— To precisando trocar uma ideia Titi – Cortei a animação dele no meio com meu tom melancólico.

— O que foi mano? Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou preocupado.

— A cara, a mina que eu tava saindo – Contei ainda parado com o carro. – Preciso de uns conselhos.

— A Mel? Que foi? Vai me dizer que fez burrada bem agora que a mina tava na sua – Ele implicou do outro lado.

— Bora pro barzinho do campus? Te conto tudo lá – Perguntei colocando o cinto – Ou a Aninha embaça?

— Pega nada, vamos, to indo pra lá, vou chamar o Cas também demorou?! Me encontra na mesa de sempre – Ele concluiu desligando o celular.

Joguei o aparelho no banco do carona e dei partida no carro, chegaria em alguns minutos, sabia que não podia faltar nas aulas em pleno último ano, e muito menos fazer meus amigos não irem também, mas precisava desabafar, ouvir outras opiniões, e era isso que eu iria fazer naquela noite.

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Estacionei o carro na primeira vaga que encontrei assim que entrei na faculdade e caminhei pensativo para o bar, era o único lugar do campus que dava para conversar em horário de aula, somente durante mesmo porque nos intervalos o local lotava.

Avistei os dois de longe e me aproximei tentando ao máximo não demonstrar minha tristeza.

— Fala careca! Entraram umas minas gatas demais na sala, como foi faltar logo hoje? E também na Primeira aula de TCC? – Cascão perguntou me cumprimentando com um aperto de mãos.

— E ae cara, firmeza Titi? – Cumprimentei os dois – Nem deu, precisei resolver um problema antes.

— Ihh, quem apresenta os problemas nessa mesa sou eu cara, eu que tenho a namorada mais ciumenta do mundo – Titi brincou comendo uma calabresa da porção que tinham acabado de pedir.

— Pode crer, por isso sou solteiro – Cascão respondeu rindo.

— Não! Você ta solteiro porque toma vários foras isso sim – Brinquei tentando descontrair, fazendo todos rirem.

— Errado! Estou solteiro por que não encontrei a mina certa – Ele se defendeu.

— Aham... Mas conta ai, o que aconteceu? – Titi perguntou.

— Ah velho, me enfiei numa enrascada – Comentei, pedindo algo para beber.

— Você não tava mó bem com aquela gatinha lá que pegou na festa da facul? A Mel? Até deu um fora na Amanda, avião da sala – Titi questionou encafifado.

— Pode crer, deu fora na Amanda... Mó gata! – Cascão concordou.

— Então, estava, cara ia até pedir ela em namoro, colocar aliança e tudo mais, estava disposto a tudo isso – Contei desanimado.

— Da hora, até que enfim, nunca engata em nada – Cascão zoou.

— Tá! Mas ai tudo mudou, descobri que a mina mentia pra mim – Conclui passando as mãos nos meus cabelos que esvoaçavam sob a brisa noturna.

—  Ih cara, que vacilo! Qual mentira ela contou? – Cascão perguntou interessado.

— Ela é minha aluna velho! Lá do Colégio Limoeiro, não está na faculdade – Contei lamentando.

— CARACA, ai ferrou – Titi comentou fazendo careta – Provavelmente é menor de idade também...

— É velho, e é da sala da minha irmã, olha a responsa. E o colégio é super rígido, a chance disso ser aceitável é quase zero. – Falei dividido entre o riso e o choro, se não fosse trágico, seria cômico.

— Sem contar que se os pais dela te denunciarem, você pode até ir preso por ser professor e se envolver com aluna menor de idade – Cascão completou apreensivo.

— É, eu sei, mas eu estou muito envolvido, ta meio difícil aceitar isso – Reclamei dando um murro de leve na mesa.

— Ta amando careca? – Titi perguntou rindo – Olhai o que a mina fez com ele.

— To cara, e agora tenho que vê-la todo dia no colégio, e simplesmente ignorar? Não agüentei nem presenciar um colega dela de classe chegando perto, me deu vontade de grudar ele na parede, mas cara, ele é meu aluno também já pensou perco a cabeça? Vou ficar louco – Protestei balançando negativamente a cabeça.

— Calma, também não é o fim do mundo, quantos anos ela tem? 17? Jajá ela é maior de idade, agora que ta gostando da mina, vai abrir mão assim? – Titi perguntou seriamente.

— Eu sei Titi, mas é um risco enorme, tem também os pais dela o que vão falar quando souberem que sou seu professor?!  E a mentira toda que ela contou? Envolve muita coisa – Argumentei angustiado.

— Ah careca, você ta parecendo aquelas pessoas que procuram problema pra fugir do que não está afim – Cascão me alfinetou.

— Hey, eu to na dela, não quero fugir – Me defendi.

— É! Mentira é sempre ruim Cebola, mas sei lá, tenta escutar ela, os motivos, as vezes vale a pena, e to te falando de brother mesmo, você sabe que não sou muito encanado com essas coisas de sentimento, a Aninha pesa na minha por causa disso, mas se você gosta, vê até aonde vale a pena perder tudo que já tiveram juntos – Titi falou dando um tapinha em minhas costas.

— Isso ai Careca, também acho que se vale a pena, por que não uma segunda chance? Recomeça como se não se conhecessem ainda, agüenta até ela completar 18, fala com os pais dela, encara a situação de frente – Cascão completou sorridente enquanto comia mais da porção.

— O nome dela nem é Mel, acredita? – Cortei o momento conselho espetando uma calabresa para comer.

— É! Ela também não se ajuda, até o nome ela escondeu? – Titi perguntou.

— Pois é, foi no meio da chamada que eu percebi, chamei o nome dela três vezes, e quando levantou a mão pra responder... Era ela, a mesma pessoa, mas com outro nome – Conclui com nó no estomago só de lembrar.

— Que fita hein! – Cascão balbuciou pensativo.

— Não, o pior é que a mina manda muito bem no vôlei, não tem nem como pensar em não colocar ela no time daquele campeonato que comentei com vocês, agora imagina levar a equipe pra jogar em outro colégio com ela do lado – Contei rindo, talvez de nervoso.

— Se ferrou! – Titi me empurrou com umas das mãos – Mas vai coloca-lá né?

— O que acha? – Perguntei desdenhando.

— E qual o nome dela afinal, se não é Mel? – Cascão me perguntou bocejando, estava ficando tarde.

— Monica, pelo menos é o que está escrito na lista de matricula do colégio, nem sei mais – Contei me largando um pouco mais na cadeira.

Titi me olhou por um tempo consideravelmente grande, e por fim perguntou.

— Como é o nome do colégio mesmo?

— Limoeiro, colégio do Limoeiro – Respondi olhando para a TV que passava reprise dos gols de quarta.

— Que série que ela é cara? – Titi perguntou um pouco mais sério.

— 3º, por quê? Isso não diminui a mentira dela mano, ela disse que estava na faculdade – Protestei vendo que ele já não prestava mais atenção em mim, estava mexendo velozmente no celular.

Um silencio perturbador se instalou, fazendo a voz do repórter da TV mesmo baixa, se sobressair.

— E ai borá então? – Cascão quebrou o silencio nos olhando.

Antes de qualquer um de nós respondermos, o Titi levantou num sobressalto quase derrubando a mesa e me estendeu o celular dele a ponto de bater no meu rosto.

— É essa? A Monica? – Ele perguntou um pouco fora de si, eu conhecia aquele tom de voz.

— Sim, é essa, ela mesmo! Vai me dizer que tem a mina no facebook, ou que é um ex caso seu? – Perguntei depois de analisar um pouco.

Mas não tive tempo de obter resposta alguma, a mesa de repente virou, e tudo que estava nela foi ao chão fazendo um barulho estridente a tempo de eu sentir as duas mãos do Titi empurrando meu peito pra trás, e ele partindo pra cima de mim.

— Ela é minha irmã cara – Ele gritou me empurrando novamente – Você só pode ta tirando com minha cara.

— Que? Como assim sua irmã? Ela não morava sei lá onde? – Gritei em resposta o empurrando para longe, grande parte das pessoas por lá se levantaram olhando assustadas.

Cascão saltou num pulo e se colocou no meio.

— Podem parar, pera Titi, fica calmo – Ele o abraçou tentando afasta-lo.

— É minha irmã vacilão, não acredito – Titi forçou pra tentar se soltar e apontar o dedo em minha direção, senti na hora meu sangue subir.

— Não coloca o dedo na minha cara Titi, me respeita – Gritei respirando profundamente, era uma péssima hora para confundir todo o estresse que estava sentindo com raiva.

— Titi você está louco? Sua irmã é uma pirralha – Cascão gritou o segurando, deve ter confundido.

— É ela sim, eu vou te matar Cebola, você se agarrando com minha irmã por ai, minha irmãzinha – Ele respondeu nervoso soltando-se do enlaço do Cascão. – Fica longe dela, senão vai dar ruim pro seu lado.

— Não se mete, deixa que eu resolvo minhas coisas, e é melhor sair daqui antes que eu perca a paciência – Respondi arrumando a mesa no lugar – Se sua irmã se envolveu comigo o problema não é seu.

Não que eu quisesse arranjar briga com ele, éramos super amigos, mas de cabeça quente e com um monte de coisas acontecendo, eu não pensei, e nem precisei terminar a frase pra ele sair derrubando tudo e partir novamente pra cima de mim, o que se seguiu foi um soco, que senti queimar no meu nariz, sem pensar mirei para revidar, mas no meio do caminho o Xaveco chegou correndo para ajudar o Cascão e se colocou no meio me segurando e empurrando para longe.

— Vocês só podem estar loucos – Ele gritou vendo o amontoado de gente em volta, inclusive o dono do bar reclamando.

— Tira ele daqui, por favor – Pedi de cabeça baixa, meu coração queria sair do peito e a vontade que eu tinha era de descontar toda raiva presente.

— Não preciso que me tirem daqui não, eu saio sozinho - Titi me olhou de cara fechada mais uma vez, e foi embora chutando uma cadeira para longe.

— Que foi? Nunca viram não? – Perguntei para as pessoas que ainda olhavam um tanto quanto assustadas. Cascão ia pronunciar alguma coisa, mas não deixei, limpei um pouco de sangue que saiu do local onde recebi o murro, e caminhei nervoso para o carro.