Guardião escrita por Jafs


Capítulo 5
Capítulo 5




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Naquela noite Gin estava com o seu corpo cansado, mas não conseguia dormir. Sob seu edredon, ela já sonhara tantas vezes como seria sua vida como garota mágica, quais seriam suas roupas, sua gema da alma, sua magia. Como era ser forte, saltar grandes distâncias, resistir aos piores ataques.

Naquela noite era diferente, Gin não conseguia dormir, nem sonhar, havia algo mais importante.

Algo que precisava se lembrar.

Seus pais ainda estavam lá, nos confins de sua memória. Porém, era algo tão distante que era difícil discernir a face deles. Quando se esforçava, lacunas eram preenchidas, mas como confiar? O que não seria fruto apenas de sua imaginação, de seus anseios? Seu coração não conseguia mais dar as respostas.

[Você precisa de sementes.]

Seus esforços são interrompidos pela voz de Kyuubey em sua mente. Levantando-se, Gin sabia que ele não era alguém que conversava sozinho.

[Mesmo que você não use sua magia, ela se enfraquecerá com o tempo.]

Abrindo a porta de correr bem devagar, Gin começou a ouvir a voz de Izumi.

“Eu sei, mas eu acho que posso esperar um pouco mais. Quem sabe apareçam bruxas nas cidades vizinhas até lá.”

Engatinhando pelo corredor, a garota chegou perto do painel de papel da sala pouco iluminada.

[É um risco muito grande. Você logo não estará em condições para lutar contra uma bruxa, talvez nem mesmo contra um lacaio.]

O corredor estava escuro, Gin se sentia segura de que não estava projetando uma sombra contra o painel.

“Eu sei que você quer que eu vá mais longe, mas eu não posso me afastar do vilarejo, posso não voltar a tempo. Além do mais, eu posso estar entrando no território de outras garotas mágicas sem saber. Elas podem me seguir até aqui.”

Os olhos de Gin se arregalaram com aquelas afirmações.

[Existe outra solução. Se Gin fazer o contrato, ela pode caçar bruxas por você até que a situação melhore.]

“Eu resolvo os meus problemas e ponto final.”

Gin ouviu aquela resposta rápida e séria.

[Eu estou lhe dando um aviso. Se todos esses anos de convívio contigo não bastam para levá-lo em consideração, então não posso fazer mais nada.]

“Tenha uma boa noite.”

Ao que tudo indicava, Kyuubey estava saindo da casa, apesar de que Gin nunca fora capaz de ouvir seus silenciosos passos. Ela também não ouvia os de Izumi, contudo, ela recuou lentamente. Era mais sensato.

“Gin-san.”

Ela prendeu a respiração. Estaria lhe chamando? Ou seria apenas...

“Eu sei que está aí, eu posso senti-la.”

Gin ficou assustada com a confirmação. Senti-la? Como ela havia feito isso? A mente da garota correu para encontrar possibilidades. Além da magia havia a possibilidade de que era algum tipo de checagem, um truque.

“Entre aqui agora.”

O tom de voz de Izumi indicava claramente que aquela era a sua última chance. Gin agarrou-se a sua camisola, se amaldiçoando pelo o que teria que passar. Por fim, ela ficou de pé e foi até a porta de correr para abri-la.

A sacerdotisa estava sentada no meio da sala, olhando para o chão, sem expressão alguma.

A garota caminhou até ficar na frente dela. “Izumi-sensei...”

Sem olhar para ela, Izumi disse, “Você ouviu a nossa conversa.”

“Se eu ouvi?” Gin apontou para si mesma. “Eu... não...”

A sacerdotisa levantou a voz. “Não gaste a minha paciência se fazendo de boba.”

Gin cerrou os punhos, ela já conhecia bem aquela mulher para ter uma idéia do quanto de tensão estava sob aquela pele. Ela queria fazer essa pergunta, mas em uma ocasião melhor. Não tinha escolha. “Por que você teme que garotas mágicas a sigam?”

Izumi suspirou, então olhou para a garota. “A maioria delas tem a sua idade.”

Gin ficou um tanto perplexa quando a sacerdotisa sorriu levemente.

“Não, eu diria que elas até são mais jovens.”

Ela parecia que queria chegar em algum ponto, mas Gin não tinha nenhuma idéia. “E... elas lutam bem contra bruxas?”

Izumi desviou o olhar. “Algumas que encontrei sim...”

“Isso tem haver com o que você me contou sobre os territórios? Você me disse que estaria só de passagem. Não haveria problema, não é?”

“Não é isso, não é tão simples...”

Os olhos amarelos da garota notaram certo estremecer nos lábios da sacerdotisa.

“Eu encontrei muitas garotas mágicas em minha vida e posso afirmar que há algo em comum entre todas elas,” Izumi continuou, “sozinhas ou em grupos, novatas ou veteranas... nenhuma delas se satisfazem com os seu desejos.”

“Mas...” Gin ficou confusa. “Mas você não se arrependeu do seu.”

“Há mais em uma garota mágica do que seu desejo,” a voz Izumi soou com mais rancor, “eu encontrei garotas que usavam sua magia para obter vantagens, roubar e trazer dor para pessoas.”

“N-Não pode ser,” Gin balbuciou, estarrecida, “por que fariam isso?”

“Por que não?” Izumi voltou a fitar a garota. “’Por que não?’, foi exatamente o que uma respondeu quando questionei ela.”

Gin abaixou a cabeça com aquela revelação. O mundo que ela conhecia sobre as garotas mágicas era cheio de dificuldades, ela tinha aprendido bem, mas esse mundo era outro, um mundo de sombras...

“Então eu as matei.”

Sombras que se projetavam mesmo naquela casa, naquela pacífica vila.

Izumi deu um sorrisinho de lado. “Sim, eu matei todas elas. Eu me sentia melhor e sobravam mais bruxas para mim. Huhuhuhu...” Ela respirou fundo e balançou a cabeça. “Uma mistura inebriante de um desejo de justiça com o de viver. No final... eu não sou diferente delas, não é mesmo?”

Gin era como uma estátua, feita de carne e desilusão.

“Eu sou uma assassina, essa é a minha lição final sobre as garotas mágicas...”

Mas havia algo mais, algo que crescia e queimava dentro da garota, que a fez responder sem pudor. “Você sempre quis que eu desistisse de ser uma garota mágica. Eu não vou! Por mais que tente com essas mentiras!”

“Eu aceitei em mostrar a você sobre as garotas, nunca disse que iria permitir que você se tornasse uma,” disse Izumi com seriedade, “eu não menti, assim como agora.”

“Não! NÃO!” Gin jogou seus braços em fúria. “Eu não vou esperar mais. Eu não vou me arrepender do meu desejo assim como você não se arrependeu!”

“Eu não me arrependi.” Mais tensa, Izumi abaixou sua cabeça e falou em voz baixa. “Mas eu odeio essa vida...”

Gin cuspia as palavras. “Se você odeia, por que não põe fim a ela?!”

Izumi engoliu seco.

“Por que não fez isso ainda? O que está esperando? Por que... Por que...” A garota parou boquiaberta.

Enquanto a sacerdotisa se estremeceu toda.

Arfando, os olhos de Gin cresceram com o que estava prestes a dizer, “Porque você precisava de alguém em seu lugar...”

“Não...” Izumi levou as mãos à cabeça. “Não... Não...”

“É por isso que eu aprendi a ser uma sacerdotisa mais do que uma garota mágica!” Gin apontou para ela. “Você planejou isso desde o princípio!”

“NÃO! EU NÃO PLANEJEI!”

Brevemente, a raiva de Gin esmaeceu. Eram as primeiras lágrimas que ela vira descer sobre aquela face.

“Quando... Kyuubey falou contigo pela primeira vez, eu lutei contra esse sentimento de conveniência. Eu lutei para não pensar que isso era bom.” Izumi secou a face com a manga de seu quimono. “Eu fui forte, eu fui... mas você insistiu...”

“Você... é...” Gin rangeu os dentes. “Nojenta!”

Em um movimento rápido, Izumi engatinhou e segurou a mão da garota. Ela a alisou. “Como você cresceu, está se tornando uma mulher forte...” Então a trouxe para o seu peito. “Gin-san, você não precisa mais deles, você não precisa... não precis-”

Gin puxou seu braço de volta e recuou, encarando aquele monstro que rastejava diante dela.

A sacerdotisa ficou a princípio espantada com aquela reação, mas logo abrira um sorriso. “Huhuhuhuuu... Isso... Isso! Me odeie! Não se torne como eu! Não se torne uma garota mágica!”

Quando os olhos de Gin lacrimejaram, ela se virou e saiu correndo até a porta, saindo da sala sem fechá-la.

Enquanto ouvia aquelas passos desesperados pela casa, Izumi desabou no chão sob lágrimas, mas ainda sorrindo e cochichando. “Me odeie... por favor... me odeie...”

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RUPTURA

Sayaka aguardava no corredor segurando uma bolsa até que a porta de seu outrora quarto se abriu, revelando Kyouko com outras bolsas. “Pegou tudo?”

“Uhum...”

As duas caminhavam até a saída, onde estavam seus calçados, quando Sayaka voltou a falar. “Sobre eu ter empurrado você ontem...”

“Eu entendi que você não queria me ver quebrando a cara de deboche dela,” respondeu a ruiva com certa rispidez, “apenas... vamos cair fora daqui. Não quero ficar mais nem um segundo.”

Assim que abriram a porta para o lado de fora, viram que o céu daquela manhã estava nublado, ao menos não era chuva.

Contudo, outro problema surgiu.

“Heh. Eu devia saber.” Kyouko se aproximou da árvore onde o cavalo deveria estar. Agora, apenas estava corda, a bacia com água e o que o animal andou comendo formando um monte no chão.

“Oh não...” Sayaka saiu correndo em direção ao santuário. “Não podemos perdê-la de novo!”

“Ei Sayaka! Espera!”

Quando a garota de cabelos azuis chegou ao local, ela parou, pois Nariko parecia estar aguardando por elas. “O-Oi.”

“Bom dia...” A voz da mulher velha era sempre gentil, mesmo quando ela tinha uma expressão de preocupação.

“O que foi?” Sayaka inquiriu, “você viu se um cavalo passou por aqui?”

“Eu soube que o animal é de vocês, uma égua.” Nariko apontou. “Ela está ali.”

A garota viu que, além do portão do santuário, na rua principal do vilarejo, estava o cavalo, comendo as gramíneas que cresciam na beirada tranquilamente.

“É minha culpa. Agora a pouco, eu me havia me aproximado dela para ver se ainda havia água e ela ficou nervosa e escapou das cordas.” Nariko abaixou a cabeça. “Eu temi que ela pudesse se machucar quando desceu as escadas. Me desculpe...”

“Não precisa.” Kyouko se aproximava delas caminhando. “Ela que tem que aprender a se comportar.”

Nariko viu que ambas carregavam suas bolsas. “Vocês vão embora agora?”

“É... já abusamos demais da ‘hospitalidade’ da nossa anfitriã,” Kyouko comentou com certo ar de sarcasmo.

Algo que Sayaka notou, sentindo a vontade de esconder a cara.

Mas Nariko não. “Izumi deveria ter me avisado com antecedência. Eu poderia ter feitos alguns bolinhos de arroz para a viagem.”

“Hein?” Kyouko ergueu a sobrancelha. “’Izumi’?”

“Izu... mi...?” Nariko murmurou, em uma expressão catatônica.

Deixando Sayaka preocupada. “Oi? Nariko-san?”

De repente, a face congelada da senhora de idade deu lugar para um sorriso, do qual ela escondeu com a mão. “Oh... Eu quis dizer Gin. Não se importem com esta velha, nós ficamos lentos quando chegamos a certa idade.”

“Pode crê...” Kyouko respondeu, ainda estranhando.

“Ah! Aguardem um momento!” Nariko rapidamente se virou e foi até o jardim. Logo ela retornou com duas tulipas, uma azul e vermelha.

Sayaka sorriu. “Não precisava disso.”

“Por favor, eu já tenho muitas flores para cuidar.” Ela entregou uma flor para cada garota. “E se puderem levar consigo um pouco da beleza desse lugar, eu ficaria muito feliz.”

“Valeu...” Kyouko abriu um pouco o zíper de uma das bolsas, encaixando ali o caule da tulipa com cuidado. “Vou me lembrar de tu.”

Já Sayaka decidiu segurar as bolsas com uma mão para segurar a flor com a outra. “Vou tentar manter essa beleza o máximo que puder.”

“Obrigada.”

As garotas desceram a escada de pedra e seguiram pela rua até alcançarem o cavalo.

Foi então que Sayaka decidiu olhar para trás.

Nariko estava no portão do santuário e acenou.

A garota fez o mesmo em resposta.

Foi então que sacerdotisa surgiu ao lado da outra mulher, carregando consigo um semblante sério.

Nessa hora o sorriso de Sayaka se foi.

“Vamos logo!”

Ela viu que sua amiga já estava sobre o animal. Entregando suas bolsas e a flor para outra, ela também montou.

Sem falar, Kyouko as devolveu e fez o cavalo se mover em direção a saída do vilarejo.

Assim como fora antes, parecia que a vegetação agora havia decidido que iria esconder aquele vale novamente. As casas desapareciam e estrada de pedra voltou a ser de terra.

“Pega o mapa aí, Sayaka,” Kyouko demandou.

A garota vasculhou as bolsas por ele. “Para onde nós vamos agora?”

“Você ainda pergunta?” respondeu a ruiva, “Kyuubey quebrou o acordo, né? Vamos avisar a Madoka. Mal posso esperar em ver ela escorraçando esse cretino desse planeta.”

“Eu não acho que ela faria isso.”

“É bom que ela faça valer o que diz.” Kyouko olhou para trás com um sorriso. “Mas sabendo que é a rosinha, é bem provável que ela fraqueje.”

Sayaka se irritou. “Não fala assim dela!”

“Mas você sabe que é verdade.” Kyouko voltou a olhar para a estrada. “A piedade dessa ‘deusa’ ainda vai acabar sendo a sua queda.”

“Kyouko...” Sayaka respirou fundo. “O que eu quero dizer é que ela não vai fazer algo desse tipo por causa de um vilarejo.”

“Você tá sendo burra de propósito?” Kyouko indagou, incrédula, “acha que ele não tá fazendo isso em outros lugares?”

“Acha que tem uma bruxa como essa em todo o lugar?” respondeu Sayaka prontamente.

Deixando a ruiva em silêncio.

Ela continuou, “você mesmo disse que não há explicação para isso. Além disso, o comportamento de Kyuubey...”

“Ele tá fazendo o que sabe de melhor,” disse Kyouko, “que é ferrar com tudo.”

“Talvez sim...” Sayaka ponderou, “mas não vejo o porquê de ele arriscar um confronto com Madoka por tão pouco. Nakayama-san não lida com essa bruxa todos os dias, é irrisória a quantidade sementes comparado com o que ele coletava anteriormente e... eu acho que há algo de errado nele.”

“Tudo é de errado nele. Não sei como eu-wHOA!” Kyouko parou o cavalo.

“O que foi?!” Os olhos de Sayaka se arregalaram quando viu o que estava logo à frente.

O córrego, que mal podia se dizer que era um rio, agora era uma poderosa torrente. As corredeiras lamacentas carregavam grandes troncos de árvores e passavam próximas da ponte.

“Será que toda essa água é ainda daquela tempestade?” indagou Sayaka.

“Pode ser que ainda esteja escoando da barragem...” Kyouko botou o cavalo para se mover novamente. “Eu não vou ficar esperando ver se a água vai descer ou subir. Vamos atravessar enquanto dá.”

Quando elas se aproximaram mais, dava para constatar que, de fato, aquele rio não ameaçava a ponte por hora.

Contudo, Kyouko parou novamente. “Sayaka...”

“Oi.”

“Só por precaução, fica de olho por qualquer coisa que possa pular desse rio.”

“O-Ok...”

Elas entraram na ponte em silêncio e atentas. O som do casco do cavalo pisando na madeira era abafado pelo som da fúria logo abaixo.

Kyouko olhava para o rio, especialmente para o lado que a água vinha. De vez em quando, olhava para o final da ponte, cada vez mais próximo, mas mesmo assim aquela travessia não parecia terminar.

Sem aviso prévio, o som de madeira estralando fora ouvido e o mundo oscilou. “Ah! O que é isso?!”

“A PONTE! A PONTE!” Gritava sua companheira.

O cavalo empinou e relinchou, enquanto tudo desabava.

“AAAHHHH!” Kyouko caiu e foi de encontro com tábuas de madeira que já se misturavam com a água. A dor do impacto era acompanhada pelo gosto da lama e escuridão. A força esmagadora parecia brincar com o seu corpo, lhe tirando qualquer senso de direção que precisava para buscar a luz.

Foi um mero acaso que ela foi lançada de volta à superfície. Ela tossiu e cuspiu toda a água e terra que pôde. Usando a força provida pela magia, ela lutava para não ser puxada para baixo, enquanto clamava. “S-SAYAKA! SAYAKA!”

Algo emergiu próximo dela, mas não era sua amiga.

A cor pêssego do cavalo era agora marrom. O animal se debatia com as patas dianteiras sobre a água, seus olhos esbugalhados acompanhados por desesperados relinchos.

Kyouko esticou o braço e quase podia tocá-lo. “M-Merda...” No entanto, a distância entre os dois começou a crescer e as águas voltavam a ficar mais violentas.

Não demorou para que ela afundasse e rodopiasse na escuridão turbulenta. Suas costas então se arrastaram em algo fundo e sua perna ficou presa. A correnteza continuou a puxá-la, torcendo seu membro. A dor foi momentânea, graças a sua magia, mas havia sido o suficiente para um grito calado pela lama.

Adrenalina e magia, mais toda sua vontade e instinto, fez que Kyouko desse um coice com a outra perna contra aquilo que a segurava. Parecia que havia dado certo, pois ela sentira seu corpo sendo levado pelo rio.

O que ela não esperava é que também havia sido recompensada com a luz daquela manhã. Ainda em perigo, ela primeiro procurou pelo cavalo, mas o animal não estava ali. Depois, pela sua amiga. “SAYAKA!”

Em sua busca, ela observou as margens do rio, onde as árvores passavam por ela rapidamente. Nisso lhe veio uma idéia.

Ela apontou a gema de seu anel em direção ao tronco delas, com intuito de usar sua lança como um gancho. Para que pudesse mirar melhor, ela usou de suas pernas para lutar contra a correnteza.

Um grave erro.

Algo grande e pesado atingiu suas costas como um caminhão. Kyouko não soube o que era, só pode deduzir que era um tronco trazido pela correnteza. Novamente submersa, ela lutou para ao menos se estabilizar.

Sua cabeça se chocou violentamente contra algo e ela perdeu o senso de si. Os sons das águas ficaram distantes, assim como seus pensamentos. Sua alma lentamente se apagando.

Então ela sentiu a força do rio pressionando seu corpo contra uma parede, do qual começou a se mover.

Os olhos semicerrados de Kyouko absorveram a luz do dia, revelando que aquilo não era uma parede, mas uma mão envolta em ferro. Sua dona era um gigante de armadura e elmo, com uma capa azul marinho, coberto de lama.

Foi a última coisa que viu antes de se afogar em um novo tipo de escuridão.

/人 ‿‿ 人\

“AH!” Kyouko ergueu seu torso, ouvindo o rio ao seu lado e vendo a vegetação a sua frente.

“Finalmente você acordou.”

Ela se virou e viu Sayaka de pé, em seu uniforme de garota mágica. Só então que notou, ao contrário de sua amiga, que ela estava coberta de barro seco, incluindo seu longo cabelo.

“Você ficou um bom tempo desacordada, acho que até passou algumas horas.”

“Horas?!” Kyouko botou a mão na cabeça. “Heh... Eu posso me transformar em um monstro gigante e ainda assim posso ser nocauteada por uma pancadinha?”

“Foi uma forte concussão, você deveria estar morta,” Sayaka respondeu em um tom mais sério, “o fato de estar acordada e falando comigo responde muita coisa.”

“Eu acho que sim...” Kyouko olhou envolta.

Sayaka sabia por quê. “Depois que eu deixei você nessa margem, eu procurei por ela, mas... não a encontrei. Ela pode ter sido levada pelo rio para muito longe ou... talvez ela esteja presa em algum lugar no fundo.”

A ruiva socou o chão.

Sayaka ficou em silêncio.

Ela ficou de pé e de cabeça baixa, com os punhos cerrados. “Nós... perdemos todas as nossas bolsas.”

“Kyouko...” A outra garota murmurou.

Uma aura vermelha envolveu seu corpo e a vestiu com o seu vestuário mágico, removendo toda a sujeira que cobria ela. “Nós atravessamos o rio, certo?”

“Sim.”

Kyouko então se pôs a caminhar. “Vamos seguir o rio até onde estava a ponte. Nós temos que avisar Madoka.”

Enquanto ela passava na frente dela, Sayaka estava estupefata com aquela atitude.

A garota subiu em uma pedra e chamou com raiva, “Você vem ou não?”

Sayaka obedeceu em silêncio.

Tal silêncio que perdurou enquanto as duas andavam pela margem do rio e suas corredeiras. A garota de cabelos azuis sempre atrás, imaginando o que se passava na cabeça de sua companheira, mas certa de que aquela reação não era a primeira vez.

Kyouko o quebrou com uma pergunta, “Você tem idéia do quão longe estamos da ponte?”

“A correnteza está bem forte... Alguns quilômetros, talvez?”

“Hmmm...”

Elas continuaram pelo caminho sinuoso do rio. O tempo passava e nenhum sinal de algo construído por mãos humanas.

Kyouko então parou. “Ok... Sayaka, pode dar uma checada?”

Sayaka piscou os olhos, confusa, mas logo veio um leve sorriso. “Ah... entendi.”

Como anteriormente, Kyouko viu uma grande aura circular se formar sob os pés da outra garota. Quando a aura se concentrou, ela deu um grande salto para cima, além das árvores. No entanto, a ruiva dessa vez conseguiu ver outra aura se formar no meio do ar e ser usada como plataforma pela sua companheira.

Foram alguns minutos caminhando sobre aquela plataforma até que ela fosse desfeita e Sayaka voltasse ao chão. “Eu não consegui encontrar o vilarejo.”

“Dane-se o vilarejo!” Kyouko exclamou, “a ponte, a estrada, você viu?”

Sayaka balançou a cabeça.

“S-Sem chance...”

Olhos arregalados de sua amiga representavam bem a situação em que elas estavam. “Pode ser que desse ponto a vegetação não permita vê-las...”

“Besteira!” Kyouko abriu os braços. “Você tem que ter visto algo!”

Sayaka apontou em direção a floresta. “Há um morro perto de nós, eu não consegui ver o que há além dele.”

“Depois desse morro, deve ser possível de ver a rodovia...” Com essa conclusão, Kyouko correu, entrando na vegetação. “Vamos!”

A garota de capa a seguiu, clamando, “Espera!”

Mas a outra não reduziu sua velocidade. “Eu não vou querer passar a noite nesse lugar!”

Elas correram e pularam, quebrando os galhos e assustando os animais pelo caminho.

Entre um salto e outro, Kyouko indagou, “A gente já não deveria estar subindo ele?”

“Ele está perto, mas não tão perto assim,” respondeu Sayaka.

A garota mágica vermelha parou ao pousar. “Como é?!”

Com isso, a outra quase se chocou com ela. “Eu disse para você esperar. Ele deve estar pelo menos alguns quilômetros.”

“ESPERAR?!” Kyouko destilou sua raiva. “E de novo com esse ‘alguns quilômetros’. QUAL É!”

Sayaka recuou, assustada.

A ruiva parou e sua face foi perdendo a tensão enquanto desviava o olhar. “Foi mal...”

Sayaka não tinha o que dizer quanto aquilo, mas procurou estender a mão para a sua amiga. Talvez ali houvesse a mensagem que precisava.

“Vamos continuar...” Kyouko se virou e saltou.

A outra fechou mão e, sem tempo para lamentações, voltou a segui-la.

As garotas passavam pela vegetação com velocidade, mais do que outrora. Contudo, não havia nenhum indício no relevo de que elas estariam começando a subir.

“Tem certeza do que viu, né?” disse Kyouko.

“Sim.” Contudo, uma idéia perturbava Sayaka. Poderíamos estar andando em circulo novamente? Isso foi o suficiente para distraí-la e perder sua companheira de vista. “E-EI!” Ela apertou o passo, mas, de repente, avistou Kyouko parada.

Diante dela havia um grande declive, nada se podia ver muito além devido as árvores. “Eu pensei que a gente ia subir...”

Sayaka chegou ao lado dela. “Bem... Isso estava escondido sob a floresta.”

“Não, tudo bem,” Kyouko falou. “Está sentindo?”

Quando ela mencionou isso, Sayaka percebeu que havia uma fonte de magia logo abaixo.

Kyouko invocou sua arma e começou a descer. “Temos que dar uma checada.”

“Sim... Cuidado para não cair.” Sayaka fez o mesmo, ainda surpresa com a nova situação.

A descida era difícil e elas se apoiavam nos troncos das árvores. Em certo ponto, se depararam com rochas por onde saía vapor.

“Nakayama-san disse sobre a atividade geotermal,” comentou Sayaka.

“É...” Kyouko havia encontrado entre as rochas o ponto por onde água quente saía, caindo em um aqueduto de madeira. “E não é única que se aproveita disso.”

Sayaka ficou abismada com aquela descoberta.

Elas seguiram o aqueduto até ficar íngreme demais para continuar. Em meios as folhagens, já era possível observar o topo de uma casa.

Kyouko avaliava a altura da queda. “Você não tinha visto isso, né?”

“Não.” Sayaka estava mais confusa. “Uma casa no meio da floresta?”

“E tenho certeza que a fonte de magia está lá dentro,” Kyouko se posicionou com sua lança. “Pode ser a nossa bruxa, então se prepare.”

“Certo!”

As duas saltaram juntas, passando pelas últimas árvores e pousando sobre um deck de madeira.

Sayaka viu que a casa era de arquitetura tradicional, com os seus painéis de papel. Ao lado delas, uma fonte termal exalava seu vapor. “Hmmm... Kyouko...”

Os olhos arregalados da outra garota denunciavam que ela já sabia. “Esse lugar...”

Quando Gin abriu a porta de correr, ela se deparou com as duas garotas. O susto foi tão grande que ela levou as mãos ao peito. “O-O QUÊ?! O QUÊ... o que vocês estão fazendo aqui?!”

Sayaka gaguejou, “A-A p-ponte caiu e... e nós-”

[A ponte caiu?] Kyuubey surgiu por detrás da sacerdotisa. [Preciso checar.]

Quando Gin viu que a criatura já partia, ela estendeu a mão. “Não vá!” Mas era tarde demais para impedi-lo.

“Nakayama-san...” Sayaka se aproximou. “Nós-”

“PARA TRÁS!” Recuando, Gin ergueu sua mão esquerda, deixando seu anel bem a vista.

A garota mágica azul chegou perguntar para si mesma o porquê daquela reação, mas logo seus olhos desceram até espada que estava carregando.

O mesmo que Kyouko fez quanto a sua lança. “Ah merda...”

As duas evaporaram suas armas. Sayaka então gesticulou. “Não! Não viemos para lutar! A ponte realmente caiu e o rio nos levou e... se perdemos na floresta e...”

“A ponte fica para lá!” Gin apontou. “Como vocês chegariam aqui?”

“Eu não sei.” Sayaka coçou a cabeça. “Apenas...”

“Por favor...” A sacerdotisa se estremeceu. “Deixe-nos em paz...”

“Eu... apenas...”

“Saiam! SAIAM!” Com os seus gritos, Gin viu a ruiva puxar o braço de sua amiga e as duas saírem correndo em direção ao santuário.

Atônita e recuperando o fôlego, a mulher andou de costas sem rumo e acabou tropeçando. “Ah, ah, ah...” Caída no chão, logo veio lágrimas e soluços. Com o coração que parecia que iria sair pela boca, ela levou as mãos ao rosto, sem cobrir os olhos arregalados de pavor. “Ela... tinha... razão...”

Ela afastou as mãos e viu a gema amarela em seu anel brilhar. Respirando fundo, disse para si mesma. “Eu sou... experiente. Eu posso fazer. O vilarejo depende disso.”

A casa vibrou com o estrondo.

Surpreendendo Gin. “Agora?! Não... agora não... agora não!”

Ela saiu de casa e viu o céu escurecer.  Ela se apressou para chegar ao santuário, onde não havia ninguém.

“Gin! Gin!” Nariko subia a escada de pedra. “Outra tempestade. Eu já alertei as pessoas.”

A sacerdotisa se recompôs antes de atendê-la. “Que bom.”

Ofegante e com a mão no peito, Nariko comentou, “Isso não é muito comum.”

“Sim, a outra foi anteontem...” disse Gin, olhando envolta, procurando se poderia haver alguém escondido. “Por acaso... você...”

“Sim?”

“Não... não é nada.” Ela avistou uma criatura branca vindo de sua casa.

“Você está bem?” Nariko indagou, preocupada.

“Sim... sim...” Gin se afastou. “Vá se abrigar. Eu vou me preparar para ir ao vilarejo.”

Nariko acenou com a cabeça. “Eu... irei ajudar os outros.”

A mulher caminhou pela calçada entre as árvores até cruzar com a criatura. “Já retornou?”

[Sim. Eu vi, a ponte caiu.]

Ela continuou em direção a sua casa. “Então é verdade...”

[Contudo, as vigas de madeira que a suportavam não estavam quebradas e sim cortadas.] Kyuubey a acompanhou até que os dois ficassem na frente dela.

“Cortadas?!” Novamente o coração de Gin disparou. “Você acha que foram elas? Por que fariam isso?”

[Presumo que seja para nos isolar. A população dessa vila teria dificuldade de atravessar o rio, mas garotas mágicas poderiam facilmente saltar sobre ele.]

“Garotas mágicas?” O terror de Gin só aumentava. “Pode haver mais delas?!”

[Certamente.] Kyuubey pendeu a cabeça para o lado. [Lembre-se que elas mencionaram uma garota chamada Madoka Kaname. Deve ser a líder delas. Essas duas garotas deviam estar fazendo um reconhecimento, verificando sua força e hostilidade.]

Gin esfregava nervosamente o seu anel. “E... E me matar se houvesse a oportunidade...”

Olhando envolta, a criatura perguntou. [O que você fez com elas?]

“Eu...” A mulher abaixou a cabeça. “Eu as mandei embora. E-Eu acho que elas ainda podem estar no vilarejo.”

[As mandou embora?] Kyuubey balançou suas orelhas. [Matá-las sem questionar seria completamente aceitável, mas isso não faz sentido algum.]

“Eu não tive coragem...” Sua voz era chorosa. “Eu ainda tinha dúvidas...”

[Mas você é treinada.]

“Não para isso! Não para isso... uuuu...” E lágrimas começaram cair.

Kyuubey apenas observava o chão as absorvê-las.

“Eu ofereci minha casa, comida, descanso... Eu até pude oferecer sementes.” Gin esfregou sua face contorcida pela tristeza. “Elas não apreciaram nada disso?”

[Comparado com o potencial de sementes que elas podem obter, isso não é nada. Se elas forem um grupo numeroso, eu até posso dizer que tomar esse lugar seria vital.]

Gin cerrou os punhos, sentindo o seu anel pressionando a pele. “Eu... não posso permitir isso.”

Uma lufada de vento balançou a vegetação e o céu brilhou com a trovoada.

“O desejo dela não pode ser em vão.” Com o corpo ainda tremendo, disse Gin, determinada, “Eu preciso ir.”

[Não.] A criatura começou a correr em direção ao vilarejo. [É muito perigoso.]

“Kyuubey...?”

[Elas devem ter armado uma emboscada. Fique aqui, ajude quem precise no santuário, eu vou tentar localizá-las.]

“Kyuubey!” Gin chamou.

A criatura parou, mas continuou de costas para ela.

“Você... está preocupado comigo?”

Kyuubey abanou sua cauda antes de erguer sua cabeça de leve. [Definitivamente.]

Ela ficou sem palavras.

[Você é a caçadora de bruxas mais eficiente com o qual eu trabalhei. Não posso perdê-la.]

Mas então suspirou. “Ah... Entendi...”

[O que foi?]

A mulher juntou as mãos e desviou o olhar. “Não é nada.”

[Bem, então...] Ele voltou a correr, desaparecendo entre as folhagens.

Gin apertou as mãos e as levou ao peito, falando para si, “Apenas... tome cuidado.”

/人 ‿‿ 人\

Atrás de uma casa, Kyouko observava as últimas pessoas subindo as escadas para o santuário. “Sorte que ninguém nos viu. Parece que nós vamos ter outra tempestade, mas tá escurecendo demais. Será que já vai anoitecer? Será que passou tanto tempo assim?”

Perto dela, Sayaka estava desolada. “Nakayama-san... eu apenas queria fazer o que é certo...”

Kyouko se virou. “Eu sei disso. O problema é que os outros não. Acho que foi algo assim que aconteceu com a Homura, hein?”

Sayaka balançou a cabeça, ponderando, “Mas como isso foi acontecer?”

A ruiva puxou seu rabo de cavalo. “Acho que a sacerdotisa já respondeu isso pra nós.”

“Como assim?”

Ela cruzou os braços. “Você tem certeza que atravessou o rio, né?”

“Sim! Eu estou segura disso,” afirmou Sayaka.

“É...” Kyouko acenou com a cabeça. “A gente não voltou pra cá por acidente. Eu já passei por isso... Também isso explica porque a bruxa não parecia ter uma barreira.”

“Já passou por isso?” Sayaka franziu a testa. “Eu não entendo...”

“Ouça bem,” Kyouko disse com ênfase, “a floresta é a barreira.”

Sayaka ficou boquiaberta e olhou envolta, para toda a vegetação que cercava o vilarejo.

“Esse lugar é como uma ilha, que essa bruxa quer afundar.” Kyouko deu mais uma olhada para o santuário. “Mas graças a nossa ‘zelote’, isso ainda não aconteceu.”

“Não! Isso não faz sentido!” Sayaka levantou a voz. “As pessoas não seriam capazes de ver a floresta.”

“E quem disse que não havia uma floresta aqui antes?” disse Kyouko, “diz aí, se a barreira da bruxa se mistura com a vegetação e você perguntasse para qualquer um do vilarejo sobre o que ele está vendo, o que ele responderia?”

Sayaka levou a mão na nuca, pensativa.

“O rio faz parte da barreira, aquela ponte também, talvez... Acho que é isso que acontece com quem tenta sair daqui,” Kyouko continuou, “será que isso aconteceu também com os outros?”

“Outros?” Sayaka arregalou os olhos. “Nakayama-san disse que eles retornavam para visitar.”

“Sim, mas isso pode ter sido antes da bruxa cercar esse lugar.”

“Não...” Sayaka cerrou os punhos. “Alguém notaria.”

“Para o pessoal daqui, foi como se apenas eles tivessem ido embora.” Kyouko sentiu os primeiros pingos caindo sobre seus ombros desnudos. O vento, os flashes de luz e estrondos cada vez mais fortes. “Uma armadilha perfeita.”

“Você acha que Nakayama-san sabe de alguma coisa?” Sayaka indagou.

“Ela? Duvido.” Kyouko semicerrou o olhar. “Mas eu sei quem sabe.”

[Você deve estar se referindo a mim.]

A garota mágica vermelha se virou, vendo que Kyuubey estava atrás dela.

[Eu já esperava que a ponte não seria o suficiente para vocês, mas ainda fora bem útil.]

Kyouko mostrou seus dentes. “Heh. Finalmente mostrando quem tu é. Você sabia que a gente não ia conseguir contatar a Madoka.”

[Vocês não entraram em contato com a sua líder?] Kyuubey piscou os olhos. [Então foi um completo sucesso.]

“Líder?” Sayaka fez uma careta.

“Sucesso? Só se for sobre cavar a sua própria cova.” Kyouko invocou sua lança e a apontou para criatura. “Onde tá a bruxa?”

[Por que eu contaria?]

Sayaka se aproximou de sua companheira, pousando a mão no ombro dela. “Você sabe que isso é inútil.”

[Vocês irão morrer, é isso o que acontece com aqueles que ameaçam esse lugar e seus moradores.]

As duas garotas ficaram perplexas. “Hã?!”

[Mas Gin tem certa consideração por vocês. É estranho, mas é verdade.] Kyuubey continuou. [Quantas garotas têm em seu grupo? Quais os poderes delas? Se colaborarem, talvez um acordo seja possível.]

A face de Kyouko estremeceu, rangendo os dentes. “Para de fingir! Você não dá a mínima pra essas pessoas!”

[Fingir...] Com a pata traseira, Kyuubey coçou a cabeça. [Essa palavra se aplicaria melhor a vocês.]

Sayaka permanecia confusa. “O que disse?”

[Considerando os dias que se passaram, eu não vi vocês utilizando sementes. Até recusaram a oferta da Gin. Mesmo assim, suas gemas não apresentam nenhum indício de corrupção.] A imagem das garotas refletiam nos olhos estáticos da criatura. [Eis que pergunto: vocês realmente são garotas mágicas?]

Sayaka ficou sem resposta, levando a mão até a sua gema da alma sobre a barriga. Estava claro agora que aquele Kyuubey não tinha idéia alguma sobre o desejo da Madoka.

[Talvez eu não possa obter a resposta por vocês. Se ao menos aquela coisa que vocês chamam de cavalo estivesse aqui, eu poderia exami-] A cabeça e o corpo de Kyuubey se despedaçaram quando a lâmina da lança o atingiu.

“Ai... não...” Sayaka deu um tapa na testa.

“Nossa! Como eu me sinto melhor!” Kyouko sorriu de leve. “Se eu soubesse que seria assim, eu teria feito mais vezes quando tive a oportunidade.”

A chuva finalmente veio com toda força, encharcando o chão, as garotas, e as entranhas da criatura morta.

“Agora que Nakayama-san não confiará em nós,” afirmou Sayaka.

“Relaxa.” Kyouko se virou para ela. “Podemos utilizar isso ao nosso favor.”

“Como?”

“Simples. Vamos esperar que outro dele apareça e o matamos também.” Kyouko deixou que a chuva lavasse a sua lâmina.

“Acha que ele vai aparecer?” Sayaka olhou para o que sobrara de Kyuubey. “E eu ainda não sei como isso vai ajudar.”

“Se a gente matar vários deles e mostrar praquela sacerdotisa, ela vai ter uma idéia de com quem ela... tá... lidando...” Kyouko notou olhos de Sayaka se arregalarem e ela apontar para algo atrás dela. Ao se virar, viu algo que a fez parar de respirar.

A carne de Kyuubey se movia e aglutinava, retornando a sua forma original. Sua pele peluda aos poucos se fechava.

“Mas... que diabos...”

A criatura sofria espasmos erráticos, como uma máquina defeituosa, até se estabilizar. Seus olhos, por mínimo que fosse, haviam recebido novamente o lampejo da vida. [Como você fora rude, Kyouko Sakura.]

De repente, elas ouviram sons no telhado da casa. Eram passos. Logo surgiu uma silhueta com olhos amarelos vívidos.

Aproveitando a distração das garotas, Kyuubey escalou a parede da casa. [Gin! Gin! Eu estava certo! Elas querem me matar! Me ajude!]

“Maldito...” Kyouko mal teve tempo para xingá-lo antes da mulher com capuz e capa negra pousar na frente dela.

Sayaka continuava a olhar para criatura, agora uma sombra com olhos vermelhos brilhantes no telhado, ainda tentando compreender o que havia acontecido. “N-Nakayama-san! N-Não acredite no que ele diz! Ele está colocando você contra nós!”

Os olhos de Kyouko e Gin se encontraram. Mesmo que o rosto da outra era parcialmente coberto, a ruiva, com toda a sua experiência, sabia o que aquela expressão significava. “Sayaka...”

“O quê?”

Ela segurou sua lança com mais firmeza. “O tempo de conversa acabou.”


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