Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 4
Capítulo 3 - Começando do Zero




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  Segunda-feira. Terei coragem de olhar para o Max depois desses dias? Eu uso a pulseira? Quando eu vou agradecê-lo por ela? Eu sou muito indecisa e tímida. Por que eu tinha que ser uma Isabella Swan da vida? Está bem, hora de levantar da cama e me arrumar.

  Janel e Kim já estavam se arrumando. Eu preciso escolher uma roupa bem legal, ou no mínimo, uma que não me faça parecer uma nerd. Tomei café da manhã, escovei os dentes e tomei meu banho. Abri meu guarda-roupa, peguei minha calça jeans azul-marinho, uma escala branca de manga comprida; por cima, coloquei uma blusa de renda, com um cinto dourado. No fundo do armário tinha meus All Star, peguei o que estava em melhor estado, mas assim que os coloquei, Janel os arrancou de meus pés. Em seguida, jogou uma sapatilha dourada dela, “cuide bem dela ou morra. E não deixe chulé.” Disse ela.

Agarrei minha bolsa e o celular, e nós três fomos para o colégio, ao som de One Woman Army, de Porcelain Black.

  Não tentei procurá-lo antes da minha primeira aula, uma parte de mim estava com medo que ele não me tratasse do mesmo modo, por causa de Juliet.

 Na hora do almoço, tivemos uma grande surpresa, o refeitório estava todo decorado, adivinha o motivo? Aniversário de Juliet. Ela separou o refeitório em ala VIP e a ralé, o que não era novidade. Na parte VIP estava acontecendo sua festinha, com direito a um bolo enorme, música e uma comida muito boa. Notei que Max tinha um presente para ela. Às vezes,eu olhava para ele, e ele sorria para mim quando nosso olhar se cruzava. Mas nada além disso. Na hora de cantar os parabéns para ela, Kim começou a bater palmas e a falar igual a uma retardada, e ao invés de “parabéns pra você”, ela cantava “parabéns para a bruxa”, o que fazia todos em nossa mesa rir.

As próximas aulas iam ser fogo. Uma eu tinha com o Max sem a Juliet, e a outra com o Max e a Juliet.

Assim que o sinal tocou, fui para Trigonometria II, sentei-me em minha cadeira, eu não dividia aquela carteira com ninguém, pois Kim havia reprovado em Trigonometria I – o que não foi uma novidade – E Amanda estava na Matemática Avançada.

Enquanto o professor não chegava, eu fiquei olhando para o céu. Era lindo o tom de azul que banhava os céus.As nuvens formavam figuras abstratas, se Kim estivesse ali, ela diria que a nuvem da direita parecia um gambá de vestido.

  Enquanto eu estava perdida em meus devaneios, a cadeira do meu lado moveu-se,o que eu estranhei, pelo fato de eu não ter um parceiro. Eu virei para ver quem sentou ao meu lado, e Deus, quase enfartei: era Max.

  - Lindo, não acha? – perguntou ele, apontado com a cabeça para o céu.

  - Si-im, é lindo. – comecei gaguejando, e por Deus, eu tenho que perder essa mania.

  - Eu costumava observar o céu à noite. É muito lindo. As estrelas têm um brilho especial, uma magia. – ele sorriu e pegou meu pulso esquerdo, e sorriu mais ainda – Você está usando.

  - Eu nem sei como agradecer, Max.

  - Apenas diga obrigado.

  - Obrigada Max. Eu adorei.

  - Estou curioso, qual foi sua reação a ver os dois pacotes?

  - Foi o Gabriel quem viu. Dei a ele a sacola, para dar o colar para Amanda, ele disse que tinha duas caixas e uma tinha meu nome. Eu mesma queria ter visto minha cara de palhaça.  

  - Foi difícil fazer o cartão, tive sorte de você não ser curiosa e querer ver o que eu escrevia no bilhete.

  - Não sou tão curiosa assim.

  - Vou me lembrar disso da próxima vez.

  - Não entendo por que você me deu a pulseira.

  - Eu gosto de dar presentes, ver quem eu gosto sorrir, me faz feliz.

  - Eu gostei da sua tática para me dar um presente. Vou usar isso com a minha mãe no aniversário dela, eu acho que os presentes anteriores não a agradaram. – dei uma risadinha.

  - Minha mãe pedia presentes, por isso não tinha dificuldade em saber o que ela queria. – ele também deu uma risadinha.

  - Isso é bom, no mínimo você nunca deu um presente errado.

  - Às vezes eu dou. Uma vez ela queria um perfume, e eu comprei um de framboesa, a vendedora disse que erauma marca exclusiva e muito boa. A questão é, eu comprei e minha mãe odeia framboesa. Fazia ela ficar enjoada.

  - E o que ela disse quando sentiu o cheiro do perfume?

  - Nada. Apenas disse que estava decepcionada por seu filho não saber que ela odiava framboesa.  

  - No mínimo, você deu um perfume. – disse dando uma leve risada.

  - É, no mínimo, eu dei um perfume, que era o que ela tanto queria.

  Ficamos em silêncio, eu não sabia o que dizer e sentia-me constrangida por isso. Tive a impressão de que ele ficava me olhando, enquanto eu fitava o movimento lá fora. Graças a Deus,o professor entrou na sala e começou a aula.

Enquanto ele explicava o conteúdo novo, eu ficava concentrada na pessoa ao meu lado. Eu sentia a atmosfera mudar, havia uma atração que nos puxava mais para perto um do outro;às vezes nossos braços se tocavam de leve;às vezes ficavam encostados, e onde quer que ele me tocasse, fazia uma corrente elétrica passar pelo meu corpo. Eu fazia o possível para não sorrir feito uma garota idiota apaixonada pela pessoa errada, não quero estragar tudo tão cedo.

 Se não posso ser namorada do cara ao meu lado, então serei a sua melhor amiga e confidente.

  Ou eu morreria no processo.

  - Peguem os seus cadernos e vamos fazer alguns exercícios. – disse o professor, tirando-me de meus devaneios – Vou passar em cada carteira, vendo quem realmente prestou atenção na aula. – não sei por que, mas o professor olhou em minha direção nessa hora, engoli em seco – valendo meio ponto.

  - Ah, droga. – sussurrei enquanto folheava meu caderno freneticamente. 

  - Perdeu alguma coisa? – perguntou meu parceiro.

  - Bem, talvez tenha perdido meu cérebro, você por um acaso o viu por aí? – ele riu de minha pergunta – É só que eu realmente não prestei atenção na aula.

  - Sou uma distração pra você?

  - Convencido. – sim, você me distrai, e muito, caralho.

 - Quer ajuda? – perguntou Max.

  - Você vai ter que me explicar tudo, desde no início e muito lentamente. – confessei.

  - É muito simples. – ele se aproximou mais de mim, olhando para meu caderno, ficamos tão perto que se eu me virasse, poderia beijá-lo. – O que você estava fazendo quando ele explicou? – ele virou para olhar-me, e eu virei para fitá-lo também, seus lábios estavam a pouca distância dos meus.

  Ele olhou fundo nos meus olhos, eu olhei fundo nos olhos dele. Parecia que nunca mais desviaríamos esse olhar. Eu queria aproximar-me mais, agarrá-lo e beijá-lo agora. Mas eu não tinha coragem. Em um instante, ele estava aproximando-se de mim, no outro, ele estava desviando o rosto. Constrangido.

  - Acho que Lucas explica melhor. – disse ele se levantando.

  Ele chamou o garoto de nome Lucas, cujos cabelos eram ruivos, o rosto coberto de espinhas e os olhos castanhos eram emoldurados por um óculos extremamente nerd. Ele sentou ao meu lado e começou a desembuchar a matéria em cima de mim, enquanto Max ficava sentado em cima de minha carteira, olhando fixamente o caderno.

Não trocamos mais palavras até o final das aulas, quando nos despedíamos e Juliet caiu em cima dele, arrastando-o para a próxima aula.

 Voltei para casa meio zonza, lembrando daquele momento. O que ele pensou? Por que se aproximou mais? E por que ele recuou? Todas essas perguntas ecoavam em minha mente e não me deixavam esquecer ele. E principalmente aquele olhar.

  Aquele olhar dizia mais do querealmente parecia. Só que eu não sabia o que.

  Eu teria passado mais tempo pensado nisso, se eu não tivesse aberto a porta de minha casa e tê-la encontrado em chamas.

  Ok, não exatamente em chamas. Mas uma fumaça gigantesca vinha da cozinha, me fazendo engasgar. Corri até lá e encontrei uma panela pegando fogo.

  - Mas que merda... – exclamei.

  Corri escada acima em direção ao quarto do meu pai, abri seu armário e procurei freneticamente por um extintor de incêndio, que meu pai havia guardado ali há alguns dias, depois que ele tirou de nosso carro.

  Era pequeno, mas daria.

  Desci correndo as escadas novamente, segui as instruções que vinham na embalagem do extintor, apontei para a panela, cujaas chamas se erguiam e puxei o “gatilho”. Logo, as chamas diminuíram, mas o dióxido de carbono contido no extintor, acabou.

  Mas que merda, por que colocam isso nos carros, se não vai ser capaz de realmente apagar o incêndio?

  Ouvi passos apressados descendo as escadas, olhei para trás e encontrei Noah, enrolado da cintura para baixo em uma toalha.

  - Meu jantar! – exclamou ele.

  - Minha casa, Noah! – rebati – Você estava tentando se matar é? Era só pedir que eu tacava fogo em você. Longe da minha casa. – disse colocando a mão livre na cintura.

  Ele se aproximou do fogão, desligou a boca que estava ligada e jogou a panela na pia, ligando a torneira para apagar o pouco das chamas que restavam.

  - Eu estava cozinhando para Izzy. – disse ele – Subi para tomar um banho, mas acho que demorei demais.

  - Você acha? Encontrou seu patinho de borracha e ele te seduziu? Ei, espera, quem é Izzy?

  Ele teria respondido, se sua toalha não começasse a pegar fogo.

  - Ahh! – gritamos juntos.

  Ele saiu correndo para os fundos, eu fui atrás gritando para ele tirar a toalha, ele se aproximou do jardim de pedras de minha mãe e jogou a toalha, eu parei ao seu lado pegando a mangueira e apagando o fogo.

  - Essa foi por pouco. – disse ele.

  - Noah, Alice, o que é isso? – perguntou alguém atrás de nós, logo reconheci a voz, nossa mãe.

  Viramos e encontramos nossa mãe sentada em uma cadeira, com uma xícara de chá nas mãos. Mas o pior era que ela não estava sozinha, tinha duas mulheres ao lado dela, que aparentavam ter a mesma idade.

  - Uau. – disse uma delas, enquanto a outra assobiava, olhando fixamente para Noah.

  - Ah! Noah estava colocando fogo na casa. – disse, enquanto Noah colocava a mão no meio de suas pernas, envergonhado.

  - Noah, querido, - disse nossa mãe – já disse para não brincar com fogo.

  - Desculpa mãe. – disse ele.

  - Ande querido, vá colocar uma roupa, antes que minhas amigas enfartem.

  - Nick, o do seu marido é do mesmo tamanho do seu filho? – ouvimos uma das mulheres perguntarem enquanto Noah e eu entrávamos na casa.

  Coloquei as mãos nos olhos.

  - Vá Noah, não quero me traumatizar pro resto da vida. – disse.

  - Irmãzinha, você iria me agarrar se me visse assim.

  - Eca, Noah! – gritei, enquanto isso Noah se afastava, escada acima.

  À noite, eu virei de um lado para o outro na cama e não conseguia fechar os olhos. Minha mente vagava pela estrada em busca de um rosto. O que me fazia uma pessoa muito patética. Liguei a TV, fiquei passando os canais, mas nada me agradava.

  Ouvi alguém assoviar, olhei para o relógio e já havia passado da meia-noite. Provavelmente algum bêbado.

  - Alice! – alguém chamou meu nome.

  Olhei para a janela bem a tempo de ver uma pedrinha bater contra o vidro. Alguém me chamou novamente. Levantei da cama, isso com certeza não era um sonho. Vesti meu roupão branco, abri a janela e olhei para a noite escura, as estrelas brilhavam loucamente. Do nada, alguma coisa me acertou, com o susto eu me desequilibrei, escorreguei em alguma coisa e caí da janela.

 Por que meus pais tinham que comprar uma casa de dois andares?

  Pensei que iria morrer. Meus pais entrariam em depressão, minhas amigas chorariam por dias. E o meu irmão? Como ele poderia se concentrar na carreira se seus pais precisariam tanto da ajuda dele?  Como ele ia se virar sem mim, se até fogo na casa ele quase colocou?

  - Peguei você. – disse uma voz preocupada. Eu senti alguém me segurar, antes que meu corpo caísse contra o chão. – Me desculpe, eu não sabia que você ia abrir a janela.

  Eu olhei para o rosto da pessoa que me salvara, mas que provavelmente também me colocou em perigo.

  - Max? – perguntei assim que reconheci aquele rosto.

  - Eu já estava desistindo. Era última pedra que eu ia atirar, por isso, atirei com um pouco mais de força. Me desculpe.

  - Tudo bem. Eu estou bem, então tudo bem.

  - Meu Deus, eu quase matei você!

  - Mas não matou. E mesmo que você não estivesse aqui para me segurar, eu só teria quebrado uma perna, quem sabe um braço e fraturado a coluna. Nada de mais. – ele deu uma breve risada e colocou-me no chão – Ou talvez o pescoço.

  - Você quase morreu, mas mesmo assim faz piada?

  - Sou uma piadista, o que eu posso fazer? – ele sorriu.

  - Gosto de piadistas.

  - Mas me conta, por que você está aqui?

  - Eu estava em uma festa, e...

  - Brigou com Juliet? – completei para ele.

  - Sim.

  - Veja só, sou sua suposta melhor amiga há o que, dois dias, e já conheço muito bem você.

  - Você não é minha suposta melhor amiga, você é minha melhor amiga. E já faz anos.

  - É bom saber disso. Melhores amigas têm mais direitos do que supostas melhores amigas. – é claro que isso é ruim! Eu não quero chamar-te de melhor amigo e brincar de casinha!

  - Humm, que garota interesseira. – ele riu.

  - Então, o que eu posso fazer por você? Espero que seja uma coisa muito boa, porque eu acabei de voar. – ele deu uma risadinha.

  - Eu ia convidar você para dar uma volta.

  - Eu até iria, se não estivesse de roupão. – eu olhei pare ele, de calça jeans, blusa e casaco de couro, e eu com um pijama de ursinho e um roupão. Passei a mão nos meus cabelos, tentando arrumar um pouco a bagunça.

  - Se você quiser, eu posso esperar você trocar de roupa. Claro, se você não estiver muito cansada, e se quiser ir.

  - Acho que minha experiência de quase morte me acordou. O problema vai ser entrar em casa novamente. Acho que pelo lugar que eu desci não vai dar.

  - Isso é um problema. Não é uma boa ideia acordar seus pais.

  - Não. – concordei.

  Ouvi um barulho de uma porta se abrindo dentro de casa, olhamos para minha janela, a luz se acendeu, e alguém chamou por meu nome. Alguém se aproximava da janela. Tomara que não seja minha mãe. Tomara que não seja minha mãe.

  - Como você foi parar aí embaixo? – perguntou meu irmão, colocando a cabeça para fora da janela.

  - Shhh! Abra a porta para mim. E não acorde nossos pais. – sussurrei.

  - Mas se você não usou a porta, como chegou aí?

  - Abra a porta Noah! – exigi.

  - Está bem. Mas vai ter uma condição.

  Ele saiu da janela antes mesmo de eu poder reclamar.

  - Vem. - disse para Max.

  Fomos até a porta esperar que Noah a abrisse, o que demorou um pouquinho.

  - Você virou a mulher-aranha agora? – perguntou Noah assim que abriu a porta.

  - Não Noah, eu caí. – ele esbugalhou os olhos com a minha resposta.

  - E como você está viva?

  - Ele me pegou.

  - Poderia tê-la deixado bater a cabeça, no mínimo, para ver se ajeitava alguma coisa nessa cachola. – disse Noah, remexendo em meus cabelos.

  - SHH! Fale mais baixo! Você vai acordar nossos pais! – sussurrei.

  - Verdade. Obrigado cara. Nem sem o que faria sem minha irmã chata.

  - Você mataria nossos pais com ácido sulfúrico, sem querer. – respondi para Noah. – Já volto Max.

  - Como assim já volto? – perguntou meu irmão, ignorando a parte sobre matar nossos pais.

  - Nós vamos sair.

  - E quem vai me dar cobertura?

  - Como assim? – perguntei.

  - Vou sair com Isabella.

  - Era só o que me faltava. Ela é a tal de Izzy? A garota de quem você está gostando?

  - É ela sim. E eu sem querer queimei nosso jantar hoje e fiquei de castigo. Preciso que você me dê cobertura, preciso sair com ela.

  - Por que vocês não deixam um recado, dizendo que saíram juntos? Talvez eles nem acordem antes de nós voltarmos. – disse Max – Caso acordem vocês podem dizer que Alice passou mal, caso contrário, quem chegar primeiro pega o bilhete e dá cobertura ao outro.

  - Brilhante ideia cara. Qual seu nome? – perguntou meu irmão.

  - Max.

— Max, eu sou Noah. Isso é o início de uma grande amizade.

  - É, acho que é. – Max piscou para mim.

  - Fique longe dele Max. Noah é louco.

  - Puxei para você irmãzinha!

  Subi as escadas, arrumei o cabelo correndo, e vesti uma calça jeans clara, peguei uma blusa regata, coloquei um casaco e desci o mais silenciosamente possível. Noah já tinha deixado o bilhete ao lado do telefone e já havia saído.

  - Vamos? – perguntei a Max.

  - Claro.

  Saímos para a noite fria de fevereiro, as estrelas continuavam brilhando intensamente. Minha cabeça latejava um pouco. Como Max tinha força!

  - Como está sua cabeça? – perguntou ele.

  - Está bem.

  - Deixe eu ver.

  - Não precisa.

  - Por favor. – ele segurou meu braço e nos fez parar.

  - Não precisa Max, é serio.

  Ele não me deu ouvidos.

  - Abaixe a cabeça. – obedeci. Ele examinou o local onde a pedra tinha acertado – Você ganhou um belo galo. – rimos.

  - Melhor um belo galo do que um pescoço quebrado.

  - Me desculpe.

  - Max, não foi nada.

  - Quer continuar mentindo?

  - Não estou mentindo.

  - Você mente muito mal, Alice.

  - Nunca fui boa em mentiras. – fiz uma careta.

  - Está doendo? – perguntou ele novamente.

  - Latejando. Mas vai passar, não se preocupe.

  - O que eu posso fazer para te ajudar?

  - Pare de se preocupar, está bem?

  - Ok. – ele demorou para responder.

  Caminhamos um pouco em silêncio, observando a noite, o quanto era linda e fria ao mesmo tempo. Ao respirar, pequenas fumacinhas saíam de nossos narizes, dançando no ar e desaparecendo. Logo, Littleton estaria coberta por uma fina camada de neve.

A cidade estava quase vazia nesse horário, fora alguns adolescentes caminhando sem rumo pelas ruas e algumas pessoas estranhas fumando algo, que não parecia ser um simples cigarro.

  Nossos passos nos levaram até a praça, onde encontramos um homem de pele escura tocando um violino, fora ele, o lugar estava vazio. Sentamos em um banco frio e observamos a lua, enquanto ouvíamos a triste melodia que o homem tirava de seu violino.

  - Linda. – exclamou ele, apontando para a lua. – Quando eu era pequeno, costumava conversar com a lua. Minha mãe era muito religiosa, ela rezava todas as noites antes de dormir, e toda vez que eu a via eu pensava que ela estava falando com a lua, e eu fiz o mesmo. Quando ela morreu, eu continuei falando com a lua, mas porque achava que estaria lá, e que se eu falasse, ela iria me ouvir.

  - Eu sinto muito Max. – não sabia o que dizer, as palavras deles eram tão tristes que arrancaram pequenas lágrimas de meus olhos. Eu não me imaginaria sem minha mãe, não conseguiria ficar em pé por um dia se quer.

  - Por que você está chorando?

  - É uma história linda e muito triste.

  - Não chore por mim. Eu não mereço.

  - Merece sim. Qualquer pessoa que se arrepende de um erro que cometeu, merece que alguém chore por ele.

  - Obrigado Alice. – ele se aproximou do meu rosto e secou minhas lágrimas. Ele estava tão perto que podia sentir seu perfume – Mas não sofra por mim.

  - Você não merecia ter perdido sua mãe. Existem tantas pessoas no mundo que não dão valor a mãe que tem, batem nela, a tratam como um lixo. E você e sua irmã, pessoas que deveria estar com sua mãe, e não estão.

  - O destino é assim. Quando você menos espera, ele tira de você quem você mais ama, nos faz sofrer durante dias, nos faz chorar rios de lágrimas, e quanto você se dá conta, tudo já passou. A vida não para quando sentimos dor, ódio ou rancor, ela continua em frente, e se quisermos viver, temos que segui-la junto, na mesma velocidade.

  - Você diz coisas lindas Max. Eu sei que em qualquer lugar que sua mãe esteja, ela tem orgulho de você. Tem orgulho do filho que criou.

  - Ela não tem Alice. Na vida temos que tomar decisões, escolher qual caminho seguir, e eu escolhi um caminho errado. Ela não sente orgulho de mim. – agora era a vez dele chorar.

  - Então volte para a encruzilhada, e escolha um novo caminho. É por você querer corrigir seus erros, por tentar mudar, que ela sente orgulho de você. – ele olhou fundo nos meus olhos, eu sentia a tristeza dele. Estendi minha mão, e enxuguei as lágrimas que escorriam pelo seu rosto – Ela ama você.

  - Obrigado Alice. – seus lábios exibiram um sorriso fraco.

  - Todos podem mudar. Deus criou o perdão para aqueles que sabem que erraram e querem começar de novo. Deus sempre dá uma nova chance a seus filhos.

  Max iria responder alguma coisa, mas nesse momento o violino parou de tocar, dando lugar ao som de um violão.

  - Eu conheço essa música. – disse Max – É da banda favorita de minha irmã.

  O homem começou a cantar a letra da música.

Thanks for all you’ve done, I’ve missed you for so long. I can’t believe you’re gone, you still live in me. I feel you in the wind, you guide me constantly. Dizia a música.

  - Engraçado tocar essa música justo agora, porque ela combina tanto com o que estamos conversando. – disse ele, passando uma das mãos no cabelo, em um gesto de nervosismo.

  - É uma música linda. – disse, colocando a mão em seu joelho – Mas você não precisa ficar assim, eu estou aqui com você Max. Não podemos mudar o passado, mas podemos consertar o futuro.

  - Como eu faço isso? – perguntou ele, notei que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas novamente.

  Eu queria dizer, primeiro largue Juliet, ela é uma bruxa e só vai te puxar para baixo, mas não disse isso, pois esse não era o momento certo.

  - Eu vou ajudá-lo Max.

  Ele me abraçou fortemente.

  - Senti sua falta. – disse ele – Sinto muito por ter me afastado quando éramos pequenos.

  - Tudo bem. Podemos começar do zero, não?

  - Podemos. – disse ele se afastando e sorrindo.

  Esse sorriso me hipnotizava de um jeito!


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