A Verdade Através do Sangue escrita por Pan


Capítulo 9
Tal Alfa, Tal Beta


Notas iniciais do capítulo

Um por semana, como prometido.



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Hope havia aprendido rápido no lugar em que ela cresceu, quando alguém te derruba, você espera a ordem para se levantar. Não se revida, não se entra numa briga, não se respira, se você não tiver permissão. Era uma das poucas coisas que a mãe não precisava explicar, desde pequenos, todos sabiam disso. Ali, naquele parte do mundo, a mãe era a própria vida, mas não trabalhava como morte, esse trabalhou era para os cães. Nesse regime hierarquizado, só não se podia ser um dos porcos, ninguém queria ser um deles, mas a verdade é que a maioria estava atolada até o pescoço de lama e agradecendo por isso.

 Todos os seus meninos seriam cães, nunca porcos. A raiva de Victor sobre ela vinha daí. Ele não poderia descontar na favorita da mãe, então torturava os preferidos dela, as crianças que ele treinava. Aqueles que ela ia visitar, eram aquelas que tinham o treinamento mais duro e as mesmas que recebiam mais missões. Não importava o quanto Victor piorasse os treinos, eles melhoravam as técnicas e conseguiam.

Foi assim que Hope conseguiu os melhores para tutorear, Victor não conseguia domar nem dobrar os prodígios. Claro que nas mãos certas, eles viraram máquinas de guerra, capazes de agradar os patrocínios e espalhar os rumores de que a mãe estaria investindo em outras áreas. Não se envolvia com tráfico, mas tinha os melhores seguranças e assassinos em todos os quase todos os continentes, algo pouco difícil de superar.

Caled. Esse foi o maior erro de Victor. O pequeno menino remelento que Hope achou na rua. Ele se parecia com os outros, mas tinha as cicatrizes antes de entrar na gaiola. Hope dizia que ele era um lutador por ter sobrevivido a tudo aquilo, por causa da asma. Nenhum dos outros meninos teria coragem de fazer o que ele fazia. Victor treinava ele pessoalmente, dentro e fora da gaiola. O lutador exigia do garoto o que nem ele conseguiria fazer. Caled quase morreu uma dezena de vezes, sem deixar de completar a tarefa que lhe fora imposta.

A dúvida geral era sobre o pequeno que iria substituir a mãe quando ela se aposentasse. Caled seria um beta, como Hope, que era a principal aposta para assumir o lugar de alfa. Era a garota que sabia os segredos da mãe, que saberia como comandar tudo com o braço de ferro, além de ser a mais próxima e parecida com a mãe. As duas escondiam muito mais do que a ficha criminal de quilômetros.

Esse seria o assunto daquele encontro. A reunião pela qual Hope foi chamada a assustava. Ela se lembrava de quando era uma garotinha e a mãe a chamava para aquele tipo de coisa. As missões que ela teve que cumprir. Se sentia do mesmo jeito, indefesa na mesma sala que o monstro que ficava dentro de sua armário estava.

— Hope, eu tenho que terminar de assinar alguns papéis, mas já te dou devida atenção. Sente-se – lá estava ele. Perto o suficiente para esticar a não e puxa-la para deixo da cama, para a escuridão.

A mesma cadeira de quando era mais nova. Ainda parecia que receberia uma missão e teria que correr meio mundo para cumprir.

— Não é nada demais, quer dizer, se você tivesse esperanças de assumir minha cadeira, então talvez seja grande coisa – ela não levantou os óculos, continuava analisando os papéis.

— Não tinha essa ambição, mãe. Não quero seu trono – as mãos suavam no colo e ela sentia as gotas molharem as calças.

— Agora faz sentido porque os lutadores me chamam de mãe. Você inventou alguma história para disfarçar o real motivo, certo? – os óculos estavam em sua mão, enquanto ela analisava a expressão assustada de Hope.

— Mas é claro, nunca contei nada a ninguém sobre o seu passado – o suor começou a descer pelo rosto.

— Não é disso que queria falar. Você é meu braço direito e quero que você saiba disso antes que eu comunique os ratos dos compradores. Sabe como as notícias se espalham. Eu tenho uma carga preciosa chegando, ela é local, porém eu a mandei viajar pelo mundo para aprender um pouco antes que assumisse meu posto. Ela sabe de tudo um pouco e de muitas coisas. Provavelmente sabe mais do que e você juntas. Ainda assim Hope, preciso de alguém para proteger aquela menina. Quero que você a coloque entre os seus prodígios e quero que você a treine – ali estava a pausa dramática. A mãe sabia que seria um desafio para Hope, treinar uma menina que possivelmente era melhor do que ela. – Foi por isso que pedi que trouxessem o seu namorado de volta, quero que ele assuma o lugar de Victor com as crianças, nunca perdi tantos lutadores.

— Mãe, a senhora vai se aposentar e deixar uma pirralha no lugar? Iremos a falência.

— Não vou me aposentar até ter certeza de que ela esteja pronta. Achei que você daria graças quando soubesse que sua próxima missão seria matar Victor, ou você deixar que um dos seus faça. Não me importa os meios, quero ele morto e enterrado – a mãe voltou os olhos para os papéis.

— Pediram que eu desse essa notícia a senhora. Mãe, dois dos meus foram vistos fugindo da sala do Victor. Dois lutadores dele mortos e ele com os calcanhares cortados, sem chance de ficar de pé de novo. Não vai ser difícil acabar com ele – Hope esfregou as mãos nas calças. Queria sair dali o mais rápido.

— Então só termine o serviço deles, aquele inútil nunca serviu para nada. Hope, eu quero que você treine essa menina como nunca treinou ninguém. Não ensine a ela mais do que sabe, ela não precisa nem ser melhor que o seu, só quero ela viva. Ela tem que aprender as coisas do modo difícil, tem que saber que precisa de você do lado dela e, depois que você for, de Caled. Quero que você passe a ser a mãe entre as duas, essa criança será sua responsabilidade e seu problema. Não conte a ninguém sobre o futuro dela, somente se achar necessário.

— Entendo. Eu vou cuidar disso, mãe, não se preocupe. Vou me garantir que Victor esteja morto e de que ela fique bem e viva. Agora, se me dá licença tenho que me certificar de que meus dois problemáticos estejam bem e que eles terminem o serviço que começaram – Hope se apoiou nos braços da cadeira, esperando a ordem para se levantar.

— Sabe, Hope, eu agradeço a sua lealdade durante todos esses anos. Mesmo depois de tudo o que eu fiz você passar, mesmo não tendo um laço emocional muito forte, você me respeitou por toda a minha vida e honrou meu nome. Sinto que fiz pouco por você em troca. Você não queria o meu lugar, queria?

— Não, mãe, muita coisa. Só quero poder sumir daqui com Bryan e esquecer esse lugar e tudo isso. Nós duas sabemos que pelo tanto que eu sei, vou acabar tirando férias no fundo do córrego ou em um canteiro qualquer.

— Eu vou me certificar de que vocês dois consigam ter um lugar para descansar em paz. Mas e Caled? Seus preferidos? – a mãe estava olhando Hope, como se estivesse interessada.

— Vou fazer como a senhora, só saio daqui quando tiver certeza de que Caled esteja pronto para se virar sozinho, se bem que acho que posso morrer amanhã e ele estará tão bem quanto no dia em que recebeu a primeira missão. Quanto aos outros, ficaram bem. Nem todos vão ficar vivos até o final, mas grande parte sim. Posso ir, mãe? Quero ver o Caled.

— Vai, Hope. Última coisa, sobre o meu enterro. Vou deixar as instruções antes de ir, o que eu tinha te dito muito tempo atrás, antes de escolher a garota. Você deve ensinar deve ensinar tudo ao Caled. Pode até contar de mim, quando eu me for. Espero que ele seja tão bom quanto você – ela colocou uma pilha de papéis no chão e entregou os da missão para Hope.

— Ele será sim, mãe. Talvez até melhor do que – Hope pegou as coisas e saiu.

Ela queria correr para ver Luca e Caled. O seu tempo ali estava acabando, precisava terminar as coisas antes que a mãe se afastasse do poder. Bryan precisava saber do novo emprego e Caled sobre a missão. Não importava que tivesse acabado de tomar dois tiros, se houvesse assassinato, a missão era dele. Ela reformulou o plano na cabeça. Seria mais fácil agora.


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Notas finais do capítulo

Hey!! Só para avisar que eu passei de ano, então vai ficar mais fácil de postar, talvez até nas semanas do Natal e do ano novo, mas não prometo nada. Deixa eu ir porque vou ter que arrumar um jeito de matar o Victor, então lá vou eu passar horas acordada para matar um porco.
Espero ver vocês no próximo capítulo, não morram até lá.



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