Alice escrita por Letícia de Pinho da Silva


Capítulo 11
Capítulo 10 - Um Novo Começo




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  - Caso você sinta dor de cabeça ou tontura pode tomar esse remédio. – disse o médico - um homem loiro de olhos azuis, que tinha aparência de aproximadamente trinta anos, ele me entregou uma receita com o nome do remédio – Ainda se sente tonta, querida?

  - Não. Muito obrigada. – respondi.

  - De nada, querida. Você tem visitas. – disse ele.

  O Dr. Cooper saiu da sala de primeiro socorros e eu comecei a me perguntar quem era essa visita, pois ele não mencionaria a palavra visita se fosse Andy ou Gabriel, afinal foram eles que me trouxeram, então quem seria? Noah ou Lyen, provavelmente.

  Mas com certeza eu não esperava por Max.

  - Eu só vim ver se... eu não te matei. – ele ficou parado em frente a porta, o rosto ficando vermelho.

  Não conseguia decifrar muito bem ele naquele momento, poderia dizer que ele estava preocupado, mas ainda tinha aquela pontada de raiva brilhando no canto dos seus olhos, algo me dizia que as palavras que ele pronunciava não eram nada verdadeiras, só não sabia explicar de que modo. Como se ele estivesse ali por outro motivo.

  - Estou viva. – respondi sem nenhuma emoção na voz.

  - Estou vendo. – sua resposta veio no mesmo tom de voz da minha, mas logo ele suavizou a voz – Seu namorado está lá fora esperando por você.

  - Ele não é meu namorado. – respondi entre dentes.

  - Sei.

  - O que você está fazendo aqui? – ouvi a voz de Lyen antes mesmo de vê-lo se aproximar, ele parou ao lado de Max fitando-o com um olhar mortal.

  - Nada que te interesse. – respondeu Max, com a voz irritada.

  - Você já causou muito estrago, vá embora.

  - Eu vou quando eu quero. – ele bateu o pé no chão, pelo jeito ele não iria embora tão cedo.

  - Ei, vocês podem deixar essa briga de lado por um minuto? – eles continuaram com sua briga silenciosa pelo olhar, até que Lyen, hesitante,virou-se para mim.

  - Você está bem? – ele veio sentar do meu lado na pequena maca.

  - Sim. Por sorte só tive que levar alguns pontos, nenhum caco de vidro entrou no ferimento. – respondi apontando para o curativo em minha testa.

  - Está doendo?

  - Minha cabeça lateja um pouco.

  - Você não precisaria estar aqui se não fosse por uma certa pessoa.— seu comentário foi, é claro, direcionado para Max, que por sua vez se mexeu, desconfortável.

  - Está falando de você e Noah? – disse Max.

  - Se vocês não estivessem alucinados e começado uma briga idiota por nada, ela não estaria aqui.

  - Foi você que a empurrou seu idiota, e aquela briga não foi por nada. – disse Lyen – Aliás, você devia dar uma olhada nos seus lábios, e no olho também, parece que alguém te deu uma surra.

  - Cale... – a ameaça de Max morreu em sua boca assim que o médico entrou novamente no quarto, desta vez com um olhar preocupado.

  - Sr. Evans, certo? – pediu o Dr. Cooper para Lyen.

  - Sim. – respondeu ele, perdendo a cor no rosto.

  - É sua mãe, você precisa vir comigo. Ela está tendo convulsões. Alice, - ele se virou para mim – você já pode ir.

  - Estou indo. – Lyen se levantou e seguiu até a porta, depois se virou para mim – Alice, Amanda e Gabriel já foram, eu fiquei de te levar, mas...

  - Tudo bem, Lyen, vá, eu me viro. – respondi com um sorriso encorajador.

  - Tudo bem. – ele hesitou, mas seguiu o Dr. Cooper.

  Por um curto período eu e Max não pronunciamos nenhuma palavra, olhávamos em direções diferentes.Ele entrou na sala, sem dizer nenhuma palavra, e pegou meus pertences.

  - Vamos. – disse ele.

  - Como assim vamos? – perguntei com um olhar confuso.

  - Vou te levar para casa. – respondeu ele.

  - Você não precisa. – estendi minha mão para pegar meus materiais, mas ele não deixou, simplesmente ele saiu da sala, então eu o segui.

  O caminho até a minha casa foi completamente silencioso, Max dirigia lentamente, o que me espantou, pensei que ele quisesse se livrar de mim o mais rápido possível. O vento que entrava pelo carro vinha da janela quebrada, atrás do carro, em que eu havia batido a cabeça. E esse vento frio me incomodava um monte.

 O silêncio foi quebrado assim que estacionamos em frente a minha casa.

  - A mãe do Lyen... – ele não soube formar a pergunta, mas eu entendi.

  - Ela tem câncer no pulmão. – respondi.

  - Nossa. – sua resposta foi curta mais sua expressão dizia que ele sentia pena de Lyen, ele estava arrependido de brigar com ele, eu sabia, por mais que o próprio Max ainda não saiba.

  - Obrigada pela carona. – e pelos pontos na cabeça e no coração, completei mentalmente. Abri a porta e saí do carro, ouvi o barulho do vidro sendo aberto, me virei em direção ao carro.

  - Alice, eu sinto muito pelo machucado. – olhei em sua direção, por um momento em silêncio.

  - Se foi sem querer, não tem problema. – respondi.

  - Não foi Alice. Eu nunca machucaria você. – um brilho estranho apareceu em seu olhar.

  Mas machucou Max, pensei. Destruiu completamente meu coração. Eu nada respondi, por isso ele continuou.

  - Desculpe por Juliet e Tyler, eles são... babacas às vezes.

  - Por que você mesmo não se desculpa? Afinal, você não está envolvido?

  - Eu? – seu rosto trazia surpresa – Não Alice.

  - Não diretamente, não é?

  - Alice, eu não sabia o que eles fariam hoje de manhã.

  - E a tinta? – perguntei, suspeitando que suas palavras eram falsas.

  - Me escute Alice, eu sei que fui grosso com você na festa, mas foi porque eu perdi a cabeça com tudo o que aconteceu, com as coisas que Juliet me disse... – seus pensamentos pareciam ter viajado no tempo, para o momento da festa – Mas eu nunca faria essas coisas com você, eu não sabia o que Juliet ia fazer depois da hora do almoço, ela simplesmente pediu pra eu esperar, que ela tinha uma coisa para me mostrar. – silêncio novamente – Me desculpe não ter feito nada para impedir aquele dia, eu simplesmente não sabia que ela ia jogar tinta em você.

  - Eu não acredito em você. – respondi cruzando os braços.

  - Eu que não deveria acreditar em uma palavra sua, Alice. – respondeu ele, com um pouco de raiva no olhar, ele voltou sua atenção para a estrada na sua frente – Eu... Eu... – ele tentou dizer alguma coisa – Sinto muito. – disse ele sem olhar para mim.

  Sem esperar minha resposta, ele ligou o carro e partiu.

Entrei em casa ainda com um pouco dor de cabeça, queria poder ir para minha cama e dormir até amanhã de manhã, mas assim que abri a porta encontrei Noah e Isabella na sala, Noah andava de um lado para o outro, Izzy estava sentada no sofá com o telefone nas mãos. Assim que me viu, Noah parou de andar e seus olhos se fixaram no meu ferimento.

  - Aquele idiota, - disse ele vindo em minha direção – olha só o que ele fez com você! – ele levantou o cabelo da minha testa para poder ver melhor o corte que havia ali – Isso deve ter um metro!

  - Não exagere Noah! – disse Izzy parando ao seu lado – Você está bem?

  - Estou. – respondi enquanto Noah tocava meu corte – Ai.

  - Tire a mão daí Noah! – disse ela, eu tive que rir de Izzy e Noah.

  - Eu vou matar aquele babaca. – disse Noah.

  - Ninguém vai matar ninguém. – disse, séria.

  - Onde está Lyen? – perguntou ele, não me dando ouvidos.

  - A mãe dele teve uma convulsão, ele ficou no hospital.

  - Querida dela. – disse Izzy, levando uma das mãos ao coração.

  - Nossa, ela está bem? – perguntou Noah.

  - Eu não sei, vou ligar para Lyen mais tarde. – respondi.

  - Assim que ligar, me diga como ela está.

  - Ok. Eu vou tomar um banho, minha cabeça está latejando, preciso descansar.

  - Certo, melhoras Alice. – disse Izzy, já indo em direção ao sofá.

  - Não se afogue na banheira, maninha. – disse meu irmão.

  - Noah! - Izzy deu um leve tapa nele quando ele se aproximou.

  Antes de ir para o banheiro, passei na cozinha e peguei um copo com água, fui para o banheiro, enchi a banheira, tomei um comprimido para dor de cabeça, tomando quase toda a água para fazer o comprimido descer. Entrei na banheira e deixei-me relaxar, sem permitir que minha mente vagasse para qualquer problema da minha vida.

  Assim que saí do banho, liguei para Lyen, sua mãe estava bem, e após informar a Noah, deitei na cama e dormi até às sete horas; quando levantei, tive que contar o acontecimento aos meus pais, afinal eles notariam o curativo. Disse a eles que eu tinha sido empurrada sem querer no estacionamento do colégio. Eles ficaram loucos, queriam ligar para o colégio, mas eu insisti que não era nada, que eu estava bem, foi difícil, mas eles se aquietaram.

 Mais loucos que os meus pais, ficou Noah, incrédulo por eu não ter contado a verdade a eles, por sorte, ele não tinha nenhuma marca de briga no rosto para ter que se explicar para nossos pais. Eu, por outro lado, não tive a mesma sorte.

Amanda me ligou à noite, e em seguida Gabriel, Janel, Kim, Erick, Kevin e até Alyson. A notícia se espalhou rápido. O máximo que respondi era que estava bem, as outras perguntas eu deixei em branco, apenas respondendo que contava depois, Amanda e Gabriel foram os únicos que não perguntaram o que aconteceu, eles eram tão parecidos, tão doces, eles sabiam exatamente o que cada pessoa precisava em cada momento de sua vida.

  Fiquei feliz por Noah não ter me procurado para passar um outro sermão de como eu estava sendo tola em relação a Max. Mas a verdade é que o amor deixa as pessoas meio tolas.

  Minha mãe disse que eu poderia ficar em casa descansando se eu quisesse, mas eu queria ir para a aula. Levantei da cama e me arrumei, hoje eu não estava com ânimo para maquiagem.

 Na minha primeira aula, Janel ia me bombardear com perguntas, mas eu a silenciei com um olhar, não queria responder mais nenhuma. Agradeci que em minha terceira aula eu sentava sozinha, aliás a única da turma que não tinha um parceiro de mesa, e mais sorte ainda que nenhum dos meus amigos estudava comigo. Mas minha sorte mudou...

  Sentei-me em minha mesa na terceira aula, feliz por estar livre das perguntas, o professor já estava sentado em sua mesa, prestes a começar a aula quando a porta se abre. E eu não esperava ver Max passar por ela.

  - Pessoal, - disse o professor pegando uma folha da mão de Max – o Sr. Rossi se transferiu para a nossa aula, espero que o recebam bem. Srta. Holloway, - tirei os olhos do Max pela menção de meu nome, Max por sua vez pousou os olhos em mim, pelo jeito ele estava surpreso por me ver nessa aula – ajude Max com o conteúdo. – o professor fez um gesto para que ele fosse se sentar, o problema é que ele fez esse gesto em minha direção, Max hesitou – Está esperando o que Sr. Rossi? Sente-se ou fique em pé.

  Max percorreu o olhar pela sala, ele procurava outro lugar vago, mas ou era sentar ao meu lado ou ficar em pé. Ou talvez trocar de aula novamente. Ele caminhou rapidamente em minha direção, sendo que o professor já havia iniciado a aula.

  - Eu não sabia que você estava nessa aula.  – disse ele se sentando ao meu lado - Não estava sendo mais agradável dividir a mesma aula com seu namorado.

  - Namorado? – perguntei curiosa.

  - Não se faça Alice. – seu olhar sobre mim era misterioso, e eu retribui do mesmo modo. Bem, no mínimo tentei.

  - Você quer dizer Lyen?

  - Você tem outro namorado agora?

   - Ele não é meu namorado. – disse cerrando os dentes.

  - Claro. – ele voltou sua atenção para o professor.

  - Por que você trocou de aula?

  - Eu já disse, por causa do seu namoradinho metido a besta. Não ia aguentar sentar ao lado dele mais um dia. – suspeitei que ele estivesse mesmo é medo de apanhar.

  - Eu não sabia que vocês sentavam juntos.

  - Belo namorado que você tem. – ele voltou novamente a atenção para mim.

  - Ele não é meu namorado. – disse rispidamente, mas com um sentimento estranho brincando dentro do meu peito.

  Com isso, Max se calou, até o final da aula, ele guardou os materiais rapidamente, e antes de se dirigir a porta de saída, disse:

  - Não espere que eu aceite sua ajuda com o conteúdo. – disse ele rispidamente, do mesmo modo como eu havia falado com ele.

  Não disse nada, apenas peguei meus materiais e o fitei enquanto ele saia pela porta.

  O restante do dia se arrastou lentamente, Lyen não falou muito comigo, pelo que eu pude notar ele sabia que eu estava chateada pela briga de ontem, e de um certo modo ele também se sentia culpado pelo meu “acidente”. Cheguei em casa e larguei meus materiais em cima da cama e fui direto para o chuveiro. Noah já devia estar na oficina, ajudando nosso pai, cogitei a ideia de ir até lá, distrair-me um pouco, mas logo a descartei. Olhei para meu celular em cima da cômoda, peguei-o rapidamente, fui direto para a lista de contatos e o primeiro nome que apareceu foi Amanda Fermi.

  Ela atendeu no terceiro toque.

  - Pensei que você iria se trancar no quarto, Alice. – disse ela, com uma voz doce.

  - Oi Andy, você está ocupada? – disse, ignorando o que ela disse.

  - Para os meus amigos, eu nunca estou ocupada.

  - Em outras palavras, você está com Gabriel? – ela hesitou um pouco, mas respondeu.

  - Não. – é claro que era mentira, ela nunca saía do lado de Gabriel.

  - Tem tempo para uma amiga problemática? – perguntei.

  - Deixa eu ver em minha agenda. Desculpa amiga, mas tá lotada de compromissos e festas. – ela deu uma leve risada – A que horas você vem me buscar?

  - Agora, se não se importar.

  - Claro. – respondeu ela.

  Fui até a casa de Amanda de carro, estacionei em frente a sua casa e não me surpreendi em vê-la me esperando na porta da frente.

  - Que demora foi essa? – perguntou ela sorrindo.

  - Estava sem pressa. – abracei-a.

  - Sabe, estava me perguntando porque você me ligou.

  - Eu queria me distrair um pouco, e você é a única com quem eu posso fazer isso, sem que me encha de perguntas.

  - Quem sabe seja porque eu não sou curiosa.

  - Você é muito curiosa Srta. Fermi. Quantas vezes você se machucou por ser curiosa? Umas cem?

  - Só se for cem mil.

  - Caindo de árvores. – disse eu rindo.

  - Colocando o dedo na tomada. – completou ela.

  - Mexendo nos fios elétricos.

  - Brincando com objetos pontiagudos. – rimos do passado “curioso” de Amanda – Diferente da Kimberly e da Janel...

  - E do Kevin. – completei, pensei em adicionar Erick e Alyson, mas eles se pareciam muito com Andy. Alyson perguntava, mas se ouvia um não, ela se calava.

  - Eu sei esperar, eles são muito impacientes. – continuou Andy – Você vai falar quando se sentir pronta.

  - E se eu nunca me sentir pronta?

  - Todos um dia se sentem prontos. Mas, caso você não diga, teria que arrancar a resposta de você. – ela sorriu, seu sorriso me contagiou, me fazendo sorrir também – Então, você me ligou para a gente ficar paradas em frente a minha casa falando sobre meu jeito de ser? – perguntou ela depois de um tempo em silêncio.

  - Não. Para falar a verdade, nem sei o que podemos fazer agora. – disse suspirando, eu só precisava sair de casa um pouco, as paredes pareciam me sufocar, mas não pensei exatamente no que fazer com Amanda.

  - Podemos fazer pipoca e ver um filme. – propôs ela.

  - Parece uma boa ideia.

  - É uma boa ideia. – disse ela rindo.

  Fizemos duas bacias de pipoca, uma doce e outra salgada, sentamos na sala de Andy com as bacias de pipoca para ver Cartas Para Julieta. O filme era lindo, e até um pouquinho engraçado, mas deixava com o coração apertado. Ver todo aquele romance, deixava-me com o estômago embrulhado, porque fazia pensar em Max. Mas ao mesmo tempo, fazia-me lembrar de Lyen, e a sensação era diferente, dava um frio na barriga.

 Não sei dizer exatamente em que parte do filme eu parei de prestar atenção.

  - Andy, você acredita em finais felizes? – perguntei a ela.

  - Sim. – é claro que essa seria a resposta, ela tem Gabriel, o seu final feliz já está garantido – Alice, só por que você está sofrendo neste momento, não quer dizer que você não vá ser feliz. A dor é a única coisa que entra em nossas vidas e um dia sai.

  - A felicidade também. – completei, abaixando a cabeça e começando a remexer nos grãos de pipoca.

  - A felicidade nunca vai embora, por mais que estejamos sofrendo, ainda existe a felicidade dentro de nós, só que não percebemos. Nós que deixamos de perceber a felicidade porque nos concentramos demais na tristeza.

  - Uau, foram belas palavras Andy, mas não é assim comigo.

  - Lyen é a sua alegria. – suspirei ao ouvir a resposta.

  - Andy, acho que eu estou pronta para te contar o que aconteceu nos últimos dias. – ela sorriu.

  Andy ouviu tudo sem interromper, ela deixou que eu contasse tudo a ela, e eu não deixei nada de fora. Contei cada dor que eu sentia, cada sentimento que me invadia, e quando terminei de contar tudo já estava nos braços de Andy, sem notar que eu chorava loucamente.

  - Não deveria ter ido ao cemitério naquele dia. – disse entre os soluços – Eu me deixei enganar, Andy, pensei que um dia ele poderia me amar. Um dia eu era uma ex-amiga para ele, no outro eu já era sua melhor amiga, e agora sua pior inimiga. Eu não sei o que fiz de errado pra ele me odiar tanto.

  - Você não fez nada de errado, Alice, nada. Eu não sei porque ele está agindo assim, mas posso lhe dizer que ele é quem sai perdendo. Ele poderia ter a namorada mais maravilhosa do mundo ao seu lado, mas ele perdeu isso.

  - Mas o que eu faço para superar a dor? – ela ficou pensativa.

  - Você tem amigos que estão de braços abertos para te ajudar. – ela fez uma breve pausa – Fique perto de Lyen. Ele parece o sol que espanta a escuridão que a dor criou em você.

  - Eu não sei... o que sinto em relação a Lyen.

  - Como assim? – ela se afastou um pouco para olhar em meus olhos, então saí do seu abraço e me endireitei ao seu lado.

  - Eu não sei se estou cometendo o mesmo erro que cometi com Erick, - enxuguei os olhos com as costas da minha mão – mas acho que... – tinha medo em dizer isso – é que eu me sinto diferente quando estou com Lyen.

  - Com relação a isso, Alice, você terá que descobrir sozinha. – ela entendia, sem eu nem mesmo ter dito uma palavra.

  - E como eu descubro?

  - Siga o seu coração, ele sempre tem a resposta para tudo.

  - E se ele estiver errado?

  - Ele não vai estar. – respondeu ela afagando meus cabelos.

  - Mas ele estava errado com relação a Erick.

  - Não estava, porque você sempre amou Erick, apenas surgiram novos amores em seus caminhos. Mas vocês nunca deixaram de se amar. – disse ela sorrindo – Afinal, você amava ele com um irmão, e ainda ama.

  - Talvez... seja verdade. – disse pausadamente.

  - Você sabe que é. – ficamos em silêncio, vendo as últimas cenas do filme passarem, eu nem sabia o que havia acontecido em boa parte do filme – Por que você não vai se encontrar com Lyen hoje?

  - Hã? – olhei para ela, confusa.

  - Assim você espanta toda essa dor de você. – respondeu ela, me fitando com um olhar que dizia “vai lá Alice”.

  - Por hoje. – suspirei. Amanhã ou depois de amanhã a dor iria voltar.

  Quando eu não estivesse com Lyen, com seu sorriso me distraindo, eu simplesmente voltaria a pensar em tudo.

  - Quem sabe você não espanta para sempre? – ela piscou para mim. Eu já sabia o que ia fazer antes mesmo de ela pensar em piscar. Apanhei meu celular e disquei o número de Lyen, o único que eu sabia decor.

  - Alô? – disse a voz de Lyen, um pouco cansada, e não era de se espantar.

  - Oi Lyen, é a Alice.

  - Algum problema? – agora, sua voz soava urgente e preocupada.

  - Não. Eu só queria te ver. – disse mordendo os lábios, ansiosa para uma resposta.

  - Claro. – sua voz soou alegra desta vez – Já passo aí.

  - Eu não estou em casa. Podemos nos encontrar na praça? – um sorriso formava-se em meus lábios.

  - Claro, já estou indo pra lá.

  - Até logo.

  - Até logo Alice. – mesmo não podendo ver, eu sabia que ele também sorria, apesar de ter passado um momento difícil com a mãe.

  Desliguei o telefone e estava sorrindo feito uma boba, olhei para o lado, e vi que Andy fazia o mesmo, o que me fez rir.

  - Tenho que ir amiga. – dei um abraço forte nela – Obrigada por tudo.

  - Disponha. Amigos são para isso mesmo. – ela me soltou e eu fui até a porta, com ela ao meu lado, parei e a olhei por cima do ombro.

  - Se alguém te ligar – com alguém eu estava me referindo aos nossos amigos, sabia que ela entenderia – pode contar tudo para eles, - disse eles porque incluía Erick e incrivelmente Kevin e Gabriel – assim me poupa o trabalho de contar depois. Até amanhã.

  - Tchau Alice.

  Abri a porta, saí rapidamente e esbarrei em Gabriel, que subia as escadas.

  - Com pressa Alice? – disse ele sorrindo.

  - Só um pouquinho. – parei de correr – Tudo bem com você?

  - Tudo. E com você? – ele me analisou um pouco e pude jurar que ele soube que estava chorando, estava tão na cara assim?

  - Não está perfeito, mas está indo.

  - Pode ir Alice, não vou te segurar. – disse ele afagando meu ombro e sorrindo, em um gesto que parecia dizer “estou ao seu lado”.

  - Obrigada. – sorri de volta para ele - Tchau Gabriel.

  - Tchau Alice. – ele acenou para mim enquanto eu corria em direção ao meu carro.

  Parti para dentro do carro como um furacão, acelerei um pouco demais, e por consequência cheguei lá rapidamente. Queria um tempinho para pensar, mas quando cheguei, vi o carro de Lyen estacionado ali também. Acho que não fui a única a pisar fundo no acelerador.

  Fui para o banco onde Lyen havia me encontrado chorando alguns dias atrás, quando Max tirou de mim a pulseira que ele me dera. De algum modo, eu sabia que ele estaria ali.

  -Alice! – disse Lyen alegremente se levantando e me agarrando em um abraço, logo ele recuou, e como Gabriel, ele soube que eu estava chorando – O que aconteceu?

  - Nada. Sério. Só estive desabafando com Andy. – algo passou em seu olhar, e ao que me parecia era ciúmes.

  - Por que me ligou? – perguntou ele, enquanto nos sentávamos no banco, já era noite, e as estrelas brilhavam vividamente no céu.

  - Eu queria te ver. – olhei em seus olhos – Não quero que você se sinta culpado por isso. – apontei para meu machucado.

  - Mas a culpa é minha. — ele abaixou os olhos – Eu não dei bola quando você me mandou parar com a briga, se eu tivesse te dado ouvidos você não estaria com esse machucado. – ele colocou meu cabelo atrás da orelha, de modo que o machucado ficou completamente visível – Você podia ter morrido.

  - Mas não morri. E a culpa não é sua. – disse com mais ênfase na frase final.

  - Ah Alice, você tem um bom coração. – olhei em seus olhos e soube que nada o faria mudar de ideia – Eu fiquei com o coração na mão quando você saiu do estacionamento naquele dia, eu disse a mim mesmo que se você morresse, eu morreria também. Eu não posso viver sem você.

  - Eu perdoo você.

  - Como? – ele ficou confuso pela mudança no assunto, de algum modo eu sabia como tirar a culpa dos ombros dele.

  - Eu perdoo você pelo meu machucado.

  - Eu... – ele ficou em silêncio enquanto me fitava, seus olhos me analisando – Obrigado Alice. – ele me abraçou, e no modo como ele me abraçou eu soube que a culpa já não estava dentro dele, apesar de eu não o achar culpado.

  Como minha tia me dizia, a psicologia reversa sempre funcionava.

  Ele se afastou de mim, olhei fundo nos seus olhos.

  - Eu só o perdoo, porque eu também não sei viver sem você. – seus olhos brilhavam, e eu sabia que os meus também.

  - Alice, eu... – as palavras se perderam em algum lugar, e ele não conseguiu terminar a frase.

  - Tudo bem, Lyen. – coloquei gentilmente minha mão sobre a sua – Eu tenho que te agradecer.

  - Pelo que, Alice? – perguntou ele, curioso.

  - Por tudo o que você tem feito por mim.

  - Mas Alice, eu não faço nem metade do que você merece. – seu olhar, pude perceber, assumiu uma expressão triste, de quem queria fazer mais, mas que simplesmente não sabe como.

  - Você não faz ideia do bem que você me faz, das coisas maravilhosas que você vem fazendo por mim, sem nem mesmo perceber. – fiz uma breve pausa para poder respirar e analisar sua expressão, que agora se tornava alegre – Eu não sei o que seria de mim se eu não tivesse te conhecido naquele dia. –referia-me ao dia em que Max se declarou para Juliet.

  - Por incrível que pareça Alice, - disse ele, baixando a cabeça, seu olhar concentrado em minha mão, que ainda continuava na sua. Ele começou a desenhar pequenos círculos em minha mão – eu também não sei o que seria de mim sem você. Eu deixei todos os meus amigos para trás, meu irmão, para poder cuidar de minha mãe. Vê-la sofrer nunca foi fácil para mim, ainda mais depois que meu pai foi “internado”. Mas com você, Alice, - seus olhos passaram a me fitar com tanta intensidade, que meu coração começou a bater mais forte – tudo fica mais leve. Você espanta as sombras em minha vida, e mesmo você não estando por perto, é só lembrar do seu rosto, da sua voz, do jeito que você sorri ou mexe no cabelo, para fazer uma pequena luz brilhar em mim.

  - Comigo não é diferente. Você espanta toda dor com um simples sorriso. Até mesmo seu silêncio é reconfortante. É como se não houvesse tempo ruim ao seu lado. Como se não houvesse lágrimas, só sorrisos. Como se todo problema, tivesse uma solução simples.

  Ficamos por um momento assim, olhando um para o outro, dizendo tudo apenas com um olhar. Sem nenhum dos dois perceber, nossos corpos começaram a se aproximar, cada vez mais e mais, podia sentir o calor que emanava dele, meu corpo ansiava por seu toque.

 E então, quase sem perceber seus lábios estavam nos meus, em um beijo doce e apaixonada. Cada átomo do meu corpo ansiava por aquele beijo, e eu simplesmente não queria que esse momento acabasse. 

  - Alice, eu preciso lhe dizer uma coisa. Eu te amo. – disse ele sem hesitar.

  - Eu te amo Lyen. – eu sabia que aquelas palavras eram sinceras, tanto as minhas quanto as deles. As mais puras e sinceras palavras vindas do coração.


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