Não sabia se chorava ou ria, poderia ser engraçado um dia lá no futuro quando eu lesse meu diário para um dos meus filhos, não sei, mas agora eu estava em pânico, analisei rapidamente na minha cabeça, quais seriam as chances de isso ser um problema, e de existir outra pessoa com o nome de Cebola no mundo, a resposta de ambas não me ajudaram em nada.

De repente o melhor seria ele realmente não me ligar, nem mandar mensagem, e nem se lembrar do meu rosto se um dia me encontrar na rua, mas como eu faço para minha expectativa entender isso?

Voltei para o diário e atualizei os últimos acontecimentos em silencio, a tempo de ouvir meu pai me chamando para ir embora.

Peguei meu fone e me despedi do meu irmão, eu sabia que no fundo ele me amava, igual ou até mais do que o que eu sentia por ele, mas a vontade de me encher o saco prevalecia e talvez essa fosse uma forma do Titi demonstrar.

“Ele teria um ataque se descobrisse o que fiz ontem, me mataria, contaria pro meu pai, que também me mataria, e contaria pro Cebola que nunca mais iria olhar na minha cara. Não parece um final bom para a Cinderela” terminei de escrever no meu diário e o guardei na bolsa, olhei pela janela do carro e vi a placa Ribeirão se aproximando, desejei que aquela noite junto com a cidade que eu acabava de deixar, ficasse para trás.

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POV Cebola

Sai do jogo cansado e ainda tive que atualizar o Titi sobre tudo o que rolou, comecei a contar por telefone, mas ele me importunou tanto, que como era caminho dei um pulo na casa dele, cheguei a tempo de ver seu pai sumir no final da rua com o carro, levando parece que a irmãzinha mais nova dele pra casa, uma pena que não consegui ver o Seu Sousa, ele é uma ótima pessoa.

Passei mais uma hora inteira narrando o jogo, contando as faltas cometidas, e montando novas táticas com ele e com o Cas que chegou logo em seguida, só mudamos de assunto quando nos lembramos da festa da faculdade.

— Verdade cara, você meteu o louco na festa hein – Titi me falou ligando a TV para assistirmos – Na hora da foto do time você nem tava lá.

— Meti nada, não tenho culpa se você estava acompanhado, eu tava solto e encontrei uma gata, não ia perder a mina por causa de uma foto – Me defendi rindo.

— Aff, pelo menos você né, porque eu não achei uma mina que me interessasse naquela faculdade - Cascão se queixou deitando na poltrona.

— Ah pode crer, eu vi você num canto la do balcão, ela é da facul? – Titi me perguntou.

— Acho que sim, agora que você falou que me toquei, ela disse que faz Jornalismo mas não perguntei onde, vou ver se procuro ela amanhã, o prédio de sociais é o último não é? – Eu perguntei lembrando de adicionar o numero dela na agenda do celular.

— Ai sim, é sim... Muito bem, esse é meu garoto, manda ver careca!!! – Titi me parabenizou encostando-se à cama – Pelo menos pegou o whats da gata?

— Clarooo Titi, você está falando com um profissional – Eu conclui rindo.

— Aposto que nem o nome da mina você lembra – Cascão desafiou se espreguiçando.

— Claro que lembro, é Mel, não tem como esquecer – Respondi dando um murro em seu braço.

— Ihhhhhh, ta apaixonado – Titi zoou prestando atenção da TV.

Só fomos embora quando bateu o sono e lembramos que na segunda o dever nos chamava cedo. O processo seletivo para meu estágio era essa semana e eu estava ansioso, primeiro para atuar na minha área e depois para diminuir a carga horária diária, ultimamente andava sem tempo até para pensar.

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POV Monica

Chegamos em casa junto com o cair da noite, o céu despontava algumas estrelas indicando que o próximo dia seria no mínimo quente, as despedidas do meu pai eram sempre difíceis tanto para mim quanto para a mamãe, que ficava um pouco deprimida quando o via, ambos tentavam disfarçar, mas quem os conhecia sabia a saudade que sentiam um do outro, tentei distrai - lá contando por cima como foi o final de semana com o papai e quando percebi que ela se acalmou, subi para dormir.

Nem me atrevi a encostar no celular, tinha a mania de mexer até cansar no aparelho e quando me dava por conta eram altas horas e eu não tinha nem pregado o olho, coloquei meu diário embaixo do travesseiro como sempre fazia para manter meus segredos próximos a mim e aos poucos peguei num sono tranqüilo.

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Quer saber uma coisa que nunca acostumei? Acordar cedo. E olha que desde pequena estudo de manhã. Olhei pela janela e vi que alguns vestígios de Sol já despontavam ao longe, indicando o amanhecer.

Levantei desejando profundamente que pudesse dormir por pelo menos mais 10 horas, tomei um banho para acordar, me arrumei, peguei a mochila e desci correndo para comer. Olhei no relógio e instantaneamente percebi que estava atrasada, na pressa nem senti o gosto do pão que engoli sem mastigar direito. Ainda bem que minha mãe não percebeu, ela vivia correndo ainda mais que eu.

Despedi-me dela que arrumava em cima da cômoda suas coisas para o trabalho, enchi minha garrafa térmica de café, que era uma espécie de combustível para mim e voei para a escola, era consideravelmente perto de casa, então não demorei a chegar, encontrei a Maga no portão do colégio me esperando e a abracei quando a vi.

— Hey, que saudade! – Ela me falou assim que entramos no pátio.

— Eu também amiga, me conta como foi seu final de semana? – Eu perguntei imaginando como começaria a lhe contar sobre o meu.

— Ah foi até que legal, não pensei muito no Quim, estudei, sai com meus pais, aproveitei bem, e o seu? – Ela perguntou fazendo minha ansiedade dar nós no meu estomago.

— O meu foi surpreendente, Maga, você não vai acreditar, eu fui com a De na festa da faculdade do meu irmão – Contei rindo enquanto sentávamos nas nossas mesas.

— Que? Não acredito, o Titi te levou? – Ela perguntou surpresa.

— Não, você conhece ele amiga, ele jamais me levaria – Continuei contando de braços cruzados – A Denise conseguiu ingressos e fomos escondidas.

— Monica, você só pode estar louca – Ela respondeu rindo – Não acreditoo, conta tudooooo.

— Maga, a festa foi sensacional, e eu fiquei com um cara muito mais muito gato. – Contei lembrando.

Ela levou as mãos à boca sorrindo, percebi que queria que eu continuasse contando.

— Ele se chama Cebola, faz Educação Fisica, tem 23 anos, tudo muito lindo, você sabe que gosto de carinhas mais velhos né?! Só que tem um mega problema – Conclui diminuindo o tom de excitação na minha voz.

— Qual? – Ela perguntou ansiosa.

— Ele é da sala do meu irmão, tenho certeza, domingo eu os ouvi conversando pelo celular – Choraminguei.

— SOS – Ela sussurou aflita – Isso é um perigo.

Continuei a contar por mais meia hora sob muitas pausas para broncas. A Maga não admitia muito quebra de regras, e me deu mil recomendações e sermões a respeito da possibilidade do Titi descobrir tudo.

A expliquei diversas vezes que não falei meu nome verdadeiro, e acho que isso a acalmou um pouco, mas mesmo assim me recomendou que não voltasse a fazer tal coisa, e ela estava certa, alias a Maga sempre estava certa, cuidava de mim como uma irmã, e eu valorizava bastante isso.

Fomos interrompidas pelo sorriso mais lindo da escola toda e certamente pelo motivo no qual a Maga esperaria que eu não tornasse a falar com o Cebola. Toni entrou na sala jogando os cabelos fazendo metade das meninas suspirarem, ele vinha em minha direção e a Maga como sempre educada, se levantou para nos deixar a sós.

— Oi Gata, te liguei ontem a noite você não atendeu – Ele falou dando um beijo em minha testa.

— Oi Toni, ah eu dormi cedo, cheguei da casa do meu pai super cansada, desculpa – Contei a verdade.

— E ai, quer sair essa semana? – Ele perguntou lançando uma piscada daquelas que fazem as pernas fraquejarem.

— Hum, pode ser, que tal na sexta? – Perguntei depois de pensar um pouco.

— Claro, demorou! – Ele concluiu me dando outro beijo na testa e saindo rumo a sala dele do terceiro ano - Me liga pra eu te buscar em casa.

Algumas meninas da sala o acompanharam com o olhar, e eu as fulminei quando percebi, ta bom que eu não queria namorá-lo agora, mas isso não significava que estava disponível para as outras.

Era semana de revisão para as provas finais, a sala estava inquieta e eu só queria voltar pra cama. Sempre fui bem nas matérias, então não me preocupei nem um pouco em prestar atenção na aula de literatura que estava rolando, abri meu diário e comecei a escrever sem parar, esquecendo totalmente o que acontecia do meu lado.

Mesmo assim a hora passou arrastada e parecia que a ultima aula que por sinal era de física não acabaria nunca, pra piorar eu ainda teria mais duas horas de treino de vôlei sem parar para nada.

Assim que o sinal tocou a Maga correu para o meu lado e saímos juntas conversando sobre o convite do Toni.

— É claro que você aceitou né? – Ela perguntou certa da resposta.

— Sim, aceitei, mas não estou tão afim assim dele, não quanto das últimas vezes – Respondi a empurrando de leve.

— Ai louca, vai me dizer que o carinha lá mexeu tanto assim com você?! – Magali cruzou os braços me olhando.

— Não é isso – Eu respondi seca – Não viaja!

— Bom, seja o que for, tome cuidado, não quero você machucada e esse carinha parece ser problema – Ela concluiu entrando no vestiário com as outras meninas do time, indicando que a conversa teria que terminar ali.

Troquei-me tranquilamente, guardei tudo dentro da mochila e a enfiei no armário, fechei a portinha sem nem ao menos perceber que o celular começou a vibrar sem parar, deixando duas chamadas perdidas para trás.