Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 3
Capítulo 2 - Sonhando alto




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— Vamos? – perguntou ele segurando a porta aberta.

  Saímos para a tarde ensolarada, mesmo assim o vento que sobrava era frio, o que deixava o dia fresco e confortável. Eu estava morrendo de medo de fazer alguma besteira, de dizer algo que o ofenda, ou tropeçar em alguma coisa e cair de cara no chão. Não sabia onde deixar a mão, não sabia como puxar assunto, não sabia para onde olhar. Meu Deus, socorro.

  - Essa estátua me dá um arrepio na espinha. – disse ele apontando para a estátua do anjo, ele segurava uma espada em uma das mãos, seu rosto trazia uma expressão nada amigável.

  - A mim também. – respondi.

  Max começou a caminhar com passos lentos e eu o segui no mesmo ritmo, mantendo uma certa distância dele. Pensei que ficaríamos em um silêncio desconfortável, mas graças a Deus Max não era uma pessoa antissocial igual a mim.

  - Faz anos que não falo com você Alice. – disse ele – Faz o que, cinco anos?

  - Quase oito Max. – corrigi ficando vermelha.

  - Não pensei que fosse tanto assim. Mas também fiquei quatro anos afastado do colégio.

  - E como você está? Não tive coragem de perguntar quando você voltou. Ainda mais porque Juliet poderia arrancar meus olhos.

  - Agora? Não estou mal. Mas naquele tempo...foi difícil. Eu tinha quase onze anos, eu era apenas uma criança e tive que amadurecer. – ele parou de andar – Venha, vamos  sentar aqui. Ele conduziu-me para debaixo da sombra de uma árvore e sentou, fiz o mesmo, ficando um pouco longe dele. – Fui eu quem encontrou o corpo de minha mãe. – respondeu ele assumindo uma expressão triste no rosto.

  - Não precisa falar disso Max. – disse repousando minha mão sobre a dele, em um ato de compreensão, quando ele olhou para a minha mão em cima da sua, fiquei completamente constrangida e tirei a mão, virando o rosto em outra direção para que ele não visse que estava vermelha.

  - Tudo bem, eu já superei.  – podia dizer pela sua expressão que ele não superou ainda, não completamente – Meu pai perdeu a cabeça, começou a beber, chorava todos os dias. Eu tive que cuidar de minha irmãzinha, ela perguntava toda a noite “quando a mamãe vai voltar?”.

  Olhei em sua direção, pois sua voz havia falhado.

  - Eu sinto muito Max. – disse – Desculpe por não ter dito isso antes.

  - Não tem problema Alice. – responde ele sorrindo para mim – Eu sabia o quão tímida você era. - senti meu rosto corar levemente – E ainda é. – eu nada consegui dizer, apenas sorri, então ele continuou sua história –Meu pai achou melhor eu e minha irmã termos um estudo em casa, no mínimo por um tempo, então, ele contratou uma professora particular. Aos poucos meu pai foi se reconstruindo, tornando-se forte, demorou um pouco, mas ele juntou os seus pedaços.

  - Não deve ter sido fácil para vocês.

  - Não foi. Aí quando volto para o colégio tento procurar uma garota com uns óculos enormes e um aparelho e não encontro. – ele olhou em minha direção – Você mudou muito Alice.

  - Obrigada, eu acho. – ele riu.

  - Pra melhor, não se preocupe.

  - Por que, antes eu era feia? – perguntei em tom de brincadeira.

  - Nunca te achei feia Alice, mesmo com aquele aparelho que, desculpe-me dizer, era feio pra caralho. – ele riu me fazendo rir também.

  - Era feio mesmo. Pode confessar, os óculos também não eram nada bonitos.

  - Já que você insiste, não eram. – ele deu uma leve risada, eu gostava do som daquela risada, e ela não havia mudado em nada desde os nove anos de idade.

  - Desculpe perguntar Max, - disse depois de um tempo em silêncio – mas por que você está com Juliet? Não estou querendo julgar sua namorada nem nada, mas o garoto que conheci há quase oito anos, não combina em nada com essa garota.

  - Infelizmente Alice, não mandamos no coração, e o meu coração escolheu Juliet. Lembra que eu te falei que meu pai contratou uma professora particular? – balancei a cabeça positivamente – Então, era a mãe da Juliet, ela começou a aparecer muito em minha casa, e não apenas isso, ela me ajudou naqueles momentos difíceis. Muitas pessoas não veem, mas Juliet tem um coração.

  - Só está bem escondido. – expressei em voz alta meus pensamentos – Desculpa, não queria ter dito isso!

  - Não, tudo bem. Juliet tem mesmo esse lado... problemático.

  - Se com problemático você quer dizer caçoar de mim a vida toda, então ela é bem problemática. – ele me olhou com uma expressão estranha, não sabia dizer o que se passava dentro da cabeça dele, talvez um pouco de raiva, confusão, tristeza.

  - Ela fez isso?

  - Principalmente depois que você deixou o colégio. Mas me desculpe Max, não deveria estar te incomodando com isso.

  - Alice, minha namorada estava caçoando de uma amiga minha.

  - Eu sempre pensei que você não fosse meu amigo. – disse em um tom de voz baixo.

  - Por quê? – seu olhar era confuso.

  - Porque você aos poucos se afastou, até eu ser uma completa estranha.

  - Alice, - sua mão pousou sobre a minha – em momento algum eu esqueci daquela garotinha que não conseguia arremessar uma bola de queimado. Eu gostava de você, e muito, porque você não me julgava, não tentava me mudar. A vida nos afastou, meus amigos me puxavam para um lado, a morte de minha mãe, sua mudança radical de aparência.

  - E Juliet, não é? Acho que ela não ia querer você andando comigo.

  - Juliet é complicada. – ele suspirou, tirando sua mão da minha – Acabei de dizer que gostava de você porque você deixa eu ser quem eu queria ser; com Juliet não é assim, ela me mudou completamente, ela me obriga a mudar, ela quer que eu seja quem ela quer. E eu sou um palhaço que mudo porque a amo.

  - Eu gostava de você do jeito que você era. – nossos olhos se encontraram por um momento, nenhum de nós conseguia fugir desse olhar profundo.

  Até Janel  estragar tudo.

  - Alice! – disse ela ofegante, parando em minha frente.

  - Está tudo bem Jany?

  - Amanda... comeu... mal... – respondeu ela sem fôlego – Desculpa, - ela puxou fortemente o ar para dentro dos seus pulmões – Amanda não está bem, vamos ter que voltar, provavelmente comeu alguma coisa que fez mal a ela. Ah, oi Max. – disse ela, como se percebesse só agora que tinha alguém do meu lado.

  - Olá. Perdoe-me, como é seu nome? – perguntou ele se levantando, e eu fiz o mesmo.

  - Janel Benson. – ele estendeu a mão para cumprimentá-la.

  - Prazer Janel, Max.

  - Bem, eu vou indo. Alice, te encontro na van. Foi um prazer Max.

  - O prazer foi meu.

  Esperei até Jany ter se afastado para falar novamente.

  - Bem, eu acho que tenho que ir. – infelizmente, completei mentalmente.

  - Foi muito bom reencontrá-la, Alice.

  - Digo o mesmo Max.

  - Ah, antes que eu me esqueça, me empreste seu telefone. – sem entender peguei meu celular na bolsa e estendi em sua direção, ele digitava alguma coisa rapidamente, depois de um tempo ouvi uma música tocar, pensei que fosse em meu celular, mas na verdade vinha do bolso de Max – Prontinho. Salvei meu número em seu celular e dei um toque no meu. Assim eu não vou perdê-la de vista novamente. – disse ele sorrindo, devolvendo-me o celular.

  - Hã?Tudo bem então. Até mais.

  - Até mais Alice.

  Comecei a andar na mesma direção em que Janel havia tomado, mas Max me chamou.

  - Hey, Alice. – me virei em sua direção novamente.

  - Sim Max?

  - Estou muito feliz por ter te encontrado. Eu sei que posso ser eu mesmo ao seu lado. – ele sorriu, fazendo-me sorrir também.

  - Eu também estou, Max.

  Dito isso, segui meu caminho com um enorme sorriso no rosto.

Todos já estavam dentro da minivan, Gabriel abraçava uma Amanda que não parava de reclamar.

  - Sim, só estou quase vomitando minhas tripas. – respondeu ela.

  - Amor, eu te disse para não comer nada daquele bar. – disse Gabriel docemente.

— Como você acha que ela está? Mas onde você estava, hein? Ela aqui quase morrendo e você por ai paquerando um menino que não está disponível – disse Kim.

  - Você contou Janel? – perguntei.

  - O que você acha? Somos todos amigos por aqui. – respondeu ela.

  - Nossa Alice, não sabia que você estava tão desesperada assim. – disse Kevin dando risada.

  - Cala a boca Kevin. – respondi rindo - Ele gosta mesmo da Juliet.

  - Ele não vai ser tão louco de preferir ela a você. – disse Erick do banco da frente.

  - Dê tempo ao tempo, Alice, ele logo vai se apaixonar por você. – disse Gabriel piscando.

  - Não sei não, - disse Tyler – caras como ele, preferem garotas populares. – já disse que não gosto de Tyler?

  - Ele não é assim Tyler.

  - Tudo bem. – respondeu ele levantando as mãos, em um gesto de paz.

  - Pessoal, estou morrendo aqui. – disse Amanda.

  - Ok gente, apertem os cintos que o Expresso Erick Polar está saindo. - ele deu a partida no motor e voltamos para a cidade.

  Amanda não podia esperar mais um pouco para passar mal? Quem sabe mais umas cinco horas? Ou talvez seis? Só Deus sabe quando terei uma oportunidade dessas. Amanda eu te amo e tudo o mais, mas por que você fez isso comigo?

  A viagem de volta levou metade do tempo que gastamos na ida, todos estavam cansados e pouco falavam, exceto Gabriel que perguntava a cada segundo como a namorada estava. Deixamos primeiro Amanda em casa e aos poucos fomos “despachando” o resto, imaginei que Erick deixou-me por último porque queria dizer alguma coisa. E eu estava certa.

  - Está esperando o que para me contar tudo? – perguntou ele assim que estacionou a van em frente a minha casa.

  - Não tem muito o que falar Erick. – respondi – Ele falou um pouco sobre a morte da mãe, disse que quando voltou para o colégio não me reconheceu.

  - Eu mal te reconheci Alice. – disse ele rindo – Desculpa dizer, mas uma foto sua naquele tempo substituiria um espantalho. Os corvos morreriam de medo de se aproximar.

  - Erick! – rindo, dei um leve tapa em seu ombro – Valeu, amigo.

— Mas olha pelo lado positivo, agora você é uma supermodelo.

  - Prefiro ser um espantalho, obrigada. – ele riu.

  - Confesso que por um tempo fiquei com ciúmes de Max.

  - Por quê?

  - Ele roubava minha melhor amiga.

  - Sua amizade é insubstituível, seu panaca.

  - E aí, alguma esperança?

  - Não sei, ele disse que estava muito feliz por ter me reencontrado.

  - Como se você tivesse ido embora e voltado. – disse ele rindo, me fazendo beliscar sua barriga – Você sabe que um dia, o garoto perfeito para você irá ser seu namorado.

  - Eu sei Erick. Eu entendo que ele esteja demorando muito porque está vindo a cavalo do mundo das maravilhas, mas ele podia ser um pouquinho mais rápido, não?

  - Calma Alice, tudo acontece no tempo certo e na hora certa.

  - Você tem razão. – fitei por um pequeno momento o rosto de meu amigo, afinal, ele tinha razão – Então, até segunda?

  - Até segunda Alice.

  Sai da minivan e comecei andar em direção a minha casa, atrás de mim podia ouvir Erick dar a volta com a van. Foi quando meu celular vibrou, olhei para tela e havia escrito “você tem uma nova mensagem de: Max”. Vireiem direção à rua e gritei:

  - Ele me mandou uma mensagem!

  - Uhul! – gritou Erick de volta, buzinando igual a um louco enquanto sumia pela rua.

  Corri em direção a minha casa, abri a porta e gritei um olá para meus pais que estavam na sala.Enquanto eu subia em alta velocidade as escadas, papai gritou lá de baixo:

  - A louca gritando lá em baixo era você?

  - Sim!

  - Quem te mandou mensagem? Não preciso me preocupar?

  - Foi Jany!

  - Jany é ele?

  - Ela é hermafrodita!

  Rapidamente entrei em meu quarto, fechei a porta e me joguei na cama, louca para ler a mensagem.“Olá garota dos olhos azuis, senti sua falta.”. E foi assim que começou a minha longa noite, deitada na cama com um celular em mãos, trocando SMS com Max, um garoto compromissado, um velho amigo, um menino sensível e engraçado.

  Na bela manhã de domingo meu celular começa a tocar, tento abrir meus olhos e vejo que quase não consigo. Quem ousa me acordar? Olhei a tela com os olhos meio fechados e a visão completamente borrada, era Amanda.

  - Alô. – disse com a voz carregada de sono.

  - Desculpe amiga, te acordei? – perguntou ela.

  - Aham. Por que me liga tão cedo?

  - Alice, são quase dez horas da manhã.

  - Dez?! – dei um pulo da cama, mas o cansaço abateu-me e joguei-me na cama novamente.

  - Eu ia te convidar para ir ao shopping comigo, vou ter um jantar de família na casa do Gabriel, e você sabe... família rica.

  - Ah, sei sim. Mas você está melhor?

  - Sim, estou, obrigada. Se você tiver cansada não tem problema. Espera, por que você está cansada?

  - Eu conto mais tarde. – respondi sorrindo – Vou me levantar e tomar um banho. Que horas nos encontramos?

  - Perto das duas horas passo te buscar.

  - Ok então, duas horas. Até lá.

  - Até Alice.

  Desliguei o telefone e desci trotando a escada, com plena consciência dos meus cabelos completamente bagunçados, cara inchada e olheiras enormes; fui até a cozinha me servir de uma xícara de café, encontrei mamãe e Noah lá, ela lavava a louça e ele comia torradas na bancada da cozinha, sentei ao seu lado.

  - Passa o café. – disse a ele.

  - Nossa irmãzinha, parece que um caminhão passou por cima de você. – respondeu ele.

  - Não enche irmãozinho, só passa o café. – ele passou uma xícara de café preto, que eu lentamente comecei a tomar.

  - Você está parecendo o seu irmão. – disse minha mãe, parando ao meu lado e acariciando meus cabelos.

  - Aii. – gritei quando ela puxou um nó.

  - Desculpe filha. A que horas você foi dormir?

  - Não sei, acho que eram três da manhã. Ou quatro.

  - Talvez cinco? – perguntou meu irmão.

  - Talvez. Não lembro.

  - Você está parecendo seu irmão. – disse minha mãe sorrindo – Só falta ter uma raposa em seu quarto.

  - Sorte que não era um gambá. – respondi rindo.

  - Assim meu filho, você nunca irá encontrar uma namorada. – disse nossa mãe fazendo o rosto de Noah ficar vermelho.

  - Ela vai ter que aturar. – respondeu ele.

  - Já contou pra ela? – perguntei rindo.

  - Já pensou em arrumar esse ninho de rato no seu cabelo? – perguntou ele rindo, mexendo em meus cabelos, piorando a situação em que eles se encontravam – Vou até tirar a mão daqui, vá que uma ratazana me morda. – ele levantou e saiu da cozinha, levando sua xícara de café, mais um artefato de família que se perderia em meio ao buraco negro que ele chama de quarto.

  - O que eu deveria saber? – perguntou minha mãe sentando-se no lugar que antes Noah ocupava.

  - Meu irmãozinho está supostamente gostando de alguém.

  - Já não era sem tempo. Você acha que ele vai aquietar o rabo? – eu ri das palavras de minha mãe.

  - Mamãe, eu gostaria de saber da onde você tira o seu vocabulário. Sinceramente, eu não sei, mas tava na hora, não acha?

  - Passou do tempo minha filha. – ela ficou um tempinho ali sentada, olhando-me, enquanto eu comia um pedaço de panqueca – E você minha filha? – perguntou ela depois de um tempo.

  - Eu o quê?

  - Desde Erick, nunca vi você saindo com ninguém.

  - Ah mãe, é complicado.

  - Não entendo, você é bonita, inteligente, legal.

  - Não faço muito o tipo dos garotos.

  - Espero que você não faça muito o tipo das garotas. Você não é lésbica, não né?

  - Manhê! – quase me engasguei com as panquecas – Claro que não. – ela riu, dando uns tapinhas nas costas para me desafogar.

  - Graças a Deus. Mas você não tem nenhum gatinho que esteja de olho? – rapidamente fiquei vermelha, tentei esconder isso tomando um gole do meu café, rezando para que a xícara escondesse grande parte de meu rosto.

  - Ah mãe, sempre tem.

  - É um tal de Matt?

  - Matt? Não.

  - Hum. “Ma” alguma coisa?

  - Max? – perguntei, um pouco desconfiada por ela saber disso.

  - Isso. Max. É bonitinho mesmo filha?

  - Quem lhe contou isso?

  - Kimberly. – ela sorriu para mim, seu sorriso soava mais como “não mate a Kim, ela não fez por mal”. A quem mais ela teria contado?

  - Droga. – disse levantando – Gostaria de ficar mais tempo papeando sobre como Max é lindo, mas tenho que me arrumar, pois vou sair com minhas amigas hoje à tarde.

  Não tenho orgulho de dizer que fiz igual ao meu irmão, escapando da cozinha quando o assunto se voltou para minha vida amorosa. Que por sinal era um desastre, mas quem sabe agora ela não melhore, não é? Eu não fiquei acordada até às cinco da manhã para não dar em nada, ora bolas.

  Tomei banho de água fria na tentativa de acordar, mas não deu muito certo. O plano B era ingerir muita cafeína, e foi o que eu fiz. Perto da uma hora, eu já estava bem acordada e muito agitada por causa da cafeína. Logo depois da uma e quinze, um Fusion prata parou em frente a minha casa. Se Kim não tivesse baixado o vidro e gritado um “vem logo”, eu teria ficado parada igual a uma pata, olhando o carro.

  - Uau, de quem é esse carro? – perguntei entrando no banco de trás, ao lado de Jany.

  - Amanda acabou de roubar, bonito, não? – disse Kim, fazendo Amanda rir.

  - É de Gabriel, ele me emprestou para darmos umas voltas. – disse Amanda.

  - É por isso Amanda, que eu acho que você tem que casar com ele. – disse Janel inclinando-se para o banco da frente.

  - Ou só engravida dele pra ganhar a pensão. – disse Kim.

  - Você não tem jeito, não é amiga? – perguntei rindo.

  - Hello, se não pode ter o gato, que tenha o dinheiro dele pelo menos. – disse Janel.

  - Vocês são loucas. – respondeu Amanda – Eu amo Gabriel, e não o seu dinheiro, só para deixar claro.

  - Nós sabemos, relaxa. – disse – Mas deixe-as com suas fantasias loucas.

  - Por favor, Amanda você pode ligar o carro e partir? – pediu Kim – Você sabe que tem um café divino me esperando no shopping.

  Amanda deu a partida, fazendo Kim gritar de emoção. Logo estávamos no shopping, caminhando lado a lado, babando nas vitrines e engasgando com os preços salgados. No segundo andar, encontramos uma loja onde os preços não pareciam ser tão caros, porém as roupas nem tão bonitas. Começamos a olhar as roupas e descobri que elas não eram tão ruins assim, eram... usáveis.

  - O que você pensa em comprar? – perguntei a Amanda.

  - Não sei. Alguma coisa linda que não chame muito a atenção. A família de Gabriel é bem rica, e eu não quero parecer que não tenho nem metade do que eles têm.

  - Andy, ele ama você e é o que importa. – disse Kim.

  - Faz tempo que ninguém me chama de Andy.

  Isso a deixou mais feliz. O pai de Amanda morreu há três anos, e ele a chamava de little Andy. O pai dela não era muito rico, mais tinha bastante dinheiro guardado, e deixou uma herança para ela, mas Amanda não quer mexer no dinheiro. A mãe de Amanda se casou de novo, com um cara rico, mas Amanda não gosta de pedir dinheiro, pois sua mãe não ganha quase nada de salário, e apesar de Amanda gostar muito do padrasto, ela acha que não tem direito de tocar em um centavo dele. O padrasto dela até a chama de filha, já tentou lhe dar uma mesada, mas ela recusou.Nada muda a opinião de Amanda, o dinheiro do pai era intocável, e do padrasto inaceitável.

    - Vamos escolher a roupa ou não? – perguntou Kim – Estou louca para tomar um café na Sweet Coffee.

  - Os pais deles são bem formais? – perguntei a Andy.

  - Sim. – respondeu ela.

  - Que tal levar um vestido?

  - Boa Alice! – disse Janel. – Representa elegância e simplicidade. Mas nada muito curto.

  - Vamos procurar logo, o cheiro do café está me perseguindo. – disse Kim.

  - Não estou sentindo cheiro de café nenhum. – respondeu Andy.

  - Kim, - completou Janel – o cheiro do café está te perseguindo desde que você saiu de casa.

  Ajudamos Andy a encontrar um vestido perfeito, ficamos entre três, um rosa simples, bem colado no corpo, o que realçava os seios e a cintura de Amanda.Um azul marinho, que era mais colado da cintura para cima e se abria embaixo, e um lilás com estampa florida, alças e um decote em V. Andy ficou com o lilás.

  - Você ficou muito linda com esse vestido, Andy. Agora, café? – perguntou Kim.

  - Não Kim. Sapatos. – respondeu ela.

  - Ahhh! Não acredito! Você não tem sapatos suficientes em casa?

  - Não que combine com esse vestido.

  - Pega um sapato branco e pronto.

  - Kim, são só mais alguns minutos. – disse.

  - Você diz isso, por que não é você que quer tomar café Alice. – reclamou ela.

  - Kim, alguns minutinhos não vão te matar. – disse Janel colocando sua mão no ombro da amiga.

  - Vocês demoraram uma eternidade com o vestido! – reclamou Kim.

  - Foram só uns quinze minutos, ou meia hora. – respondeu Jany revirando os olhos.

  - Eu posso morrer de abstinência de café em quinze minutos!

  - Pare de reclamar, sua reclamona! – Jany arrastou Kim pelos braços, enquanto Andy e eu a seguimos, rindo.

  Fomos para a Cat Shoes, todo sapato que Kim via, ela jogava em cima de Andy e dizia: “é perfeito, leva esse”, até mesmo um laranja neon com um supersalto. Ela não iria sossegar até tomar o “santo” café. Depois que Andy escolheu o sapato, fomos a uma loja de joias, afinal todo vestido deveria ser acompanhado de um colar. Isso só deixou Kim mais irritada.

  - Posso ajudá-las? – perguntou a vendedora, que tinha mais cara de ser a dona.

  - Eu queria ver um colar, não muito caro. – perguntou Andy, a vendedora fez uma cara feia ao mencionarem “não muito caro”.

  - Claro. Por aqui. – ela nos levou até um balcão de vidro, tirou alguns colares pequenos.

  - Esse aqui está lindo. – disse Janel, dando para Andy um colar de prata com um pingente de coração.

  - Está mesmo. – respondeu Andy – Quanto custa? – pediu para a vendedora.

  - Cinquenta e cinco dólares. – respondeu a vendedora.

  - Vou levar. – Andy tirou o dinheiro da carteira e estendeu para a vendedora, que não pegou.

  - Cinquenta e cinco dólares só a corrente. O pingente é cem dólares.

  - Ah, então não. Não tenho uma corrente fina que vá combinar. Você não tem um conjunto que seja cinquenta e cinco dólares tudo? – perguntou Andy, constrangida.

 - Não. – a mulher guardou as joias. – Sugiro que a senhorita vá visitar uma loja de bijuterias. Tem uma no terceiro andar à esquerda. – ela guardou os colares de um jeito, que parecia que iríamos roubar alguma coisa.

  - Obrigada. – Andy baixou a cabeça e caminhou em direção à porta da loja.

  - É assim que você trata suas clientes?! – gritou Kim. Ela tinha que gritar.

  - Você deveria ter mais respeito com as pessoas, mocinha. – disse a vendedora. Andy ficou parada na frente da porta vendo a cena, sem voz e constrangida – Não tenho culpa de vocês serem pobres.

  - E a senhora deveria ter mais respeito com seus clientes, tendo eles dinheiro ou não, todos devem ser respeitados do mesmo modo! – disse Janel.

  - Saiam daqui ou vou chamar o segurança. – ameaçou a mulher.

  - Vamos meninas. – disse Andy.

  - Janel, Kim, vamos logo. – disse – Não adianta nada.

  - Sua velhamalcomida e rabugenta! – gritou Kim, eu a puxei para fora da loja e chamei por Janel.

  - É triste ver como as pessoas são julgadas de acordo com o dinheiro que possuem. – disse Janel, acompanhando-nos.

  - Por que você fez isso Kim? – perguntou Andy, meio aterrorizada.

  - Só disse algumas verdades. – respondeu Kim.

  - Vamos, esqueçam isso. – disse. – O Sweet Coffe é no andar de baixo, vamos?

Kim se animou um pouco com a menção de Sweet Coffe.Demorou um pouco para elas se acalmarem, mas depois de uma xícara de café qualquer um se acalma. Principalmente Kim, que não iria sossegar até tomar seu café de baunilha.

  - Isso é dos Deuses! – exclamou Kim.

  Eu iria responder, mas nesse momento meu celular vibrou, tirei-o da bolsa e vi que tinha uma nova mensagem. Desbloqueei o celular e li a mensagem, “olhe para trás” dizia a mensagem, olhei o remetente: Max.

  Levantei a cabeça sorrindo, eu ia falar que havia acabado de receber uma mensagem de Max, mas Janel, Andy e Kim estavam olhando com cara de bobas para alguma coisa atrás de mim.

  - O que foi? Alguma liquidação de sapatos? – perguntei.

Virei para ver o que elas estavam olhando. Era Max, ele estava pedindo para eu ir até lá.

  - Vai lá! – disse Janel.

  - Não sei... – respondi virando-me rapidamente.

  - Vai lá, ou eu bato em você. – disse Kim.

  - Own, você fica linda vermelha Lice. – disse Janel apertando minhas bochechas.

  - Boa sorte linda. – disse Andy enquanto eu levantava.

  - Olá Alice. – disse Max com um sorriso assim que eu aproximei-me.

  - Oi. – foi a única coisa que eu fui capaz de dizer.

  - Me acompanha?

  - Aonde? – perguntei confusa.

  - Preciso comprar um presente para Juliet, ela está de aniversário logo.

  - Eu sei, ela lembrou toda escola disso.

  - Você vem?

  Olhei para a mesa onde minhas amigas estavam, elas fingiam que não estavam prestando atenção, mas era claro que estavam.

  - Sim, claro. – ele começou a andar e eu o segui, subimos um andar.

  - Estou pensando em comprar uma joia para ela.

  - Legal. – eu daria feno para ela, afinal, vacas adoram feno, não?

  - Olha Alice, eu vi o que a vendedora fez com vocês. Eu não achei nem um pouco justo. Eu vou comprar um presente para Juliet e o colar para Amanda.

  - Por que você vai fazer isso? – perguntei muito confusa.

  - Há algum tempo, Juliet estava prestes a repetir em Biologia, ela sabia que Amanda era inteligente, então ela roubou o trabalho de Amanda.

  - Como assim? – lembro-me de Andy ter ficado louca quando o professor disse que ela não havia entregado o trabalho e teria que repetir a matéria, por sorte, ela tinha outra cópia do trabalho com ela.

  - Então, Juliet viu que ela havia deixado o trabalho na mesa do professor, porém, o professor não viu. Ela foi até a mesa dele quando ninguém estava olhando e trocou o trabalho por um maço de folhas em branco.

  - Ela simplesmente foi lá e pegou na cara dura? – perguntei incrédula.

  - Sim.

  - Que cadela! – logo, fiquei vermelha, tanto de raiva e vergonha – Desculpa Max.

  - Imagina, você tem o direito de ficar com raiva.

  - Então você esta tentando compensar um erro que não foi seu?

  - Tecnicamente, sim.

  - Juliet deveria estar fazendo isso e não você.

  - Estou conquistando sua amizade novamente e corrigindo os meus erros, porque eu sabia da verdade, e mesmo assim não contei. Bom, quase corrigindo os meus erros, já que Amanda nunca vai saber a verdade, a menos que você conte.

  - Eu ainda não entendo.

  - Eu era assim, sabe? Sempre tentado consertar os erros dos outros, defendia todo mundo, defendia quem estava certo. Um antigo eu que Juliet enterrou vivo. Eu te explico melhor quando tiver tempo.

  - Por que não temos tempo?

  - Por que deixei Juliet esperando em uma mesa na praça de alimentação, e se eu demorar ela vai pirar.

  - Certo. Não entendo porque você está com ela, Max.

  - O coração é complicado. – disse ele

  Chegamos à loja de joias, e assim que a mulher viu, disse:

  - Sem dinheiro, sem joia mocinha.

  - Ela tem dinheiro. – respondeu Max.

  - Seu namorado garota? Tem sorte de ter um namorado com dinheiro então.

  - Nos não somos namorados. – disse sem graça.

  - Claro. Vai levar aquele colar? – perguntou ela.

  - Sim. – respondeu Max – E queremos ver mais uma joia.

  Ela pegou o colar e colocou em uma caixa da joalheria.

  - E no que mais eu posso ajudar vocês? – ela sorriu para gente, nos tratando bem já que agora temos dinheiro.

  - Não sei. – respondeu Max, depois se virou para mim – O que eu dou de presente para Juliet?

  - Não sei Max, você estáhá mais tempo com ela do que eu. – nunca estive com aquela vaca, acrescentei mentalmente.

  - E o que você gostaria de ganhar no seu aniversário?

  - Acho que não temos o mesmo gosto.

  - Alice, me ajude, por favor. – ele fez uma cara de cachorro pidão, suspirei e respondi:

  - Uma pulseira.

  - Vamos ver uma pulseira então. – disse ele a vendedora.

  Ela mostrou um grande estoque de pulseiras, tinham umas finas com pingente de estrelas, mas a que me chamou a atenção foi uma corrente cheia de pingentes, entre eles havia um coração, uma estrela, uma ancora e um cavalo.

  - Essa. – eu a mostrei para Max.

  - Boa escolha. – ele respondeu sorrindo.

  - Posso escrever alguma coisa na pulseira, se você quiser. – propôs a vendedora.

  - Me dê um papel e uma caneta, que eu escrevo o que é para colocar.

  Ela deu a ele um papel, escreveu e devolveu para ela. Em poucos minutos, a pulseira estava pronta e guardada. Então saímos da loja e voltamos para o Sweet Coffe.

  - O que você mandou escrever na pulseira? – perguntei para Max enquanto descíamos as escadas rolantes. 

  - Que a amava. – respondeu ele sorrindo.

  - Legal.

  - Você não gosta dela, não é?

  - Não. – nem um pouquinho se você quer saber.

  - Não culpo você por isso.

  - Obrigada.

  - Obrigado você, por me trazer de volta a vida. – ri, muito sem graça.

  - Eu não fiz nada, Max.

  - Desde pequenos sua presença me fazia bem. Sua companhia traz paz. É o seu jeito sincero, sua timidez.

  - Obrigada, eu acho. – disse ficando vermelha.

Ele levantou a mão, levemente ele acariciou minha bochecha.

  - Você fica linda, quando está com vergonha. – se fosse possível, teria ficado mais vermelha ainda.

  Sorri para ele e ele sorriu de volta, deixando-me sem ar.

  - Eu tenho que ir. – disse ele tirando rapidamente a mão do meu rosto, como se tivesse lembrado que tem namorada e aquilo era errado.

  - Ok. – consegui dizer, meio sem ar ainda.

  - Até amanhã Alice.

  - Até Max.

  Ele entregou-me a sacola com a joia, virou-se e partiu. Fiquei observando ele por alguns minutos, antes de voltar para mesa onde estavam minhas amigas. Assim que elas me viram, vieram em minha direção. Elas estavam tão animadas que nem notaram o pacote em minhas mãos. E elas, é claro, queriam saber de tudo.

Andy foi se arrumar em minha casa, sem quere me gabar, fizemos um ótimo trabalho com ela. Amanda estava maravilhosa. Sua maquiagem era clara, nada muito chamativo, usamos uma sombra rosa que combinou com os olhos dela. Deixamos seu cabelo ondulado e com volume, o que caiu muito bem nela, que estava sempre com os cabelos lisos.

 Eu tinha que tomar uma decisão, contar ou não contar a ela. E isso me atormentava, pois ela devolveria o colar a Max, e dinheiro que ele gastou teria ido ralo a baixo. Então eu tomei uma decisão. Assim que Gabriel chegou, desci as escadas com a sacola em mãos.

  - Gabriel, posso falar com você? – perguntei.

  - Claro. – ele usava uma calça jeans e uma camisa social, com uma gravata, estava muito lindo.

  - Tome. – entreguei a sacola a ele – Dê isso a Andy.

  - Andy?

  - Amanda. O pai dela a chamava assim.

  - Claro. Mas por que você me deu isso?

  - Ela viu isso em uma loja, achou muito caro e não quis levar. A vendedora a tratou mal por que disse que queria algo mais barato.

  - Não posso acreditar nisso. – seu olhar transmitia um pouco de raiva.

  - As pessoas são cruéis, Gabriel.

  - E por que você não deu para ela?

  - Ela vai gostar mais se for você a pessoa a dar o presente. E além do mais, você pode dizer que foi pura coincidência. – ele deu uma risada.

  - Claro.

  Estava me virando para voltar ao quarto, dar os últimos retoques em Andy, quando Gabriel me chamou.

  - Alice.

  - Sim? –virei-me.

  - Não era só um colar?

  - Sim, por quê?

  - Têm duas caixas aqui.

  - Deve ser o presente de... – eu não podia dizer o nome de Juliet, senão teria que explicar tudo para ele – Tainá. – nossa, tirei esse nome do nada.

  - E por que tem seu nome no presente de Tainá?

  - Como?

  Ele estendeu uma caixinha pequena, em cima dela estava escrito “Para Alice”. Gabriel fitava-me com um olhar confuso, a minha sorte foi que Andy desceu as escadas nesse momento. Ele ficou sem fala quando a viu, afinal, ela estava perfeita.

 Ele não deu o presente para ela ali, provável que dará quando estiverem sozinhos.

Janel e Kim ficaram para dormir aqui, guardei a caixinha no meu bolso e começamos a arrumar a bagunça que ficou em meu quarto.

  - Humm, vou ao banheiro. – anunciei.

  - Não demora. – disse Kim.

  Entrei no banheiro e tranquei a porta. Peguei a caixa e a abri, na pulseira estava escrito “Alice e Max”, eu sorri ao ver a pulseira que eu havia escolhido naquela caixa. Eu estava sorrindo igual a uma boba. Será que ele gosta de mim?

  Percebi que havia um bilhete no fundo da caixinha, peguei-o e abri lentamente, nele dizia:

“Isso é por todo o tempo em que perdemos. Me desculpe por não ter te reconhecido, prometo recuperar o tempo perdido. É bom ter alguém como você de volta em minha vida. Não fuja, abraços Max.”

 Uma batida na porta tirou-me dos meus pensamentos.

  - Alice, tem gente apurada querendo usar o banheiro! – disse a voz de Kim.

  - Já vou. – coloquei a pulseira e guardei a caixa.

  Eu sei que estou sonhando alto demais.  


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