A Verdade Através do Sangue escrita por Pan


Capítulo 11
Ordem e Progresso


Notas iniciais do capítulo

Não é o fim do hiatus, ainda. Aproveite a leitura :)



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O corpo humano é conhecido como um dos mais perfeitos organismos existentes. Ocuparia o topo da lista se ninguém nunca tivesse ouvido falar da casa comandada por Hope. Os poucos que conheciam o lugar sabiam o que a comparação queria dizer. O treinamento do exército parecia fichinha perto do que aquelas crianças passavam todos os dias. Claro que tudo por um propósito, o corpo e a mente perfeitos e saudáveis. A casa só funcionava porque todos ali dentro funcionavam ao redor de Hope, ela era a estrela que os planetas orbitavam. Cada um sabia o seu lugar, sua função assim como cada órgão sabe o que produzir, absorver ou destruir. Uma massa unida e perfeita. Ou quase perfeita.

Hope dizia ao colegas de trabalho que sabia como o diabo se sentia cuidando do inferno. Exausto. Eram dezessete adolescentes para manter na linha, dezoito personalidades diferentes para pressionar e dezessete corpos para domesticar. Ela não fazia ideia de quantas pessoas poderiam estar no inferno, mas provavelmente o diabo já deveria ter renunciado ao cargo. Sentiria pena de Bryan, inexperiente, com mais crianças, mais temperamentos e muito mais desafios.

A beta se preocupava com os problemas que surgiam aos montes. Os ruivos sentados nas cadeiras a sua frente indicavam montanhas de merda. Aqueles dois a assustavam e a intrigavam, eram matéria de estudo. Logo tudo acabaria, ela tinha certeza. Os gêmeos traziam notícias preocupantes, um fato, porém com eles, Hope, estava sempre um passo à frente de qualquer outro. Nem mesmo a mãe conseguia receber as informações tão rápido quanto ela. Discutiram por quase uma hora e o cansaço fez com os três se retirassem do escritório sufocante. Caled e Lucas estavam esperando do lado de fora, cochichando.

 – A senhora disse que queria falar com a gente – a voz de Luca soou infantil como deveria ser.

 – Sim, é verdade. Laura, Renan, subam e descansem. Terminamos a conversa outra hora.

 Ela esperou que os irmãos tivessem partido, sentou no chão com os meninos, olhando feio para os dois.

— Eu estou cansada de dar broncas, sermões e castigos. Vocês sabem que vão sofrer as consequências do que fizeram. Talvez o tratamento especial, vocês já estão acostumados com isso mesmo. A partir de amanhã, vocês treinam com a Jade e o Hefesto, por uma semana. Sem desculpas. Agora, me contem como foi?

O entusiasmo da dupla ao contar fez com Hope lembrasse que eram jovens, que poderiam ter uma vida fora dali. Eles poderiam ser normais, aproveitando a escola e fazendo coisas que todos os outros faziam. O trabalho que tinha não permitia que Hope tivesse compaixão pelos outros. Muito menos com aqueles que deveriam ser ensinados. O sono tomou conta de seu corpo e ela decidiu que os assuntos pendentes se resolveriam no dia seguinte.

— Quero os dois de pé, amanhã cedo, junto com a Jade. Essa semana, os afazeres deles serão os mesmos que os de vocês. Não estou afim de punir ninguém, então façam o que tem que fazer. A gente se vê no café. Boa noite.

Os meninos subiram as escadas correndo, esperando que os companheiros de quarto estivessem acordados para ouvir a história deles. O quarto das meninas estava em silêncio, por isso Hope sabia que elas estavam tramando alguma coisa. Apagou as luzes da suíte dos gêmeos e lhes mandou ficarem quietos. Mandou os garotos calarem a boca e colocou os mais novos na cama. As meninas fingiram que iriam dormir, enquanto Jade tranquilizava a beta de que os convidados estavam devidamente acomodados. Não havia dúvidas que seria uma semana complicada.

O único pensamento que cruzava a cabeça de Hope era a cama que esperava por ela. Teria tempo para resolver os problemas e namorar no dia seguinte. Passaria no quarto de hospedes para ver Atlas e depois checaria Bryan. Só de lembrar a quantidade de coisas que ela teria que fazer ela começou a arrastar os pés no chão, tentando inutilmente fazer o tempo passar mais rápido. Seu corpo parecia pesar dez quilos a mais, ficando cada vez mais tentadora a ideia de dormir no corredor.

Bateu na porta de Atlas, mas não esperou por resposta. Entrou e deitou encima do corpo quente do lutador de cabelos grisalhos e rugas. Os trinta anos de convivência entre os dois, haviam sido suficientes para permitir que eles tivessem essa falta de privacidade entre eles.

— Boa noite para você também – a grande massa de Atlas se mexeu debaixo do corpo de Hope.

— Boa noite, pai. Como foi a sua viagem com a menina? – eles se alinharam de modo que pudessem se olhar. Havia algo de protecionismo na maneira como o gigante ficava, envolvendo Hope com o corpo. Uma montanha protegendo um vale.

— Ela é uma peste. Lembra um pouco você quando a mãe te pegou. O que aquele lutador está fazendo aqui? Não me diz que foi você ou o Caled que o acharam.

— A mãe quer ele aqui para treinar as crianças, ocupar o lugar do Victor. Preciso tirar ele daqui antes que ela consiga pôr as mãos nele de novo. Sabe que eu não posso deixar que ela o machuque.

— Para de se sacrificar por ele. Deixa ele ficar. Eu sei que meu irmão não é fácil de lidar, quem sabe ele não faça um trabalho melhor? Seu tio prefere morrer do que ver alguém como Bryan assumindo o lugar dele, mesmo. Agora me conta sobre o meu neto. Eu quero saber dele.

— Caled tem crescido bem, nós temos uma conexão boa. Bom lutador, como o avô eu diria. Eu acho que assim que Bryan sair, Caled vai junto. Eles são tão parecidos. Eu estou torcendo para que eles se entendam e Bryan tire ele dessa sujeira.

— Filha, para de tentar tirar Bryan daqui, foca no seu filho. Bryan foi feito para morrer, ele não deveria existir. Você sabe disso, ele não deveria nem ao menos ter sobrevivido ao treinamento das crianças. Lembra quando descobriram sobre ele? Você quase morreu tentando proteger ele. Não aguento isso, estou velho demais para sofrer assim.

— Tudo bem, eu vou focar em tirar Caled daqui. Dorme, amanhã a gente termina de conversar. Boa noite, pai.

— Boa noite, filha – Atlas a beijou na testa.

Hope saiu do quarto, ouvindo seus prodígios conversando nos quartos. Bryan ficaria hospedado no quarto em que ela dormia na casa durante a semana. No fim do corredor estreito se esquivava da luz como uma cobra cega, virando para a direita e a esquerda. A casa parecia um matadouro, construído somente para a morte dos mais fracos e para a diversão dos mais fortes. Quartos tingidos de vermelho, outros cheiravam a matéria em decomposição, terceiros cheios das mais terríveis e assustadoras ferramentas.

Ela não bateu na porta, não houve som sendo produzido. O quarto em que ela ficava era revestido para que nada saísse dali, não se ela não deixasse. Bryan estava observando as fotografias e os papéis soltos na escrivaninha e nas bancadas do quarto. Havia tanto que se podia descobrir sobre ela naquele bagunça, ele esperava encontrar informações.

— Procurando alguma coisa? – Bryan se assustou com a mão em seu ombro.

— Eu só queria saber o que são esses papéis. Tem certeza de que eu posso ficar no seu quarto? A menina disse que você vai dormir fora.

— Eu vou dormir no apartamento. Relaxa, não é nada demais. Eu já vou, na verdade, só passei para ver se você estava confortável. Amanhã, Jade vai fazer o café cedo, enquanto Hefesto passa para acordar todo mundo. Não se preocupe, se não quiser acordar cedo, dispense o Hefesto e volte a dormir. Eu vou chegar para ajudar Jade. Tenho que resolver algumas coisas por aqui também, então é possível que eu acabe ficando o dia inteiro.

— Vejo você no café, assim a gente coloca as conversas em dia. Não vou conseguir te convencer a ficar, vou? – os braços de Bryan passaram pela cintura de Hope.

— Eu adoraria, mas tenho algumas coisas para colocar em ordem. Talvez amanhã eu durma aqui com você. Boa noite, Bryan.

— Boa noite, Hope – antes que o lutador conseguisse segurar ela por mais tempo, a beta se esquivou e saiu rápido.

Os gêmeos esperavam ela na porta da suíte deles. Laura assustava, com o machado e a focinheira escondendo o rosto. Renan carregava a mochila, tinha a mesma expressão de psicopata que a irmã, no entanto a sua era visível. Seguiram Hope até a garagem. A beta entregou a chave do carro para eles, preferia garantir que eles tivessem como esconder e lidar com os corpos.

— Se conseguirem isso para mim, eu juro que faço o que vocês me pediram. Tem certeza de que o plano vai dar certo?

— Não confia na gente? Faz a sua parte que a nossa já está feita de qualquer jeito. A gente se vê daqui a algumas semanas.

— Não se metam em encrenca que não podem sair. A gente se vê, meninos. Vocês sabem onde eu me escondo, me procurem se der merda.

Quando o portão abriu e Hope ficou sozinha, ela pode jurar que conseguia ver sua nome na cova que a mãe mandaria colocar no cemitério particular dela. Pelo menos ela teria direito a uma cova, não seria enterrada na vala comum, junto com os outros que ela, em pessoa, enterrara lá.


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Notas finais do capítulo

Hey! Eu sei que parece que eu abandonei a história, mas eu to bem ocupada com escola e tals, então tem ficado bem complicado para colocar tudo em dia. Eu vou tentar manter as atualizações uma vez por mês e vou postando outras coisas por enquanto, mas sem final não fica.
Espero que vocês me perdoem por tudo, mas sei lá, é tudo muito cansativo e eu tenho preguiça.
Vejo você no próximo, não morra até lá.



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