Estou sentado num dos bancos de pedra do pátio norte do palácio. Limpo as gotas de suor que deslizam pelo meu rosto. O sol de verão brilha quente e intenso. Esforcei-me mais do que o usual neste treino de esgrima. Ainda não consigo encarar bem as espadas, mesmo ao fim de todo este tempo.

Desviei o olhar da lâmina que está ao meu lado e vi-a. Vi aquela pequena menina, correr na minha direção, com um sorriso no rosto e braços abertos. O vestido branco a esvoaçar com o movimento.

Branco… porque não me surpreende que seja branco?

Trepou agilmente para o banco e fez o mesmo de todos os dias, desde que aqui chegou: abraçou-me e beijou a minha face, ignorando o meu corpo suado, e sussurrou-me o seu agradecimento.

Quando me soltou o pescoço, deparou-se com a espada. Os olhos ametista esbugalharam, como que em reconhecimento. Examinou-a demoradamente e depressa a curiosidade estampou-se-lhe no rosto.

— Estiveste a treinar?

— Sim, estive.

— Treinas muito, não é? Porquê?

Arrumei-lhe os fios de cabelo desalinhados atrás da orelha e ponderei sobre a resposta.

É verdade. Para quê tanto treino?

— Porque devo estar preparado da melhor forma possível, para proteger aqueles que amo.

— A sério? Então… quando eu for mais crescida, ensinas-me a manejar uma espada?

Creio que, por momentos, empalideci e juro que o chão fugiu debaixo dos meus pés. Fui apanhado desprevenido. Pensei que ela fosse ter medo de espadas e não vontade de aprender a usá-las.

— Lis, as armas não são propriamente para senhoras. Não estou muito convicto.

— Mas se eu não souber lutar… como é que vou poder proteger-te?

Não consegui evitar um suspiro. Como responder àquilo? E como evitar este sorriso tosco que me invadiu os lábios?

— Garanto-te que tal nunca será necessário. Não te preocupes com isso.

Apesar do adorável ar amuado, ela não contestou a resposta. Tomara que não volte a tocar no assunto…