem ele era ou é, não nos interessa mais, o que importa agora é como nossa amiga está se sentindo. O quanto tudo isso afetou ela.

  - Gente, vamos esquecer? Eu não estou afim de falar sobre isso. – respondi.

  - E com que você vai falar sobre isso? – perguntou Andy – Com sua mãe?

  - Não...

  - Amigos são pra isso, Alice. – fiquei em silêncio, pensando no que responder, no que eu sinto, tudo dentro era um turbilhão de emoções diferentes misturando-se e tomando novas formas e cores, formando novas emoções. Está tudo tão confuso.

  - Ela não está bem. – respondeu Lyen em meu lugar.

  - Não sei. – respondi, essa resposta parecia ser mais para mim mesma do que para meus amigos.

  - Como você não sabe? – perguntou Kim, quase gritando.

  - Kim, é tudo tão confuso.

  - Não tem nada de confuso quando alguém magoa você.

  - O problema Kim, é que eu acho que não me importo mais.

  - Como? – perguntaram todos ao mesmo tempo.

  - Eu simplesmente não sei mais a emoção que eu realmente sinto sobre isso, eu estou com raiva, estou sofrendo, estou em prantos, estou queimando por dentro, mas ao mesmo tempo eu não sinto nada. Como se eu tivesse tomado morfina.

  - Alice, - disse Andy segurando minha mão – acho que você encontrou alguma coisa que te faz superar essa dor. Não exatamente superá-la, mas a reduz e muito.

  - O quê?

  - Às vezes quando estamos sofrendo podemos encontrar meios ou pessoas que nos façam tornar a dor suportável.  – respondeu Erick em seu lugar.

  - Janel, por exemplo, - disse Kim – encontrou a geladeira para ajudá-la a superar o fim de seu namoro. Ela até ganhou uns quilinhos a mais. – rimos, era tão fácil rir com os amigos.

 O sinal tocou, por dentro eu suspirei aliviada. Nos despedimos e fomos cada um para sua aula, menos Kevin, eu e Lyen.

  - Toma Alice. – Kevin estendeu um pequeno cup cake em minha direção, ele era rosa e tinha uns coraçõezinhos do lado – Eu sinto muito pelo que aconteceu com você garota.

  - Obrigado Kevin.

  - Açúcar sempre melhora corações partidos. Até mais. – observei Kevin partir, ele podia ser o cara mais roqueiro do mundo, mais rebelde, mais idiota, mais sem noção... Mais tudo. Mas ele tinha um coração e se importava com aqueles que amava.

  - Vamos? – pediu Lyen.

  - Quer um pedaço? – perguntei, estendendo o cup cake rosa em sua direção.

  - Não, obrigado. Rosa não é minha cor. – sorri para ele.

  - Então vai na frente, só vou comer e já vou. – ele hesitou.

  - Ok. Mas não demore, ouviu? Aquela aula é muito chata sem você.

  - Claro, Lyen.

  Andy tinha razão, eu encontrei Lyen, ele não curou minha ferida, mas diminuiu a dor. Ele tornou-se a luz no meio das trevas em meu coração.

  Eu não era a única que não estava na aula ainda. Max e seus amigos tinham ficado. E eu me odiei por não ter percebido isso.

  - E aí Alice, ainda não arranjou um namorado? – perguntou Tyler, fazendo seus amigos rirem, inclusive Max. Uma pequena multidão de alunos ficou para ver se isso se tornaria uma confusão.

  - Feia do jeito que é, nem mula vai querer namorar com esse troço. – disse um garoto ruivo cujo nome eu não me recordava.

  - Nem conseguiu segurar o melhor amigo como namorado. – mais risadas.

  - Afogando as magoas em um docinho? – disse outro garoto, e mais uma vez todos riram – Cuidado, senão você vai ficar obesa.

Max se mantinha calado, os olhos fixos no chão, sem desviar um minuto se quer para mim.

  De repente, todos começaram a gritar um monte de palavrões para mim, e uma delas foi “interesseira”, e eu não reconheci o motivo, não consegui aguentar mais, virei as costas e saí do refeitório, mas quando estava na porta alguma coisa me molhou, fazendo o cup cake cair no chão.

 Era tinta. Muita tinta vermelha. Olhei para o lado e vi Juliet com uma lata de tinta na mão, vazia.

  - Isso é pelo que você e seus amigos fizeram na minha casa ontem. – disse ela – Sorte daquela imunda da Kimberly e Janel não estarem aqui, ou levariam um banho também. Mas não se preocupe, elas terão uma vingança mais tarde.

  Senti mais tinta atingir minhas costas, olhei para trás e vi Tyler segurando outra lata de tinta, só que dessa vez preta, vazia. Lágrimas ardiam em meus olhos, ameaçando cair a qualquer momento. Max foi para o lado de Juliet e colocou seu braço ao redor da cintura dela.

  - Ainda fomos bonzinhos e decidimos esperar o refeitório ficar um pouco... vazio. – disse Tyler.

  Todos que estavam ali presentes riam de mim, alguns gritavam interesseira, e isso não me importava, o que mais machucava era Max estar no meio disso, e pior, provavelmente ter ajudado a planejar tudo.

  Sai correndo de lá, deixando as risadas para trás, não tinha ninguém no corredor, as lágrimas que antes ameaçavam cair rolavam pelo meu rosto coberto de tinta. Meu coração batia acelerado, o mundo parecia girar, a ferida em meu peito ardia.

  Por que ele não fez nada para impedir? Por quê? O que eu fiz para ele?

  Cheguei ao estacionamento e lembrei que a chave do carro estava com Noah, então fui correndo até minha casa. A tinta escorria pelo meu corpo e deixava marcas por onde eu passava. Marcas de uma dor que eu nunca vou esquecer.


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