A Verdade Através do Sangue escrita por Pan


Capítulo 10
Família Grande e Psicopata


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pelo atraso antecipadamente :)



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Apesar de Caled ser o melhor assassino que Hope tivesse, a missão ficaria para Kelly.  A proposta era irrecusável, quase um sonho virando realidade. Em troca dos serviços da menina, Hope só teria que deixá-la ficar com eles por algum tempo, ver se servia para alguma coisa. Algumas brigas por um assassinato era uma ótima barganha. Além disso, Kelly iria acompanhada de Damian, o pequeno que havia cuidado dela. Seria uma aliança rentável para ambas as partes. Poderia até facilitar quando Bryan se tornasse o novo treinador. O plano não parecia complicado, na cabeça de Hope, tudo daria certo.

O caminho para casa poderia estar fazendo com que ela pensasse assim, talvez fosse melhor que ela cumprisse a missão sozinha. O quartel general deles ficava em uma casa que qualquer lutador dos tempos em que Sky ainda trabalhava na contabilidade poderia se lembrar. A mesma estrutura que aguentou dezenas de homens e crianças, gaiolas e mortes, servia de refúgio para dezessete adolescentes e um adulto. Os cômodos estavam redecorados, sem nem sinal de sangue ou da tinta cor de cobre que cobria as paredes. Seria aquele lugar macabro o novo lar de Kelly e Bryan, nem um pouco entusiasmados para se lembrar do sofrimento que foram impostos ali. Segundo Hope, a casa não ficava muito longe da mansão da mãe, alguns quilômetros separavam os dois imóveis.

Quando Hope voltara da reunião com a mãe, esperava encontrar todos, incluindo Bryan, comemorando a chegada de Caled. A visão da sua sala de estar quieta a deixou em estado de choque. A sala, silenciosa, não estava vazia, haviam dois seguranças, ex lutadores que Hope conhecia pelo nome, e uma menina de cabelos curtos e roupas estranhas. O sistema de som funcionava bem, Hope gritava e todos apareciam. Isso ou punição.

— Reunião na sala, agora – foi o suficiente para juntar as dezoito crianças e Bryan surgissem dos quartos.

— Qual a necessidade do grito? – a menina de roupas pretas com esquisitas linhas vermelhas parecia autoritária. A cabeça erguida para não derrubar a coroa.

— Você já vai aprender uma regra. Não me interrompa. Outra regra, eu mando aqui e somente eu, nem mesmo a mãe tem o direito de dizer uma palavra dentro dessa casa. Entendeu? – a mãe não tinha jurisprudência nenhuma ali, aquele pequeno território era de Hope.

— Acho que você não entendeu. Minha senhora me mandou aqui resolver alguns detalhes do meu treinamento. Agora, seja lá quais forem seus assuntos com esses resquícios de carne humana, podem esperar – a garota falava como estava acostumada a ser tratada, a dona da companhia, a alfa. Caled riu, na verdade, o menino dobrou-se e tossiu algumas vezes antes de recuperar o ar. Bryan segurava o riso, a grande maioria também.

— Meninos eu queria dar alguns avisos, sendo um deles a chegada da madame. Agora que está tudo esclarecido, Hefesto, coloque nossa convida em seus aposentos enquanto nós resolvemos nossos problemas – o menino deu um passo à frente e esticou a mão, convidando a menina a segui-lo.

— Kelly vai também? – Hefesto parecia satisfeito com qualquer que fosse a decisão de Hope. Se ela sorria, ele ria, se ela gritasse, ele se encolhia e obedecia.

— Não, tenho uma proposta para ela, quem sabe, ela aceite. Vai, antes que eu mesma vá – o menino partiu na frente, guiando a visitante pela casa.

— Aquele não é o caminho para o porão onde ficava a gaiola e o alojamento das crianças? – a expressão confusa de Bryan fez com que Atlas risse.

— Ele não aprende nunca. Leônidas, você sempre me faz rir – o homem de cabelos brancos agarrou o ex companheiro e o comprimiu em sua espécie de abraço.

— Todos nós passamos alguns dias na solitária até aprender em que sentido as engrenagens giram. Enfim, tenho detalhes sobre uma nova missão. Eu até deixaria que Caled e Luca terminasse o serviço que começaram, porém, Kelly me parece uma opção mais viável. Se você aceitar, pode passar algum tempo treinando conosco e se conseguir se provar, pode acabar ficando.

— Eu não trabalharia para você nem se você fosse Deus – ela cuspia as palavras bem como desejava cuspir em Hope. O rosto carregava as marcas da última surra.

— A missão é matar Victor. Se aceitar, você e Damian começam os preparativos amanhã. Se negar, ficara na companhia da nossa agradável hospede no porão até que meus meninos terminem o trabalho sujo. O que me diz?

— Nunca! – Lygia a agarrou pelos cabelos, antes que Kelly pudesse se mover.

— Divirta-se no porão, soube que ela pode ser bem irritante. Damian, o caso ainda é seu, você pode tentar convence-la ou ir com Hefesto, não me importa. Quero ele morto em uma semana ou até as duas formarem uma aliança e destruírem o meu porão, o que acontecer primeiro. Alguma pergunta?

— Não, senhora. Pode deixar comigo – seus olhos verdes se fecharam e ele expressou um sorriso.

— Aos avisos importantes. Primeiro: a menina que está no meu porão foi transferida de um outro país para cá e vai ficar algum tempo com a gente. Ela não tem uma coroa na cabeça, façam com que aquele sorriso na cara dela suma. Não temos espaço para perdedores ou atrasos, preciso de campeões. Não sejam legais com ela, não no começo. Entendeu, Damian? Segundo aviso: a missão de matar Victor é de grande responsabilidade, quero que todos apoiem e ajudem, quanto mais rápido e melhor for nosso serviço, mais isso vai facilitar as coisas daqui para frente. Vou checar se todos estão aqui, ou seja, após ouvirem seus nomes podem ir.

Cada uma das crianças de Hope tinha uma peculiaridade. O casal maior, Hefesto e Jade eram perversos e obedientes. Ambos estavam em seu último ano de aprendizado antes de partirem para missões e gaiolas pelo mundo. Trabalhavam em muitos casos juntos, o suficiente para que fossem caçados por algumas famílias de máfias. Suas missões eram motivos de estudo para alguns, não só pela quantidade, mas também pela complexidade. Jade dizia que era só piscar os olhos e metade já estava resolvido.

Seguindo a ordem cronológica, temos Josh com seu sorriso sarcástico. A facilidade que o menino tem de torturar alguém ou completar chacinas impressiona. Às vezes ele parecia um maníaco correndo pela casa coberto de sangue e pedaços de crânio presos na roupa. Ele pintava o cabelo de vermelho frequentemente de modo que não precisava lavar o sangue dos fios todos os dias. Ele nunca foi simpático com ninguém, nem mesmo com Hope, não no começo, pelo menos. Ele sempre estava em alguma briga, motivo do nariz quebrado, que nunca deixou que colocassem no lugar.

O estranho trio de quinze anos era o que mais causava dor de cabeça para Hope, mas eram eles quem limpavam a bagunça. Cail, Caled e Lygia. Dois extremos e um meio. Por anos a fio, todos achavam que Cail era mudo, ele não falava, mal se mexia e só obedecia. Depois que ele quebrou o nariz do Josh e arrancou alguns dentes do outro, eles entenderam o recado. Cail era o melhor lutador com as melhores técnicas. Ele adorava treinar com Caled, seu único oponente dentro do ringue. Apesar dos dois se darem bem, Lygia era um problema. Extremamente gananciosa, faria o necessário para conseguir subir de posição. Os três só estavam em discussões e brigas enquanto estivessem respirando juntos em uma sala. Lygia alimentava um ódio pelos dois, o porquê é desconhecido. Ela assistia de camarote as sessões de tortura que Josh fazia.

Melhor mesmo seria esquecer a existência de duas pessoas com seus catorze anos, os gêmeos. Dylan, o terceiro membro dessa categoria, se classificava como o modelo. Bom com facas, estudando como usá-las todo o tempo que não estivesse paquerando Dara. Ele costumava passar certas informações para Josh, para auxiliar no trabalho do mais velho. Exímio atirador de lâminas. Ao casal de estranhos, seria melhor guardar a descrição para o final.

A felicidade dos treze anos afetava Damian vinte vezes mais do que afetava Nika. Os olhos verdes dele e o sorriso encantador fariam qualquer um perceber a criança que o controlava. Nika, ao contrário, tinha maturidade sobrando por todos os lados, escorrendo de seu corpo como suor. A menina dos olhos puxados era quase como uma mãe para os mais novos, e muitas vezes para os mais velhos também. A mais rápida e mais agitada de todos, sempre mandando alguém lavar a louça ou ir dormir porque já estava tarde. Se nem todos ali tivessem conhecido a mãe, Nika era quem as representava.

O único nascido há doze anos é Pierre, irmão de Luca. Não havia nada demais a se falar sobre ele, só alguém traumatizado porque se lembrava da mão vendendo ele e o irmão menor. Hope fizera uma barganha com Luca, esse era o motivo de Pierre estar ali, ele sabia muito bem disso. Se empenhava o máximo possível para ajudar em qualquer coisa para não perder o posto.

Zamira e Dara preenchiam o espaço seguinte. Dara tinha uma excelente mira, capaz de atirar tão bem que seus trabalhos resumiam-se em passar dois dias no alto de um prédio esperando o momento perfeito. Zamira era a responsável por limpar a sujeira que eles deixavam nas cenas dos crimes. A mais capacitada química e perita que existia. Ensinava aos outros como não deixar digitais ou manchas de sangue, nem fios de cabelo ou fiapos de roupa. Sua genialidade não parava ai, porém parecia o suficiente para seu recrutamento.

Os mais novos, a idade mínima para ser recrutado, ter uma década. Luca fazia parte dos últimos, apesar de ser o mais especial. Mary e suas trancinhas não haviam demonstrado nenhuma habilidade em especial, assim como Kevin. Eles pareceram a Hope páginas em branco, prontos para fazer parte de uma nova geração.

Quando Hope terminou a chamada e todos já haviam seguido em direção a seus quartos, os gêmeos ainda estavam ali parados. Eles a assustavam, seriam ótimos se não fossem sociopatas. Queriam dizer algo para a beta, só não sabiam como. Ela desceu as escadas do hall até a sala. Passou os braços e abraçou os dois. Renan pediu para conversar em particular com ela, havia algo seriamente errado.

— Bryan, eu vou falar com eles e já volto. Atlas sinta-se e casa, assim como seu aprendiz – ela seguiu ainda agarrada aos dois. Essa foi a pior coisa que poderia ter acontecido com o lutador.

Logo que eles deixaram o cômodo, os quinze voltaram. As histórias sobre um lutador, o único que conseguiu escapar dos alojamentos era a melhor que todos já ouviram. Ele era o culpado pela mudança nas regras, pela quase extinção das gaiolas e o começo do pequeno exército da mãe. Atlas já estava velho, ainda assim ele contaria para a filha sobre a possível família que ele viu ali. As crianças sentadas envolta do antigo Leônidas que ele conheceu, ouvindo e perguntando como ele havia fugido. Questionavam sobre o passado de Hope, um vórtice na existência da humanidade.

— Um dos problemas de ser velho é o cansaço. Caled, diga para ela que nós falamos amanhã. Estou no quarto de hóspedes, caso qualquer coisa – quando ele deitou no quarto, perguntou a si mesmo quando ele pensou em rever sua família. Sua menina sentia saudades, ele sabia, da vida calma que tinham antes daquilo tudo acontecer. Seu maior desejo era voltar no tempo só para vê-la dormir no berço, levá-la no primário de novo, ver sua primeira luta e até mesmo estar lá quando ela matou pela primeira vez. Não eram memórias fáceis de serem digeridas, estavam na sua cabeça porque ele estava lá quando ela fez tudo isso. Ele havia sobrevivido o suficiente para saber que ninguém poderia derrubá-la. Morreria feliz com essa ideia, acreditando ser uma verdade absoluta. Talvez ele ganhasse um neto.


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Notas finais do capítulo

Hey! Eu sei que devo desculpas por todo esse atraso, não postei nada em janeiro, mas eu precisava de um tempo para criar dezesseis personagens novas com personalidades fortes. Exigiu algumas madrugadas e muitas conversas com meu beta. Vou tentar voltar ao ritmo, porém esse negocio de vestibular fica rondando minha cabeça, sabe como é. Espero que vocês não desistam da história, porque eu já sou um caso perdido.
Vejo vocês no próximo, não morram até lá.



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