Guardião escrita por Jafs


Capítulo 4
Capítulo 4




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Os longos cabelos negros de Gin eram lisos como o tecido de seu quimono cor de rosa do qual ela já estava acostumada a vestir, que se adaptava perfeitamente ao seu corpo pubescente.

Bem diferente da sensação que ela tinha quanto a realidade que a cercava, um mundo de vasos, com variações de tamanho extremas. Alguns caberiam entre seus dedos enquanto outros poderiam ser confundidos com montanhas. Os formatos eram bizarros e impraticáveis, alguns lembravam corpos humanos contorcidos, na superfície de outros era possível, com algum esforço, discernir fisionomias furiosas. O céu de pálido verde trazia um tom ainda mais mórbido ao ambiente. O silêncio só era interrompido pelo infreqüente som de cerâmica que se quebrava.

Tal som que soava cada vez mais próximo.

Gin olhou para o alto e viu um enxame de peças de vasos, de cores e desenhos variados, vindo em sua direção.

Eles pararam e se organizaram, formando um imenso mosaico de uma face estilizada que olhava para a garota.

Ela não deu sequer um passo para trás, apenas cerrou seus punhos.

As peças trocaram de posição e o mosaico mostrava agora uma expressão de raiva. Logo algumas peças vibraram e voaram em direção a garota, em uma velocidade que certamente a fatiaria.

Porém, o chão onde Gin estava estremeceu e rachou. Uma erupção de água ocorreu logo a sua frente, formando uma estável muralha. Através da luz distorcida pelo líquido, ela pode ver as peças mergulharem e se despedaçarem com o impacto, além da garota mágica responsável por tal feito.

Izumi apontou o cajado para a bruxa. “Isso é entre mim e você.”

O mosaico se virou em direção a mulher.

Gin sentiu o chão estremecer, ouvindo o som de uma onda que chegava.

A água surgiu atrás de Izumi, destruindo os vasos no caminho. Obedecendo ao gesto da mulher, ela formou um turbilhão que voou direto para o mosaico.

O impacto criou um rombo entre as peças do mosaico e então o turbilhão se chocou com algo invisível atrás dele, que se mostrou muito mais resistente.

Izumi ordenou para que a água recuasse e a rodeasse. “Aí está você.”

Gin viu aparecer uma grande esfera perfeita aonde estava o mosaico. Sua superfície era composta por finas linhas paralelas das cores vermelha, verde e azul. Esse padrão se repetia e se movia constante, causando certo desconforto ao olhar para aquilo por muito tempo.

As peças de cerâmica dos vasos quebrados, assim como o do mosaico, foram atraídos e começaram a orbitar a esfera, ganhando velocidade.

Izumi tocou uma de suas mãos com a ponta de seu cajado.

Propelidos pela força centrífuga, uma saraiva de peças foi lançada contra ela.

Gin viu a garota mágica erguer a mão e, com isso, a água imitá-la tanto no movimento quanto na forma, mas em grandes dimensões.

Após a mão de água aparar o ataque facilmente, Izumi socou com ela, atingindo em cheio a esfera.

Mas a bruxa nem sequer saiu do lugar.

Sem se abalar por aquilo, Izumi colocou seu cajado a frente, equilibrando-se em um encaixe feito de água. Com ambas as mãos livres, ela se concentrou em seu anel. Uma grande massa de água flutuante começou a se concentrar acima dela.

A bruxa continuava a atrair mais peças para ela.

Mas Izumi estava atenta e balançava sua mão encantada para que sua gigantesca contraparte de água desse tapas nelas. Enquanto isso, seu cajado se reposicionava, permitindo que ela enxergasse a bruxa no centro do anel em sua ponta. Chegando a esse ponto, ela cerrou o punho e o apontou para a bruxa.

Gin testemunhou a massa de água espiralar em direção o anel do cajado. Assim que o alcançou, um jato de água de altíssima pressão partiu dele e foi de encontro a esfera.

Perfurada por aquilo, a bruxa emitiu um som estridente.

A garota foi ao chão, com as mãos nos ouvidos, incapaz de ouvir seu próprio grito.

Já Izumi se manteve firme, controlando o jato. Contudo, ela notou que não poderia dizer o mesmo para os vasos da barreira, que rachavam e estouravam, lançando estilhaços mortais.

Gin nem chegou a perceber o que havia acontecido a sua volta, só quando a parede de água que a protegia se moveu e formou um domo sobre ela.

Um domo de água também se formou sobre Izumi, barrando os estilhaços.

O jato colocava mais água dentro da bruxa pelo local onde havia perfurado e a esfera começou a rachar.

“Você está... acabada.” A garota mágica abriu sua mão.

Através do domo, Gin viu a bruxa estourar em uma torrente de água. A onda que se formou varreu o domo e a garota, que rolou pelo chão. Molhada dos pés a cabeça, ela procurou ficar de pé assim que tudo se acalmou e presenciou o mundo a sua volta mudar. O céu verde de outrora dava lugar para o familiar teto de madeira da ponte que levava até o vilarejo. A lua e o céu estrelado trazendo alguma luz ao ambiente.

Izumi estava ali também, devolvendo a água para o córrego.

De repente, Gin sentiu seu corpo e roupas molhadas se secarem, com a umidade se afastando dela em pequenas gotículas. Ela tocou em algumas delas, encantada. “Izumi-sensei! Você foi incrível! Você faz até parecer que é fácil.”

“É bom que você vê dessa forma,” respondeu a mulher com pouco entusiasmo, enquanto pegava a semente da aflição no chão. “Por que não correu?”

Gin se sentiu surpreendida por tal questão. “Para ser uma garota mágica, eu não posso ter medo das bruxas, por mais terríveis que sejam.”

“Coragem...?” Izumi aproximou a semente até a gema em seu dedo. “Existe outro nome para o que você tentou fazer.”

“Eu confio em você, Izumi-sensei.” Gin sorriu.

“Outra estupidez.” Uma essência negra passou da gema para a semente. Quando terminou, Izumi examinou o objeto que havia adquirido e o guardou. “Eu não devia tê-la trazido.”

“Mas... Mas como eu vou aprender a lutar?” Gin protestou. “Eu nunca posso acompanhar você quando sai do vilarejo. Foi muita sorte que essa bruxa estava perto.”

“Sorte?!” Izumi olhou com raiva para a garota. “Sorte que eu estava aqui. Alguém poderia ter morrido, como você sabe muito bem, não sabe?”

Gin abaixou a cabeça. “Desculpe! Desculpe! Izumi-sensei...”

A mulher se acalmou, deixando escapar um suspiro.

“Mas o que eu disse é verdade!”

Izumi se estremeceu com a forma que Gin levantou a voz.

“Eu sei o que é uma garota mágica, mas eu ainda não sei como é ser uma. Depois de todos esses anos... Por favor! Me leve contigo.”

Izumi foi enfática. “Não! Já é muito perigoso para mim, com você para proteger...”

Gin ergueu a cabeça. “Então me conte como é o mundo lá fora. O mundo de uma garota mágica. Você disse que existem muitas outras.”

“Sim.” Izumi pressionou os lábios.

“Cada uma delas é única, não é?” perguntou Gin, enquanto seu olhar se perdia. “É difícil de imaginar que elas podem existir no mundo todo. Não sei como Kyuubey teve tempo para contatar todas elas.”

A mulher ergueu as sobrancelhas. “Acha que ele é um só?”

“Hã?”

“Isso era para você descobrir por si mesma. Você precisa ser mais esperta se quer arriscar sua vida.” Izumi contraiu os seus olhos. “Falando nisso, por acaso Kyuubey tem haver com esse seu comportamento?”

Gin juntou as mãos e se encolheu, sem saber para onde olhar.

Izumi levantou o queixo. “Diga-me.”

“E-Eu conversei com ele...” Gin balbuciou.

“Sem meu conhecimento.”

“Mas faz pouco tempo! Eu... Eu estou te contando agora!” Gin exclamou, assustada. “E-Ele me disse que se eu me tornasse uma garota mágica, o treinamento seria muito mais rápido.”

“Você não pensa?” Izumi questionou. “Como seria mais rápido? Esqueceu do seu desejo?”

“Eu sei! Eu pensei nisso.” Gin acenou com a cabeça. “Mas eu conversaria com os meus pais para ficar mais um tempo contigo. Eu sei que eles ficariam muito agradecidos por ter cuidado de mim.”

“Eu acho que há muito mais a conversar,” afirmou Izumi, “como fato que eles podem não te reconhecer.”

Um semblante triste se formou na face de Gin.

“Mas está claro agora.” Izumi se aproximou da garota. “Você acha que meus métodos são muito devagar.”

“Oi?!” Gin balançou a cabeça freneticamente. “Não! Não! Seus métodos são muitos bons e... e...”

Izumi não demonstrava estar convencida.

“Eu aprendi muita coisa contigo, com Nariko, com todas as pessoas boas do vilarejo.” Gin abriu um sorriso enquanto seus olhos se lacrimejaram. “Eu sei cozinhar bem agora e cuidar da roupa, do jardim... Minhas mãos estão calejadas com a colheita e tenho orgulho disso, graças a vocês. Eu sinto muito...”

“Não precisa se desculpar.” Izumi sorriu, enquanto alisava ao anel na ponta do seu cajado. “Mas diga, você se sente pronta para ser uma garota mágica?”

“Se eu sinto?” Gin tirou rápido as lágrimas da sua face, um tanto surpresa. Ela ponderou sobre aquilo. “Eu... cresci. O trabalho me deixou mais forte. Eu me... sinto mais forte. Sim. Sim!” Ela levantou a voz, aquilo precisava sair de dentro dela com toda sua força. “EU-”

Izumi girou seu corpo ao golpear Gin com o seu cajado.

O ataque certou seu braço e a garota caiu com tudo no chão, batendo a cabeça nas tábuas de madeira. Zonza e desorientada, a primeira reação dela foi de mover o braço atingido, mas uma dor lancinante lhe veio. “AAAAIIIIIEEEE! AAAHHHH!” Temendo uma dor maior, ela apenas moveu os olhos para ver sua agressora.

Izumi arfava, com os seus dentes escancarados e olhos arregalados, apontando seu cajado em direção a garota caída. “Vê? Você. NÃO! Está. Pronta.”

Rangendo os dentes, Gin segurou o choro como pôde.

“Eu não quebrei suas pernas!” Izumi demandou, batendo com a base do cajado no chão, “levante-se!”

“UUuuu...” Lentamente, a garota primeiro se sentou e depois procurou ficar de pé apenas com a ajuda de suas pernas, enquanto segurava seu braço ferido com o outro.

“Veremos isso quando retornarmos para casa.” Izumi apontou o cajado e invocou uma nuvem de água. Sua superfície borbulhava com líquido que circulava para cima constantemente. A garota mágica pulou e ficou em pé encima dela.

Gin estava de cabeça baixa, vendo que ainda conseguia mexer os dedos da mão e ao mesmo tempo consciente de sua fraqueza.

Sem olhar para ela, Izumi a chamou, “Gin-san...”

A garota chegou mais perto e colocou os pés na nuvem. Eles afundaram momentaneamente na água, mas então ficaram firmes. Geralmente, ela usaria os braços para se equilibrar melhor, mas agora só podia se recostar nas costas daquela mulher.

Sua mestra.

Seu monstro.

Seguindo a vontade de sua criadora, a nuvem saiu voando, carregando as duas pela noite.

/人 ‿‿ 人\

DISCÓRDIA

As duas mulheres, Gin e Nariko, caminhavam pelo jardim do santuário ouvindo o tilintar das gotas que caíam das folhagens, fruto da tempestade da noite anterior.

“Então está tudo bem...” Disse Gin.

Nariko respondeu, “Sim. Só muita lama, como sempre.”

“Como sempre...” Gin viu que certa criatura branca aguardava ela na calçada que dava acesso a sua casa. “Eu preciso ver como estão as duas.”

“Ah sim. Elas ficaram um pouco assustadas com todos se abrigando no santuário,” afirmou a senhora de idade. “Agora elas devem estar com medo das tempestades que temos por aqui.”

“Eu acredito que sim.” Gin acenou com a cabeça. “Aqui me despeço, conversamos mais tarde.”

Nariko fez o mesmo. “Você sabe onde me encontrar.”

Se afastando do jardim, Gin foi de encontro com a criatura, lhe enviando uma mensagem telepática. [Algum problema?]

Kyuubey viu ela passar por ele, seguindo o caminho até a casa. [Nenhum que você já não saiba.]

Gin chegou até a clareira onde as duas garotas em roupas mundanas a aguardavam na frente da casa.

Kyouko era a que chamava mais a atenção, com os seus braços cruzados e um olhar de desconfiança.

A mulher sorriu. “Se queriam uma semente, vocês podiam ter pedido.”

Isso atiçou Kyouko. “Você sabe porque estou assim.”

As duas ficaram se encarando por um tempo, até Gin se manifestar, “Eu já estava desconfiada. Então isso não é normal...”

“Claro que não é!” Kyouko abriu os braços. “A gente passou a noite toda vendo você explodir a MESMA bruxa e coletar a MESMA semente! Dezenas delas!”

“Calma Kyouko!” Sayaka se aproximou da sacerdotisa. “Nakayama-san, essa não é a primeira vez, estou certa?”

Gin desviou o olhar e sua face ficou mais tensa.

“Nakayama-san?”

“Essas terras estão amaldiçoadas por essa bruxa faz alguns anos,” respondeu Gin. “Como qualquer outra bruxa, seu intento é a destruição, mas ela parece visar esse vilarejo em especial. Presumo que seja devido ao solo sagrado desse santuário, que possa ser uma espécie de ‘afronta’ para as bruxas.” Ela passou os dedos sobre as runas de seu anel. “Eu nunca consegui exterminá-la, mas não que ela seja um desafio para mim.”

“Uhum...” Kyouko indagou, “e ela sempre vem pela floresta?”

“Sim.”

A ruiva se virou e correu para dentro da casa.

A sacerdotisa estranhou aquilo e olhou para Sayaka, que apenas pôde dar de ombros como resposta.

Logo a garota saiu da casa com uma bolsa, checando uma garrafa de água que estava lá dentro.

Deixando sua amiga confusa. “O que é isso?”

Kyouko sorriu. “Sayaka, vamos fazer um piquenique na floresta e encontrar essa bruxa.”

“Ah sim,” disse Gin, “eu e Kyuubey vasculhamos lá inúmeras vezes e não encontramos nada. Essa bruxa apenas aparece quando quer.”

[É verdade o que ela diz.] A criatura chegou onde elas estavam. [Não quer dizer, no entanto, que vocês não possam ter mais sorte.]

Gin engoliu seco e olhou para ele pelo canto do olho. [Kyuubey?]

Mas o ser felpudo não respondeu.

“Obrigada pela sua consideração de nos dizer isso,” disse Kyouko, “agora sai da minha frente.”

Kyuubey obedeceu, caminhando até que a calçada de pedra ficasse livre.

A garota semicerrou seus olhos vermelhos. “Acha que isso é o suficiente?”

A criatura abanou suas orelhas e piscou o olho. [Seu senso espacial deve estar com defeito, Kyouko Sakura.] Então ele voltou a andar, dessa vez até ficar atrás da sacerdotisa.

“Claro.” Kyouko segurou a alça da bolsa com mais firmeza. “Sayaka, vamos!”

Gin falou, “Eu posso ir com vocês. Só preci-”

“Não, eu prefiro que você não vá.” Kyouko já caminhava pela calçada de pedra.

Gin cerrou os punhos, mas Sayaka chegou na frente dela.

“Eu sei que deve estar preocupada, mas sabemos lidar com o que encontrarmos. Não seria bom? A vila ficaria segura.”

“Ela está segura,” a sacerdotisa respondeu com um sorriso, “mas agradeço pelo o que vocês estão tentando fazer.”

“Nada disso! É uma dívida que temos que pagar.” Sayaka se afastou, acenando.

Gin também acenou, vendo ela alcançar sua amiga. Quando as duas desapareceram de sua vista, ela adentrou-se em sua casa.

Acompanhada por Kyuubey. [E agora?]

“E agora o quê?”

[Elas viram a bruxa. Elas viram as sementes.] Kyuubey ultrapassou ela, forçando-a a parar. [Não tem idéia dos riscos?]

“Eu sei, mas...” Gin balançou a cabeça. “Eu não poderia simplesmente expulsá-las. Elas iriam desconfiar.”

Kyuubey se sentou e balançou sua cauda. [Ninguém falou em expulsar.]

“Kyuubey...” Os olhos de Gin arregalaram-se. “Elas são viajantes! Você viu a bolsa delas. Elas até têm... um cavalo.”

[Mesmo viajantes procuram se estabelecer. Ou elas chegaram a te contar qual o destino delas?]

Gin ficou sem palavras.

Kyuubey continuou. [Elas não tinham algum território anteriormente?]

“Tinham,” respondeu Gin, “porém, elas o abandonaram.”

[Você quer dizer que perderam.]

“Não!” Gin ficou irritada. “Não foi isso que elas disseram.”

A criatura fechou os olhos, ponderando. [Hmmm... Está acreditando em tudo que elas falam.]

“Não...” Gin levou suas mãos estremecidas ao peito.

[Cometeu o mesmo erro novamente e agora colocou todo o vilarejo em perigo.]

O corpo da sacerdotisa se contraiu em raiva. “A culpa é somente minha?”

Kyuubey abriu os olhos e parou, nem mesmo a sua cauda se movia. [Aonde você quer chegar?]

“Todas as vezes que aquela ruiva olha para você, é com desprezo. A outra disfarça melhor, mas também não fala contigo.” Ela ergueu as sobrancelhas. “Eu não acredito que tudo isso seja por acharem que você é um ladrão de comida.”

A criatura acenou com a cabeça, concordando com o que ela dizia. [Talvez estejam culpando a mim por serem garotas mágicas.]

A raiva de Gin sucumbiu a confusão. “Como?! Mas elas não fizeram um desejo?”

[Certamente.] Kyuubey se levantou e circulou a mulher. [Contudo, elas devem ter se arrependido dele.]

Gin repetiu, com pesar, “Se arrependido...”

[A vida de uma garota mágica contém muitas dificuldades, como você aprendeu muito bem. Mas talvez você não tenha consciência do quão pesado elas ficam quando você acredita que não teve o que você queria em troca.] Ele se dirigiu a saída da casa. [Com o que está acontecendo, fica claro que ainda lhe falta muita maturidade.]

A sacerdotisa fechou os olhos e pôs a mão na boca.

[Agora só podemos esperar pelo retorno delas.]

/人 ‿‿ 人\

O canto das aves e som do gotejar das árvores molhadas era acompanhado pela lâmina da Sayaka, que abria caminho pela floresta, tomando cuidado para que sua capa não ficasse presa nos galhos.

Atrás dela, Kyouko a seguia, com uma mão segurando a lança e a outra a bolsa. “É... Isso vai ser difícil.”

“Parecia que você não tinha acreditado na Nakayama-san quando ela disse que não encontrou nada,” disse Sayaka, “agora você entende, não é?”

Com as costas da sua mão, Kyouko removeu as gotas de água que caíram em sua testa. “Em uma cidade é fácil de procurar por uma, é só ir em pontes, becos escuros, lugares abandonados...”

“Isso. Enquanto aqui ela pode estar debaixo de uma pedra ou até dentro de uma árvore.” Sayaka decepou um galho.

A ruiva assoprou um inseto que a incomodava. “Droga! Se ao menos desse pra sentir ela, mas nem ontem a noite conseguimos.”

“E não havia barreira. Foi bem estranho.”

Elas continuaram com a busca em silêncio, ouvindo atentamente para qualquer surpresa.

Mas nada acontecia além do mesmo.

Incomodada com tempo que estava passando sem progressos, Sayaka resolveu falar. “Sabe, eu andei pensando... Esse lugar é bem isolado. Talvez esse Kyuubey não esteja a par do que aconteceu em Mitakihara.”

“Não, ele só tá ganhando tempo.”

A garota de cabelos azuis ficou surpresa com a resposta rápida da ruiva. “Ganhando tempo para quê?”

“Você viu,” Kyouko continuou, “Seja o que for que ele usa aquelas sementes, esse lugar é uma grande fazenda pra ele e essa sacerdotisa, a sua colhedora.”

Sayaka ficou em silêncio.

Kyouko voltou a falar. “Ele só precisa enviar uma semente pra rosinha, não é?”

Golpeando os arbustos com mais força, Sayaka respondeu, “Não, ele precisa enviar todas.”

A outra garota sorriu. “Heh. E como Madoka vai saber?”

Sayaka estava novamente sem palavras para uma resposta.

Tal desamparo que não passou despercebido pela ruiva, que decidiu mudar de assunto. “Eu também estava pensando.”

“Sobre o quê...”

“Sobre essa bruxa, ou bruxas. Eu tenho uma teoria.” Kyouko olhou pela vegetação. “Uma bruxa pode criar novas bruxas através de seus lacaios.”

“Eu me lembro que você deixava eles matarem humanos para isso acontecer,” Sayaka comentou.

“É melhor você não entrar nesse território, garota,” Kyouko alertou com seriedade. “Bem, o que eu quero dizer é que todas as bruxas que vimos deviam ser lacaios anteriormente.”

“Mas onde eles conseguiram pessoas?”

“Esse é o ponto.” Kyouko olhou para o seu reflexo na lâmina de sua lança, checando se não havia nada estranho andando sobre sua cabeça. “Essa bruxa deve ser especial porque vive em uma floresta. O que mais tem em uma cidade? Humanos. Aqui ela tem que agir diferente.”

Sayaka ponderou. “Bruxas estão em sintonia com as emoções humanas, pois essa é a sua natureza.”

“Vai ver que essa aí encontrou outro recurso. Força vital, talvez?”

A espadachim parou e se virou para a sua amiga. “Então estaríamos em uma floresta murcha.”

“É... É só uma teoria.” Kyouko mordeu os lábios. “Essa quantidade de bruxas não tem explicação, ainda mais se isso é recorrente.”

Elas continuaram pela floresta, por horas procurando qualquer indício que as levassem a bruxa, de galhos retorcidos a rastros de lama. Contudo, as buscas foram infrutíferas.

Chegando em uma minúscula clareira, Kyouko se manifestou, “Vamos parar aqui.” Colocando a bolsa no chão. “Hora do lanche!”

Sayaka viu sua amiga revirar a bolsa e retirar um pacote com barras de cereais.

Kyouko jogou uma para ela. “Algo saudável pra tu.”

Lendo a embalagem, Sayaka constatou que era uma barra de cereal coberta com chocolate. “Não parece muito saudável.”

“É diet,” afirmou Kyouko, “se quer algo mais saudável, tem um monte de folhas bem verdinhas envolta.”

Balançando a cabeça em descrédito, Sayaka abriu e começou a comer. “Acho melhor voltarmos. Deve escurecer mais cedo por aqui.”

“Com certeza.” Kyouko deu uma boa abocanhada em sua barra. “Hmmm... O problema é que vamos voltar de mãos abanando.”

O som de galhos balançando foram ouvidos.

Deixando Sayaka em alerta. “Será que é a bruxa?”

Kyouko colocou o resto da barra entre seus dentes enquanto segurava a lança. “Offu uffmm urffo.”

“Um urso?!”

O animal de pelagem cor pêssego que apareceu entre as folhagens estava longe de ser um urso.

Deixando Sayaka não só aliviada como feliz. “É ela!”

Kyouko baixou a lança e pegou a barra. “Então ela veio atrás de nós.”

O cavalo se aproximou da ruiva, cheirando a bolsa e o que a ruiva segurava.

“Ou da comida,” disse a garota mágica azul.

“Só que esse é meu!” Kyouko comeu toda a barra de uma vez, depois ela pegou outra do pacote. “Vejamos, essa aqui tem maçã, você gosta?”

O animal tentou morder.

Mas a ruiva foi rápida. “Opa! Deixa eu abrir.” Após fazer isso, ela ofereceu para o cavalo, que puxou ela inteira de sua mão. “Ei! Vê se mastiga.”

O som de triturar do animal era alto e claro.

“Eu até te oferecia um Pocky se tua boca não fosse tão grande.” Kyouko passava mão sobre a crina quando notou que Sayaka estava olhando para ela, sorrindo. “O que foi?”

“Nada demais,” a outra afirmou, “só que nós temos ela.”

“É, um prêmio de consolação.” Kyouko olhou para cima. “Se quisermos voltar pra vila, temos que encontrar um lugar bem alto e ver onde ela tá.”

“Deixe comigo!”

Ela viu sua amiga de capa se preparar para um pulo e uma grande aura azul se formar em torno dela. Quando a aura se concentrou no ponto onde estava a garota, a espadachim subiu como um foguete, desaparecendo entre as copas das árvores. Kyouko esperava que ela logo retornaria, mas apenas folhas caíram por longos minutos. “Ué...”

De repente a garota pousou, acompanhada de alguns galhos quebrados. “Eu vi! Nós nãos estamos muito longe.”

“Não estamos?” Kyouko franziu a testa.

“Nós devemos ter andado em círculos.” Sayaka removeu a sujeira em seu ombro.

“Pode ser...” Kyouko acenou com a cabeça. “E viu mais alguma coisa?”

“Como o quê?”

“Só um palpite.”

“Hmmm...” Sayaka fez uma careta. “Não... Só morros e florestas. Agora temos certeza que estamos longe de tudo.”

“Pois é.” Kyouko viu o cavalo fuçando a bolsa. “Ei! Eu vou dar mais quando voltarmos pra vila.”

“Sorte que a bruxa não atacou dela.” Sayaka chegou mais perto das outras duas.

“Sim, mas eu acho que ela não pode nos dizer se viu ela.” Kyouko pegou a bolsa. “Vamos.”

Sayaka apontou. “É naquela direção.”

As três seguiram pela floresta, novamente com a espadachim liderando.

Enquanto Kyouko atraía o cavalo com a bolsa. “Vamos contar pra Gin ou não?”

“Precisamos lidar com essa bruxa primeiro.”

“Hmmm...” A garota mágica vermelha ficou com um olhar desconfiado. “por que você tá evitando de contar pra ela?”

Sayaka continuava a abrir caminho. “Evitando?”

“Não era por causa do Kyuubey? Agora já sabemos o que ele tá fazendo aqui e você vem com outra desculpa esfarrapada.”

“É que...” Sayaka hesitou em dizer, “é que ela é um herói.”

“Herói?” Kyouko ergueu as sobrancelhas. “Que nem a Mami?”

“Não, é diferente,” a outra respondeu. “O povo do vilarejo pode não compreender, mas eles reconhecem os esforços dela em protegê-los.”

“Você entendeu que Kyuubey tá usando ela, não entendeu?” Kyouko indagou. “É por isso que ela precisa saber, quando isso acontecer, estará acabado pra aquele merdinha branco. Ele vai parar de fingir, você vai ver.”

“Eu sei.” Lembranças atormentavam Sayaka. “Mas ela faz isso há anos. Vai ser um grande choque para ela. Eu temo que ela se torne uma bruxa nessas circunstâncias e o vilarejo correr perigo.”

“Nós estamos aqui pra isso,” Kyouko assegurou sua amiga, “Além do mais, ela é adulta, acho que ela agüenta o tranco.”

/人 ‿‿ 人\

A sala da casa era banhada por uma luz quente. As portas de correr estavam abertas e Sayaka, sentada, podia o ver o lado de fora. O céu limpo mostrava esplendor da Via Láctea, normalmente escondido pelas luzes da cidade.

Distante, era ainda possível enxergar a silhueta do cavalo, preso a uma árvore através de uma corda.

Ao seu lado estava sua amiga, Kyouko, deitada sobre o chão de esteiras, aguardando pela anfitriã.

Uma sombra surgiu atrás dos painéis de papel e logo Gin estava abrindo a porta e entrando, com Kyuubey atrás.

A ruiva se sentou e trocou olhares com a sacerdotisa, que encontrou um lugar na frente delas e também se sentou.

Tudo em silêncio, até a mulher de longos cabelos negros falar, “Vocês querem dizer algo para mim? Se for para pedir mais um dia para procurar essa bruxa, volto dizer que não preciso de ajuda.”

“Não é nada disso,” afirmou Sayaka, “mas é algo não menos importante.”

“Sim, é algo entre garotas mágicas,” complementou Kyouko, olhando para Kyuubey.

A criatura fechou os olhos e se virava em direção a saída mais próxima.

“Ele fica.”

Porém ele continuou parado onde estava.

“Esta é minha casa e eu decido quem sai.” Gin sorriu. “O que vocês têm a dizer?”

Kyouko, não torne isso mais difícil. Sayaka levemente abaixou a cabeça. “Bem... cedo ou tarde nós contaríamos isso para você.”

As mãos de Gin agarraram a sua saia vermelha com mais força. “Vocês não são viajantes?”

“Oi?” Sayaka franziu a testa. “Não! Não! Somos sim! Hahahaaa... Só que fazemos isso com um objetivo.”

“Objetivo?”

“Sim,” Sayaka continuou, “nós viajamos para compartilhar uma mensagem de esperança para qualquer garota mágica que encontrarmos.”

“Esperança?”

Kyouko deu um sorrisinho de lado. “Que nem uma pregação. Heh.”

“Pregação...?”

A confusão da sacerdotisa já era algo esperado, mesmo assim Sayaka se sentiu mais nervosa. “Antes disso, você precisa saber uma verdade sobre as garotas mágicas.”

“Uma que esse aí não te contou.” Com um gesto com a cabeça, Kyouko apontou para Kyuubey.

A sacerdotisa e a criatura se entreolharam.

“Nakayama-san, poderia me mostrar a sua gema da alma?”

“Claro.” Gin atendeu ao pedido da Sayaka e a gema brilhante amarela surgiu sobre a palma de sua mão esquerda, com um triângulo invertido dourado em seu topo.

A garota voltou falar, “Você já pensou sobre o que é isso? Sobre o que ela contém?”

Gin ergueu as sobrancelhas. “Minha vida?”

“Hã?” Kyouko ficou surpresa.

“Bem, se ela quebra, eu quebro também.” Gin ficou contemplando o núcleo da gema.

“Você sabe...” A ruiva piscava os olhos, assustada. “I-Isso quer dizer que-”

“Uma garota mágica me contou isso.” Gin veio com um olhar inquisitivo. “Ou vocês acham que são as primeiras que encontrei em minha vida?”

“Longe disso!” Sayaka ficou preocupada com a reação da sua amiga. “Kyouko?”

Mas ela já respirava mais aliviada. “Nada...”

Então Sayaka continuou. “Você quase acertou, na verdade ela contém a sua alma.”

“Minha alma...” Gin sorriu. “Se é ela que me define, faz sentido nos fim das contas.”

“Engraçado,” disse Kyouko, “uma sacerdotisa como você sorrindo quanto a isso.”

“Eu tenho outras coisas para priorizar, não posso me dar ao luxo a esse detalhe.”

Sayaka afirmou, “Mas existem outros detalhes. Seu corpo depende da gema para tudo. É ela que move ele através de sua magia.”

“Sério? Interessante...” Gin moveu os dedos da mão que segurava a gema. “Isso tem haver com fato de eu poder diminuir a sensibilidade do meu corpo?”

“Sim.” Sayaka abaixou o olhar. “Há outro detalhe importante.”

Kyouko falou por ela, “Se você se afastar demais da sua gema, seu corpo para, literalmente.”

“Se afastar demais?”

“Mais de cem metros,” Sayaka acrescentou. “É como se estivesse morta, mas você acorda se a gema é retornada.”

“Hmmm...” Gin acenava com cabeça enquanto absorvia cada sentença ouvida, então olhou para Kyuubey. “Elas têm razão, você não me contou sobre isso.”

[Seria no mínimo redundante. Você sabe o quão precioso é a sua gema da alma e que deve guardá-la bem.]

“Ainda assim, eu gostaria de saber.” Envolta em uma luz amarela, a gema de Gin moldou para a sua forma de anel. Então voltou a sorrir. “Mas eu que não fui esperta o bastante.” Com isso, notou que a expressão da garota de cabelos curtos era mais alegre. “O que foi? É só isso?”

“Eu estava muito nervosa antes,” disse Sayaka, “mas vejo que reagiu bem. Infelizmente, eu tenho uma verdade pior para te contar.”

“Outra verdade?”

“É sobre as bruxas,” disse Kyouko.

“Bruxas...” Gin assentiu. “Uhum...”

Sayaka pressionou os lábios. “Nem sei por onde eu começo.”

Gin examinou o seu anel, deslizando os dedos sobre as runas. “Que tal a parte onde as bruxas nascem das garotas mágicas?”

As duas garotas ficaram estupefatas.

[Elas acharam que você não sabia.] Kyuubey comentou.

“Sim, que estranho,” Gin concordou.

Ainda boquiaberta, Sayaka tentava as primeiras palavras. “E-Então... é... A bruxa de ontem. V-Você sabe...”

Gin fechou os olhos e suspirou. “Um triste legado que uma garota mágica deixou. Vocês não me acham experiente? Isso é algo que se aprende logo.”

“M-Mas...”

“Hehe... HahahaHAHAHAHA...”

Sayaka se calou com a gargalhada de sua amiga.

“...HAHAHAHAAaa... Durante todo esse tempo eu achei que fosse uma tola inocente, mas isso...” Kyouko fitou com fúria para Gin. “Como você pode agir assim sabendo o seu futuro?”

“Meu futuro?! Fala como se meu destino estivesse selado,” Gin retorquiu, “basta eu purificar minha gema que isso nunca acontecerá.”

Kyouko rangeu os dentes. “Você tem alguma idéia do que está dizendo? Você quer se sustentar à custa de outras garotas mágicas?”

“Eu estou sempre lidando com a mesma bruxa, então não é o meu caso. Além do mais, existe outra forma de evitar tal fim,” disse Gin, “caso eu não possa purificar minha gema, então a destruo.”

[E assim nenhuma bruxa nascerá.]

Sayaka olhou para Kyuubey. “O quê?”

“É muito simples,” Gin continuou, “e, respondendo sua pergunta Sakura-san, se uma garota mágica não é capaz fazer isso não seria mesmo que dizer que ela fez por merecer tal destino?”

Kyouko exasperou, “MALDITA!”

Para o desespero de Sayaka. “Acalme-se! Por favor!”

“Eu entendo que fiquem assim, eu já tive a idade de vocês, também acreditava em algumas coisas...” Gin questionou, “você se arrependeram de seus desejos?”

“Por que quer saber?” Kyouko resmungou.

A sacerdotisa deu um leve sorriso. “Então é verdade.”

“Você não sabe de nada!”

Gin ignorou Kyouko. “Fizeram um desejo por alguém, não foi?”

As duas garotas arregalaram os olhos.

Ela continuava. “Quiseram salvar uma vida? Fazer o bem? Talvez em nome do amor... A questão é: vocês chegaram a consultar elas?”

Sayaka virou a face.

“As pessoas não conhecem umas as outras, não se conectam, apenas nossa arrogância inerente nos faz acreditar nisso. Eis o grande engodo que abre feridas.”

A face de Kyouko estava tensa. “Não ouse dizer que meu desejo fora um ato egoísta!”

“Não se culpem, apenas foram imaturas.” Gin balançou a cabeça. “Eu não sou alguém de sangue frio como vocês estão acreditando, nosso mundo é que é. Cheio de sombras... mesmo o da magia. Aceitar isso é única forma de continuar a viver e lutar por algo de bom nele.”

“Não!”

A sacerdotisa ficou admirada com a resposta de Sayaka e de sua expressão mais confiante.

“Isso não é mais verdade. Essa é a mensagem que estamos compartilhando.”

Gin ficou confusa. “O que quer dizer com isso?”

Sayaka voltou a sorrir. “Eu entendo a dor que você fala e sente. Mas isso mudou graças a uma grande amiga minha. Ela fez um desejo por todas nós.”

“Um desejo... por todas as garotas mágicas?!” Gin ficou atônita.

Sayaka confirmou, “Sim! Nunca mais uma garota mágica precisará deixar um triste legado. Nem você, nem essa bruxa, precisarão sofrer.”

Gin se levantou de súbito, punhos cerrados. Sua face era de pura raiva. “Essa é a mensagem de esperança? UMA MENTIRA DESCARADA?!”

“Hã?!” Aquela era primeira vez que Sayaka via a sacerdotisa tão alterada. “Espere! Isso não é uma mentira! E-Eu não terminei ainda.”

[Um desejo por todas as garotas mágicas é absolutamente impossível. O que vocês estão tentando fazer?]

“Kyuubey...” Sayaka olhou para a criatura, com uma cara de nojo.

Enquanto Kyouko gritou. “MADOKA KANAME!”

Kyuubey apenas moveu suas orelhas em resposta.

“É... Eu já sei que você vai dizer que nunca ouviu falar nela.” A ruiva se levantou e apontou para ele. “Você manipulou essa mulher, seu mentiroso desgraçado!”

A sacerdotisa se pôs entre Kyouko e Kyuubey. “Não há manipulação, a não ser a de vocês. O que ele disse é verdade. O que vocês estão tentando fazer? Acha que eu vou parar de defender esse vilarejo? Acha que vão ficar com esse território?”

“Heh. Você nunca vai confiar na gente,” Kyouko afirmou. “Se a gente quisesse, já teríamos tentando.”

“Não, não teriam,” declarou Gin, convencida, “pois nunca houve oportunidade. Eu sempre estive alerta e vocês sabem disso. É por isso que agora vieram com algo tão ridículo e desesperado.”

“O QUÊ?!” As veias de Kyouko saltaram. “SUA... SUA...” Antes que tentasse qualquer coisa, ela sofreu um empurrão.

“KYOUKO! SAI!” Sayaka exclamou para a sua amiga.

Mesmo com a surpresa, Kyouko não havia tirado os olhos da sacerdotisa.

“SAI! AGORA!” Sayaka empurrou ela novamente.

Foi somente então que Kyouko percebeu e se virou para sua amiga, confusa.

“AGORAAAAH!” Sayaka gritou do fundo dos seus pulmões.

Kyouko não sabia se continuava a olhar para ela ou para a sacerdotisa ou Kyuubey. Na verdade, ela não sabia para onde olhar nem o que fazer. “Tch...” Só havia restado uma coisa, ela foi até a porta de correr e a puxou com tanta força que quase a quebrou.

Sayaka respirou fundo enquanto a outra garota desaparecia pela casa.

“Vocês vão embora amanhã de manhã, esse é o prazo que dou.”

A garota se virou e viu a sacerdotisa olhando para o lado de fora.

“Vocês não são mais bem vindas em Arashimura. Nunca mais quero vê-las.”

Então a garota olhou para a criatura. “Kyuubey está mentindo para você.”

“Amanhã de manhã,” repetiu a sacerdotisa.

Sayaka abaixou a cabeça e foi até a saída. Já no corredor, enquanto fechava a porta, viu Kyuubey escalar as roupas da mulher e ficar em seu ombro.

A criatura fitou a garota. Sua face sem expressão, seus olhos que sempre pareciam estar curiosos. Ele pendeu a cabeça e sua cauda alisou os cabelos negros da sacerdotisa.

Tal vista perdurou até que os painéis de papel ficassem no caminho.


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