Connected | BTS Fanfic escrita por Choi Jinhee


Capítulo 4
Boa Noite, Raposa


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Aqui vai mais um capítulo, espero que gostem ❤.
Não vou me estender demais aqui, então boa leitura.



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Jinhee P.O.V.

— Me lembro de você ter dito que sentia falta de doce, agora que o médico mudou sua dieta.

Remexi o conteúdo da minha bolsa, procurando pelo pacote com a fita vermelha e entregando-o a Sra. Park.

— Então, fiz alguns suspiros. Os ingredientes são todos orgânicos, sem glúten e nem lactose.

Ela sorriu.

— Ah, Jinhee-ah — disse, surpresa —, você é tão gentil.

Aconcheguei-me na cadeira, guardando a bolsa no assento ao lado.

— Na verdade é uma receita própria para diabético, mas eu adoro.

Ela abriu a embalagem, levando um suspiro até a boca. Soltou um lamurio satisfeito, mastigando.

— Será que se eu comer isso todos os dias, consigo emagrecer os trinta quilos que o médico pediu? — riu, guardando o resto do pacote.

— Bem, você pode substituir por algum lanche da tarde — sugeri. — Não tem nada aí que você não possa comer, e eles são bem consistentes.

A Sra. Park era professora no curso de culinária que eu frequentava aos sábados. Parecia mais nova do que os quarenta anos que ela devia ter, sempre usando vestidos longos com estampas coloridas. Seu rosto gentil e sua voz suave a davam uma aura maternal e confortável. Após a aula, me levava para o seu restaurante para conversar e comer alguma coisa — e, como sua companhia era agradável, não costumava recusar.

Seu restaurante não era grande nem extravagante, mas era tão agradável que eu o visitava sempre que podia. As mesas eram pesadas, de madeira; ocupadas principalmente por famílias que aproveitavam o fim de semana para almoçarem juntas. O interior era bem iluminado e uma música calma tocava no fundo, tornando o ambiente sereno.

No lugar em que estávamos sentadas, na bancada de mármore onde ficava o caixa, conseguíamos ver todo o movimento no restaurante. Até pouco tempo atrás, quando era horário de almoço, a maioria das mesas estava ocupada. O fluxo naquele momento estava mais calmo.

— Acha que dá tempo para mais um prato antes do seu compromisso? — A Sra. Park perguntou, abrindo o cardápio.

— Tempo, eu tenho. Não sei se sobrou espaço — dei umas batidinhas na barriga, confortável.

— Ah, querida — balançou a mão no ar —, quando a comida é boa, a barriga é que nem coração de mãe: sempre sobra espaço para mais um.

Ri, apesar da careta.

— Também tenho que me preocupar em caber no vestido.

— Algo leve, então — avaliou o cardápio. — Eu que escrevi isto, mas acredita que ainda não decorei o que tem aqui? — Apontou. — Que tal uma salada?

Cruzei os braços formando um X no ar.

— Alface me deixa inchada — recusei.

Assentiu e passou a página.

— Bruschetta?

— Não tenho certeza se pão é a melhor ideia.

— Sopa?

— Hm... Opções?

— Tomate? — ela voltou a ler o cardápio. — Sopa de alga é para ocasiões especiais. Hm, tem essa de repolho que é bem leve — apoiou a cabeça na mão, apontando para o cardápio. — Tem saído bastante.

— Eu voto na sopa, então.

— Perfeito! — Bateu as mãos, sorridente. — Volto em um instante.

Desapareceu pela porta da cozinha, atrás do balcão.

Suspirei, me aconchegando na cadeira. Ainda eram quatro horas.

Em pouco tempo teria que começar a me arrumar para a festa do Namjoon. Eu não havia escolhido a roupa e não tinha certeza se algum dos vestidos do meu armário ainda caberia — tendo em vista o tanto que eu emagrecera desde que os tinha comprado.

Peguei meu celular e abri o Word, pronta para continuar o seminário inacabado de anatomia. Sentia-me culpada por tê-lo ignorado na noite anterior, ansiosa demais para dormir e sem força de vontade para estudar. Eu tinha menos de uma semana para apresentá-lo, e apesar de já ter escrito mais da metade do projeto, ainda estava longe de ser finalizado — tinha muito a revisar.

Trabalhei por alguns minutos, usando a internet como guia, até que alguém pigarreou do meu lado. Levantei os olhos para um garoto bonito, esperando que eu percebesse sua presença. Seu cabelo preto caía na testa, já que sua cabeça estava inclinada, apoiada na mão. Ele sorriu gentilmente, e me perguntei há quanto tempo estava sentado ali.

— Pensei que nunca fosse me notar — seus olhos negros se curvaram em duas meias-luas quando sorriu — Você está esperando pelo caixa?

Sorri de volta, involuntariamente, com minha mente em branco.

— Ah. Ãh, não. — Apontei. — Ela está na cozinha. Você quer que eu a chame?

Ele riu, passando a mão no cabelo. Sua risada melodiosa combinava com sua voz forte.

— Não, obrigado. Na verdade, eu-

— Jimin! — a Sra. Park abriu a porta com o quadril, segurando dois pratos de sopa — Chegou bem na hora. Vamos, coma, coma – ela os colocou na nossa frente.

— Olá, mãe — sorriu para ela, apertando sua mão carinhosamente — Como foi o seu dia?

A Sra. Park deu um beijo na testa do filho, pegando talheres atrás do balcão.

— Foi ótimo — nos estendeu duas colheres —, é sempre bom encontrar uma amiga — sorriu para mim. — Esta é Choi Jinhee, a pessoa de quem te falei.

— Da aula de culinária? — sua voz estava surpresa. — Quando você falou, pensei que fosse outra senhora.

— Você está me chamando de velha? — cerrou os olhos.

— Eu? — colocou a mão no peito e depois a balançou no ar. — Nunca.

— E onde está nosso Kookie? Pensei que vocês estivessem juntos.

— É, bem — coçou o pescoço, franzindo o nariz —, ele tem outra daquelas reuniões com os avós mais tarde. Eu o deixei sozinho no parque para se acalmar, porque ele pediu.

A Sra. Park fez um muxoxo insatisfeito.

— Jimin, querido, eu nunca te ensinei nada? — ela se sentou de frente para nós, no outro lado do balcão. — Você conhece Jungkook. Ele vai ficar se remoendo em pensamento até desistir de ir e fingir alguma doença. De novo.

— Você está o subestimando. Ele prometeu que iria desta vez.

— Conheço os meus filhos. Ele vai se torturar com o assunto até enlouquecer — apontou para ele. — Você deveria ter insistido em fazer companhia e o feito pensar em qualquer outra coisa.

— Bem, ele pediu para ficar sozinho – Jimin se defendeu. — Eu estaria sendo inconveniente se ficasse.

— Você é amigo dele — ela suspirou. — Ser inconveniente é parte desse cargo.

Ele abriu a boca e a fechou, confuso. Suspirou.

— Talvez você esteja certa.

— Claro que estou.

Ele pigarreou, olhando de lado para mim, lembrando-se da minha presença.

— Hm, como está a sopa? — Perguntou.

— Oh, sim, Jinhee-ah. — A Sra. Park se desculpou. — Perdão, estamos excluindo você da conversa. Como está a sua sopa?

— Está maravilhosa — respondi, sorrindo. — Cogitei interromper vocês para falar que nunca pensei que fosse gostar tanto de repolho. Você não vai comer?

— Oh, sim. Acabei dando o meu prato para o Jimin, vou ir pegar outro — se virou para a cozinha. — Conversem, os dois. Vocês são da mesma universidade, devem ter muito em comum — piscou o olho para nós.

Ela desapareceu pela porta.

Levantei a sobrancelha. Jimin estudava na Shinhwa? Com certeza o restaurante da Sra. Park não ganhava o suficiente para pagar aquela universidade, mesmo trabalhando lá em tempo integral. Talvez ela fosse herdeira de algo? Ou então tinha uma pensão... Ele poderia ser bolsista, também — era raro, mas não impossível.

Não queria subestimá-lo, mas a ideia de Jimin ser um bolsista veio por último — a julgar por seus piercings na orelha e o skate que segurava no colo. Para ganhar uma bolsa na Shinhwa, era necessário muito estudo e dedicação, e ele me parecia um jovem bem normal, de calça jeans preta e uma blusa azul escuro. Repugnei aquele preconceito, que, embora involuntário, não tinha fundamento — estava o julgando pela aparência.

Olhei para ele enquanto mexia na sopa com a colher. Sua postura relaxada agora parecia hesitante, como se estivesse perdido em pensamentos. Talvez estivesse desconfortável agora que sua mãe havia nos deixado a sós para guiarmos uma conversa.

— Cuidado — chamei sua atenção. — A sopa está quente.

Levantou os olhos do prato para mim, e sorriu — um sorriso gentil, embora tímido. Sua atitude estava estranhamente diferente de momentos antes. Havia acabado de conhecê-lo, mas me parecia que estava se repreendendo por algo. Ele me conhecia?

— Você é nova na Shinhwa? – seu tom de voz era comedido.

— Estou no segundo período de Medicina — respondi. — Perdão, não me lembro do seu rosto.

— Não se desculpe por isso. Curso direito no turno da manhã — explicou. — Acho que nem os professores se lembram de todos os alunos; a universidade é enorme – deu de ombros. — Seu nome é Choi Jinhee, certo? Acho que já ouvi falar.

— É um nome comum — assenti —, Park Jimin — pronunciei.

Dei-me conta do porquê seu nome parecia familiar. Nos corredores da universidade, em conversas e cochichos, era comum escutá-lo.

Observei-o passar a mão no cabelo — um hábito que não pude deixar de reparar. Seu rosto era fácil de ler; estava ansioso, esperando por minha reação.

— Ele mesmo — sorriu, como se estivesse respondendo uma pergunta implícita.

Ah, então foi por isso que sua postura havia mudado quando descobriu que éramos ambos da Shinhwa.

Ele era o bolsista com o cartão vermelho.

— E então, Choi Jinhee. Minha mãe a tem importunado muito? – mudou de assunto.

— A Sra. Park é um doce de pessoa — sorri. — Ela fala muito sobre você e seu irmão.

— De mim? — franziu as sobrancelhas.

— Ela tem muito orgulho de vocês — assenti. — Mas pela maneira que te descreveu, achava que fosse mais novo.

— Mais novo? — a ameaça de um sorriso surgiu nos seus lábios.

— Uns doze anos mais novo.

— Mas eu tenho dezenove! — exclamou. — Que tipo de propaganda enganosa ela fez de mim?

Diverti-me com a expressão em seu rosto, sem saber se sorria ou se deveria estar insultado.

— Bem, ela diz que você vai sempre a um parque brincar.

— Eu vou lá andar de skate — retrucou. — Um esporte perigoso e radical para uma criança de sete anos.

Quase engasguei com a água, rindo.

— Ela disse que você é fresco para comer.

— Não sou, não.

— Você ainda nem tocou na sopa — apontei.

— Não sou fã de repolho — balançou a mão no ar — O que mais?

— Hm... — tentei lembrar — ela me disse uma vez que tinha que voltar para casa antes das dez para não fazer barulho, porque você dorme cedo.

— Só nos dias que eu ajudo no restaurante, porque costumo acordar cedo para estudar — revirou os olhos, entretido. — Sou responsável, e dormir pelo menos oito horas aumenta o rendimento escolar, doutora.

— Você toma leite quente toda noite.

— Eu, hã... Ela disse isso? — ele se atrapalhou com as palavras. — É chá! Eu tomo chá com leite. Para dormir!

Dessa vez, não contive a risada.

A Sra. Park abriu a porta da cozinha, segurando um prato de sopa.

— Jinhee-ah, estou esquentando um doce de banana para você experimentar, é uma sobremesa do cardápio novo — se sentou. — Espero que não se importe.

Eu sorri, limpando os lábios com o guardanapo.

— Me importar? Você quer me engordar, eu sei disso.

Ela riu.

— Com um rostinho desses, querida, você é bonita não importa o peso. Não é, Jimin?

— Claro — respondeu, levando a colher de sopa à boca — Viva à anarquia do padrão de beleza inatingível de uma sociedade capitalista! — bradou.

— Isso mesmo — sorriu, bagunçando o cabelo do filho — Vocês já se conheciam? Da universidade?

— Eu estudo no turno da tarde — neguei com a cabeça.

— É mesmo? Segunda-feira o Jimin vai mudar para tarde, para estudar com Jungkook. Você o conhece? Os dois fazem direito.

— Mãe, por que ela o conheceria? — Jimin interviu. — Ele é rico, não famoso.

— Jungkook. Jeon? — perguntei.

— Jeon Jungkook, ele mesmo — ela mostrou a língua para o filho, sorrindo. — É uma ótima criança.

— Ele é muito educado — concordei.

— Acho que mudar de turno não foi uma ideia tão ruim, então — falou para Jimin. — Agora você conhece Jinhee, também. Não é ótimo? Esse negócio de cartão não vai nem fazer diferença.

Controlei minha expressão, tentando não demonstrar surpresa. Jimin havia contado para sua mãe sobre o cartão vermelho? Com certeza ele teria amenizado tudo que aquilo implicava, tendo em vista a calma com que o mencionou. Ela suspirou, comendo sua sopa.

— Cartão... Vermelho? — perguntei, hesitante.

— Sim, alguma coisa com aqueles garotos do F4 — respondeu, olhando para nós dois. — Você não sabe o que é? Ou só tem essa besteira no turno da manhã?

— Já ouvi falar — olhei para o garoto sentado ao meu lado, esperando por respostas.

Ele continuava a mexer na sopa com a colher, olhando para baixo. Sua perna estava inquieta, fazendo o skate em seu colo tremer. Um sorriso triste brincava em seus lábios; provavelmente prevendo a minha reação.

— Na verdade, eu já tive um.

O skate parou de se mexer.

— Um cartão vermelho? — A Sra. Park franziu as sobrancelhas. — Esse negócio deve ser mais popular do que pensei, então. O que você fez para ganhar um?

— Me envolvi com quem não devia — dei de ombros. — Já passou, foi há muito tempo.

Jimin piscou os olhos, surpreso.

— Você é a Raposa — falou, de repente. — Choi Jinhee, o primeiro cartão vermelho.

— Oh, temos uma pessoa importante entre nós? — a Sra. Park riu, mas logo seu sorriso se tornou em uma careta — O doce! Vai queimar!

Ela correu para a cozinha, apressada. Terminei meu prato em algumas colheradas restantes. Jimin olhava para mim, curioso — era tão fácil ler suas expressões.

— Jimin-ssi, você não vai sair prejudicado se mudar de turno no meio do período? — perguntei.

— Conversei com os professores sobre isso — respondeu, passando a mão no cabelo. — Alguns estão adiantados no assunto e outros atrasados, mas eu me viro.

— Deve ser muito difícil, já que você precisa de média acima de noventa e cinco.

— Não é isso tudo, não — ele riu. — Tem que ser acima de oitenta e cinco, mas os bolsistas têm um programa diferenciado para comprovar o rendimento escolar. É bem simples, na verdade; temos uma prova a mais, no final de cada ciclo, sobre o assunto ministrado.

— Meus... Pêsames?

Ele riu.

— Eu aprendo rápido.

— Sorte a sua — eu fiz uma pausa. —Você tem certeza de que vai mudar para o turno da tarde? Pode não ser a melhor ideia.

— O que você quer dizer?

— Woobin — mantive os olhos fixos na porta atrás do balcão que estávamos — Já ouviu falar?

— Deveria?

Eu concordei com a cabeça, hesitante.

— Ele quem comanda as punições do cartão vermelho. Ele estuda administração no turno da tarde.

— Pensei que quem fizesse isso fosse o F4.

— O F4 não liga para bolsistas. Eles só marcam quem mexe diretamente com eles.

Ficamos um tempo em silêncio. Perguntei-me o que ele estava pensando. Será que desistiria da mudança de turnos? Era o que eu faria, sabendo como Woobin era criativo no seu “passatempo” predileto. Espiei-o pelo canto do olho, e ele sorriu para mim.

— Talvez eu deva me tornar amigo dele.

Bebi minha água, evitando quebrar suas expectativas; Woobin não tinha amigos, ele tinha aliados: Servos do F4.

— Ou talvez eu deva me tornar seu amigo — seu sorriso se alargou.

Reprimi uma careta. Ele ainda não sabia como as coisas funcionavam — ser visto comigo era pior do que ser bolsista.

Apoiou o skate no chão e tirou o celular do bolso, olhando suas notificações e respondendo algumas mensagens. A Sra. Park estava demorando demais na cozinha, me perguntei se deveria ir checar se estava tudo bem.

— Eu tenho que ir — Jimin se levantou, sem tirar os olhos da tela do celular.

— Você não vai comer? — olhei para seu prato com a sopa praticamente intacta.

— Não estou com fome — ele sorriu, gentil.

Pegou o skate no chão e se virou para mim, sua expressão agora hesitante.

— Hm, sobre a minha mãe-

— Não vou contar a verdade sobre o cartão vermelho — olhei para a porta da cozinha. — Não é da minha conta.

Ele assentiu, hesitante

— Ela acha que é uma ordem para as pessoas me ignorarem. Nada mais.

Fiz que sim com a cabeça.

— Eu já passei por isso, Jimin-ssi. Não acho que esteja errado, escondendo isso dela. Só o que você pode fazer agora é se preocupar em envolver o menor número de vítimas possível.

Envolvi meu copo de água com as duas mãos, observando o padrão de gotículas que se prendiam no vidro. Senti dedos pressionarem meus ombros, me causando arrepios.

Para a minha surpresa, ele riu — curta e despreocupadamente.

— Está tudo bem, está tudo bem. Ralei muito por essa bolsa, não vou desistir tão fácil assim — olhei para ele, sem mascarar minha surpresa. — Isso vai passar. Não se preocupe, Jinhee-ssi.

Perguntei-me o que ele tinha visto para estar tentando me consolar.

Virou-se, sorrindo, rumo à saída do restaurante.

— Que amiga ótima eu fiz, hã?

***

— Acho que vou ficar cega — Yuri piscou os olhos, desfocados por causa dos sucessivos flashes das câmeras.

— Não se preocupe — respondi. — Não vai ser assim lá dentro.

Estávamos adentrando a YG Entertainment, empresa onde Namjoon trabalhava. Andávamos pelo tapete vermelho que nos levaria até a entrada, uma ao lado da outra — e, embora nenhuma de nós fosse famosa, os fotógrafos ainda insistiam em tirar fotos. Mesmo com tantos seguranças para contê-los de se aproximar, era difícil andar por estarmos parcialmente cegas — apenas seguíamos em frente torcendo para não esbarrar em ninguém.

— Como assim?

— Não é interessante para o YG ter fotógrafos e paparazzi perambulando pela sua empresa, então eles vão ficar confinados em alguns pontos estratégicos — expliquei, sorrindo para as câmeras —: na frente do palco, longe dos bares, nas bases das escadas dos idols.

— Escadas dos idols?

Eu concordei com a cabeça, sem desfazer o sorriso.

— Tem dois andares aqui; o primeiro para trainees e staff, o segundo para os idols e para o YG. Não tem fotógrafos no segundo piso.

— E onde a gente fica?

— Nós somos convidadas da Nami, então ficamos em baixo com ela — fechei os olhos, me adaptando ao ambiente pouco iluminado agora que havíamos passado dos fotógrafos. — Mas quando Namjoon chegar, podemos ficar com ele no andar de cima, se ele nos convidar.

Ela assentiu, olhando ao redor. O ambiente não era enorme, mas tampouco era pequeno. Havia uma pista de dança brilhante na nossa frente e os fragmentos do seu piso se iluminavam em um padrão frenético. As mesas e algumas paredes eram espelhadas; o restante era preto, causando um contraste bonito.

A pista mediava o espaço; na frente tinha o palco, ocupado por um DJ que tocava alguma música eletrônica, e atrás estavam as mesas e o bar — um extenso balcão com vários barmen. A maioria das pessoas ainda não havia chegado, então ninguém estava dançando.

Nas duas extremidades do bar estavam as escadas que levavam para o mezanino do segundo andar — onde ficavam os idols e o pessoal importante da empresa. Olhei para cima, espiando as pessoas.

— Você já veio aqui? — Yuri perguntou.

Assenti.

— Eu tinha um amigo que trabalhava nessa empresa — ajeitei a alça da bolsa no meu ombro. — Você está vendo a Nami?

— Não. Acho melhor a gente sentar em algum lugar — apontou. — Mas as mesas estão todas ocupadas.

— Ali, então — sinalizei para o bar com a cabeça.

Seguimos para lá e observei nossos reflexos nos espelhos que nos cercavam. Meu cabelo estava solto, com uma presilha dourada prendendo duas tranças em volta da cabeça. Depois de alguns ajustes com um kit de costura, meu vestido caíra bem no corpo. Ele tinha um tom cintilante de dourado escuro, com alças finas e uma saia rodada. O restante que usava — um relógio de ouro, uma bolsa retangular sem alça e até minha maquiagem — era em um tom mais claro; menos o salto, que era preto, e, apesar de ser particularmente alto, meus olhos ainda batiam na linha do queixo de Yuri.

Ela estava em um vestido preto tubinho que ia até o meio das coxas, de mangas finas e apertado na cintura. Embora simples, tinha um diferencial no detalhe do decote curvilíneo — um corte entre os seios que descia até o fim do busto. Seu corpo esbelto tinha suas curvas ressaltadas e seu salto negro deixava suas pernas com uma aparência mais longa. Seu cabelo preto estava preso em rabo de cavalo impecável no alto da cabeça e ela não usava muita maquiagem; uma espécie de simplicidade sofisticada.

Sentamos nos bancos do bar.

— Vou avisar para a Nami que chegamos — ela pegou seu celular.

Um barman aproximou-se de nós, charmoso, oferecendo duas bebidas azuis brilhantes.

— Vamos fazer um brinde! — Yuri aceitou, me entregando uma das taças. — Para celebrar.

— Eu não... Estou em bons termos com o álcool — fiz uma careta.

— Você não bebe?

Cogitei a ideia, por um momento. A última vez que bebi havia sido três meses atrás; eu tinha exagerado e feito coisas das quais me arrependi drasticamente. Claro que, depois de algum tempo, admiti que eu era a culpada por meus atos e não o álcool, que apenas me deu a coragem para fazer aquilo.

— Um drinque, então.

Ela sorriu e bateu sua taça na minha. Demos o primeiro gole.

— O que estamos celebrando, aliás? — perguntei.

— Como assim?

— Você disse que estávamos celebrando algo.

Ela pensou.

— Talvez esteja um pouco cedo para celebrarmos as mudanças. O que você sugere?

— Não sei.

— Vamos só beber, então — sorriu, pousando sua taça na mesa.

Ficamos um tempo em silêncio, observando o lugar. Não conseguia achar Nami e os rostos dali não me eram conhecidos — além de que a maioria dos famosos costumavam se atrasar.

— Você se lembra daquela vez que nós simulamos um bar na casa da Nami? — ela sorriu com a lembrança. — Bebemos suco de laranja como se fosse vodka a tarde toda.

Concordei com a cabeça, imediatamente.

— Depois tentamos convencer a Seokli de que realmente estávamos bêbadas — continuei. — E o Namjoon acreditou.

— Foi hilário — riu. — E como está a Seokli? Provavelmente não precisa mais de babá, mas lembro que ela era como uma mãe para você.

— Ela faleceu recentemente — deixei o barman encher minha taça.

Os olhos de Yuri se esbugalharam.

— Ela... Ela ainda trabalhou muito na sua casa? Depois que eu me mudei?

Assenti.

— Posso te levar pra visitar o túmulo dela algum dia, se quiser — me repreendi no momento que ofereci. Ela provavelmente mal se lembrava de Seokli.

— Gostaria de prestar homenagem — concordou com a cabeça.

Nosso assunto morreu ali. A música animada contrastava com o clima que nossa conversa tinha sido levada. Yuri mexeu na sua pulseira, desconfortável.

— Eu posso perguntar uma coisa?

Assenti com a cabeça, tomando um gole do drinque.

— O que aconteceu para que você e Nami parassem de ser ver? — perguntou, um tanto tímida. — Fiquei surpresa quando descobri que vocês perderam contato.

— Ah — pensei em como responder aquilo. — Acho que nós... Bem, eu segui por um caminho diferente, e acabamos nos separando.

Ela olhou para baixo, para seu copo, mordendo os lábios.

— Você parece desapontada — comentei.

— É, bem, eu meio que esperava que vocês continuassem juntas depois que parti — falou —, é claro que sabia que a probabilidade era pequena, mas enfim. As pessoas mudam.

Concordei com a cabeça, meio triste agora. O barman encheu minha taça novamente.

— Você não está tonta? — Yuri apontou. — Já é o seu terceiro.

— Eu sou forte com bebida, mas bebo muito rápido — ponderei sobre aquilo. — É melhor eu maneirar.

Ela riu.

— Bem, se você passar mal, agora tem uma unnie para cuidar de você — cutucou minha barriga.

Sorri. Pousei minha taça na mesa, em silêncio. O assunto havia acabado de novo e, embora eu estivesse acostumada com o silêncio, Yuri provavelmente não estava. Ela parecia inquieta, batucando os dedos no copo e olhando para baixo.

— Jinhee-ah, eu sei que somos praticamente estranhas — mordeu os lábios, o que sempre fazia quando estava nervosa. — Depois de tanto tempo sem se falar, é claro que isso iria acontecer. Mas queria que pudéssemos ser boas amigas, como antes. Eu, você e Nami.

— Seria bom — sorri. — Ter unnies novamente.

— Se você quiser conversar sobre qualquer coisa, estarei à disposição — seu sorriso se alargou.

— Minha irmã costuma dizer que a melhor maneira para conhecer uma pessoa é bebendo com ela.

— Vamos brindar a isso, então — ela ergueu sua taça.

Yuri parecia mais calma, agora. Ela colocou o cotovelo na mesa, apoiando a cabeça na mão.

— Enfim, o que você tem feito da vida? – perguntou.

— Seja mais específica. O que você quer saber?

— Qualquer coisa — deu de ombros. — Temos muito que por em dia.

— Eu curso medicina na Shinhwa...? — meu tom incerto fez a frase soar como uma pergunta.

— Eu soube. Fico feliz que você escolheu algo na área dos seus pais; eles devem ter adorado.

— Algo assim. E você? Fotografia?

Ela concordou com a cabeça.

— É, minha paixão – suspirou.

— Eu lembro de como você costumava levar aonde quer que fosse uma câmera com o formato de... Galinha?

— Era um pintinho.

— Isso.

Ela riu.

— Naquela época era apenas um hobby. Não fazia ideia da extensão que tinha me tornado dependente da fotografia. Quando cheguei ao Brasil, fiquei arrasada por ter perdido aquela câmera, mas meus pais me deram outra, uma semi-profissional.

— Eles apoiam sua decisão de curso?

— Bem, sim. Vou terminar trabalhando com administração, de qualquer jeito, mas fotografia continua sendo uma paixão, e eles respeitam isso.

— Você vai fazer administração na Shinhwa, também?

— Não vou cursar, mas pretendo trabalhar com isso. Foi por isso que me mudei, porque a sede da empresa dos meus pais fica aqui, você sabe. O papai disse que um amigo dele seria meu tutor para me ensinar de primeira mão o ramo, mas isso só no semestre que vem.

O garçom encheu nossos copos e nenhuma de nós protestou.

— Você e seus pais são próximos? — Perguntei.

— Sim — ela concordou com a cabeça. — Nós mudamos para o Brasil para passarmos mais tempo juntos. De vez em quando eles viajavam por um curto período de tempo, mas a maioria das conferências era feita pelo Skype lá em casa.

— Deve ser ótimo, tê-los trabalhando em casa.

— É, mas tudo tem suas desvantagens — fez uma careta. — Teve uma vez que eu entrei no escritório de pijama para pegar dinheiro pra comprar absorvente e ele estava no meio de uma reunião com uns japoneses. Ainda tenho arrepios quando lembro, mas depois daquilo ganhei um cartão de crédito.

Eu ri, bebericando meu copo. Yuri parecia ter uma vida boa, lá no Brasil; seria difícil substituir o que ela tinha antes, morando apenas comigo.

— E os seus pais? — ela girou o banco para ficar de frente para a pista de dança. — Como eles estão?

— Devem estar bem, já que têm trabalhado bastante — sorri. — O Sr. Choi está no Japão e a Sra. Choi em Busan.

— Sua mãe está aqui em Seul, na verdade. Ela me ligou hoje de manhã.

— Ah, bem. Como você pode ver, eles viajam muito, então é difícil acompanhar.

— Você não é próxima da sua mãe?

Fiz que não com a cabeça.

— É que ela é muito ocupada.

— E do seu pai?

— Ele também — me contorci na cadeira, desconfortável. — Ele também é ocupado, quero dizer.

— Bem, tenho certeza de que eles devem compensar nos momentos em que estão presentes. O que vocês fizeram no seu aniversário de 18 anos?

— Fiz um jantar com a minha irmã — sorri. — Eu que montei o bolo.

— Os seus pais... — ela parou no meio da sentença, se arrependendo de tê-la dito. — Como está a Sunhee-unnie?

— Ela está bem. E não se preocupe, eu não fico ressentida com o assunto dos meus pais. Eles não puderam comparecer, já que estavam ocupados. Ocorreu uma emergência de última hora.

— Okay.

— É que um tio meu faleceu e não deixou herdeiros, então o papai ficou com a empresa dele — expliquei, mesmo sem ter sido perguntado.

— Ah, mamãe me falou sobre isso. É uma fornecedora de remédios, certo?

— Isso. Agora está tendo problemas com a burocracia e a concorrência não está aceitando, já que ele também é dono do Hospital Choi. Os outros centros de saúde privada se uniram para financiar um projeto para comprar a empresa do meu tio, mas o Sr. Choi não quer vender. Ou, pelo menos, é isso que tem nos jornais.

— Eu escutei minha mãe falar sobre isso com a sua mãe, no telefone. Elas fizeram uma espécie de acordo para passar parte das ações para o nome dela, para causar certa estabilidade nos acordos com os outros. Eu não entendo porque simplesmente o seu pai não ignora eles; não é como se estivesse fazendo algo de errado.

— Bem, é porque o ramo da saúde só funciona em grupo. Precisamos de parcerias para o caso de precisarmos de máquinas e até de médicos especializados. Se os acordos não forem feitos, o hospital perde crédito e popularidade.

— Entendo — ela ponderou. — De qualquer forma, as coisas vão dar certo no final. Seus pais são grandes empreendedores.

Assenti.

— Os seus também.

Ficamos em silêncio, novamente. A pista de dança havia começado a encher e a música ficava cada vez mais alta, de acordo com a chegada das pessoas.

— Jinhee-ah, se importa se eu fizer uma pergunta?

Fiz que sim com a cabeça, olhando para ela.

— Por que decidiu se mudar comigo? — olhou para baixo. — Você não está saindo prejudicada?

Pensei por um momento. Não diria sobre minha falta de escolha sobre o assunto, então me concentrei em outro aspecto da mudança.

— Eu não gosto da casa dos meus pais. É imensa e na maior parte do tempo fico sozinha. Prefiro o nosso apartamento, que é menor, e, mesmo que nossos horários sejam diferentes, tem uma pessoa dormindo no quarto ao lado. Me sinto mais confortável assim.

— Tudo bem, então — ela soltou o fôlego. — Odiaria pensar que você tinha sido forçada a se mudar ou algo do tipo. E não se preocupe; sou uma pessoa fácil de conviver. Só preciso de internet e de salgadinhos, o resto a gente resolve com o tempo.

Ri, virando o banco da cadeira para a pista. Conversamos por um tempo sobre algumas histórias de Yuri, bebendo e rindo. A cada gole ela se tornava mais brincalhona, minha barriga já estava doendo de tanto rir.

— Parece que eu vou ter um filho — abracei meu estomago, recuperando o folego.

— Será que rir conta como exercício?

— Espero que não. Se eu emagrecer mais, desapareço.

— Eu não consigo emagrecer nem engordar, não importa o quanto eu coma. E olha que como muito. Deve ser genética, já que a mamãe também é assim.

— O seu corpo é lindo; quase não reconheci quando te vi. Parecia uma celebridade.

— Quer dizer que eu era feia antes? – ela riu.

— Não, não. Eu quis dizer que — me embolei com as palavras, tentando afastar a névoa do álcool da minha cabeça. — Eu não quis te ofender, é que-

— Entendi, eu estava brincando — bagunçou meu cabelo. — Te reconheci pelo rosto. Você parece muito mais madura, mas o sorriso continua o mesmo — ela apertou minha bochecha. — Ah, senti falta das minhas irmãzinhas. Cadê a Nami pra eu apertar ela?

— Aqui — Nami se sentou do nosso lado e deitou a cabeça nos braços, em cima da mesa. — Boa noite. Faz muito tempo que vocês chegaram? — ela pediu um copo de água para o barman.

— Estamos aqui há uns trinta minutos, eu acho.

—Você parece cansada — Yuri comentou.

Ela se levantou, de súbito, e arrumou o cabelo.

— Preciso me distrair. Sobre o que vocês estavam falando?

— Bebemos uns drinques e a Yuri quer apertar a gente.

— Que fofa — Nami bebeu seu copo d’água de uma vez.

Eu e Yuri rimos daquela agressividade toda.

— Você bebe água como se fosse gim — falei.

— Meu contrato diz que devo zelar pela minha saúde, e álcool faz mal pro fígado.

— Uma vez não faz mal — Yuri falou, estendendo seu copo. — Quer experimentar?

— Adoraria, mas meus managers e professores estão todos aqui. É melhor não arriscar.

— Mas o Namjoon bebe — constatei.

— O Namjoon pode cuspir no copo desses caras que eles vão aplaudir de pé, depois de tanto sucesso que ele fez no nome da YG — ela revirou os olhos. — Eu sou só uma trainee. Ainda. — acrescentou rapidamente.

— Quando ele chega, aliás? — Yuri perguntou.

— Já está aqui, dando uma entrevista para o Daily Vlog dele. Falando sobre o que sentiu quando descobriu sobre a festa e tudo mais — olhou ao redor. — A qualquer momento vai descer.

— E por que está tão nervosa? — perguntei.

— É porque... — ela gemeu — o Namjoon teve essa ideia estúpida, que no início pareceu brilhante, mas agora acho que vou acabar sendo demitida.

— O que você fez? — Yuri riu.

— Não é o que fiz, e sim o que vou fazer — ela colocou a cabeça entre as mãos. — Vamos mudar de assunto, por favor.

— Hm... — tentei pensar em outra coisa.

— Aqui tem muita gente plastificada — Yuri soltou, olhando ao redor. — Quero dizer, eu nunca percebo quando alguém fez plástica, mas tem umas pessoas aqui que nem conseguem sorrir direito de tão dura que a cara é.

— É o que se espera de um país onde cirurgia plástica tem o mesmo preço da maquiagem.

— É fácil reconhecer cara-a-cara, mas através da câmera ninguém percebe — Nami disse. — Vocês se surpreenderiam se eu dissesse umas atrocidades que já vi no banheiro da empresa; é normal ter alguém recolocando o nariz no lugar ou ajeitando o silicone da bunda.

— Você já fez? — Yuri perguntou. — Cirurgia plástica, quero dizer.

— Não — ela respondeu. — Foi por pouco. Meu manager tinha marcado a sessão e tudo, mas eu passei mal no dia.

— Mas você é tão perfeita! — Yuri exclamou, a voz embargada por causa do álcool.

— Ele queria aumentar os meus olhos — deu de ombros. — Acho que gosto do jeito que sou. Vejo cada coisa esquisita entre os trainees que aprendi que ninguém nunca vai agradar todo mundo. O melhor é agradar a si mesma, e depois pensar nos outros.

Pensamos sobre aquilo.

— Isso foi lindo — falei.

— Repita essas palavras quando ficar famosa; tem muita gente precisando ouvir isso — a Yuri levantou seu copo. — Um brinde ao amor próprio!

Bebi um gole do meu drinque, sorrindo. Yuri caiu na gargalhada, em seguida, por qualquer motivo que deve ter parecido muito engraçado naquele momento.

— Sabe — Yuri falou, recuperando o fôlego —, vocês não precisam fazer cirurgia, se não quiserem. A duas já eram lindas e agora estão deslumbrantes. A mamãe sempre diz que as pessoas mais bonitas são as que se amam.

— Você cita muito a sua mãe — sorri.

— Ela é uma pessoa sábia.

— É sim — Yuri concordou. — E Nami, não deixe esse seu manager te abalar. Você é linda; e, se não acredita em mim, olhe ao redor. Tem um monte de caras olhando pra você.

— E umas meninas também — acrescentei. — Devem ser as pernas. Quero pernas longas também.

— Quero o seu nariz — Nami falou para Yuri.

— É, é bonito mesmo — concordei. — É bem delicado, como o resto do rosto.

— Nesse caso, quero os seus peitos — Yuri falou, abraçando seu busto. — Ou qualquer peito.

Caímos na gargalhada, chamando atenção de alguns olhares.

Naquele momento — por coincidência ou algo que chamou minha atenção —, olhei para cima, observando o corrimão do mezanino do segundo andar. Meus olhos se depararam com o de outra pessoa. Ele sorriu para mim, antes que eu desviasse o olhar. Um tanto apática — provavelmente por causa do álcool —, percebi a presença de alguns integrantes do F4. Reconheci a silhueta de Jung Hoseok, de pé com as costas apoiadas no corrimão, e Kim Taehyung — meu coração aumentou dois passos —, que olhava para mim.

Yuri seguiu meu olhar.

— Você os conhece?

— Quem? — Nami olhou para onde ela apontou com a cabeça — Ah, ‘’conhecer’’ é um termo forte.

— Eles devem estar acompanhando Min Yoongi — virei meu banco para a mesa, ficando de costas para ele. — Eu ainda não o vi, por sinal. Normalmente fica no bar pegando alguém. Deve estar de mal humor.

— É, bem, eu posso ter algo haver com isso — Nami fez uma careta. — Ou não. Sou só uma trainee, afinal. Ninguém me leva a sério nesta empresa.

— Ainda — lembrei. — Dê tempo ao tempo. Você tem talento.

— Talento não é só o que importa por aqui — suspirou. — Mas, obrigada, de coração. É raro receber algum elogio, e, por mais que pareça que não, eu vou ficar lembrando disso por umas duas horas antes de dormir.

— Então, vou te elogiar sempre que... — me interrompi, quando as luzes se apagaram.

A música sessou e as pessoas ficaram em silêncio, esperando. No palco, uma luz se acendeu, iluminando a silhueta de Namjoon. Nami se levantou, de súbito.

— Esta é a minha deixa — sussurrou, com pânico nos olhos. — Socorro.

— Aqui — Yuri estendeu um copo para ela. — Vai aliviar o nervosismo.

— Acho melhor não, eu nunca bebi.

— Apenas mais um motivo.

Ela hesitou e pegou o copo. Fez uma careta ao engolir e sorriu.

— Tudo bem, obrigada. Lá vou eu — anunciou.

Saiu, caminhando rápido para não chamar atenção.

Yuri tampou a boca com a mão, tentando não rir.

— O que?

— Eu dei só suco de laranja pra ela.

Sorri.

— Vamos para mais perto do palco, ver o que está acontecendo — Yuri levantou do banco, me puxando pelo braço.

Com dificuldade, perfuramos a plateia lentamente, procurando por um lugar com uma boa visão do palco. A voz poderosa de Namjoon reverberava pelo espaço, mas eu não estava prestando atenção — ocupada com a tarefa de não levar cotoveladas na cara. Ele dizia algo relacionado a agradecimento e passado, e as pessoas aplaudiam e riam nos momentos certos.

— Yuri, espera — chamei, por sob o barulho. — Esqueci minha bolsa na mesa.

Ela disse algo e apontou para seus ouvidos, indicando que não tinha me escutado.

— Vou voltar para pegar minha bolsa — gritei, apontando para trás. — Fique aqui, eu já volto!

Ela assentiu. O processo de adentrar na multidão sozinha foi muito mais rápido, já que eu era pequena e passava pelos espaços entre as pessoas com facilidade. Senti alguns cutucões e meu cabelo ficou preso em algum lugar, mas ignorei e segui em frente. 

Quando me aproximei do bar, o barman que havia nos atendido sorriu para mim, balançando minha bolsa.

— Muito obrigada — fiz uma reverencia. — Pensei que fosse dar adeus a ela.

Ele sorriu, entregando-a.

— Mais cuidado da próxima vez, linda — piscou o olho.

— Obrigada — agradeci de novo, sorrindo, e me virei para ir embora.

Paralisei, olhando para frente. Senti meu sorriso desmanchar.

— Taetae — soltei seu antigo apelido, me repreendendo logo em seguida.

— Boa noite, Raposa.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem! Desculpem se encontrarem algum erro e não tenham medo de nos avisar.
Annyeong ~~