A Flight For Love escrita por Becca Solace
Tris
Definitivamente não era meu dia de sorte. Além de estar sendo obrigada a ir para a Flórida, eu ia me sentar ao lado de um garoto com cara de psicopata pervertido. Tudo bem, ele era um gato, mas continuava com cara de psicopata.
Coloquei minha mochila na parte de cima, e passei na frente do psicopata para chegar a minha poltrona. Era aquela ao lado da janela. Droga. Se o psicopata assassino resolvesse me encurralar, eu não teria como fugir.
Sentei-me na poltrona e olhei pela janela. O psicopata me observava.
— Então... – ele começou e eu bufei silenciosamente. – Qual seu nome?
O encarei.
— Sabe, você não precisa falar comigo. – eu disse. Ele arqueou as sobrancelhas. – Você pode apenas ser uma pessoa normal e me ignorar pelo resto do trajeto.
— Mas eu não quero. – ele disse, sorrindo de lado desafiador. Ele estava próximo. Próximo demais.
—Afaste-se de mim agora ou eu grito. – avisei e ele sorriu.
— Só se você responder as minhas perguntas. – disse. Bufei e concordei com a cabeça. Ele se afastou um pouco e eu pude observá-lo com clareza.
Ele era alto, tinha cabelos castanhos e olhos azuis da cor do céu. Usava calças jeans, jaqueta de couro e all stars. E, reafirmando o que havia dito, ele era lindo. Lindo demais. O que o fato de ser psicopata explica o porquê de estar falando com uma garota tão sem graça como eu. Não que eu queira parecer aquelas meninas de fanfic chatas que não tem auto-estima e coisa assim, mas não sou bonita. Meus olhos são muito grandes e meu nariz muito longo.
— Qual seu nome? – começou.
— Beatrice Prior. – respondi. – Mas o apelido é Tris. Qual o seu nome?
— O acordo foi que eu fazia as perguntas. – argumentou ele e eu revirei os olhos. – Quantos anos você tem?
— 16 anos. – respondi. – Por que quer saber tudo isso, afinal?
— Estou entediado e você parece fascinante. – respondeu, sorrindo de lado. – Por-
Ele ia continuar, mas a aeromoça no interfone o interrompeu.
— Senhores passageiros, favor afivelar o cinto porque estaremos levantando vôo em alguns minutos. Daqui a alguns minutos estaremos mostrando a todos o que fazer em emergências e passaremos servindo água e lanches a todos. – e depois ela disse a mesma coisa em quatro línguas diferentes.
Afivelei o cinto e o garoto desconhecido psicopata-assassino fez o mesmo. O avião logo levantou vôo e as aeromoças começaram as demonstrações em caso de emergência. Parei de prestar atenção no mesmo segundo e observei o céu pela janela.
— Continuando, por que está indo para a Flórida? – ele tornou a perguntar.
— Meus pais resolveram que precisavam esquentar a relação, foram passar uns meses na Grécia e me despacharam para a casa de minha tia e irmão na Flórida. – resumi a situação. – Pode, por favor, pelo menos me dizer o seu nome?
Ele pensou por um instante e sorriu.
— Você pode me chamar de Quatro. – ele disse e notei que aquele não era o seu verdadeiro nome. É claro que não é, Beatrice, quem se chamaria Quatro? Pensei. – Agora, voltando ao questionário, o que gosta de fazer?
Suspirei. A verdade é que eu não tinha muito tempo livre para fazer o que queria. Estudava em uma escola particular em integral, e à noite, ajudava em casa. O tempo que sobrava eu o reservava para dormir. Foi o que eu disse a Quatro. Ele pareceu surpreso.
— Sem tempo livro até nos finais de semana? – perguntou.
— Muito menos. – afirmei, observando minhas mãos que estavam pousadas em meu colo. – Aos finais de semana, tenho que cuidar de minha avó que tem Alzheimer e estudar.
Ele pareceu impressionado.
— Muito generoso de sua parte fazer isso por sua avó. – ele disse, sorrindo honestamente. Talvez ele não seja um psicopata, afinal de contas.
—Quantos anos você tem? – perguntei, encantada com seu sorriso e esquecendo-me completamente do acordo.
— Suponho que responder somente isso não violará nosso acordo. – pensou ele. – Tenho 18 anos de puro sedentarismo.
Eu sorri. Era a primeira vez que eu o via fazendo uma brincadeira. Apesar de que seus músculos óbvios denunciavam que ele não era nem um pouco sedentário. Ele sorriu novamente e eu entrei em uma espécie de transe. Saí do transe somente quando as aeromoças passaram oferecendo lanches. Devorei o meu em segundos e eu comia parecendo uma porca. Estava morrendo de fome.
Quatro ainda me observava quando terminei de comer. O encarei.
— O que foi? – perguntei, limpando a boca com um guardanapo.
Ele riu.
—Você parece uma mendiga que não come há dias. – disse, entre risos.
Mostrei-lhe o dedo do meio e chequei as horas. Ainda faltava uma hora e meia para chegarmos. Resolvi ouvir música. Peguei meu iPod e coloquei “Arctic Monkeys – Do I Wanna Know?”. Quatro me observou cantarolar e depois perguntou se eu me importaria de dividir o fone com ele. Dei de ombros e lhe entreguei o fone esquerdo. Ele o colocou e começou a mexer a cabeça de acordo com o ritmo da música exageradamente. Quando viu que eu estava rindo, ele sorriu satisfeito e logo parou.
Comecei a batucar o ritmo da música na poltrona e ele sorriu.
— Crawlin’ back to you – cantamos juntos e depois rimos.
Aparentemente, uma mulher havia se incomodado com nossa cantoria, porque ela logo se levantou e gritou:
— Vão cantar no The Voice e nos deixem dormir em paz!
Encarei Quatro e logo já estava de pé, gritando de volta:
—A senhora realmente acha que temos talento o suficiente para nos inscrevermos no The Voice? Obrigada, muito gentil de sua parte! – eu disse e logo me sentei. Ela resmungou algo e sentou-se novamente. Quatro apenas ria. – Não me olhe assim, ela mereceu. Mulher intrometida! – resmunguei. Quatro ainda ria.
— Você é louca. – ele disse, ainda rindo. Ele ria tanto que acabei rindo também.
Alguns minutos depois, caímos no sono ouvindo música. Acordei com a aeromoça nos avisando que havíamos pousado. Reparei que estava com a cabeça no ombro de Quatro, e ele por sua vez, tinha sua cabeça acima da minha. Separei-me dele rapidamente, logo me levantando. Ele finalmente acordou, me observando confuso.
— O avião pousou, queridíssimo. – expliquei. Seus olhos finalmente mostraram compreensão e ele logo estava se arrumando para descer também. Infelizmente, por obra do destino, quando fui passar em sua frente, tropecei em seus pés e caí em seu colo. Clichê, né? Maldito destino.
— Tudo bem? – ele sussurrou, e eu senti sua respiração em meu pescoço.
— S-sim. – respondi, e logo me levantei. Descemos juntos do avião e fomos pegar nossas malas. Quando saímos do despache, ele me olhou nos olhos e eu sorri.
— Tchau, Quatro, até um dia. – eu disse e ele sorriu, se aproximando de mim.
Por um segundo, achei que ele fosse me beijar. Mas não. Ele me deu um beijo demorado na bochecha, que em instantes começou a queimar.
— Até um dia. – ele disse ao se afastar, e piscou.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que tenham gostado!