Make Your Choice escrita por Elvish Song, SraFantasma


Capítulo 24
Ano-Novo


Notas iniciais do capítulo

Oláááááá! Cá estou eu, graças à Senhora Fantasma e à Tiete Drama Total, sem as quais o capítulo não saía nem na paulada! Esperamos muito que gostem!



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— Erik, tem certeza de que quer fazer isso? – perguntou Christine, arrumando a gola de pele do vestido.

— Já saímos outras vezes, meu amor – comentou o Fantasma – por que parece mais nervosa, hoje?

— Bem, não apenas porque o Ano-Novo é muito movimentado, especialmente nas ruas, mas também... Louise aceitou ir conosco à casa de Renée, e a chance de isso dar errado é incrivelmente grande. Se houver uma situação tensa como a do dia vinte e cinco...

— Estaremos lá para lidar com essa situação – o homem abraçou sua amada, que sorriu e envolveu os braços na cintura de seu futuro marido. – chega de nos escondermos, está bem?

— Eu já lhe disse hoje o quanto o amo? – perguntou a pequena, erguendo o rosto. Erik não respondeu, mas beijou sua cabeça, e a abraçou com força, como se sua vida dependesse disso. Confusa, a moça perguntou – o que foi, meu Anjo?

Ele a fitou com olhos maravilhados, e explicou:

— Sempre achei que eu era uma criatura má, Christine. Um monstro no corpo e na alma, mas... Quando a ouço dizer que me ama, quando a tenho em meus braços, todo o ódio e a raiva desaparecem, e o que resta é seu rosto, puro, inocente... A luz que me tira cada dia mais das trevas em que sempre vivi. – ele beijou os lábios da garota – agora vejo que, para ser bom, eu precisava ser amado, e pelo seu amor torno-me cada dia menos quem fui, e mais quem realmente sou. Por você posso ser mano como um cordeiro, e uma palavra sua é tudo quanto preciso para experimentar o Paraíso, meu Anjo luminoso.

— Erik Destler – começou a jovem, com olhos marejados – nunca mais diga para mim que é um monstro! Você é meu noivo, meu Anjo... Meu Erik! E não importa o que aconteça, isso nunca vai mudar! – ela o beijou com todo o seu amor – Eu te amo, hoje e sempre. – e com um suspiro tentou disfarçar as lágrimas que lutavam para escapar – e agora vamos para o coche, antes que você logre seu intento de me fazer chorar e borrar minha maquiagem!

— Fala como se precisasse de maquiagem.

— não precisaria, se meu noivo não me houvesse mantido acordada até de madrugada – ela sorriu tímida e corou, o que fez Erik acha-a ainda mais adorável. Gentil, o músico a conduziu pelo braço até o coche de ambos, e não tardou para que Louise aparecesse também, usando um vestido de festa elegante e comportado, de cetim azul.

— como estou? – perguntou a senhorita de cabelos fulvos, ao que sua amiga respondeu:

— perfeita! Sei que Erik concorda comigo, mas é cavalheiro demais para elogiar uma jovem solteira desacompanhada. – ela fitou seu amado e sorriu para ele, ajudando Louise a subir na carruagem.

O trio entrou no coche e se acomodou, Louise num banco, Erik e Christine em outro; apenas para aquele dia, o Fantasma contratara um cocheiro para leva-los, em vez de guiar o carro pessoalmente, mas não sem antes avisar ao jovem que tomasse muito cuidado para não ferir a boca de César. Como Christine brincara uma vez com Louise, o músico amava tanto aquele cavalo que, qualquer dia, ela acabaria dormindo no quarto de hóspedes, e o cavalo no quarto principal. Isso custara a Erik horas de risinhos das duas, sem que soubesse o motivo.

O percurso até a casa de Renée foi tranquilo, com conversas amenas – muito embora a senhorita Daae pudesse ver o leve tremor nas mãos da amiga. Finalmente parando de ignorar o fato, segurou delicadamente a mão de Louise e falou:

— calma. Tudo ficará bem.

— Sim... Eu sei. – mas tanto seus olhos quanto sua voz não pareciam convencidos disso.

Chegaram à casa da médica na hora prevista, bem no instante em que os carros das Girys e do Persa paravam na rua. Renée estava na porta, usando um esplêndido vestido vermelho com gola e punhos de arminho branco, botões dourados e sobressaia de cetim cor de vinho. Os cabelos louros estavam presos num coque de tranças, e foi com enorme sorriso que ela saudou os amigos:

— Feliz Ano-Novo, meus queridos! – e percebendo que haviam chegado ao mesmo tempo – nunca mais duvidarei da pontualidade de qualquer de vocês!

Erik, Nadir e Antoinette pagaram os cocheiros, que foram gastar o dinheiro recém-ganho em boa bebida, para esperar. Os amigos entraram na casa de sua anfitriã, admirados com o bom-gosto da médica para a decoração de ambientes: as paredes eram cor de pêssego, tendendo ao bege-claro, com mobília branca de adornos art-nouveau dourados. Long-chaises e sofás possuíam estofado amarelo-ouro e almofadas confortáveis; as cortinas nas janelas também eram brancas, tornando o aposento muito iluminado e conferindo a aparência de amplidão. Estantes de livros cuidadosamente organizados, mesa de centro com um vaso elegante e um piano de madeira clara completavam o ambiente, quebrando os tons claros com um pouco de castanho. Em resumo, tudo ali parecia anunciar quem era a proprietária da residência.

— Seu lar é maravilhoso! – elogiou Christine, sincera - foi você quem escolheu o mobiliário?

— Cada peça – confirmou a mulher – ah, sentem-se e fiquem à vontade! – outra mulher entrou na sala, de cabelos castanho-claros, olhos verdes, corpo elegante e curvilíneo acentuado pelo vestido verde-oliva que usava, e rosto de quem não admitia ser menosprezada ou subestimada. Não escapou à jovem Daae os ciúmes nos olhos de Louise, mas a frase seguinte de Renée acalmou os ânimos da moça ruiva – permitam-me apresentar Charlotte Legrise, minha irmã mais nova. O marido está fora, a trabalho, e ela veio passar o Ano-Novo conosco!

— Boa noite, Messieurs, Mesdames – Charlotte se abaixou elegantemente, num cumprimento, estendendo a mão para cada um dos convidados. Os homens beijaram seus dedos enluvados, enquanto as damas apertaram delicadamente a mão que lhes era estendida e se apresentavam. Christine foi a última, desconfortável com a presença nova e um tanto intimidante da outra morena, que ao apertar sua mão sorriu de modo sincero:

— Você é Christine Daae, não é? A soprano!

— Eu era, pelo menos na última vez em que olhei no espelho – a soprano tentou usar o humor para controlar o próprio desconforto.

— Já a ouvi cantar, uma vez: Fausto, eu creio que tenha sido. E li as matérias a seu respeito nos jornais... Quando vi que rejeitou o Visconde Chagny no altar, pensei que era uma mulher insana, mas vendo seu acompanhante, creio que compreendo melhor... – as palavras da outra foram interrompidas por uma cotovelada da irmã, que ralhou:

— Meça as palavras, sim, irmãzinha? Comentar sobre a vida de alguém que você conheceu não é apenas inconveniente, mas constrangedor! – e empurrou-a em direção a uma porta – e se está desocupada, vá ver se o cordeiro está pronto! – tão logo a irmã desapareceu da sala, ela se virou para Erik e Christine – perdoem-me por isso. Ela, bem... Não sabe controlar a língua.

— Percebo que é um dom de família – comentou Antoinette, entre o humor e a acidez de reprovação.

— Está tudo bem, Renée – assegurou Erik, abraçando Christine de modo protetor – ela não tinha como saber.

— Tinha era de ser educada e aprender a não falar o que não é de sua conta. – ela se deixou cair no sofá – de castigo, ela que vai cuidar da ceia, e ai daquela menina e alguma coisa queimar! – e então para os amigos – escolham lugar e sentem-se, não temos espaço para cerimônias, aqui! – levantou-se e foi até as taças sobre o bouffet – alguém aceita vinho? Blanc-sec.

Todos aceitaram uma taça de vinho, inclusive Christine, o que lhe rendeu uma provocação de Meg:

— Beba devagar, Chris, ou vai acabar dormindo antes da meia-noite!

— Vai querer mesmo falar disso na frente de sua mãe, Meg? Você tem mais podres do que eu, nessa área.

— QUAL área? – perguntou Madame Giry, de repente usando toda sua autoridade de professora de balé – Algo que eu precise saber, Meg Giry?

— Nada que você realmente queira saber, mãe. Acredite, eram outros tempos.

— Não, não, não! Esperem um pouco – Nadir ria – agora queremos saber essa história! A toda certinha e meiga menina Giry, fazendo algo inadequado? Que história é essa?

Christine caiu na gargalhada, para total alegria de Erik – que temera ter o desagradável comentário de Charlotte estragado a noite de sua noiva – e declarou:

— O dormitório das bailarinas presenciou mais coisas do que alguém poderia suspeitar!

— Agora quero saber! – pediu Renée, curiosa, então Meg (muito constrangida) e Christine começaram a contar sobre as travessuras e transgressões que cometiam quando mais novas, nos alojamentos, acompanhadas das amigas. Travessuras que iam desde carteados durante a madrugada à leitura de romances “picantes” nem um pouco adequados a mocinhas. Noites de bebedeira, quando roubavam vinho que sobrava de festas, fofocas, peças pregadas em desafetos (como vestidos rasgados, saltos quebrados e cola nos cabelos) e outras coisas mais. No final, Até mesmo Erik estava espantado, quando sua noiva contou como enchera de cola as tranças de uma bailarina que vivia a infernizá-la, chamando-a de “ratinha magrela, duende e gravetinho” e rindo do tamanho diminuto da outra.

— Você era um pequeno demônio! – exclamou o Fantasma – pensei que fosse uma garota boazinha!

— Eu achava que você era um Anjo, então estamos quites aos destruir respectivamente as ilusões que tínhamos um sobre o outro. – riu a moça, levando mais um pouco de vinho à boca. – Ah, que ótimo... Agora Louise terá certeza de que sou uma péssima influência!

— Não é como se eu fosse alguma espécie de santa – declarou a ruiva – mesmo que nunca tenha chegado aos extremos das bailarinas.

— Não vou pedir perdão pelas coisas que fizemos – disse a soprano – treinávamos oito, doze horas por dia, com sapatilhas de ponta que torturavam nossos pés e chegavam a cortá-los até o sangue... Merecíamos um pouco de diversão.

— Por isso eu fiquei bem longe das sapatilhas, mesmo quando minha mãe quis que eu fosse bailarina – riu Celine Hayek – mas a escola de Letras também nos proporcionava muitas ideias... Interessantes.

— Por favor, querida, pare por aí – pediu Nadir – eu realmente prefiro não saber o que você e seus amigos delinquentes faziam.

— E eu era a única moça. – ela riu e se debruçou no ombro do marido – com ciúmes?

— Devo estar contraindo as psicoses de Erik, pois no momento quero ir atrás de cada um daqueles desocupados e os estrangular por desvirtuar você. – Erik ergueu a cabeça, protestando:

— Mas por que eu levei a culpa, desta vez? Estava quieto!

— Hm – Celine tinha uma expressão marota – talvez queira saber que a má influência era eu!

— Que Alá nos livre, então, de deixar você, Christine, Louise e Meg a sós.

— Que Ele nos livre de a deixar a sós com Renée – riu Antoinette.

— Estou sempre levando a culpa de tudo, oras?! – protestou a médica, gargalhando – mas já não ficou bem claro que nenhuma delas precisa de má influência?!

— Tem razão, Renée. Elas podiam te deixar pior do que já é – intrometeu-se Charlotte, sentando-se no encosto do sofá – e, Mademoiselle Daae, Monsieur Destler... Perdoem-me por minha intromissão. Às vezes falo sem pensar e... – ela corou – com todo o respeito, mas não é todo dia que sou apresentada a um homem tão elegante e... Atraente.

Erik pareceu não ter ouvido direito, e olhou de modo confuso para a irmã de Renée: a mulher tinha algum problema?

— Perdão, senhora?

— Bem, o senhor é um homem atraente, mesmo com essa máscara estranha; em verdade, creio que ela lhe dê certo charme misterioso. Talvez não seja adequado uma mulher casada dizer isso, mas costumo dizer o que penso. – ela viu o desconforto do homem – não está acostumado com elogios, não é?

— nenhum que não venha de minha noiva. – ele ignorou a gargalhada de Christine ante sua timidez.

— Perdoe-me se o deixei constrangido. Mas já deve ter percebido, pela convivência com minha irmã, que as D’Albignon não primam por serem contidas.

— Charlotte, ou sossega essa boca, ou volta para a cozinha – ameaçou Renée. – e por falar em cozinha, deixe-me lhes mostrar nosso terraço, de onde poderemos ver os fogos queimando! – a mulher se levantou e conduziu os amigos pela escada; o segundo pavimento abrigava os quartos e salas íntimas, mas os degraus seguiam para um terceiro pavimento. Ali, havia apenas uma sala de convivência cujas portas de folha dupla se abriam para um terraço com parapeitos de ferro trabalhados em formas orgânicas. Alguns vasos de plantas estavam cobertos por estufas em miniatura, de modo que a neve não os queimasse, e o verde dava um colorido agradável ao preto-e-branco da noite de inverno. As estrelas acima cintilavam no ar puro pós-nevasca.

— Não sabia que tinha seu próprio ninho acima da cidade – comentou Antoinette, fitando as luzes adiante – não é lindo?

— Sim... Eu gosto de ar puro, e de poder ver o céu. Acho a cidade muito confinadora, você sabe. – declarou Renée. – é bastante... Libertador.

O grupo se perdeu em conversas sobre assuntos diversos, Charlotte desceu e trouxe um espumante adocicado, servindo-o aos convidados, e o riso empolgado da moça era bastante contagiante. Para surpresa de todos, Louise e Renée conversavam uma com a outra, animadas, falando baixinho e parecendo extremamente felizes! Meg e Christine se entreolharam com surpresa e aprovação, felizes que as coisas estivessem, ao que parecia, resolvendo-se por si sós.

Passaram um tempo agradável naquele terraço, até que Erik chamou a atenção de todos:

— Certo, por favor, eu gostaria de um pouco de sua atenção. – Nadir, já um pouco alto com a bebida, já que nunca ingeria álcool, não resistiu:

— Erik, todos sabemos de sua carência afetiva, mas está ultrapassando um pouco os limites. – Se olhares matassem, o Persa teria caído do telhado e sido atropelado por cinco coches. Entretanto, o propósito do Fantasma era mais importante do que matar o Persa, então isso teria de ser resolvido depois.

— Depois resolvemos isso, Nadir, mas primeiro eu tenho algo importante para dizer. – ele se virou para Christine, que desconfiava ser culpa do álcool a desinibição do Fantasma. Isso e o fato de Lúcifer parecer estar no comando. Ah, Deus, o que ele estaria pretendendo? - Todos sabem que Christine e eu temos vivido juntos nos últimos onze meses... Então, já é hora de ser homem e fazer do jeito correto algo que devia ter feito há um bom tempo.

— Erik, o que... – o coração da soprano estava a mil, mas ele a interrompeu:

— Christine, eu sei que tivemos nossas diferenças, e cometi muitos erros com você. Não sou o tipo de homem com o qual uma moça de sua idade sonha, mas, se houver um Deus, ele é testemunha de que cada segundo meu é preenchido pelo mais puro e profundo amor... Amor por você. – ele estava tremendo, visivelmente nervoso – queria dizer tudo o que você merece ouvir, mas isso levaria a vida inteira, e ainda não seria o bastante, então... O que quero realmente dizer é: Christine Daae... Sabendo quem sou, com tantos defeitos e peculiaridades, mas também que a você pertenço na vida e na morte, e que a amarei até meu último suspiro – ele dobrou um joelho até tocar o chão e tirou do bolso do paletó uma pequena caixinha dourada, que abriu para revelar um lindíssimo anel de ouro, fino e delicado, com três pedras de diamante incrustadas – aceita ser minha esposa?

A soprano cobriu a boca com as mãos, perplexa e exultante: aquilo era a última coisa que poderia esperar! Erik, o SEU Erik, tão tímido, retraído e taciturno, a estava pedindo em casamento na frente de todos os amigos de ambos! Céus! Céus! Só podia ser um sonho! Mas, se fosse, ela mataria quem a acordasse! Finalmente conseguindo encontrar voz, respondeu:

— Sim! Ah, meu Deus, sim! – ela estendeu a mão direita, e o Anjo deslizou o anel em seu dedo antes de beijar-lhe a mão. Ela nem ouvia direito as palmas dos amigos e gritinhos de alegria de Celine, Louise e Meg quando, com lágrimas nos olhos, envolveu Erik num abraço enquanto ele a tirava do chão pela cintura, seus lábios selados num beijo apaixonado!

Quando finalmente ele a pôs no chão e se afastou, ambos estavam corados e tinham sorrisos radiantes nos rostos:

— Eu te amo, senhor Fantasma

— Eu te amo, meu rouxinol – respondeu ele, abraçando-a com todo o seu amor.

— Até que enfim! – exclamou Louise, extremamente feliz em ver o progresso da relação entre seus amigos – Já era tempo, Monsieur!

— Cuidado, Louise – respondeu o músico, com um sorrisinho maldoso – quem tem telhado de vidro não arremessa pedras. – a ruiva ficou da cor de seu cabelo, e sua mão se desenlaçou da de Renée momentaneamente, mas o sorriso de seu patrão a tranquilizou: ali não havia ninguém para julgá-la. – Feliz?

— Se EU estou feliz?! Você quase me matou de alegria! – exclamou a soprano, olhando com encanto o anel em seu dedo.

— Eu pretendia esperar até a queima de fogos – confessou ele – mas pensei que ninguém conseguiria ouvir. – a soprano mordeu os lábios num sorriso contido antes de falar:

— Eu também tenho algo para você... Quero dizer... Bem, talvez eu devesse esperar os fogos. – ela estava dividida entre contar ou não algo que vinha ocupando sua mente há uma semana, mas foi arrancada dos braços de Erik pelas amigas e mãe adotiva, que a abraçavam e felicitavam, falando sobre como ela seria uma linda noiva, como Erik e ela eram um belo par e coisas afins. Erik, por sua vez, era atormentado por Nadir com os típicos comentários cáusticos que utilizavam um com o outro, e nem mesmo as provocações do amigo poderiam deixa-lo menos feliz.

Em meio às moças, Christine perguntou a Renée:

— Por acaso sabe que horas são?

— Os fogos vão começar a qualquer minuto... Faltam... – ela olhou o relógio de bolso – dois minutos.

— Certo, então... – Christine respirou fundo e elevou o tom de voz – é minha vez de fazer um anúncio.

— Mas essa noite está cheia de surpresas! – exclamou Celine, empolgada. – conte logo, Christine! Não seja teatral como seu noivo!

— Erik, eu lhe disse que também tinha algo a lhe dizer... E não haverá momento melhor do que este – ela olhou de relance para o relógio, a respiração acelerada – não estávamos esperando por algo assim, mas... – ela engoliu em seco e, ante o olhar curioso de seu noivo, tomou coragem – Você vai ser pai.

Fogos iluminaram os céus, abafando os comentários de espanto de todos, as luzes colorindo a expressão perplexa e maravilhada do Fantasma quando se aproximou de Christine

— G-Grávida? – gaguejou ele – Christine... É... É v-verdade? – os olhos azul-violeta estavam cheios de lágrimas.

— Sim. – ela sorriu, emotiva – estou esperando um bebê. O nosso bebê.

O Anjo não conseguiu dizer o que fosse: envolveu nos braços a mulher que era seu mais precioso tesouro e cingiu-a contra o peito, totalmente rendido. E nem mesmo a irreverente Charlotte, alheia à trágica história do casal, conseguiu não se emocionar com a cena, especialmente quando ele sussurrou baixinho para a jovem em seu abraço:

— Hoje você me fez, por duas vezes, o mais feliz dos homens.

— Todos os dias você me fez a mais feliz das mulheres. – respondeu a moça, aceitando o beijo na fronte que ele lhe deu. Enquanto isso, os fogos coloridos no céu refletiam com perfeição as emoções do casal.

*

Já era madrugada quando, enfim, os amigos começaram a se dispersar; a ceia fora deliciosa, e as conversas seguiram sem novos momentos tensos. É claro que as outras damas haviam se empenhado ao máximo em paparicar Christine e enchê-la de perguntas, até a garota se voltar para o noivo com olhos que pediam socorro. Compadecidos dela – por mais que a situação os fizesse rir – Nadir, Antoinette e Erik convenceram todas a deixar a jovem respirar, e conduziram a conversa para outro rumo. Renée praguejara uma ou duas vezes o fato de Charles não ter podido vir com a esposa e o filho, pois queria tê-los apresentado aos demais, e Charlotte falou um pouco de si mesma – casada e sem filhos, era bastante dona de si e cursara Belas Artes, trabalhando hoje como curadora no Louvre. Não era muito mais velha que Christine e Louise, contando apenas 24 anos, tal como Celine, e não tardou para Antoinette se virar para Renée e sussurrar:

— Formamos uma pequena quadrilha de jovens praticamente da mesma idade. Boa sorte tentando controla-las.

— Especialmente com minha irmã como chefe desta máfia... – a médica revirou os olhos, divertida.

Após o fim da ceia, quando todos ajudaram a organizar a sala de jantar, os primeiros a partir foram Celine e Nadir; Madame Giry e Meg foram logo depois, restando apenas Erik, Christine e Louise na casa de Renée, bem como a irmã desta. E por falar em Charlotte... A caçula bebera mais do que devia, e agora estava sentada no sofá, rindo sozinha ao olhar para a lareira. Mais uma vez Renée expressou seu descontentamento com um revirar de olhos e menear de cabeça, e foi até a irmã:

— Consegue, ao menos, ficar em pé sozinha?

— Não quero ficar em pé. – protestou a moça – o sofá é maciiiiiiio!

— Charlie, é a última vez que deixo você passar uma festa aqui em casa: está me envergonhando!

A mulher resmungou algo e deixou-se cair no assento, o rosto enfiado nas almofadas. Perdendo a paciência, a médica ameaçou:

— Porte-se direito, ou vou te acordar com água gelada! – mas a moça já dormia profundamente – ah, meu Deus... O que eu fiz para merecer esse karma que chamo de irmã?

Foi a vez de Erik e Christine rirem do desespero da amiga, que pediu:

— Vigiem a criatura enquanto vou buscar um cobertor para ela. Não vou conseguir movê-la daí, mesmo...

— Espere, Renée – Erik se adiantou e levantou no colo a mulher adormecida, que se moveu um pouco e resmungou antes de tornar a dormir. – Para onde quer que a leve?

— Ah, para o quarto de hóspedes, Erik, por favor. Por aqui. – Madame D’Albignon guiou o Fantasma ao segundo andar, enquanto Christine e Louise se sentavam juntas numa long-chaise, rindo. Também estavam levemente alteradas, mas ainda de posse plena das faculdades mentais, o que levou a cantora a perguntar, enfim:

— Percebi que você e Renée parecem bem próximas, outra vez. Posso saber o que houve?

— Bem... – Louise esfregou a nuca, tímida – nós conversamos e... Eu disse a ela o quanto estava assustada e confusa com tudo isso. Ela disse que não iria me pressionar, mas não queria que eu saísse de sua vida. Nós nos beijamos, quando vocês desceram primeiro para a sala e... Bom, parece que voltamos ao ponto inicial. – a ruiva abraçou Christine – obrigada pelo seu apoio. Eu não teria tido coragem de falar com ela, se não fosse por você.

— Não me agradeça. Amigas se ajudam, certo? – sorriu a soprano; não era o progresso que teria desejado para as duas amigas, mas certamente fora mais do que esperara.

Não tardou muito para que o músico e a médica voltassem para a sala, e enfim o trio se despediu da amiga. Estavam exaustos, mas muito felizes!

Após deixarem Louise em casa, o Fantasma e sua noiva voltaram para seu lar; o cocheiro foi pago e dispensado após guardar César, e o casal começou a caminhar para casa, abraçado. Porém, o Anjo sentia os passos de sua amada vacilantes, e se preocupou:

— Meu amor, está tudo bem?

— acho que o champanhe me subiu à cabeça... Estou um pouco tonta. – respondeu ela. Em reação imediata, o mascarado a ergueu nos braços, o que fez a jovem sorrir, beijá-lo nos lábios e se aninhar no peito forte. Quando chegaram em casa, já estava adormecida, e foi com infinita ternura que o homem a levou para o quarto. Deitou-a com delicadeza e a cobriu, deitando-se então ao seu lado:

— Boa noite, minha deusa da música. – beijou a fronte da garota e pousou a cabeça no travesseiro, abraçando o corpo franzino da noiva. Aquela noite fora a mais perfeita de toda a sua vida. Sem perceber, sua mão pousava sobre o ventre de Christine, onde o filho de ambos se aninhava, sem nem suspeitar o quão amado já era.


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Notas finais do capítulo

E então? Nova personagem (quem gostou da Charlotte?), bons amigos, Louise e Renée dispostas a recomeçar do zero, pedido de casamento adequado (sem sequestrar a noiva, nem tentativas desastrosas de dizer a ela que o casamento não era sua única opção, rsrsrsrs) e, finalmente, Erik Júnior a caminho! O que esperar para uma gravidez de Christine, logo quando ela começa a se recuperar de fato?
Deiem reviews, amores!
Beijos!