SASUKE

Eram as últimas garotas com quem Sasuke tinha ido conversar.

Na verdade, era Sakura quem conversava. Ele só a acompanhava e ajudava a convencer as garotas a fazer um teste para entrar no time de vôlei feminino da escola.

Agora só faltava uma atacante para ocupar o meio de rede, que fosse alta e forte o suficiente para tornar o ataque uma muralha agressiva. Sakura estava animada convencendo uma garota loira que fazia algumas aulas com Itachi, uma tal de Temari.

No início ele pensou que não daria certo. As garotas não estavam muito confiantes de que o time iria pra frente, ou de que teriam seu espaço na escola que era famosa por seu time de basquete, os Corvos de Konoha.

Sakura tinha conseguido convencer uma boa parte, mas então a seleção parou, porque ninguém andava muito interessado. Ainda mais depois que Ino abriu de última hora um concurso para a nova vaga das Líderes de Torcida.

O que logo se tornou o grande assunto do momento. A fila para os testes se tornaram enormes, com gente alvoroçada e ansiosa para ter sua chance.

Muitas garotas gostavam do esporte, mas ter algo concreto, que dá status social na escola e deixava mais próximo dos garotos do time de basquete masculino – principalmente de Itachi – era o desejo de muitas.

Mas falando no diabo cabeludo com quem ele só tinha o sobrenome em comum, Sasuke tinha que reconhecer, se não fosse ele, as coisas não andariam.

Em um dos almoços em que agora Itachi sempre passava para dar um “oi” para Sakura e ignorar completamente a existência de Sasuke ou tentar constrangê-lo, viu Sakura ficando sem opções e, traçando um plano de como convencer outras meninas mesmo que ela fosse para a fila das rejeitadas das Líderes (porque claro, ela nem sonhava em desistir), Sakura confessou a Itachi que estava tendo dificuldades.

Então ele tirou um tempo para ir pessoalmente com ela falar com outras meninas. Claro que fez questão de manter Sasuke fora da jornada em busca de garotas para o time.

Para Sasuke ficou a missão de pesquisar preço para os materiais necessários nas lojas e internet. Redes, bola, apitos, cartões, uniformes...

Tudo deu bastante trabalho. Mas, ao que parecia, eles haviam conseguido.

Sakura mandou mensagem para que fosse ao encontro dela, e quando ele chegou, viu que ela estava com um enorme sorriso, pois agora já tinha até o time reserva.

Valeu, Itachi.

Por hora, só precisava da resposta da tal Temari, mais porque Sakura sentia que ela era a escolha perfeita para a posição, pois mesmo que ela negasse, poderiam usar a reserva para a posição que havia sido escolhida.

Ela estava tão feliz...

Sakura havia se dedicado tanto, e estava tão animada, que contemplar a felicidade dela era algo extremamente gratificante.

Sasuke não deixava de notar o sorriso largo, e o brilho nos olhos esverdeados no rosto dela.

Era constrangedor como ele se perdia neles. Provavelmente com uma cara ainda mais abobada do que a que ele já tinha.

— Vai ser tão legal, Sasuke. Eu tenho certeza que a Temari vai aceitar, e então já poderemos apresentar o time para o Gai-sensei – mordeu os lábios –  quanto antes começarmos a treinar, melhor!

Ela dizia enquanto os dois organizavam o material recém-chegado na quadra, desembolando a rede, separando uniformes titulares e reservas, entre outras coisas.

— Você está mesmo empolgada, não é? – Sasuke perguntou, achando graça de como ela segurava a bola que acabara de encher, como um grande tesouro que ela contemplava olhando fixamente.

— Dá para ver, não é? – ela riu para ele como quem foi pega de surpresa.

— Eu estou muito feliz por você. – confessou.

Sakura manteve seu sorriso olhando bem para ele, como se enxergasse no fundo de seus olhos negros.

Sasuke sustentou seu olhar por um tempo, mas a presença de Sakura era forte demais, e o deixava desconcertado. Ajeitou os óculos puxando o ar e raspou a garganta.

— Bem, e-eu vou indo. – apontou para fora.

— Ah não! Fica aqui, treina comigo! – Sakura arremessou a bola de sua mão para ele de uma vez, e Sasuke a agarrou, o que a surpreendeu.

— Eu não sei jogar vôlei. – confessou.

— Eu te ensino.

Ela se levantou e juntos amarraram a rede, e Sakura explicou as regras básicas do vôlei, a importância de não pisar nas linhas, e a função de cada jogador.

Ele acompanhava tudo, e também se lembrava de algumas coisas que assistia às vezes em Olimpíadas e grandes competições.

Sakura mostrou a ele a posição dos dedos e o máximo em que eles poderiam tocar na bola sem que ultrapassasse o tempo permitido para um levantador, para que fizesse o passe para o atacante bater.

Ele levantava a bola para que ela viesse do fundo da quadra ou só passasse por trás dele para bater com tudo na bola e cortá-la para o outro lado da quadra.

Sakura seria a principal atacante do time. Mesmo que não fosse muito alta, ela era incrivelmente rápida.

O jeito impetuoso e decidido, e principalmente a ferocidade nos olhos dela, encaixavam muito bem com essa posição.

Sakura era uma atacante nata.

Depois de algumas assistências, ela pediu que ele defendesse. Queria treinar sua força de ataque e capacidade de desviar de uma defensora.

Sasuke se mostrou um desastre em recepções o que arrancava risadas de Sakura, que ria de segurar a barriga com a inabilidade do rapaz.

Vôlei realmente não era o esporte dele.

E para não passar mais vergonha, mesmo que ele adorasse ouvir a risada dela, ele passou a só segurar com certa destreza, as bolas que ela cortava.

Ela aterrissou depois de espalmar mais uma apoiando-se nos joelhos enquanto ofegava começando a demonstrar o cansaço. Passou por ele, e sinalizou para que parassem para beber uma água de suas garrafas.

Sasuke a observava de perto, mesmo suada, com o cabelo colado no rosto, e bochechas rosadas, ela continuava linda. E cheirosa.

O perfume esportivo que ele notou desde o primeiro dia ainda estava no ar, e agora além de fazer sentido a escolha dela, combinava totalmente com a visão do que poderia ser um comercial: Sakura, sua toalha branca e uma garrafa de água em movimentos que ele poderia jurar estar em câmera lenta. Se apertasse os olhos a cena se tornava até preta e branca pra enfatizar e...

— Você até que agarra bem. – ela disse olhando para ele enquanto secava o suor do pescoço tirando de seus devaneios – quer dizer, tirando aquele momento em que eu quase quebrei seu óculos.

Ela começou a rir e ele abaixou a cabeça rindo também lembrando da bola que ele tentou receber mais uma vez como ela havia explicado no vôlei, mas que resvalou em seus óculos que saíram voando junto com a bola.

— Vergonhoso.

— Sério – ela parou de rir e bateu no braço dele – eu fiquei surpresa.

— Um desastrado como eu, não é. – ele brincou.

— Não disse isso. – ela sentou no chão, apoiando nos braços atrás das costas e esticou as pernas para relaxar o corpo – E mesmo que pense que é desengonçado, você não é. Tem mãos hábeis pelo que vejo.

Sasuke sorriu, totalmente sem graça. Não sabia lidar com elogios.

Olhou para os lados sem saber bem o que dizer.

— Senta logo! – Sakura disse divertida.

Ele puxou o suéter, ajeitou os óculos e se sentou, mesmo sem saber onde deveria se posicionar sem invadir o espaço pessoal dela.

Optou por se sentar de frente para ela com as pernas cruzadas, quase na linha do quadril feminino, mas afastado dela, para não ser tentado a olhar para as coxas torneadas de Sakura, possivelmente irritá-la e se constranger.

Sorriu sem graça.

— Vamos, me conte. – Ela perguntou depois de olhar bem para ele com olhos semicerrados procurando algo – o que você faz que não está me contando? – bebericou sua água e Sasuke deixou-se hipnotizar pela gota de água que escorreu do lábio dela – eu sabia que você fazia algo quando vi você sem esse suéter, e agora sabe lidar com bolas lançadas?!

Apontou para ele.

— Bem, faz muito tempo, já. – encolheu os ombros e olhou para o lado  – Fa-faz muito tempo.

— Baseball?

— Basquete.

— Uau! Que legal! – ela se ajeitou virando para ele e Sasuke se abraçou, se soltou, se abraçou de novo, e optou por segurar as mãos no colo.

— Era legal.

— Por que “era”? – perguntou curiosa.

Sasuke se remexeu desconfortável.

Fazia tempo que não pensava ou falava em basquete.

— Eu... eu jogava com Itachi. - manteve os olhos para baixo analisando suas mãos – Quando éramos crianças, e até um tempo atrás.

— E o que houve?

Sasuke olhava para os lados como se buscasse resposta, puxava o ar fundo, franzia a testa com a boca aberta. Olhou para a porta calculando se Sakura nunca mais falaria com ele ou se só o mataria se ele saísse dali correndo.

Então olhou para o fim da quadra, para a cesta de basquete suspensa na tabela e esboçou um leve sorriso.

— Eu e Itachi jogávamos quase todos os dias. Ele quem me ensinou a jogar. – sorriu para si mesmo – e assim foi durante toda a nossa infância e boa parte dos anos de escola. Quando entramos para o time, Itachi ficou muito competitivo – deu de ombros rindo – como sempre, e ele queria vencer sempre, porque logo entraríamos para a High School e ele queria que tivéssemos a chance de entrar para o time daqui.

Sakura soltou um sorriso. – Típico. Sei como é querer estar em um time.

Sasuke riu também antes de continuar.

— Mas, ao mesmo tempo que ele começou a levar tudo a sério e ficou fissurado em vencer, eu só queria me divertir com ele, e estudar.

— Nerd! – ela ralhou empurrando seu braço.

Ele franziu o nariz ensaiando um desdém brincalhão e sorriu antes de continuar.

— Eu não tinha muitos amigos, sempre fomos ele e eu, mas começamos a querer coisas diferentes... E então eu parei de jogar.

Sasuke não queria falar sobre a briga que tiveram, consequência do gradativo afastamento entre eles. Com o tempo o basquete se tornara o único elo que os ligava, mas então, chegaram a um ponto que nem isso existia mais.

— E o Naruto?

Sasuke abraçou os joelhos se sentindo mais à vontade.

— Foi mais ou menos nessa época que nos conhecemos, peguei aquele idiota dormindo na biblioteca. Ele me chamou para jogar videogame, e eu passei a fugir da tirania do recém-intitulado capitão Itachi e dos treinos, e fomos ficando amigos.

Sorriu com a memória.

— Nerds rebeldes, hm!

— Poxa! – Sasuke se fez de ofendido, abrindo os braços e abrindo a boca.

Era tão bom falar com Sakura. Tão fluido.

 Por mais que ela o deixasse em pânico, suando e vivendo sob ameaça de uma síncope quando sentia seu cheiro, ela tinha uma personalidade que o deixava confortável. Mais aberto.

Desde que a conheceu, sentira que Sakura tinha algo especial, e mesmo que não se sentisse à altura dela, desejava poder sempre estar por perto.

— E você sente falta? – Sakura perguntou depois que pararam de rir – Digo, do basquete.

Sasuke suspirou pensativo olhando para as unhas que ele cutucava uma na outra, e então assentiu.

— Eu sinto sim. Apesar de tudo, eu sinto falta da diversão. – confessou a ela, algo que se escondia em seu íntimo.

Não era tão importante como era para seu irmão, mas era algo enriquecedor para ele. Não tanto quanto conhecimento e livros, mas tinha que admitir que um pouco de adrenalina fazia bem.

— Você deveria fazer o teste e tentar entrar no time de novo! – ela disse animada – eu sei que se treinar bem, vai conseguir jogar! Nós podemos falar com o Gai-sensei, ele é exigente, mas pelo que percebi, se estiver disposto, tem o apoio dele.

Ele balançou a cabeça negativamente acanhado.

— Isso já foi, Sakura. Não é como se eu pudesse voltar agora.

Sasuke sabia que Itachi não permitiria que ele entrasse no time.

Lá era o território dele, onde ele mandava e todos obedeciam.

— É por causa daquele seu problema, não é? – Sakura perguntou compreensiva.

E Sasuke piscou várias vezes, tentando entender a pergunta.

— Que problema?

Ela deu de ombros. – Aquele que faz você ter surtos as vezes, com suores e tremedeira, e tudo mais.

— Surtos? – ele perguntou ainda sem entender.

E diante da aparente confusão, Sakura se aproximou colocando a mão sobre a dele e olhando bem em seus olhos, disse com uma calma bem palpável.

— Tudo bem, Sasuke. O Itachi me contou sobre os ataques que você tem às vezes. – falou baixo e sorriu para ele – eu já te disse, pode contar comigo.

Sasuke olhou dela para a mão que segurava a dele ainda estupefato.

— Itachi te contou o meu problema? – ele perguntou pausadamente enfatizando cada palavra que proferira.

E Sakura assentiu.

— Itachi te contou o meu problema? – perguntou de novo.

— Sim. – Sakura respondeu novamente.

— Itachi te contou? – apontou para ela – o meu problema? De surtos? – apontou para si mesmo.

Sakura confirmou um pouco confusa.

Sasuke balançava a cabeça olhando para os lados.

Que sua amada mãe o perdoasse, mas os nomes que passavam na cabeça dele agora para Itachi a fariam lavar a boca dele com água sanitária.

Sasuke respirou fundo e se levantou.

Colocou as mãos na cintura e fechou os olhos bem apertados trincando os dentes.

— Quer saber? Eu acho que vou seguir seu conselho e tentar entrar para o time de novo.

— Você tem certeza que vai ficar tudo bem? – perguntou.

— Não se preocupe. Tudo vai ficar ótimo. – assegurou.

Sasuke colocou as mãos na barra do suéter e o arrancou de uma só vez ficando só com uma camisa branca de algodão por baixo.

— Quer treinar comigo, Sakura? – estendeu a mão para ela que sorriu – eu tenho uma audição para fazer.

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Betado por AnneChan23.