Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 2
Capítulo 1 - Um passeio no cemitério




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696596/chapter/2

É só mais uma noite de sexta-feira perdida. Perdida? Sim, perdida. Ficar em casa numa sexta-feira à noite é uma tragédia para qualquer garota de 17 anos. Motivo? Todos. Ou simplesmente um: não querer segurar vela. Entre meu grupo de amigos, eu sou a única solteira, já não basta segurar vela todos os dias no colégio; sair com eles e ficar vendo “amassos”, NEM PENSAR. Além do mais, eles foram ao cinema e eu não gosto de cinema, prefiro assistir filmes deitada em minha confortável e quente cama, embaixo da coberta e comendo pipoca ruidosamente sem ficar ouvindo um beijo a cada dois segundos. Não estou dizendo que esteja com ciúmes, é que, bom... talvez eu esteja com ciúmes sim. Mas quem se importa? Ahh que merda, eu me importo! Como eu queria que minha vida fosse perfeita. Mas não é, fim de papo.

Acho que virei uma velha chata e rabugenta depois que fiquei solteira.

Moro em uma cidade chamada Littleton, Colorado. Eu sempre quis sair daqui, conhecer o mundo, viajar por todo o país. Não que aqui seja ruim de morar, eu gosto daqui. Mas a verdadeira tortura é o colégio. Pode-se dizer que lá é um inferno onde todo mundo se acha o Demônio, o grande Lúcifer, dono de todo mundo. É, quando eu digo que minha vida é quase um inferno, ninguém acredita. Durante 17 anos naquele lindo e maravilhoso lugar que chamamos de colégio descobri muitas coisas, ah sim, muitas coisas:

1°: Se você não for popular, sua vida é um inferno;

2°: Se você for uma pessoa considerada “normal”, será um fantasma para o colégio. Ninguém vê, ninguém ouve, ninguém se importa;

3°: Populares não têm amigos de verdade, apenas amigos interessados no que se tem a oferecer;

4°: Se você fizer parte da “ralé” e um popular puxar conversa com você, corra, é encrenca;

Fora os desastres anuais, eu tenho os melhores amigos que alguém poderia ter, estão sempre ao meu lado, até mesmo Kim quando fica rabugenta.

Kimberly Roosevelt, ousimplesmente Kim, uma garota alta, magra, olhos castanhos e cabelos ruivos, o que poderíamos chamar de roqueira e pavio curto, muito curto. Janel Benson, baixinha, loira de olhos castanhos, a nossa garota cabeça-dura: se ela acha que está certo, nada e nem ninguém vai convencê-la do contrário. Amanda Fermi, cabelos castanhos e olhos azuis, inteligente e sensível, uma garota que poderia ganhar a medalha de ouro em boa conduta. E por último, mas não menos importante, meu amigo de infância, Erick Teller, e também meu primeiro namorado, cabelos negros e olhos castanhos. Erick gosta de levar tudo na esportiva e é muito brincalhão, alguém que você sempre quer por perto. Quem disse que meu ex-namorado não pode ser meu melhor amigo?

Já passava da meia-noite quando meu telefone começou a tocar Stay, de Rihanna, olhei para tela do celular pensando em quem poderia estar me ligando, era Janel.

— Hey Jany. – disse ao atender ao telefone.

— Você não vai acreditar. – disse ela, pude ouvir Kim gritando ao fundo, mas não entendi muito bem o que ela dizia.

— Deixe-me ver, Juliet estava no cinema e uma parte da cobertura se soltou e caiu na cabeça dela? Morte instantânea, que pena, uma grande perda para a humanidade. -Janel riu do outro lado da linha.

— Não, mas isso teria sido lindo de ver! Mas ela estava aqui sim...

— Com Max, imagino. – disse suspirando.

— Sim, sim, mas olha só: eles brigaram. No meio do filme os dois começaram a gritar, - Kim gritou atrás o que eu entendi ser “joguei pipoca neles” – bem ela começou a gritar com ele, meu Deus como ela é escandalosa, Max simplesmente levantou e deixou-a gritando sozinha. Foi muito melhor do que o filme!

— Sério? Não sei o que ele vê nela. – disse com um pequeno sorriso nos lábios.

— Na verdade, eu também não sei o que você vê nele. Tá que ele é um lindo, gostoso e... Ai! Tyler, seu boboca. Desculpa Alice, Tyler me beliscou, enfim, o gosto é seu. – eu ri.

— Gosto não se discute. Conseguiu ouvir o motivo da briga?

— Mais ou menos, acho que ele havia pegado uma Coca normal e ela queria Diet, eu não consegui entender direito, ou ele não estava prestando atenção no filme, eu não sei direito, não dava para entender aquela voz de pata.

—É a sua chance! – gritou Kim atrás.

— Quem sabe agora você consiga algo. – completou Janel.

— Difícil, eles vivem brigando e estão sempre juntos.

— Ultimamente eles estão brigando mais, o relacionamento deles está fraco, está é sua vez.

— Quem sabe Jany. – um bocejo tomou conta de mim – Vou desligar, que o sono está me dominando.

— Tudo bem meu bebê. Boa noite.

— Boa noite Jany.

Desliguei o telefone e abri a porta de meu armário, peguei meu pijama, mesmo sendo meio infantil eu gostava dele, era quente e confortável. Após ter vestido meu pijama, joguei-me na cama e logo meus pensamentos estavam em Max, já havia alguns anos que eu olhava de canto para ele, admirando-o, exatamente como todas no colégio, eu parecia uma criança, devo concordar, mas minha paixonite por ele simplesmente não passava, mesmo quando comecei a namorar Erick, ou talvez não tenha passado, pois o amor que Erick e eu sentíamos um pelo outro era mais do tipo irmãos do que namorados.

Na verdade eu comecei a gostar de Max desde meus 9 anos, quando tínhamos Educação Física juntos, eu usava óculos enormes que fazia meu rosto parecer gordo e meus olhos enormes; para piorar, eu usava um aparelho ridículo por fora da boca, um dia nossa turma estava jogando queimado, e como era de se esperar todo mundo tirava sarro de mim, naquele dia todos decidiram atirar a bola na “Alice cara de cavalo”. As crianças me encurralaram e ficavam atirando as bolas em mim. Foi quando Max, que naquela época não era popular, postou-se diante de mim e defendeu-me. Desde aquele dia ficava olhando para ele como meu herói, e todos os dias ele me defendia quando tentavam tirar uma comigo, ou algo do tipo. Eu pensei que ele fosse meu amigo, dividíamos o lanche, ele falava comigo e tudo o mais, mas com o tempo ele achou um grupo de amigos e eu fui ficando de lado, as conversas foram diminuindo, e então acabou o ano e eu me livrei do aparelho e dos óculos. Quando voltei no próximo ano, não estávamos mais juntos na Educação Física, mas isso não me impediu de ficar de olho nele todos os dias.

Com o tempo, eu pensei que a paixonite havia acabado, eu quase não o via, e não falava com ele, até que um dia sua mãe morreu e ele parou de vir para a aula por um tempo. Então, com 15 anos, comecei a namorar Erick, estávamos indo muito bem, até que Max retornou à escola, mais lindo e perfeito do que antes, e não pude negar, a paixonite não havia sumido.

Mas aí ele começou a namorar Juliet.

Não fui somente eu que errou ao acreditar que Erick e eu poderíamos ser mais do que amigos, ele mesmo errou também, pois seu coração pertencia a Alyson Remond, uma garota que morava em seu bairro. Muito bonita por sinal.

Logo comecei a sentir meus olhos pesados, fechando-se lentamente, o sono havia chegado, quando fui levada para o mundo do inconsciente. Minha mente reproduziu em sonho o momento em que Max foi me proteger na Educação Física, mas era muito diferente, pois o Max que estava ali não era jovem, com apenas nove anos, cabelos crespos e desarrumados, com roupas que não combinavam nem um pouco e completamente amassada, ou a boca suja de chocolate; era o Max de 17 anos, lindo, com o cabelo bem arrumado, as roupas bem arrumadas. E para meu azar, era Juliet quem jogava a bola em mim. Maldição.

De manhã me levantei para tomar um banho, a água quente batendo em meu corpo fazia-me lembrar da minha infância, o tempo em que eu e Erick brincávamos em uma piscina de plástico. A inocência, nada de estudos, nada de preocupações, apenas Erick e eu. Éramos felizes e nem sabíamos. Olhei para o meu reflexo no espelho, meus cabelos pretos estavam um pouco ondulados por causa do calor, meus olhos azuis estavam mais claros do que o normal, o rosto pálido e cansado, essa é Alice Holloway. Eu.

Assim que terminei meu banho e sequei meu cabelo, ouvi o barulho de pratos sendo postos na mesa, mais alguém estava de pé. Fui até a cozinha esperando encontrar meu pai ou minha mãe, mas surpreendi-me ao ver meu irmão arrumando a mesa. Noah tem 18 anos, temos a mesma altura e somos muito parecidos, fora os olhos, os de Noah são castanho-escuros. Ele adora gastar seu tempo em sites de bate-papo, mamãe diz que um dia ele vai ficar louco. Noah é fã número um do sedentarismo, é apaixonado por carros e tecnologia - ele ajuda nosso pai a cuidar da mecânica da família. Mas nunca,na minha vida inteira, eu vi meu irmão arrumar uma mesa do café da manhã.

— Noah? É você mesmo? – perguntei.

— Rá. Muito engraçado Lice.- respondeu ele me mostrando a língua, percebi que tinha torradas sendo preparadas e chocolate quente.

— Por que diabos você está fazendo o café da manhã?

— Porque estou com febre. – respondeu ele ironicamente – Ou talvez esteja com lepra ou catapora, não sei ainda.

— Está acontecendo alguma coisa com você? Se abra para sua irmãzinha!

— Não enche Alice. – ele me olhou nos olhos e suspirou – Não... ando no meu normal nesses dias. Acho que bati forte com a cabeça na oficina, ou talvez tenha tomado ácido sulfúrico e meu cérebro esteja derretendo.

— Você não é normal. O que está acontecendo? – pressionei.

Ele ficou em silencio, imóvel, deu mais um longo suspiro e se jogou na cadeira.

— Estou ficando louco, Alice! –sentei na cadeira em sua frente, mostrando que estava ouvindo o que ele dizia – Estou com uma garota há mais de quatro dias!

Se eu estivesse com comida na boca teria engasgado. Meu irmão já teve 23 namoradas e 84 “rolinhos”, nenhum deles durou mais do que 4 dias. Nenhum. Olha, ele bateu o recorde de menos tempo de namoro, ele namorou com uma garota apenas por uma noite. Acredite, isso é possível. Em uma noite ele foi a uma festa e ficou muito bêbado, entre uma música e outra ele pediu uma garota que estava muito afim dele em namoro, ele não sabe bem como, porque não se lembra, apenas acordou no outro dia, com o telefone tocando e uma garota dizendo “bom dia meu amor”.

— Deus! – levantei as mãos para cima – Aleluia! Aleluia! Aleluia! – disse ironicamente.

— Alice, isso é serio.

— Ah claro, e amanhã é Natal. – ri da ironia das minhas palavras.

— Acho que... acho que...

— “Acho que” o quê?

— Acho que... acho que estou gostando dela.

— Ótimo. Bom. Mas só por isso que você está fazendo o café da manhã?

— Eu fiz chocolate quente e torradas, seu café da manhã favorito. – droga, entendi toda a jogada.

— Você está querendo me bajular. O que você quer de mim?

— Eu tenho um encontro com ela hoje à noite, e eu... bom, eu... não sei o que fazer com garotas, geralmente há três dias eu já teria partido para outra.

— Eu nem sabia que você estava namorando.

— Não estamos namorando Alice, estamos ficando, aliás, não adianta nada dizer, logo a sensação de “eu me apaixonei” acaba.

— Mas essa não acabou.

— O que eu faço? – ele suspirou levantando a frigideira que tinha em mãos.

— Me sirva de chocolate quente e torradas.

— Sacanagem! – ele pegou uma xícara e encheu de chocolate, depois pegou um prato e me trouxe uma torrada. Ele ficou me encarando enquanto comia e eu nada disse, aproveitei meu momento, enquanto saboreava minha refeição. Noah batia os dedos na mesa, impaciente, mas ele esperou até eu terminar meu café da manhã.

— E então, o que eu faço? – ele perguntou, assim que o último gole de café desceu pela minha garganta.

— Seja você mesmo Noah. E lave a louça. – disse me levantando da mesa, satisfeita. Homens são bons na cozinha, isso eu não posso negar.

— Muito obrigado! Fui seu cozinheiro por nada! – ele reclamou.

— De nada. – dei uma risadinha e me retirei da cozinha.

— Vai sonhando que eu vou lavar a louça, devia ter pedido antes de me dizer o que fazer! – gritou ele.

— Aí seria muita sacanagem.  – gritei de volta.

Fui para meu quarto e deixei Noah reclamando sozinho. É claro que ele não lavaria a louça, afinal, estamos falando de Noah. Subi as escadas sorrindo, finalmente meu irmão estava criando juízo. Pensei que isso nunca fosse acontecer.

Abri a porta de meu quarto e percebi que meu celular tocava, o problema era que eu não sabia onde. Meu quarto parecia uma zona de guerra, roupas estavam jogadas pelo quarto, livros espalhados pelas cômodas, DVD’s e CD’s encontravam-se por todo o canto. Fui até minha cama e levantei as cobertas, e nada, joguei os travesseiros em meu puff rosa e continuei a procurar pela cama, por Deus, onde eu tinha deixado aquele celular? O celular parou de tocar, um minuto depois ele estava tocando.

— Não pare de me ligar, por favor! – gritei para ninguém em especial.

Vasculhei embaixo de minhas roupas e acabei criando uma pilha delas em um canto de meu quarto, olhei embaixo de meus livros e nada, embaixo da cama só havia poeira, e... o que é aquilo? Resto de salgadinho? Eca... Preciso limpar meu quarto de vez em quando.

Por fim, ele tocou pela quarta vez, quando percebi que o som vinha de meu puff, quando levantei o travesseiro percebi que o som vinha dali, enfiei a mão dentro da capa do travesseiro e meus dedos encostaram em algo frio, puxei meu celular para fora a tempo de ver quem me ligava, era Kim, mas antes que eu pudesse atender a ligação caiu.

Jogeui-me em meu puffcom o travesseiro sobre o colo e suspirei. Muito exercício para uma manhã de sábado. Esperei meu celular tocar novamente, afinal, Kimberly era persistente, mas não tocou, ao invés disso, meu pai entrou em meu quarto.

— Filha... – disse ele ao abrir a porta - Uau, estou no local da Segunda Guerra Mundial.

— Prometo que arrumarei depois pai. – respondi rindo enquanto ele vinha em minha direção.

Meu pai era forte e alto, tinha cabelos castanhos e olhos azuis, uma pequena barba crescia em seu rosto, o que minha mãe teimava em tirar, mas que papai dizia que o deixava mais masculino. Seu nome era John.

— Bom dia minha linda - disse ele me dando um beijo na testa.

— Bom dia papai.

— Kimberly está no telefone. – disse ele me estendo o telefone, que eu não havia notado que ele segurava.

— Obrigada. – respondi pegando o telefone – Ah pai, fique longe de Noah, ele está com catapora, é contagioso.

— Já fiquei sabendo disso. – disse ele rindo enquanto ia em direção à porta – E arrume isso Alice, você está sendo um péssimo exemplo. – ele e eu rimos, porque não tinha como alguém ser pior que Noah em matéria de limpeza e organização. Ele fechou a porta do quarto, mas antes de atender Kim pude ouvi-lo gritar do corredor – Noah, o que é isso em seu quarto? Isso é um gambá? Noah?!

Rindo, levantei o telefone.

— Olá Kim. – disse a minha amiga, que pude ouvir bufar do outro lado.

— Mas que demora foi essa, Srta. Holloway? – perguntou ela.

— Desculpa Kim, não achava meu celular.

— E seu velho deve estar com osteoporose pra demorar tanto assim pra subir uma escada. – disse referindo-se ao meu pai, fazendo-me rir.

— Deixe meu pai fora disso Kim.

— Ok minha princesa dos olhos azuis. Vou direto ao assunto, vamos visitar um monumento histórico hoje, e você vem com a gente.

— Quando você diz monumento histórico, você está querendo dizer “um lugar abandonado e mal-assombrado”, e o vem com a gente é “venha se meter em confusão também”?

— Argh, você me conhece tão bem.

— Então, para onde vamos?

— Temos duas opções, cemitério abandonado ou igreja abandonada.

— Hum. E os meninos, vão também?

— Claro Alice, ou você acha que eu ia deixar Kevin sem supervisão.

— Não sei Kim...

— Ah, corta essa Lice! Alyson não pode ir, porque a mãe bruxa dela não deixou, e você acha que Erick vai ficar coçando o rabo em casa? Você tem que parar com essa história de “estou desesperada, vou ficar para titia”.

— Mas...

— Shhhh. Sem “mas”, àuma hora passamos buscar essa sua bunda gorda, esteja pronta, e leve dinheiro.

Iria protestar em relação a minha bunda ser gorda, mas Kim havia desligado na minha cara.

Infelizmente eu não tive escolha, exatamente como Kim disse à uma hora em ponto, uma minivan preta buzinou em frente a minha casa, peguei minha bolsa e desci as escadas.

Minha mãe estava na cozinha lavando a louça, seus cabelos eram de um loiro ondulado que batiam na altura de seus ombros, seus olhos eram castanhos e quase sempre tinham uma expressão de cansada. Seu nome era Nicole, mas todos a chamavam de Nick.

— Mamãe, eu vou dar uma volta com meus amigos. Tudo bem? – disse, fazendo ela se virar em minha direção, com um sorriso nos lábios.

— Claro Alice, tem dinheiro? – perguntou ela enxugando as mãos em um pano.

— Tenho mãe, obrigada. – ela veio em minha direção e me deu um abraço.

— Se cuide minha filha, qualquer coisa me ligue.

— Pode deixar. Peça a Noah para enxugar a louça.

— Ele não faria isso nem se sua vida dependesse disso. – respondeu ela sorrindo – Além do mais, ele e seu pai estão tentando descobrir porque tem cheiro de animal morto no quarto de seu irmão.

— É provável que tenha mesmo um animal morto lá.

Um ruído veio do andar de cima, como se fosse um animal chiando e meu pai gritando:

  - Pega ela Noah!

  Ouvimos novamente um ruído e então o barulho de patas descendo a escada, por incrível que pareça, um filhote de raposa desceu as escadas, atravessou a cozinha e saiu pela portinha do cachorro. Logo atrás, veio meu pai com um taco de baseball e em seguida meu irmão.

  - Para onde ela foi? – perguntou meu pai.

  - Ela está no jardim querido. – respondeu mamãe e logo os dois desapareceram no quintal.

  - Vou

  Uma buzina ecoou lá fora. Mamãe. – abracei –a novamente – Não entre no quarto de Noah, só Deus sabe o que tem lá.

  - Não pretendia entrar mesmo. – respondeu ela – Vou atrás de seu pai antes que ele mate a raposinha. – um barulho de vaso quebrando veio do jardim – Ou acabe com meu jardim. – ela começou a andar em direção a porta dos fundos gritando: - John Holloway, espero que isso não tenha sido meu vaso de petúnias quebrando!

  Sai logo de casa, pois novamente ouvi a buzina tocar.

  - Já estou indo! – gritei indo em direção à minivan, Kim estava do lado de fora, segurando a porta aberta. Todos já estavam acomodados em seus lugares, reconheci logo a minivan, era de Erick, que estava ao volante ao lado de Kevin.

  - Pelo amor de Deus Alice, pensei que teria que te arrastar pra fora de casa! – disse ela.

  - Desculpa pelo atraso, sofri um pequeno atraso graças a Noah. – disse entrando na van, com Kim vindo logo atrás.

  - Que tipo de atraso? 

— Tinha um filhote de raposa no quarto de Noah. Nem me perguntem como foi parar lá, só Deus sabe. – disse rapidamente assim que o olhar questionador de todos recaiu sobre mim.

  De certo modo a minivan era apertada de mais para oito pessoas, e a viagem para as redondezas de Littleton era demorada, mas ali estava eu, morrendo sufocada e apertada com as pessoas mais malucas da face da terra. Até mesmo Tyler hoje parecia mais legal do que normal. Tyler Jacobson tinha cabelos e olhos castanhos, era namorado de Janel, o que de certo modo parecia incomum, pois Tyler jogava no time da escola de futebol americano como capitão, era popular e parece aquele tipo de cara que não para com uma menina, que sempre quer a mais “hot”, mas Jany era linda, é claro, todos na escola admitem isso. Mas soava estranho o fato de Tyler estar andando com a “ralé”, e como nas minhas regrinhas básicas, boa coisa não pode ser.

  Dentre todos os namorados de minhas amigas, eu preferia Gabriel Loock, um garoto com o cabelo loiro e encaracolado, que caia sobre seus ombros, seus olhos eram de um tom de azul escuro. O que mais me fazia gostar dele é o fato de estar sempre perto de Amanda, nos bons e nos maus momentos.

  Mas Kevin Montero era o mais engraçado, quem sabe por isso Kim esteja com ele. Kevin tinha os cabelos escuros, espetados, os olhos verdes e um senso de humor incrível.

  Eu realmente gostava de estar entre eles, era engraçado demais ver Kevin irritando Tyler, sempre que ele falava alguma coisa ou dava alguma ideia, Kevin era contra, ou fazia alguma piadinha, mas mesmo assim eu me sentia solitária entre eles, afinal, todos eles tem um alguém para chamar de amor, e eu não. Sorte que desta vez Erick estava sozinho, o que não me deixava tão sozinha.

  Chegamos ao nosso destino um pouco depois das duas horas, assim que desci da van comecei a me espreguiçar e me alongar, já estava ficando com cãibras e com dor em meu ombro de tanto Kimme dar cotoveladas tentando puxar a orelha do namorado.

  Observei a entrada do cemitério, o nome era Santo Amado, pelo que percebi, havia uma placa ao lado dizendo “fechado desde 1996”, os portões estavam escancarados e cheio de trepadeiras, a maior parte das lápides estavam quebradas ou a cova estava aberta, provável que o corpo tenha sido transferido. Mas muitas estavam intactas, bom, quase, estavam cheia de musgo. Um pouco longe pude ver que havia uma pequena casa com uma estátua de anjo na frente, provavelmente a casa do coveiro. Em frente ao cemitério havia um bar chamado “O fim do poço”, um nome muito agradável, não?

  - Assustador, não acham? – perguntou Kevin parando na entrada.

  - Nem um pouco. – respondeu Kim – O bar está me dando mais arrepios do que isso. – ela se referiu ao bar, pois o mesmo estava cheio de homens com caras estranhas, um bumbum que não cabia na cadeira e exibia seu cofrinho.

  - E foi você quem escolheu Kim. – disse Janel – Amiga, você tem um péssimo sexto sentido.

  - Parecia que ia ser legal! – defendeu-se Kim.

  - Vocês esperavam encontrar algum fantasma aqui ou algo assim? – entrei na conversa –Se vocês quisessem morrer de medo, teriam vindo à noite.

  - Mas nós vamos ficar até a noite. Na verdade vamos acampar aqui, Gabriel tem umas barracas ótimas. – disse Janel.

  - Como assim? Pensei que só ficaríamos aqui à tarde.

  - Kim não te contou? – perguntou Amanda.

  - Acho que não. – disse ironicamente.

  - Foi mal, eu ia dizer, mais ai você desligou o telefone na minha cara. – respondeu Kim, balançando a cabeça negativamente.

  - Eu não desliguei telefone nenhum na sua cara, Kim. – cruzei os braços.

  - Tá, foi mal. Se eu falasse você não viria.

  - Não viria mesmo. Vou segurar vela.

  - Não tem problema. Erick ajuda você a segurar. – ela piscou para mim.

  - Por que diabos estamos aqui?

  - Porque é divertido acampar. – respondeu Tyler.

  - Divertido acampar em um cemitério? – protestei.

  - Não se preocupe Alice. Nenhum bicho vai morder você. – disse Erick.

  - Já que não tem volta. Vou ter que ligar para meus pais e avisar.

  - Eu já avisei. – disse Kim puxando Kevin para o cemitério – Divirtam-se.

  - Vai com calma meu tigrinho, que abstinência do meu corpinho hein? – disse Kevin rindo.

  - Abstinência do seu corpinho é? Espera só seu... – Kevin correu e Kim correu atrás dele, deixando todos rindo.

  - Esses dois são loucos. – disse Amanda.

  - Nossa, como está frio aqui! – exclamou Janel se encolhendo.

  - Muito mesmo. – respondeu Tyler.

  Ficamos olhando para Tyler, esperando ele entregar o casaco para Jany.

  - Quer o meu casaco, Janel? – perguntou Gabriel assim que viu que Tyler, não daria o casaco para a própria namorada.

  - Não. – respondeu Janel com raiva, ela abaixou a cabeça e entrou no cemitério, seguindo um rumo diferente de Kim e Kevin.

  Olhamos com decepção para Tyler, ele sacou na hora o que estávamos pensando e respondeu:

  - Eu estou com frio. – olhamos com mais raiva e ele suspirou – Janel, amor, espere! – e partiu atrás da namorada.

  - Vamos Amanda? – Gabriel e Amanda entraram, e também seguiram em um caminho diferente. 

  - Pensei que o objetivo era diversão entre amigos. – disse ironicamente para Erick.

  - E namorados.

  - Agora eu lembrei porque não gosto quando os meninos estão juntos.

  - Isso é normal Lice, lembra quando namorávamos e queríamos estar o tempo todo juntos?

  - É... mas era diferente. – ele riu, pois sabia que não era nada diferente.

  - Vamos dar uma volta por ai? – propôs ele.

  - Vamos então, já que só sobramos nós.

  - Como nos velhos tempos.

  - Como nos velhos tempos. – repeti.

  Descobrimos que atrás do bar corria um pequeno rio, fomos até lá, tiramos nossos sapatos mergulhamos nossos pés na água gelada, sentados na margem. Após um tempo de papo-furado, Erick retirou do bolso um colar dois colares, um coração de prata dividido ao meio.

  - Comprei para Alyson ontem, mas seus pais a viram com ele e fizeram uma confusão imensa. – ele fitava os colares com um olhar triste – Ainda bem que não mandei gravar os nomes. – ele puxou meu cabelo para trás e colocou um dos colares em meu pescoço.

  - Tem certeza Erick? – perguntei.

  - Tenho Alice, se não posso dividir esse colar com a pessoa que mais amo, então dividirei com minha “maninha”.

  - Hey, quer dizer que eu sou a primeira em seu coração? – perguntei dando uma leve cotovelada em sua barriga.

  - Claro que não, você é a última. Amo mais o Kevin do que você. – ele me puxou para um cafuné que desarrumou todo meu cabelo.

  - Não entendo por que os pais de Alyson proíbem o namoro de vocês. – disse enquanto arrumava meu cabelo.

  - Eles tentam proibir. – corrigiu Erick – Basicamente eu não sou um garoto de igreja, devoto e bláblá. Eles querem praticamente que Alyson namore um pastor. Eu não frequento a igreja, não sou da religião deles, vou a festas, bebo de vez em quando, resumindo sou um mau exemplo para a filha exemplar deles que tem a Bíblia como livro de cabeceira.

  - Que besteira. Temos o direito de escolher com quem queremos ficar.

  - Eles não pensam assim, querem que sua filha seja o modelo perfeito para a igreja.

  - Acredito em Deus e tudo mais, mas às vezes a igreja se torna uma falsidade em relação às palavras de Deus. Tem tantas religiões espalhadas pelo mundo, qual delas prega a verdade? Ninguém sabe.

  - É complicado. Alyson e eu vamos levando, nos vendo pouco, eu tento fazer eles gostarem de mim, até flores para a Srta. Remond eu levei, e nada.

  - Quando se formarem, fujam, é simples. – ele riu – Mas, por favor, me levem junto.

  - Você só iria atrapalhar Lice.

  - Eu sei fazer brigadeiro.

  - Pode vir. – rimos.

  - Você é o melhor amigo que alguém poderia ter.

  - Você também Alice.

  As horas passaram rápido, era melhor encontrarmos nossos amigos, antes que todos nos perdêssemos, levantamos e entramos no cemitério, o primeiro lugar que pensamos em procurar foi na casa pequena, quando chegamos perto pudemos ouvir uma voz masculina gritando lá dentro, e outra feminina.

  - Você não pode me controlar... – disse a voz.

   A porta abriu com um enorme rugido, fazendo com que o garoto parasse de falar. Quando descobri de quem era a voz, quase surtei. Max Rossi.

  Ele tinha cabelos loiros, curtos e um pouco espantados, já seus olhos eram de um tom de azul claro. Quando ele era pequeno e ficava irritado, estressado ou alguma coisa assim, seus olhos ficavam em um tom de verde.

 E Juliet Campbell, infelizmente. Ela era loira, com os cabelos um pouco ondulados e os olhos castanhos, ela usava um vestido rosa e um salto incrivelmente alto. Mas, para minha alegria, os dois estavam no meio de uma discussão.

  - Desculpa, não sabíamos que tinha gente aqui. – disse Erick.

  Juliet nada disse, apenas saiu do lugar, esbarrando propositalmente em meu ombro.

  - Hã?  Alice, acho que deixei meu celular cair, você pode me esperar aqui? – perguntou Erick, querendo me deixar sozinha, por mais que meus olhos implorassem que não.

  - Tá bom. – consegui dizer depois de um tempo de silêncio

  Assim que Erick saiu, comecei a andar pelo cômodo como quem nada quisesse, era um lugar velho com aparência de que iria cair aos pedaços, quase nada havia ali, apenas algumas fotos e os armários da cozinha, cujas portas haviam caído.

  - Desculpa perguntar, mas nós nos conhecemos? – perguntou Max, fazendo-me parar de andar e olhar em sua direção – Eu reconheço seus olhos.

  - Nós fizemos Educação Física há alguns anos. – lutei para não gaguejar – Temos algumas matérias juntos esse ano.

  - Nossa, que vergonha, eu não sei seu nome.

  - É Alice.

  - Ah, você é Alice cara de cavalo. – ligeiramente senti meu rosto quente, eu deveria estar vermelha igual a um pimentão, ele sorriu – Você mudou muito. Alice, como Alice no país das maravilhas.

  - Eu tirei os óculos e o aparelho. – disse, como se ele não tivesse percebido isso.

  - E seu cabelo está maior, e mais liso. Os olhos mais claros. Todo esse tempo e eu não percebi que você estava comigo nas aulas.

  - É... acontece. As pessoas geralmente não lembram de mim.

  - Impossível esquecer esses olhos. Lembro deles desde que te conheci. Pensei que você tinha saído da escola.

  - Quando você voltou eu estava diferente, você não deve ter me reconhecido.

  - Provável. - ele sorriu novamente para mim, um sorriso lindo e verdadeiro – Alice, eu preciso esfriar a cabeça um pouco, uma conversa com uma velha amiga iria ajudar bastante. Será que seu namorado se importaria de você dar uma volta comigo?

  - Ele não é meu namorado. – dei uma leve risada – Não mais.

  - Uau, um ex? – assenti – E ainda são amigos?

  - Melhores amigos. – corrigi – Ele é como um irmão.

  - Legal, isso não acontece muito hoje em dia. Bem, podemos dar uma volta sem problemas então.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários são muito muito importante, principalmente os negativos, estou aberta a todos eles, e se você estiver lendo isso, é porque leu todo o capítulo, saiba que eu já amo você ;) ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alice" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.