Everlong escrita por Guinha Aguilar


Capítulo 2
Beira-mar


Notas iniciais do capítulo

Oi gentennn!!!
Como vocês estão? ♥
Eu sei que demorei 8371837 anos, mas aqui estou eu. Não precisam mais chorar, risos.
Acontece que tive uns probleminhas com o notebook. E quando ele melhorou, tive problemões com o office. Enton... Mas vamos lá.
Espero que gostem!!
Mil beijos e boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696426/chapter/2

Os sete meses de gravidez só tinham servido para me fazer entender o motivo de assentos e filas preferenciais incluírem mulheres grávidas. Carregar uma barriga de dois quilos para todos os lugares era muito difícil, tanto que, com o passar dos dias, minha coluna estava cedendo ao peso, fazendo com que minha postura ficasse muito parecida com a de uma senhora de setenta anos de idade.

O barulho das ondas quebrando nas rochas fazia com que eu me irritasse e relaxasse, ao mesmo tempo. Com todas as mudanças hormonais que estavam acontecendo em minha vida, a mudança de humor era constante, assim como a impaciência e a falta de sono. O Shrek em minha barriga insistia em se mexer todas as vezes que o meu corpo decidia dormir, tornando a tarefa impossível.

Mesmo já tendo passado meses, eu não podia deixar de pensar que seria mais fácil lidar com tudo isso se Nathan estivesse comigo. Passar pelas mudanças de humor e toda a dor seria mais fácil se eu não tivesse decidido tirar o Nate dos planos de ter uma criança antes de completar a maioridade. Após a minha decisão de lidar com tudo sozinha, eu tinha abandonado a casa e me mudado para um pequeno casebre perto da costa do mar, pois ali ninguém nunca me procuraria.

Conhecendo o Nathan como eu, ele devia estar fingindo que estava tudo bem, enquanto sorria e sentia-se destroçado por dentro. Toda a sua tristeza já devia ter se revertido em ódio e, no momento atual, ele devia estar desejando uma morte lenta e dolorosa para mim, já que eu tinha o deixado sem dar uma mínima explicação. Imaginava que a santa da mãe dele não tinha conversado com ele sobre tudo o que ela tinha me dito em uma tarde, quatro meses atrás.

(...)

 

Sentei-me naquela mesa de restaurante enquanto usava todos os palavrões que eu conhecia para xingar Nate e sua boca grande que, contra a minha vontade, tinham contado sobre a minha gravidez para a louca da mãe dele.

Em cinco minutos de atraso dela, eu já estava pensando em ir embora, afinal, ela não devia estar se importando com o fato de que eu teria um bebê. Minhas mãos tremiam sem que eu pudesse controlá-las e o suor brotava fino em minha testa, denunciando meu nervosismo. Chacoalhava as pernas sem parar sob a mesa e, apesar de não parecer, só haviam passado sete minutos quando Regina chegou.

Sorria para mim ao longe, escondendo os olhos com óculos escuros. Caminhava calmamente sobre saltos altos, passando uma paz que, com toda a certeza, ela não possuía. Sentou-se à minha frente e, após alguns segundos de silêncio, tirou os óculos, mostrando seus olhos escuros e distantes.

— Não quero enrolar. – sua voz saiu séria, indo direto ao ponto. – Você não pode esperar que Nathan cuide dessa... – olhou para a minha barriga inexistente, fazendo careta. – Coisa.

— E por que não?! Ele tem tanta responsabilidade quanto eu! – tentei argumentar, mas ela soltou uma gargalhada.

— Óbvio que não. Não seja burra, Della. Um filho sempre é responsabilidade da mãe! – ela revirou os olhos e eu torci o nariz, em discordância. – Além do mais, Nate é apenas uma criança. Ele não tem base para cuidar disso! – sua voz foi ficando aguda, fazendo com que eu me estressasse cada vez mais. – Você é a única responsável, garota. Se tivesse tomado aquelas pílulas para impedir que merdas como essa ocorram, tudo estaria bem!

— Eu tomo o remédio, mas há uma porcentagem de erro, e... – Regina estendeu a mão para me calar.

— Não quero saber, Della. Você não pode esperar que o Nathan assuma isso! Você vai acabar com a vida dele. Ele só tem quatorze anos, você tem noção disso?! – ela arqueou as sobrancelhas. – Se você o ama, deixe-o ir. – meus olhos encheram-se de lágrimas com a suposição de ficar sem ele. Limpei a garganta e questionei, cabisbaixa:

— Mas e se ele não quiser ir, o que eu faço?

— Convença-o. Você está apenas com três meses, querida. – Regina pegou uma das minhas mãos e a apertou. – Se você for embora agora, ele nem vai lembrar quando a criança nascer! – arregalei os olhos diante de sua afirmação, negando com a cabeça.

— Mas...

— Não seja esse monstro, Della! Não destrua a vida do meu filho. Ele não sabe nada da vida, Nate não está pronto para essa experiência. – ela fixou seu olhar no meu, convencendo-me. – Você não tem nada a perder, mas ele sim. Pense nisso! – sorriu para mim, levantando-se da mesa e caminhando à passos largos para longe.

Observei-a partir enquanto meus olhos derrubavam lágrimas pelas minhas bochechas. Meus pensamentos confundiam-se no que era certo e no que eu queria fazer. Eu sabia que Regina tinha razão. Eu não queria ser a responsável por destruir a vida do homem que eu amo. E carregando apenas esse pensamento, eu fiz. Eu o abandonei.

(...)

 

— Você poderia parar de chutar a barriga da mamãe, né menininha? – conversei com a minha barriga enquanto o sol do fim de tarde esquentava minha pele exposta.

Por não ter muita coisa para fazer dentro da minúscula casa em que eu estava morando para fingir que não tinha problemas, eu passava os meus dias lendo à beira da praia, deitada na areia enquanto aproveitava para colocar biquíni e tomar sol. Eu não me sentia infeliz naquele lugar, apenas incompleta. Não ter o Nathan para reclamar ou conversar comigo fazia uma falta maior do que eu imaginava sentir.

Eu tinha tentando sentir ódio dele. Tinha me esforçado para transformar todo o carinho e admiração em nojo, mas eu sabia que a culpa da minha solidão não era dele. Eu que, desde sempre, vinha afastando as pessoas da minha vida sem nem mesmo perceber e quando tudo ficava um pouco mais difícil, eu corria da minha própria vida como se eu pudesse me esconder dela. Depois de um tempo correndo, eu sempre chegava à conclusão que, infelizmente, não tem como fugir de mim mesma.

A única pessoa com quem eu mantinha contato era com a Brooke, pois ela me ajudava financeiramente, entretanto, mesmo ela sendo a melhor do mundo, nem para ela eu tinha contado o meu paradeiro. Brooke tinha insistido para que eu contasse onde estava, mas eu simplesmente não podia me dar ao luxo de encontrá-la, pois eu tinha certeza que ela conversaria comigo até me convencer a parar de besteira e voltar pra casa.

Respirei fundo. Pensar na minha melhor amiga fazia com que eu pensasse na minha família. Eu podia imaginar a cara da minha irmã quando ela tentou me ligar e percebeu que eu mudei de número. Até fico assustada ao pensar na reação dela quando ela me procurou em casa e encontrou um Nathan sozinho e desolado. E agora, mesmo com todo o drama que estava acontecendo na minha vida, a vilã continuava sendo eu.

— Quanta dramatização, Della... – falei, furiosa comigo mesma. – E, aliás, pare de pensar que você é tão importante assim. Kareen não deve ter ido me procurar, meus pais menos ainda. – concluí, dando de ombros. – Até porque faz meses que sua mãe não fala com você e...

— Della, finalmente eu encontrei você! – gelei ao escutar aquela voz estável que só podia pertencer à uma pessoa. Levantei-me rapidamente enquanto abria os olhos.

— Mãe?! – ela revirou os olhos com o óbvio.

— Quem mais seria, querida? – minha mãe conseguia ser sofisticada até quando ia à praia. Atrás dela, vermelha de vergonha e meio escondida, estava uma Brooke fofoqueira. Fechei a cara para elas.

— Como vocês chegaram até aqui? – berrei, levantando-me o mais rápido que podia com aquela barriga enorme, mas me arrependendo logo depois. Encostei na árvore mais próxima para poder conter a tontura.

— Não fique irritada, Dell. Eu só estava tentando ajudar! – a loira falou baixinho, fazendo beicinho quando abri os olhos para encará-la. Semicerrei os olhos.

— Não seja mal agradecida, Adellaide. – minha mãe disse, apoiando os óculos escuros na cabeça de cabelos claros. – Brooke só fez o que era certo. Pelo menos uma de vocês tem juízo, porque não é possível! Como você pôde sumir sem dizer que estava carregando uma criança? – sua voz carregava indignação. Abaixei a cabeça perante sua autoridade. Brooke andou até mim, dando-me um meio abraço.

— Desculpe, amiga. Sua mãe insistiu, ela estava muito preocupada, eu não pude negar. – ela falou baixinho e apoiou a testa em meu ombro. Respirei fundo.

— Eu quero saber como foi que vocês chegaram até aqui. Você nem mesmo sabia aonde eu estava, Brooke.

— Rastreamos seu celular, oras. – simplificou minha mãe enquanto batia a areia da calça de seda branca. Arregalei os olhos.

— Isso é uma invasão de privacidade. Que falta de ética, senhorita Julietta. – encarei os olhos escuros de minha mãe e notei um sorriso de canto surgir.

— Eu não me importo com o que você pensa, Della. Sempre deixei isso bem claro e não é porque agora você carrega um feto, que eu vou mudar de ideia. – seus olhos zapearam pelo meu corpo. – Parabéns. Apesar da bola que está sua barriga, conseguiu manter a forma. Qual dieta você fez pra não voltar a ser a bolinha que você era quando mais nova?

— Nenhuma. – sussurrei. – Eu vomito tudo o que como.

— Melhor ainda! – ela sorriu, demonstrando felicidade. – Assim você me causa menos vergonha.

— Você veio aqui por qual motivo? Minha gravidez é de risco, eu não posso passar por grandes estresses. Você pode ir embora, mãe. Eu não quero te ver! – falei em alto e bom som.

Chamar Julietta de mãe sempre era uma coisa que eu tinha que me lembrar de fazer, já que desde pequena eu coloquei na minha cabeça que, se ela realmente fosse minha mãe, ela jamais me trataria daquela maneira. Eu sabia que eu precisava dela e, no fundo, eu queria que ela estivesse ali, mas que desempenhasse bem o seu papel de mãe. Abaixei a cabeça para tentar conter as lágrimas.

Enquanto ela ficava ali parada me encarando e me julgando, eu só tentava não lembrar de todas as vezes que ela me comparou com a minha irmã na frente de todos os seus amigos ricos, expondo o quanto ela queria ter duas filhas como Kareen. Fiquei pensando no dia em que fui, com toda a felicidade do mundo, falar pra ela que tinha conseguido vestir uma calça trinta e oito e ela, asperamente, reclamou, argumentando que eu poderia muito bem chegar ao trinta e quatro. Por muito tempo eu tentei chegar à numeração que ela queria, mas só depois eu fui entender que ela falou aquele tamanho porque sabia que eu nunca conseguiria ficar tão magra.

Tudo o que ela, junto com o meu pai, queria, era fazer com que eu me sentisse inferior perante eles. Eles tentavam, com o maior afinco, mostrar-me que aquele mundo de princesa não era pra mim. Eu tinha nascido na família errada. Em seus interiores, eles achavam que eu tinha sido trocada na maternidade. Apesar de todos os defeitos, eu amava os meus pais como amava aquela criança em minha barriga. Um sentimento tão forte que, mesmo com todas as decepções, nunca acaba e nunca se abala.

— Erga a cabeça para falar comigo, Adellaide. Você não é mais uma menina! – ela berrou, soltando sua bolsa de couro marrom na areia. Chegou mais perto de mim e segurou meu queixo com a mão direita, forçando as unhas em minhas bochechas. – Eu sabia que você só iria me trazer desgosto, mas eu não fazia ideia que seria assim. – então ela me soltou, jogando minha cabeça para trás. Em um ato de covardia, eu deixei uma lágrima rolar.

Ela me encarou, fazendo sinais de negação com a cabeça. Abaixou a cabeça e apoiou a cabeça nas mãos, enquanto respirava fundo. Ela estava tão perto de mim que eu podia ouvir o ar saindo pelas suas narinas. Ela olhou para o céu por alguns segundos e depois voltou a cabeça para mim. O brilho do seu olhar tilintava em mágoa e decepção. Ver aquilo causou uma onda de angústia que doeu meu tórax. A vontade de chorar aumentou e, ao segurar o choro, a falta de ar também tornou-se grande.

— Você perguntou o motivo de eu ter vindo aqui. E já que você quer saber, eu vou te dizer. Eu não vim para te ajudar, filha. — o desprezo soou alto. – Eu vim para conferir o que eu sempre disse ao seu pai. Você, Adellaide, é uma derrotada! – meus olhos encheram-se de lágrimas, mas eu não abaixei a cabeça. Mantive meus olhos nos dela. – Seu pai tentou te defender algumas vezes, sabia? Ele falava que você iria longe se quisesse, que você nos daria orgulho algum dia. Uma vez ou outra eu tentava acreditar, sabia? – ela deu de ombros, erguendo as mãos. – Mas veja bem aonde chegamos acreditando que você poderia ser alguém na vida. Em lugar nenhum! Você fez o que sempre faz: nos decepcionou. O que foi que eu fiz com você para que ficasse assim? Onde eu errei, diga pra mim! – ela gritou, jogando os braços ao lado do corpo.

— Você errou desde o começo, mamãe. Quando eu mais precisei de você, não tinha ninguém! – falei, deixando que as lágrimas rolassem. – Tudo o que você sempre soube fazer foi tentar me mudar. Você se esforçou tanto para que eu me transformasse no que você queria, que não percebeu quando eu, sua filha, estava precisando da mãe! Sabe em quantos momentos importantes da minha vida você esteve presente? Em nenhum! – e apontei o dedo pra ela. – Eu precisava da minha mãe! Eu preciso dela agora, mas ela não existe.

— O que você está querendo dizer com isso?

— Que você não existe pra mim. – falei, desviando o olhar. – Eu não me importo com você ou com o meu pai. Eu não quero vocês na minha vida. Mas principalmente você, mamãe. Você nunca me serviu de nada, por que serviria agora? – e foi quando o meu rosto ardeu, fazendo-me acordar para o fato de que eu tinha acabado de levar um tapa da minha própria mãe. Levei minha mão até a minha bochecha e fechei os olhos, tentando ignorar o ocorrido.

Quando os abri novamente, o mundo girava e minha barriga doía, causando-me náuseas. Apoiei-me em Brooke, enquanto respirava fundo para tentar me acalmar e melhorar. Tudo o que eu não podia, era demonstrar fraqueza na frente do monstro que eu vinha tentando destruir desde pequena.

— Você é muito infeliz, Adellaide. – ela disse, bem perto do meu rosto. – Essa é a verdade. Você saiu de casa para morar com um garoto que te engravidou e foi embora. Sabe por quê? Porque você não é digna de amor. Você não o merece. A realidade é que você vai acabar sozinha. – chegando perto do meu ouvido, ela abaixou mais ainda o tom de voz. – Nem essa coisa que você carrega na barriga vai te amar. Você vai carregá-la por nove infernais meses e quando ela crescer, tudo o que ela vai querer, vai ser ficar longe de você. Porque é isso que você merece. A solidão. – então eu comecei a ouvir um apito constante e agudo em meus ouvidos e, de repente, tudo ficou escuro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Everlong" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.