Para que não se sinta sozinha escrita por Nanahoshi


Capítulo 3
Posso te pedir um favor?


Notas iniciais do capítulo

Bom, aí está a terceira parte. Espero que gostem *-* Quando eu animar, escrevo a próxima, pq a PixelKiyoshi insistiu que era necessário mais um detalhe na história.

Boa leitura!

Nota: 3700 ienes = aproximadamente 118 reais.



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Kazuki espetou o macarrão com o garfo e começou a girá-lo até que a quantidade de espaguete lhe agradasse. Soprando com expectativa, a menina olhou fixamente para a massa coberta com molho avermelhado antes de introduzir o conteúdo preso no talher na boca.

O sabor se espalhou quente e delicioso por toda a extensão de sua língua e ela mastigou com vontade.

—Suge! Kagami-kun, você cozinha muito bem! – ela exclamou sorrindo para o amigo que se sentara de frente para ela.

—Hm... – ele olhou sem jeito para seu prato repleto de espaguete. – Obrigado.

Kazuki enfiou duas garfadas seguidas na boca e mastigou com as bochechas estufadas. Quando engoliu ela gesticulou com o garfo e suspirou:

—Minha vó sempre diz que quem cozinha bem pode casar. Ela brinca comigo dizendo que nunca vou casar porque não sei cozinhar bem. – e dizendo isso, a garota riu.

Kagami agradeceu silenciosamente por ter colocado duas garfadas fartas demais na boca naquele momento, o que deu a desculpa perfeita para que ele permanecesse em silêncio enquanto sentia o gosto do macarrão e o calor subindo por todo o seu rosto. Era estranho imaginar uma menina tão nova envolvida com assuntos sobre casamento, mas por algum motivo, Kagami pensou que Kazuki daria sim uma boa esposa no futuro por mais que ela não soubesse cozinhar bem. E isso não ajudou o rubor de suas bochechas diminuir.

"Droga, no que que eu tô pensando?", ele ralhou consigo mesmo mentalmente.

Por sorte, a garota interpretou errado a vermelhidão que se espalhara pela face de Kagami.

—Ugh! Que calor! – ela segurou a gola da camisa e agitou-a. – Comer comida quente nesse calor sempre me deixa com muita preguiça.

—É, tá quente mesmo. – ele comentou antes de colocar outra garfada na boca.

Quando se sentiram satisfeitos, Kazuki se levantou e recolheu os pratos juntamente com os copos e talheres. Quando Kagami fez menção de se levantar para ajudá-la, ela balançou a cabeça e disse:

—Você fez o jantar. Eu lavo a louça.

Ainda assim o ruivo se colocou de pé e avançou até conseguir alcançar a mão da menina que segurava os copos.

—Você me ajudou a cozinhar, então eu te ajudo com a louça. – ele disse com a voz firme olhando fundo nos olhos heterocromáticos de Kazuki.

A menina sentiu o corpo congelar diante do olhar escarlate de Kagami, e um estranho formigamento se espalhou por seus membros deixando-a ainda mais inerte. Ele tomou os copos de sua mão e pegou os talheres pousados sobre os pratos e levou-os para a cozinha. A garota permaneceu parada piscando atônita.

O que tinha sido aquilo no olhar dele? Aquela intensidade... Ela só tinha dito que ia lavar a louça por ele ter feito o jantar.

O que ela tinha visto era... preocupação?

Enquanto isso, diante da pia, o ruivo lavava os talheres com o rosto apreensivo. Se ele não agisse logo, iria embora para casa sem dar o presente para Kazuki. E agora, dar aquela bola de basquete para ela significava muito mais do que antes. Ele precisava fazer aquilo.

A garota apareceu momentos depois com os pratos e colocou-os na pia.

—Pode deixar que eu lavo o resto. – ela disse assim que Kagami terminou de lavar sua parte.

Ele suspirou e sorriu de leve.

—Tá. Só dessa vez.

Kazuki sorriu agradecida e dedicou-se a lavar o que sobrara. Kagami voltou para a sala e se dirigiu-se para sua mochila que deixara sobre o sofá. Parou ao lado dos braços beges e surrados e ficou observando o embrulho prateado no fundo da mochila que estava entreaberta.

Por que aquilo parecia tão difícil de fazer?

Enquanto travava uma luta interna para decidir como dar o presente à Kazuki, Kagami perdeu completamente a noção do tempo e do espaço. Parecia que apenas alguns segundos tinham se passado desde que começara a brigar consigo mesmo olhando para sua mochila quando a voz da menina soou atrás de si.

—Kagami-kun?

Ele virou num sobressalto e olhou com os olhos levemente arregalados para ela.

—Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou se aproximando com o rosto preocupado.

—N-não! – exclamou Kagami balançando a cabeça e olhando para o chão. Ele levou a mão ao pescoço e esfregou sua base enquanto seus olhos giravam para contemplar o teto. – É só...

Kazuki interrompeu a aproximação e fitou-o com o olhar perdido e meio triste.

"Será que... eu fiz algo de errado?", ela se perguntou em silêncio.

Kagami começou a sentiu seu peito sendo comprimido quando a tristeza e a insegurança se intensificaram no olhar da menina. Ele suspirou para tentar espantar a sensação e olhou para os próprios pés.

"Pare de ser tão covarde e dê logo o presente!", ele se repreendeu internamente apertando os olhos enquanto tentava reunir coragem.

Um surto súbito de confiança espalhou-se por seus membros e ele estendeu a mão para a mochila e introduzindo o braço esquerdo até o fundo.

—É que... Tem uma coisa que eu queria te dar.

Kazuki piscou várias vezes sem conseguir proferir uma única palavra. Parecia que todas elas tinham se amontoado num engavetamento no fundo de sua garganta.

Kagami puxou o que quer que estava no fundo da mochila bem devagar, tendo o cuidado de encaixar bem a mão sob a bola para que ela não caísse. Quando o embrulho prateado entrou no campo de visão de Kazuki, seus olhos heterocromáticos se arregalaram. Suas íris tremeram e uma sensação nostálgica acertou-a em cheio no meio do peito.

—Aqui. – ele deu dois passos na direção dela e parou. – Isso é para que não se sinta tão sozinha.

Entre as mãos do camisa dez, um embrulho redondo e prateado repousava amarrotado. Ela não precisava desembrulhar para saber o que era. Tremendo, Kazuki estendeu as mãos e pegou o embrulho. Como se segurasse a coisa mais delicada e valiosa do mundo, a garota girou-a até achar o laço e puxou-o com cuidado. O papel afrouxou-se ao redor do objeto redondo e ela pôde puxá-lo facilmente, revelando finalmente uma bola de basquete novinha em folha.

E não era qualquer uma. Era uma Spalding Silver da NBA oficial.

Uma bola daquela não custaria menos de 3700 ienes*.

—K-Kagami-kun... – Kazuki gaguejou sentiu um bolo de soluços se formando no fundo da garganta.

Lágrimas grossas empoçaram seus olhos e ela começou a soluça antes que elas escorressem. Sem aviso ou sinal, Kazuki largou a bola e atirou os braços ao redor da cintura de Kagami, a maior altura que ela alcançava com conforto. Ela enterrou o rosto na camisa do ás da Seirin e chorou com vontade.

Pego completamente de surpresa, a única coisa que o ruivo conseguiu fazer a princípio foi ficar estático com os braços levantados e crespados. Depois, quando foi capaz de assimilar melhor os sons dos soluços da menina, uma necessidade gigantesca de fazê-la parar de chorar tomou conta de seu peito e ele abaixou os braços pousando suas mãos na lateral dos bracinhos de Kazuki.

Kagami permaneceu em silêncio olhando de forma triste para o chão diante de si enquanto o choro da garota reverberava pelo apartamento. Era óbvio que ela tentava controlar com todas as forças a altura dos soluços, mas seu esforço não era muito efetivo.

—K-kagami-k-kun. – ela soluçou apertando os braços ao redor da cintura do jogador. – Posso te pedir um favor?

O ruivo arregalou os olhos e fixou-os no topo da cabeça da menina.

—Ahm, sim. O que é?

A menina soluçou e depois inspirou fundo.

—Você poderia vir mais vezes me ensinar a cozinhar?

Diante do pedido da menina, o ruivo fechou os olhos e ergueu as mãos para poder envolver os ombros trêmulos da menina.

—Baka. – ele murmurou. – Eu não disse que te transformaria numa digna cozinheira?

Ele ouviu algo que lembrava uma risada, e inconscientemente seus lábios se curvaram.

Os dois permaneceram muito tempo naquela posição, a menina agarrada ao adolescente e ele envolvendo os ombros oscilantes dela. Aos poucos, os soluços foram se tornando mais esparsos e Kazuki parou de tremer. Lentamente ela se afastou de Kagami, os braços que o envolviam encolheram-se para que ela pudesse enxugar as lágrimas que encharcavam seus olhos. Ele a soltou no mesmo ritmo com que ela se afastou, e estranhamente o ruivo sentiu como acontecia com ambos na quadra: seus movimentos sincronizando-se perfeitamente como se tivessem ensaiado tudo.

—Me desculpa. – ela fungou esfregando o olho negro. – Eu não queria...

Sua voz minguou quando as palavras fugiram e ela sentiu o rosto esquentando de vergonha. Tudo efluira de forma tão violenta juntamente com as lembranças de seu aniversário de oito anos... Ela não conseguira se controlar.

—Está tudo bem, Kazuki. – disse Kagami tentando soar o mais compreensível possível. Ele voltou a pousar a mão sobre a cabeça dela e bagunçar seu cabelo. – Fico feliz que você tenha gostado.

Nesse instante, Kazuki teve coragem de erguer o rosto e encarar o olhar escarlate de Kagami, mas o que viu arrancou todo o fôlego que ela conseguira recuperar. O ruivo abrira um sorriso enorme para ela, o mesmo sorriso que ela via nas quadras quando ele começava a se divertir com o jogo. O sorriso que a deixara completamente fascinada na primeira vez que o vira.

Ondas de calor se espalharam pelo corpo da menina e seus lábios se curvaram sem que ela percebesse, retribuindo o sorriso brilhante do camisa dez.

—Uhum. Eu gostei muito. Foi o melhor presente que recebi em muito tempo.

Dessa vez, quem foi pego de guarda baixa foi Kagami. Seu sorriso minguou para uma expressão de espanto, que mudou automaticamente para uma de embaraço. Ele levou a mão ao cabelo e correu os dedos entre os fios avermelhados.

—Nossa... Fico muito feliz. Sério. – ele disse rindo sem graça.

Kazuki riu e se abaixou para pegar a bola que deixara cair ao abraçar o amigo. A menina colocou suavemente o eixo da esfera laranja sobre seu dedo indicador e girou-a com a mão livre. A bola permaneceu ali em perfeito equilíbrio.

—Vou treinar todos os dias com ela. – e dizendo isso ela empurrou a bola para o alto e, quando a esfera tornou a descer, agarrou-a com um movimento rápido das mãos.

Kagami sorriu diante da euforia da menina e girou para pegar sua mochila. Jogando-a sobre os ombros, o ruivo se encaminhou para porta.

—É isso aí. Seremos bicampeões da Winter Cup.

Ele virou-se novamente para Kazuki e estendeu o punho. A menina piscou atônita, mas um segundo depois sorriu e socou o punho cerrado de Kagami.

—Hai! – ela bradou sorrindo.

—Bom, eu vou indo agora porque senão fica tarde. – ele acenou e abriu a porta. Kazuki acompanhou-o até o hall e os dois esperaram o elevador em silêncio. Quando a porta se abriu revelando a cabine iluminada, Kagami virou-se para a garota para se despedir mais uma vez.

—Até amanhã, Kazuki. – ele disse acenando com dois dedos.

—Jyah nah, Kagami-kun. – ela sorriu e baixou os olhos para sua bola nova aninhada em seus braços. – Muito obrigada. De verdade.

Um leve rubor assaltou as bochechas de Kagami pela milionésima vez naquele dia, mas dessa vez ele sentiu algo bom. Sorrindo de leve, ele entrou para dentro do elevador e disse:

—Não tem de quê. Faça bom uso.

***

De volta ao apartamento vazio, Kazuki dirigiu-se cegamente ao sofá e sentou-se encolhida com a bola comprimida entre suas coxas e seus braços. Estava zonza pela quantidade de emoções que sentira em apenas um único dia, mas felizmente, a maioria delas tinha sido boa.

Ela repousou a cabeça de leve sobre seu presente e fechou os olhos. Várias imagens dos treinos e dos jogos da Seirin piscaram na escuridão, e um vulto em específico se destacou dos demais.

Ela viu Kagami correndo para bloquear um arremesso de Marcus, depois viu-o enterrando violentamente depois de correr vários metros fugindo da marcação, viu seu olhar determinado diante do adversário pronto para um mano-a-mano.

Seu coração se acelerou diante daqueles flashes, e ela abraçou com mais força o presente do camisa dez. Depois de tudo, ela não podia mais mentir para si mesma, e por incrível que pareça, ela estava feliz de não precisar mais tentar convencer a si mesma que Kagami não passava de um bom amigo.

Novos flashes piscaram contra suas pálpebras fechadas e seus lábios se curvaram gradualmente num sorriso sutil.

"Isso é para que não se sinta tão sozinha".

Gradualmente, o vazio que a acompanhava constantemente desde que se mudara para Tóquio pareceu ser preenchido por alguma coisa nova e diferente. De forma lenta e progressiva, Kazuki ergueu o rosto e abaixou suas pernas, seus olhos heterocromáticos se abrindo para fixarem-se na bola de basquete aninhada entre suas coxas e mãos

Ao encarar a superfície curva, o laranja se desbotou e deu lugar a uma lembrança, a lembrança que a acompanharia todos os dias no lugar da solidão: o sorriso vivo e brilhante de Kagami Taiga.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam?? Gostaram do shippe? Ficou legítimo? *-*

Obrigada à todos por lerem! Beijos!



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