A corrente de pensamentos que prendiam Casper naquele momento foi, subitamente, quebrada pelo som da porta a bater. Após autorizada a entrada, a empregada que antes havia cuidado de Lis, entrou no escritório com uma breve vénia ao seu rei.

— Acabei de deitar a menina, majestade. Ainda estava exausta e adormeceu logo. É impressionante como ela se parece com a senhora…

— De facto.

— Senhor… eu vi enquanto a ajudava no banho. Ela tem uma mancha no ventre e outra nas costas, paralelas entre si. Exatamente no…

— … No mesmo local onde a minha espada trespassou a Princesa…

— Sim…

— A vida quererá pôr-me à prova novamente? Ou será que me presenteia com uma segunda oportunidade? – fez uma pausa. - Quando vi a Lis… quando a vi… - a voz sumiu-se ao concluir a frase. – o tempo, simplesmente, parou…

— Compreendo senhor. Tenho a certeza que a menina lhe trará muitas alegrias e irá ajuda-lo a preencher as lacunas causadas pelo passado.

— Assim espero. Obrigado por cuidares dela. Podes retirar-te.

Sem mais delongas, com uma última vénia, a empregada retirou-se para os seus afazeres.

*

A vida no palácio principal mudou da noite para o dia com o aparecimento daquela criança. Os corredores tornaram-se mais alegres com o ecoar dos seus risos pelas paredes e mais agitados com a sua correria.

Ela foi o raio de Sol que surgiu para iluminar o negrume dos caminhos percorridos pelo Príncipe Negro desde a morte dela.