Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 7
Capítulo 6 - Lyen




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696596/chapter/7

— E aí Littleton! – disse Lyen assim que eu saí do carro, vindo em minha direção com seu skate. Não sei ao certo porque ele me chama de Littleton, mas acho legal. No segundo dia de aula de Lyen, ele veio com esse apelido, sem mais nem menos. Apenas disse que achou engraçado o modo como eu falava e descrevia minha cidade.

  - Hey Lyen.

  - Vai na festa hoje à noite? – perguntou ele, me acompanhando em seu skate.

  - Não sei.

  - Vamos lá Littleton! Não seja rabugenta!

  - Eu não sou rabugenta.

  - Prove. Vá à festa. – ele me cutucou e fez uma cara de cachorro pidão.

  - Não gosto de festas.

  - Qual o problema com elas?

  - Nenhum... Só que eu sou caseira demais.

  - Chata. É isso que você é. – disse ele rindo.

  - Não. – respondi, revirando os olhos.

  - É sua última resposta? – insistiu ele novamente, fazendo um biquinho que o deixava mais lindo.

  - É. – chegamos na sala da minha primeira aula, a porta estava fechada, mas podia ouvir a voz do Sr. Mitz daqui, teria entrado, mas Lyen ficou entre mim e a porta. – Estou atrasada.

  - Só saio se você for na festa comigo hoje à noite.

  - Não Lyen. – respondi suspirando, eu adorava aquele garoto, mas às vezes ele conseguia ser um pé no saco.

  - Vamos, vai ser legal, vou convidar seus amigos.

  - Lyen. – disse seu nome de modo ameaçador.

  - Não vou sair. – é claro que ele não ia sair.

  - Está bem. Eu vou. Mas você me paga. – respondi rindo.

  - Isso! Você é demais Littleton! – ele saiu da minha frente e correu para sua primeira aula acenando.

  Assim que entrei na sala, fui recebida com um xingamento de meu professor, por causa do atraso.

  Lyen vem preenchendo as lacunas vazias de minha vida, com seu humor e seu carinho. O sofrimento passou em questão de semanas, quando Lyen e eu nos tornamos amigos e ele passou a se enturmar com meu bando de lhamas, como disse Janel. Ele era o oposto do garoto loiro de olhos azuis, chamado Max, mas mesmo assim ele não poderia fazer com que eu esquecesse tudo o que sinto por Max. Ele pode fazer com que a ferida que Max causou em mim não doesse, mas não poderia simplesmente apagá-la ou curá-la.

  Lógico que o meu “grupo de lhamas” aceitou ir à festa. Na verdade eu queria ficar muito doente e não poder ir, afinal era na casa da Juliet, era a festa da Juliet; Max estaria lá, e porque era a festa de comemoração pela vitória do time de futebol americano. Eu não estava nem um pouco afim, por mais que Lyen quisesse tanto que eu fosse.

 Mas é lógico que Kim viria até minha casa com Kevin, para me arrastar para a festa.

  Estava deitada em minha cama, ouvindo música de olhos fechados quando Kim arrancou meus fones.

  - EI! – gritei, pensando ser Noah – Kim?! Kevin?!

  - Oi, aqui é o grupo K&K’s, a goma de mascar que vai substituir o chocolate M&M’s. Depois quem sabe conquistar o mundo, mas agora – ela me levantou da cama – K&K’s vão levar a dona Alice Holloway para uma festa, para a qual ela não iria por ter vomitado todo o jantar e mais um pouco. – ela levou-me até a frente do armário e abriu a porta – Você ia dar um bolo em Lyen! Tu tá maluca? Pirou o cabeção? Tomou muito sol hoje e torrou seus miolos?

  - Kim, eu só não quero ir à casa da bruxa.

  - Tá mais pra casa na colina. Alts mansão, passei lá antes pra dar uma olhada.

  - Cê ia perder comida boa e de graça, - disse Kevin – e ficar aqui ouvindo música enquanto relaxava e ia para o mundo dos pôneis saltitantes?

  - Você tava sonhando com pôneis? – perguntou Kim.

  - Claro que não! Kevin, você tem uma imaginação e tanto. – disse, cruzando os braços.

  - Obrigado garota dos pôneis. – ele se virou para Kim – Veste algo nela logo, eu tô com fome.

  - Ok Alice, veste isso. – ela pegou uma blusa cumprida do meu armário e deu pra mim.

  - Você quer que eu vá só de blusa? – olhei para baixo, já estava de pijama.

  - Parece um vestido. Sedutor, e deve ser a nova moda em Paris. – disse ela revirando os olhos.

  - Menina, cê dorme cedo em! – disse Kevin.

  - Eu não estava dormindo Kevin, estava descansando, ok? – rebati.

  - Vista logo algo antes que eu pule em você e arranque seu pijama. – disse Kim, completamente impaciente – Estamos perdendo o “tuntis tuntis”. – ela balançou a cabeça como se acompanhasse o ritmo de alguma música.

Encarando meu armário pensei no que eu poderia usar, algo que não me deixasse parecendo uma velha é claro, mas também nada tão chamativo. Lembrei que minha mãe havia me dado um vestido vermelho ano passado, ele não era muito curto, e era bem colado ao corpo, peguei ele e me dirigi para o banheiro. Escovei novamente os dentes, passei água no rosto, em seguida peguei meu Kit de maquiagem, optei por uma maquiagem simples.

  Quando sai do banheiro encontrei Kim segurando um par de botas pretas.

  - Pensa rápido – disse Kevin jogando um par de meias em minha cara – Já não estava aguentando o cheiro.

  - Eu não tenho chulé Kevin. – disse com um tom de voz alto.

  Calcei as botas, coloquei o cinto, peguei uma pulseira de prata, a primeira que encontrei, nem se quer olhei direito para ela, e Kim arrastou-me para fora do quarto.Avisei Noah enquanto era empurrada para fora da casa, sem bolsa, sem celular, sem nada.

  Kim realmente tinha razão, era uma mansão e tanto. A casa tinha três andares e era gigante, deveria haver mil cômodos ali dentro, sem falar que o quintal da frente era enorme, um monte de carros estavam estacionados em cima do gramado extremamente verde.

   Meus amigos esperavam do lado de fora.

  - E aí Littleton! – disse Lyen, dando-me um beijo no rosto e olhando-me de cima para baixo – Uau! Como você está linda!

  - Agradeça a mim, a consultora de moda pessoal dela. – disse Kim, pensei em corrigir ela, mas nada disse.

  - Eu escolhi as meias. – disse Kevin, fazendo todos rirem.

— Sério, quando Lyen disse que Kim estava indo fazer Alice vir, - disse Amanda – pensei que Kim a cobriria de caveiras e sangue. – todos riram, menos Kim, que cruzou os braços.

  - Fiquei igualmente preocupada. – concordou Janel.

  - Vamos dar créditos a Kim... – disse Gabriel, mas foi cortado por Kevin.

  - Ei! E eu?

  - E Kevin. – completou Gabriel – Por ter feito esse visual esplêndido. Alice, você está linda.

  - Se você não fosse minha melhor amiga, - disse Amanda para mim – eu morreria de ciúmes e mataria você.

  - Vamos entrar? – pediu Lyen.

  - Vamos lá! – disse Kim com entusiasmo, nem sabia que ela tinha todo esse entusiasmo por festas.

  Lyen, eu, Kim e Kevin fomos à frente, observando Kim caminhar e dançar ao mesmo tempo, assim que entramos na casa, depois de um “uau” geral, Juliet apareceu na nossa frente com a mão na cintura.

  Pude notar que Erick não estava na festa.

  - O que é que esse bando de gente imunda está fazendo em minha casa? – disse ela, ficando vermelha de raiva – Olá Lyen. – ela sorriu para ele, senti um raio percorrer meu corpo, fiquei com raiva dela, mais pelo sorriso do que pelo “imundo”.

  - Você disse que eu poderia trazer convidados.  – respondeu Lyen, ainda sorrindo, mas quem o conhecia como eu, sabia que aquele sorriso era falso.

  - Convidados e não um bando de porcos. Isso aqui é uma festa e não um chiqueiro, sugiro que voltem para o lugar de onde vieram. – disse ela, sem perder a compostura.

  - Quem você achava que eu ia trazer? – perguntou ele.

  - Algum parente lindo, seu irmão mais velho e sexy, sei lá, menos eles! Qualquer um no colégio, menos eles. Menos eles. Por que você não trouxe uma arara ou um papagaio?

  - Juliet, - meu coração começou a bater de um jeito diferente, aquela voz ainda me hipnotizava, Max surgiu de trás de Juliet e parou ao lado dela – deixe eles ficarem.

  - Você está louco? Tudo o que eu te ensinei e você vai deixar esses pés-rapados entrarem na minha casa e sujar os tapetes persas caros da minha mãe? Eles não sabem beber, vão acabar vomitando nos tapetes, eu já disse que são persas? E caros? – um leve tom de vermelho começou a assumir o rosto dela.

  - Deixe-os entrar. – repetiu ele em um tom autoritário.

  - Se eles não ficarem, - disse Lyen – eu não fico. Eles são meus amigos.

  - Argh! Fiquem então! Mas não quebrem nada! – ela deu as costas e pisando firme se misturou a multidão.

  - Não liguem para ela. – disse Max – Se divirtam. – ele olhou fundo em meus olhos por alguns segundos, segundos que pareceram anos para mim; depois, foi atrás de Juliet.

  Algo que nunca tinha mencionado antes sobre Lyen, ele conquistou os populares, ele não era um deles, definitivamente, mas eles queriam que Lyen virasse um deles. Lyen não precisava nem falar com eles para ser convidado para festinhas bobas e qualquer programação deles. Mas sempre que vinham conversar com ele, Lyen não era rude, não era de sua natureza ser grosso.

  - Vamos curtir a festa! – gritou Kim, algumas pessoas olharam com repulsa para ela, então ela se aproximou da gente e sussurrou – Depois podemos sujar os tapetes persas caros da mãe de Juliet e quebrar alguns vasos.

  - Essa eu quero ver. – disse rindo.

  - Alice, que tal uma dança? – perguntou Lyen estendendo a mão para mim.

  - Já que estou aqui... – peguei sua mão deixando-o conduzir-me para a pista de dança.

  A pista de dança foi feita em uma sala enorme, imagens rolavam em uma TV enorme, enquanto alguns globos colocados em lugares estratégicos iluminavam a sala. Todos os móveis grandes foram tirados do centro da sala, para que as pessoas pudessem dançar. Por Deus, aquela casa era enorme.

  - Por que você ficou vermelha? – perguntou Lyen quando paramos no centro da sala, com algumas pessoas balançando ao ritmo da música ao nosso lado.

  - É que eu não sei dançar. – confessei.

  - É muito fácil, apenas siga o ritmo da música, deixe seus pés lhe mostrarem como dança. – eu sou um desastre com música eletrônica, a música que tocava era de Lady Gaga, porém o nome não me vinha a mente – Olhe. – ele começou a dançar, mexendo os braços e balançando o corpo tão perfeitamente que tive vergonha de mover um músculo – Vamos lá Littleton, é só se soltar! – ele pegou meus braços e os moveu, em uma tentativa de dança.

  No canto, junto com os jogadores de futebol, estava Max, ele olhava para nós, sem expressão no rosto.

  - O que você está olhando? – perguntou Lyen assim que viu minha distração.

  - Nada. – desviei o olhar de Max, virando minha atenção ao meu parceiro de dança, mas ele estava olhando na direção que eu estava há poucos segundos.

  - Um dia, quem sabe, você me conte o que aconteceu entre você e o Max. – disse ele virando o rosto em minha direção, seus olhos transmitiam uma curiosidade, mas tinha algo mais ali, escondido naquele olhar.

  - Um dia, quem sabe. – repeti suas palavras, mas não tendo tanta fé nelas como Lyen teve ao pronunciá-las.

  - Será que você pode esquecê-lo por uma noite? – seus olhos imploravam por isso.

  - Posso. – eu acho, pensei.

  - Certo. Vamos dançar? – perguntou ele sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

  - Não me culpe por ser a pior dançarina do mundo. – respondi, rindo também.

  - Como você pode ser a pior dançarina de mundo, se tem eu como professor? – nós dois rimos. Antes mesmo que eu pudesse começar a dançar, a música trocou, não era mais aquele ritmo eletrônico que fazia as pessoas balançarem o corpo loucamente, está música era suave, lenta. Rapidamente, as pessoas escolhiam um par e trocavam o movimento de seus corpos para um ritmo mais calmo, acompanhando a melodia da música. – Me permite esta dança? – Lyen fez uma reverência, e depois estendeu a mão, pousei minha mão sobre a sua, aceitando o convite.

  - Claro, meu conde.

  Lyen colocou a mão livre em minha cintura, deixei a música e Lyen conduzirem-me, pousei minha cabeça em seu ombro, sentindo-me completamente segura. Procurei Max na pista de dança, eu sei que é besteira minha pensar que ele estaria encostado na parede, sem expressão no rosto, como estava antes, só olhando para mim.

 O problema é que eu não consigo matar de uma vez por todas as esperanças que sinto no peito, resultado dos dias ao lado dele, de cada palavra dita, de cada momento, tudo. E aquilo foi o maior erro da minha vida.

  Como eu pensei, Max dançava com Juliet. Como poderia ser diferente? Não poderia. Ele sempre vai estar ao lado de Juliet. Sempre. E eu estarei ali, apenas olhando, sonhando em como eu queria aquilo para mim.

  Mas eu tenho Lyen, a minha fortaleza contra Max, contra tudo que ele me fez e ainda me faz sentir. Com Lyen eu posso simplesmente fechar os olhos e fingir que Max não estava ali, tão perto, e ao mesmo tempo tão intocável. E foi exatamente o que eu fiz, fechei os olhos e fingi que Max não estava ali.

  Fingi que ninguém estava ali, apenas Lyen e eu, dançando no ritmo da música.Nossos corpos colados, sentia sua respiração em meu pescoço, o cheiro doce de seu perfume misturado ao cheiro de lavanda e sabonete. Ele era meu porto seguro, com ele nada poderia me abalar ou me derrubar. Aconcheguei-me mais em seu braço, e ele por sua vez, pousou sua mão em minha cabeça, acariciando meus cabelos.

  Meu coração começou a bater mais acelerado, por algum motivo desconhecido

  A música terminou, olhei para Lyen que estava com um sorriso no rosto, parecia um reflexo do meu.

  - Foi tão difícil assim? – perguntou ele.

  - Não foi. – e realmente não tinha sido – Mas podemos nos juntar a turma? – fiquei um pouco vermelha ao pedir isso, não queria que ele pensasse que eu não queria ficar ali sozinha com ele.

  - Venha. – ele estendeu a mão e eu segurei.

  Lyen e eu procuramos por nossos amigos, e os encontramos no que seriaum barzinho. A casa de Juliet era muito grande, o bar onde meus amigos estavam, estava inteiramente enfeitado de neon e tinha alguns banquinhos na frente, parecia um bar de danceteria mesmo.

  A primeira coisa que notei era que Kim estava com uma bebida azul na mão.

  - Falta muito Kim? – pediu Janel.

  - E como é que eu vou saber? – respondeu Kim.

  - Quando você se sentir enjoada, dã!

  - Então ainda falta muito, tô me sentindo normal demais. –respondeu Kim revirando os olhos e tomando um longo gole da bebida.

  - Não vai demorar muito até o efeito do álcool chegar. – disse Gabriel, que estava com os braços ao redor de Andy.

  - Só me faça um favor Kim, vomite bem em cima da cabeça do Tayler. – pediu Janel.

  - Posso saber o que está acontecendo aqui? – perguntei sentando ao lado de Jany; Lyen parou ao lado de Kevin, que estava em pé.

  - Estamos realizando o pedido de Juliet, fazendo Kim tomar muita bebida alcoólica, pra ela vomitar na casa toda. – respondeu Jany, enchendo o copo de Kim.

  - Garanto que a ideia foi sua, Kim. – disse.

  - Desta vez eu não mereço os créditos. Foi de Janel. – respondeu Kim.

  - Janel? Você era tão santinha e acolhedora, o que houve com você? – perguntei.

  - Achei um namorado canalha, isso que me aconteceu amiga! – respondeu ela enchendo um copo da mesma bebida de Kim e tomando de um gole só.

— E depois vocês vão fazer o quê? Quebrar os vasos da casa? – perguntei com um pouco de medo da resposta.

  - Ouviram isso? Amiga, eu pensei que você, Alice Holloway, era santa!

  - Não me diga que eu acertei o plano.

  - Na mosca. – disse Kim.

  - E vocês concordaram com isso? – perguntei a Andy, Gabriel e Kevin.

  - E tem como impedir a Kim? – perguntou Andy.

  - Nem com amarras alguém me segura! – disse Kim tomando outro copo de bebida, agora rosa.

  - Isso aí é bom? – perguntou Gabriel.

  - É ótimo! Nunca vou parar de beber isso! – respondeu Kim com um sorriso estranho.

  - Me dá um pouquinho amor. – pediu Kevin estendendo a mão, mas Kim rosnou para ele como um cachorro raivoso.

  - Não! – respondeu ela e voltou a beber.

  Kevin tentou pegar a garrafa da bebida, mas Kim rosnou novamente e roubou a garrafa antes que Kevin pudesse pegar.

  - Meu precioso. – disse ela, abraçando a garrafa.

  - Kim! – reclamou Kevin.

  - Tá bom, só um pouquinho. –  rendeu-se ela, enchendo um copo para o namorado.

  - Obrigado.

  - Eu tenho uma pergunta. – disse Andy – Como vamos saber que o álcool está fazendo efeito, se a Kim parece bêbada já no natural?

  - Assim me ofende Amanda! – respondeu Kim, que ria muito – Quem sabe eu de umas vomitadinhas na cabecinha do Max pequeninho e da Juliet vaquinha voadora. – Kim começou a se embaralhar nas palavras, o álcool já estava fazendo efeito.

  - Só me avisa quando você for vomitar, ok? – disse Janel, afastando-se um pouco de Kim.

  - Meniiiinaaaa, vai demorar pra cacete! – disse ela, como se estivesse com a língua enrolada.

  - Não vai demorar muito não. – observou Gabriel – Quantos copos ela tomou? Uns cinquenta? Como ela aguenta?

 - Sessenta. – Kim sibilou a reposta.

 - Na verdade foram setenta e cinco. – corrigiu Janel.

  - Minha nossa! – exclamei – Como cabe tudo isso em você?

  - Espere o Erick chegar, ele vai adorar ver a bagunça.

  - Ele vem? – perguntei.

  - Sim. Alyson teve alguns probleminhas com os pais, por isso eles se atrasaram. – disse Gabriel – Os pais dela são loucos.

  - Acho que eles ainda estão no tempo dos dinossauros. – disse Kevin.

  - Não, os dinossauros deixavam os filhos sair e ter namorados. – disse Janel.

  - Era das cavernas?

  - Eles estão mais para o tempo antes do Velho Testamento.

  - Eles chegaram. – disse, levantando animada por meu melhor amigo e ex-namorado ter chegado, fui ai encontro deles e abracei Erick.

  - Hey, Alice! –cumprimentou Erick.

  - Pensei que você não viria.

  - E perder você estrangulando a Juliet? Nem pensar.

  - Isso não vai acontecer. – ri.

  Virei para Alyson, ela tinha cabelos loiros e ondulados, os olhos incrivelmente verdes. Ela tinha um rosto de anjo, que combinava com aparência, parecia que ela tinha saído direto da Bíblia. Ela estava com um vestido branco com estampas de flores, um vestido lindo, que não chegava até o joelho. Acho que o problema com os pais não foi apenas o fato de ela querer sair com o namorado, mas também o vestido. Ela estava corando, o motivo provavelmente era o fato dos seus olhos estarem borrados, ela provavelmente tinha chorado, e estava com vergonha disso.

  - Oi Alyson, você está muito bonita. – disse abraçando-a.

  - Olá Alice. Muito obrigada, você também está linda. – ela exibiu um pequeno sorriso.

  - Obrigada. Não tenha vergonha, todos choraram. – disse um pouco relutante, talvez a garota não goste do que eu diga –Erick, vou roubar sua namorada por alguns minutos. Posso?

  - Claro. – respondeu ele.

  Erick deu um leve beijo em Alyson e acariciou seu rosto, sussurrou um “está tudo bem” para ela, e partiu em meio à multidão.

  - Venha comigo Alyson. – estendi a mão para ela, que hesitou por um momento, mas que a segurou.

  Subimos as escadas e encontramos um banheiro vazio. Aquele maldito banheiro era grande, abri minha bolsa e tirei um lencinho, removedor de maquiagem e meu pequeno estojo de maquiagem.

  - Toma, acho que isso vai ajudar você a levantar sua autoestima. – disse estendendo um lencinho para ela assoar o nariz.

  - Obrigada.

  - Agora feche os olhos, você tem um olho lindo para ficar com uma maquiagem. – Alyson fechou os olhos e inclinou a cabeça um pouco para trás, retirei toda a maquiagem.

  Peguei meu estojinho de maquiagem e conferi qual sombra combinaria mais com ela, optei por um rosa-escuro. Depois da sombra, tracei uma linha fina com o delineador e finalizei com rímel.

  - Prontinho. – disse.

  - Obrigado Alice, se você quiser voltar à festa, fique à vontade, você já me ajudou, e muito. – ela exibiu novamente aquele sorriso fraco, meio apagado.

  - Essa festa esta muito sem graça, acho que ficar aqui com você vai ser mais legal. – ela sorriu novamente.

  - Desculpa por ter feito Erick se atrasar.

  - Não se desculpe, a culpa não é sua. Ninguém escolhe os pais que tem. – olhei para ela, pensando que falei besteira – Desculpa, eu não... desculpa – não sabia o que dizer.

  - Não se desculpe. Sabe Alice, eles não são tão ruins, existem pais piores. Eles são religiosos demais. A igreja, Deus e a família são tudo para eles. Eles simplesmente não conseguem aceitar Erick como meu namorado, acham que ele vai me corromper. Eles queriam que eu namorasse com um homem religioso, mas é a minha escolha, e eu e Erick não vamos fazer nada, se você me entende.

  - Eu entendo esse seu nada. – dei uma leve risada – Todos os pais têm medo desse nada.

  - Eles são... superprotetores. – ela foi para a frente do espelho e conferiu a maquiagem – Fez um ótimo trabalho Alice.

  - Obrigada. O seu colégio é legal? – perguntei depois de um curto tempo em que ela ficou em silêncio, observando-se no espelho - Erick me contou que você está estudando em um colégio de freiras.

  - Não é ruim. Fora o fato que lá só tem meninas – rimos – Mas eu queria estudar com vocês. Gostaria de poder ver Erick todos os dias e andar de mãos dadas com ele, ter amigas que falassem de outra coisa que não fosse Deus e seus mandamentos, os Sete Pecados Capitais, ou o do quanto são santas. Eu quero viver minha vida.

  - Você gosta desse lance de Deus, não é? – ela riu de minha pergunta.

  - Claro. Mas não sou essa garota completamente fanática por Ele, que segue tudo o que está escrito na Bíblia ao pé da letra, que só fale Dele, que só lê ou ouve músicas sobre Ele. Mas infelizmente meus pais são. Cada um tem seu jeito de amar Deus e de expressar esse amor.

  - Fala sério, seus pais nunca leram um romance? Nem mesmo de Shakespeare?

  - Não.

  - Nunca ouviram Rihanna?

  - Não.

  - Você já ouviu, não é?

  - Já ouvi “Umbrela”.

  - Ufa. Acho que eu bateria em você se nunca tivesse ouvido Rihanna.

  - Fui salva pelo guarda-chuva, sorte a minha. – ela riu, e dessa vez o sorriso tinha mais vida.

  - Seus pais são estranhos, como eles podem não ter ouvido Rihanna! Até minha avó ouviu! – ela riu novamente, sua risada era muito suave.

  - Ninguém muda a cabeça deles.

  - Eles sempre foram assim?

  - Desde que eu me lembre, sim.

  - Você acha que tem algum motivo para eles serem muito religiosos?

  - Não. Mas acho que foi o motivo de meu pai ter perdido a mãe muito cedo.

  - Eu... o que está acontecendo lá embaixo? –interrompi, pois lá embaixo parecia que estavam gritando.

  Puxei Alyson para fora do banheiro, descemos as escadas, uma roda estava formada ao redor do tapete persa de que Juliet tanto falou, abrimos espaços pela multidão, até podermos ver o motivo de todas as exclamações. Kim havia vomitado no tapete, Juliet apareceu com um copo de bebida na mão, com Max logo atrás dela.

  - Mas o que está... Oh meu Deus! Olha o que você fez com o tapete de minha mãe!

  - Ops, sinto muito Juliet, não pude segurar. – disse Kim, muito bêbada, se atrapalhando um pouco nas palavras.

  - Ainda bem que eu não ando mais com esse grupo. – disse Tayler, parando ao lado de Juliet, Kim se aproximou dele – Fique longe de mim!

  - Tayler, querido, como eu sinto a sua falta! – Kim agarrou Tayler e o beijou, ele tentou afasta - lá, mas Kim era muito forte, finalmente ele conseguiu fazer ela largá-lo – Qual é o seu problema?! – Tayler ficou roxo – Tem gosto de vômito na minha boca!

  - Presentinho de Janel. – disse Kim, Janel e Kevin foram em direção a ela, e pararam, um de cada lado, os dois quase se dobravam de tanto rir, e não eram os únicos, todos ali estavam rindo.

— Parem de rir! – gritou Tayler, trocando o tom roxo no rosto por um vermelho.

  - Fora da minha casa! – berrou Juliet. Max, ao seu lado, parecia não acreditar no que acontecia.

  - Não quer receber seu presente também? – perguntou Kim se aproximando de Juliet com os braços abertos e um biquinho nos lábios, Juliet recuou, mas quando Kim estava perto de Juliet, ela começou a fazer movimentos como se fosse vomitar de novo, e foi o que aconteceu, ela botou para fora todo o resultado das bebidas que ela havia tomado, em cima de Juliet.

  - Meu vestido! Olha o que você fez sua pobretona sem-teto! – Juliet estava vermelha de raiva, Kim ria, ela estava tão bêbada que parecia não se importar com as palavras de Juliet, mas eu me importava. Fui em direção a um vaso com figuras egípcias que parecia mais caro do que os peitos falsos de Juliet, peguei ele, dirigi-me ao centro do circulo e o joguei com toda a força que eu pude no chão, o vaso se despedaçou por completo.

  Eu tive uma ideia, talvez eu faça papel de idiota, mas e daí?

  - Ops, escorregou. – disse com um sorrisinho irônico para Juliet - Vamos quebrar tudo! – essa foi a frase mais idiota que eu pensei, mas todos gritaram um “Woohoo” e pegaram o objeto mais perto e quebraram, isso sim foi maravilhoso de ver.

  - Vamos sair daqui. – Lyen pegou meu braço e levou-me para fora da festa, meus amigos foram logo atrás, deixando uma multidão um pouco louca demais, que se atirava comida e bebidas, objetos voavam pela casa, e não tinham aparência de “baratos”.

  Paramos no jardim de Juliet, pois nossas barrigas doíam de tanto rir.

  - Isso foi incrível Alice! – disse Janel.

  - Foooi deeemais, Aliche. – disse Kim – Não, é Alique, Alizi, A... A... A... Aliche! – ela se jogou no chão e começou a se contorcer, rindo demais.

  - Valeu pela vingança Kim, ela nunca vai esquecer daquilo. – agradeceu Janel sorridente.

  - Nem eu. – disse Kevin, e um arrepio percorreu seu corpo – Agora Kim vai ter que lavar a boca com sabão, ela beijou Tayler Jacobson! Sabem quantos micróbios tem naquela boca?

  - Hey! Eu beijei aquela boca! – protestou Kim.

  - É por isso que eu nunca vou querer beijar você.

  - Pena que vocês dois não puderam aproveitar a festa. – disse para Erick e Alyson.

  - Tudo bem. – disse Alyson – Foi divertido ver tudo aquilo.

  - A noite é uma criança, que tal aproveitarmos ela? – propôs Erick.

  - Que tal irmos para minha casa? Meus pais foram passar o final de semana no sítio. – disse Gabriel.

  - Tem cafeína para a doida da Kim. – disse Amanda.

  - Vamo nessa! – disse Kevin.

  Todos foram para seus carros, mas Lyen segurou meu braço.

  - O que foi Lyen? –virei-me sorrindo, esperando encontrar aqueles olhos maravilhosos, mas não era ele quem segurava meu braço, era Max. Lyen estava parado ao seu lado com um olhar preocupado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou? Comente! Odiou? Comente também!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alice" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.