Heart on Fire in Her Hands (Hiatus Indeterminado) escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 11
Capítulo 10: O ser, os sonhos e o começo


Notas iniciais do capítulo

Olá aos acordados!

Eu sei, mais uma vez, uma demora injustificável para atualizar... Só me resta pedir desculpas, os motivos continuam sendo os mesmos e eu sei que muitos já cansaram de lê-los :(

Mas, bem... Eu ainda não desisti e estou aqui com um capítulo novo que eu acho que agradará. Temos humor, romance, draminha básico e muitos DETALHES importantes a respeito do enredo.

Especialmente, peço que escutem duas músicas enquanto leem: "Even If It Breaks Your Heart", Will Hoge e "Last Shot", Kip Moore. Essa última tem um significado incrível na letra, se puderem, vejam!

Sem prolongar mais, espero que gostem, boa leitura!



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A manhã de Verão em Santa Monica não podia ser menos californiana, com o sol já dando os seus primeiros sinais de calor e com a brisa marítima fresca, abençoando todos os acordados - turistas ou não - com um pouco do que prometia ser mais um dia incrível na Costa Oeste dos Estados Unidos da América.

A Califórnia sempre fora, na maioria das mídias, o lar da liberdade e da diversão. Contudo, em inícios de manhãs como aquele, ela parecia mais com a casa do recomeço e da esperança. Existia algo tranqüilizador no som das ondas chegando à areia, assim como existia certa coragem na forma como a quentura do sol se fazia presente em meio ao vento do mar... E, essencialmente, existia magia no silêncio que precedia os risos, as conversas e o despertar efetivo daqueles que ali moravam ou visitavam.

O silêncio sempre precedia o início de tudo. E a cada início, também existia esperança...

Contudo, naquela manhã, Ruby Clearwood não precisava estar esperançosa porque muito do que esperava para aquele Verão acontecera, justamente, na noite anterior. Uma noite que tinha tudo para dar errado e que a surpreendeu da melhor forma possível.

Na manhã anterior, numa hora como àquela, Ruby estava tão estressada que o mar a chamara para acalmá-la. Ela precisara surfar e se entregar às ondas porque não podia se entregar a quem queria. Porém, foi exatamente na praia que encontrou quem, aos poucos, tornava-se dona de quem era. Marley estava lá, observando-a e, principalmente, mostrando que a desejava, independente dos beijos e fugas anteriores... Mas, foi na noite que elas se encontraram e, principalmente, se entregaram.

Não que algo além estivesse acontecido, elas mal se tocaram desde que Ruby resgatara todo o grupo daquela confusão na festa em Santa Monica Boulevard, todo o trajeto de lá até a casa de Puck foi feito em um silêncio que, de forma alguma, fora incômodo. Pelo contrário, o que palavras foram incapazes de dizer, elas retrataram em olhares e toques.

Marley tinha os olhos brilhantes naquela noite e a beijou levemente nos lábios, enquanto sorria e, mesmo diante de todas as horas passadas desde então, Ruby ainda ria apaixonada quando se lembrava disso. A californiana jamais pensara que fosse querer mais um olhar do que um abraço, ou uma palavra mais do que um beijo... Mas, Marley fazia esse lado menos louco, mais ponderado, vir à tona. A calmaria ainda estava presente, mesmo que tivesse dormido depois de deixá-la em casa.

Ruby estava deixando-se afundar em Marley da mesma forma que deixava seu corpo ir ao mar, depois de horas lutando contra ele em cima de uma prancha. Marley era diferente porque a fazia querer algo que jamais cogitasse querer. A nova-iorquina, mesmo vindo de uma metrópole tão movimentada, lhe oferecia a tranqüilidade de algo conhecido... Algo que, aos poucos, Ruby cogitava chamar de mais.

Não sabia o que sentia, tampouco, o que fazia e não fazia noção da onde tudo aquilo terminaria, mas, Ruby sabia que precisava vivenciar. Era algo novo e que a atraía ferozmente... A californiana queria ver Marley cantar, queria vê-la corar diante de alguma expressão mais atrevida, queria vê-la sorrir e queria beijá-la... Ruby queria oferecer tudo que podia, ao mesmo tempo em que entregava tudo que possuía. E sabia que seria capaz de fazer aquilo, fosse por um Verão ou por todo o tempo que viesse depois dele. Não sabia qual seria o fim, mas, aquele começo já lhe era especial.

Tão especial que era capaz de fazê-la ver a magia nas pequenas coisas de mais um dia de trabalho. Como, por exemplo, no cheiro característico do restaurante que modernizara mediante tanto esforço e no quão estranho ele parecia vazio. Também, recebeu de bom agrado a surpresa do dia, quando visualizou a silhueta de seu pai ao fundo do “Jewelry of the Coast” retirando as cadeiras de cima das mesas.

O Sr. Clearwood era um homem alto e que disfarçava a meia idade com o corpo que ainda mantinha graças ao surf diário, ele tinha olhos azuis como a filha, traços bonitos e fortes e os fios grisalhos lhe salpicavam os cabelos despojados e a barba, eram até charmosos ainda que entregassem a sua idade. A semelhança entre ele e a filha era inegável, ainda que Ruby tivesse muito da mãe, já falecida. Ainda assim, Dax Clearwood insistia em dizer que a filha tinha a beleza da esposa, Saphire, e não dele.

Ruby discordava do pai, mesmo na metade da quarta década de vida, Dax lhe dava trabalho e ela já perdera as contas de quantas vezes teve que intervir quando uma cliente se animava com a presença dele no restaurante ou quando os dois tinham suas horas de surf interrompidas por alguma mulher que se apaixonava por ele. Fossem mais velha ou mais nova, as mulheres sempre se encantavam por Dax Clearwood e, talvez, Ruby tenha herdado isso dele.

Mesmo tão requisitado, Dax não se envolvera com qualquer mulher desde que a mulher falecera. A vida dele, por muito tempo, fora a criação de Ruby e a manutenção do restaurante e, mesmo agora, com certa folga, ele só pensava no surf e (ainda) na filha. Por isso, Ruby se perguntava o que o pai estava fazendo ali. Ela pigarreou e o senhor se sobressaltou, quando viu que se tratava da filha, fez uma careta e sorriu ao cumprimentar:

— Bom dia, minha jóia!

— Bom dia, papai... - Ruby respondeu com um sorriso no rosto, proveniente de tudo que sentia e da presença inesperada do pai ali, ela se aproximou dele e ele não abandonou o que fazia, por isso, Ruby o abraçou pela cintura e o beijou na altura dos ombros fortes. Somente então, Dax se virou e apertou a filha em um abraço de urso que só a fez resmungar e bater nos braços dele. Ele a soltou, deu um beijo no topo da cabeça dela. - Não que eu não goste do senhor aqui, mas, eu achei que fosse passar parte do Verão em Malibu.

— Eu também pensei, mas, aparentemente, Stephen e os outros só vão chegar na semana que vem. Não compensava esperar por eles lá e eu resolvi voltar e passar uns dias contigo. - Dax respondeu rapidamente, desviando o olhar para voltar ao que fazia, contudo, ele não foi tão rápido e Ruby percebeu o rubor em seu rosto. Ela fez uma careta intrigada e, desconfiada, disse:

— Sei... E aí, o senhor pensou em passar uns dias comigo sendo que passamos quase todos do ano juntos?

— Sim, qual o problema? - Dax perguntou ofendido de uma forma que fez Ruby sorrir ainda mais, o pai voltara a olhá-la e, dessa vez, ela viu o rubor por completo no rosto dele e não pode deixar de pensar que, talvez, o seu pai não tivesse ido a Malibu com os seus tradicionais amigos surfistas. Isso acalentou o seu coração, por mais que ela afugentasse as tradicionais aproveitadoras de Verão, ela queria que o seu pai tivesse alguém. Dax a olhava intrigado e, de certa forma, temeroso, Ruby não se conteve ao dizer, brincalhona:

— Nenhum problema, mas, eu conheço você, Dax Clearwood!

O senhor corou furiosamente, dessa vez, ele gaguejou respostas que só provocaram ainda mais risos na filha. Por fim, Dax decidiu e avançou contra a filha, abraçando-a apertado enquanto ria roucamente do próprio embaraço, ainda assim, ele não perdeu tempo e bagunçou os longos fios loiros da filha, fazendo com que ela o empurrasse de leve até se libertar. Ruby teria continuado o seu interrogatório com o pai se outro som não tivesse chamado a sua atenção.

A porta do restaurante fechado voltou a abrir e o coração de Ruby acelerou com a hipótese de ser Marley - a mais nova prometera vir o quanto antes ao restaurante - contudo, assim que se virou, encontrou apenas Rachel olhando receosa para os dois. Diante da imensidade de felicidade que transbordava em seu peito, Ruby esqueceu-se de tudo que acontecera entre ela e Rachel nos fundos do “Jewelry of the Coast”, porém, ver a amiga daquela forma, tão desconfortável em sua presença, trouxe tudo de volta... Ruby lembrou-se das próprias palavras e seu coração se apertou. Ela não queria, de forma alguma, ter machucado Rachel.

Porém, Ruby sabia que havia ferido a morena. Os machucados estavam presentes nos olhos castanhos opacos e no sorriso pequeno, que tentava segurar tudo que, de alguma forma, Ruby ajudara a derrubar.

— Rachel Berry! Você já é uma mulher! Quando foi a última vez que eu vi você? - Dax aproximou-se da morena, interceptando-a em um abraço tão poderoso quanto aquele que dera na filha. Ruby sorriu para a cena, o seu pai tinha um carinho sobrenatural por Rachel, ainda mais diante das similaridades que todos os três possuíam em suas histórias. As perdas os uniram. Rachel riu abraçada ao homem e respondeu extasiada:

— Não faz tanto tempo e eu não cresci tanto assim, Sr. D!

— Ainda assim, já é uma mulher feita, posso ver nesses olhos! - Dax respondeu gentil, apertando uma das bochechas da morena e afagando o ombro dela. Em seguida, ele olhou para a filha que estava silenciosa as suas costas. Ruby reconheceu a expressão sábia do pai, os anos a mais o fizeram perceber que algo estava diferente entre elas e ele sorriu para uma e, depois, para outra. - E eu suponho que as duas precisem conversar... Certo?

Ruby só teve força para acenar e o pai, respeitosamente, saiu do grande salão do restaurante. Instantes depois, ambas o escutaram na despensa, erguendo algumas caixas. Nenhuma das duas fez menção de se aproximar, era nítido que ambas estavam preocupadas mais com a outra do que consigo mesmas. A possibilidade de que palavras voltassem a machucar era enorme... E por mais que outras poucas palavras tivessem sido trocadas antes, as que diriam agora poderiam mudar o curso da amizade delas.

Uma amizade que começara com um romance e que as duas prezavam, da mesma forma. Ambas poderiam estar apaixonadas, mas, o que tinham era bem diferente e igualmente importante.

Rachel sempre foi a mais corajosa das duas. Fora ela quem, primeiro, flertou. O primeiro beijo também fora iniciativa dela, assim como a iniciativa da noite que dividiram há anos... E mesmo que o fim tivesse partido de Ruby, foi Rachel quem tomou a frente, nesse dia, para consertar o que haviam quebrado. A morena pigarreou e, cautelosa, perguntou:

— Eu estou interrompendo alguma coisa?

— N-não, claro que não! - Ruby respondeu apressada, meio desajeitada enquanto apontava para uma das cadeiras que ela e o pai tinham arrumado, o sorriso de Rachel aumentou, ainda que não fosse aquele com o qual estava acostumada. A californiana retribuiu o sorriso, tentando tranqüilizar a bagunça emocional que sabia ser intensa dentro de Rachel. - Ahm, você quer tomar alguma coisa? Posso ver se encontro algo no freezer...

— Não precisa, obrigada. Eu meio que beberei algo mais tarde... - Rachel respondeu evasiva e, da mesma forma como Ruby percebeu o rubor no rosto do pai, ela o viu na amiga. Nesse instante, soube que aquela garota que encantara Rachel fizera algo mais, algo que nem mesmo ela própria fora capaz de fazer. Não tinha inveja alguma e sim, alívio. Rachel poderia ser feliz... - Na verdade, eu quero conversar com você a respeito do que eu fiz e falei naquela noite.

Rachel sempre fora incisiva, tanto em suas atitudes como em suas palavras. Ela preferida arrancar o curativo da ferida de uma vez enquanto Ruby, mesmo diante da influencia dela durante o ano em que ficaram juntas, ponderava em removê-lo da melhor forma, para não doer. As duas se assemelhavam em alguns aspectos e divergiam em tantos outros, só que, naquele instante, estavam em pé de igualdade. Ruby não seria capaz de perdoar porque também merecia o perdão, por isso, a californiana se apressou em responder evasiva:

— Você não fez tudo sozinha, muito menos, falou para ninguém. Eu também agi e, principalmente, respondi... Nós estamos quites, não há conversar.

— Ainda assim, há o que perdoar. Você sabe disso. - O que faltava em tamanho para Rachel, sobrava em audácia. No passado, esse excesso de confiança fora algo que a colocara em maus lençóis e agora, no início de seu efetivo amadurecimento, poderia funcionar de forma benéfica. Ruby afastou os olhos dela, podia ver quão fragilizada estava e não queria vê-la chorar sabendo que fora o motivo para tal. Rachel era especial e a californiana não queria ser a responsável por destruir o que tinham. As pequenas mãos morenas alcançaram Ruby, forçando-a a encarar a dona delas. - É preciso que nos entendamos, nosso passado não pode atrapalhar o que você tem com Marley.

As palavras flutuaram entre elas, não pesavam porque era sinceras e feitas de verdades, mas, ainda assim, cutucavam uma ou outra ferida reaberta. Naquele momento, Ruby falhou em dar uma resposta concreta. As palavras lhe faltaram e ela sentiu o coração apertar, Rachel não merecia escutar sobre um passado doído, ainda mais quando estava tão perdida em seu presente. O peso da culpa castigou os ombros de Ruby e a empurraram de encontro ao corpo pequeno de Rachel, abraçando-a apertado e sussurrando:

— Jamais deixe que alguém diga que você não está sendo verdadeira consigo mesma, isso não cabe a ninguém, nem mesmo a mim...

— Só farei isso se você prometer me parar, nem que seja na marra, na próxima vez que me ver em mais uma crise autodestrutiva. - Rachel comentou com a risada rouca ecoando sarcástica e consolando o coração apertado de Ruby, a californiana a acompanhou na risada, sentindo o abraço apertado da morena reconstruir tudo que tinha que tinha quebrado entre elas. As duas se separaram e Ruby, carinhosa, beijou a testa morena, Rachel a empurrou de leve, sorrindo o sorriso que a californiana lembrava... Aquele, de 1000 watts. - Chega de intimidade ou Marley vai pensar o que não deve a nosso respeito!

As risadas continuaram e, mesmo na ausência de pedidos verbais de perdão, Ruby sabia que tudo estava desculpado. A sua relação com Rachel nunca fora feita de palavras e sim, de atitudes. E mesmo que houvesse muito a ser dito, nenhuma das duas queria escutar. Ambas sabiam que palavras machucavam muito e as duas já tinham perdas enormes para acrescentarem mais uma a lista. Porém, logo, as risadas acabaram e as duas se olharam, sérias.

— Muito obrigada. - Ruby proferiu as palavras antes que pudesse sufocá-las e Rachel, tão leve quanto ela, sorriu de lado, envergonhada. Os olhos castanhos brilhavam de esperança, algo que não era visto dentro deles há muito tempo... O coração de Ruby aqueceu-se. Há muito tempo, ela gostaria que fosse responsável por aquela mudança, porém, agora, ela estava satisfeita por, simplesmente, presenciá-la. Rachel afagou-lhe a mão e respondeu:

— Não me agradeça, só faça Marley feliz e estaremos quites.

— Não... Eu posso me entender com Marley, mas, também quero que você seja feliz... Você pode ser, sabe disso. - As palavras não traíram a californiana dessa vez e carregavam a energia que gostaria que carregassem, elas atingiram Rachel em cheio, desaparecendo com o sorriso de lado, mas, fazendo com que a morena suspirasse profundamente.

Ambas acenaram uma para outra e aquela foi mais uma promessa silenciosa que fizeram e que foi colocada junta às tantas que elas já tinham... Essa estava ao lado daquela em que prometiam ficar juntas pelo tempo que fosse e, também, do lado daquela em que prometiam não se esquecer de quem perderam.

Mais uma promessa e, de certa forma, mais uma linha que engrandecia o laço que já possuíam.

Ruby não precisava se sentir esperançosa, mas, de fato, estava. Não por si e sim, pela sua amiga que, depois de tanto tempo, resolvera dar uma chance à própria felicidade.

As duas teriam se falado por mais um tempo, porém, o celular de Rachel tocara e o som do motor de carro foi escutado no estacionamento do “Jewelry of The Coast”. Rachel sorriu maliciosa quando escutou Marley se despedir dos garotos, rápida o bastante para ainda ter tempo de olhar para Ruby, corada e ansiosa, e dizer:

— Divirta-se, Clearwood.

— Você também, Berry. - Foi a resposta de Ruby, dita quase que para o silêncio do salão, enquanto Rachel se esgueirava pelos fundos do restaurante e desaparecia na ensolarada manhã de Santa Monica.

E a morena mal saíra quando outra loira entrou no local, Marley estava tão corada quanto Ruby e permaneceu parada, um tanto que insegura, junto às portas de entrada do “Jewelry of The Coast” antes de ajeitar os óculos e caminhar até Ruby. A californiana a recebeu de braços e coração aberto, apertando-a junto de si. Ruby respirou fundo nos cabelos de Marley e suspirou apaixonada:

— Você está cheirosa, garota de New York. Isso tudo é para mim?

— Depende, você merece? - Marley retrucou com um sorriso enorme nos lábios, olhando-a de perto enquanto se ajeitava entre as pernas bronzeadas de Ruby. A californiana riu roucamente, roubando um selinho dos lábios que tanto a seduziam. Marley retribuiu o beijo e teria continuado caso a nova-iorquina não tivesse se afastado, exigindo uma resposta. As mãos peroladas escorregaram até encontrarem a cintura de Marley e ela respondeu:

— Diga-me você. O que eu fiz para merecer você?

— Eu desisto de vencer você nesse jogo estúpido de palavras, Clearwood! - Marley disse frustrada, corando diante das palavras que, mesmo ditas em tom de brincadeira, eram carregadas pela intensidade presente nos olhos azuis escuros. Ruby sorriu deliciada e, aproximando-se, sussurrou:

— Ótimo, eu não estava disposta a pensar em outra réplica depois dessa.

As duas se beijaram ao mesmo tempo em que Santa Monica efetivamente despertava. Contudo, tudo ao redor delas se tornou obsoleto. Afinal, as duas sonhavam... E era nos braços uma da outra.

 

Rachel se permitiu ficar, mesmo depois de ter dito que ia embora. E, dessa forma, ela viu tudo que se passara entre Marley e Ruby. Em outra ocasião, ela teria arranjado uma forma de perturbar ambas com aquilo, contudo, estava em situação semelhante ou, pior.

Diferentemente de Ruby, Rachel ainda não poderia exigir um beijo, mesmo que estivesse ansiosa por um. Jamais se sentira daquela forma, como se cada pedaço de si se visse, subitamente, necessitando as partes de outra pessoa. Claro que o desejo já era algo que ela compreendia muito bem, porém, agora, parecia muito mais do que isso... Rachel enxergava partes em Quinn que tinha certeza que não encontraria em mais alguém.

A morena não sabia explicar, mas, era como se Quinn, com todos os encantos e ressalvas, fosse feita exatamente para os seus olhos.

Rachel sabia muito bem quão envolvida estava, porém, continuava a surpreender-se com a capacidade de seu coração transbordar o sentimento que, até então, havia mensurado muito bem. Não sabia onde tudo aquilo a levaria, mas, não se negaria.

Já se machucara por querer muito e julgar não poder, só que, daquela vez, parecia diferente... Era como se algo além de sua compreensão estivesse arrumando tudo para que, de alguma forma, desse certo.

Rachel sorriu quando viu o rubor de Marley e a gargalhada da Ruby, as duas pareciam muito bem consigo mesmas e com o que dividiam, essa constatação esquentou o seu coração e, também, marcou a sua mente de forma que ela jamais interviria nas duas novamente, no futuro. Afinal, de certa forma, as invejava... A morena queria o que as duas tinham e estava disposta a lutar por aquilo.

O caminho para longe do “Jewelry of The Coast” foi acompanhado pelo som das ondas e das conversas dos passantes que, lentamente, tomavam conta da orla de Santa Monica. Rachel olhou ao seu redor, os olhos brilhando tanto pelo sol quanto pela energia que, lentamente, preenchia seu corpo. Os últimos dias foram feitos de confusão e desentendimentos, só que, agora, algo dentro dela dizia que tudo isso passara... Era o recomeço pelo qual tanto esperara.

A pequena morena respirou fundo quando, enfim, chegou à lambreta velha que Finn arrumara com alguns conhecidos na cidade. Não era muito, mas, de certa forma, parecia ser o certo para aquele dia. Rachel, pela primeira vez, não queria impressionar uma pessoa e sim, mostrar a ela do que era feita. As aparências pouco importavam no começo daquele dia porque ela pretendia entregar muito mais...

Pensando nisso, Rachel olhou para os céus azuis de Santa Monica. Não procurou nada no azul e nem encontrou nada entre as nuvens, mas, nem mesmo isso tirou o sorriso de seus lábios. Pelo contrário, ele se alargou porque, de alguma forma incompreensível e saudosa, a morena sabia que ela estava em algum lugar, lá em cima, zelando por tudo que ela faria naquele dia.

Depois de tanto tempo, Rachel voltara a acreditar em muitas coisas... E, dessa forma, ao acreditar, ela também permitia se aproximar de quem se afastara por meio da dor. A dor tornava as coisas reais, assim como precisava ser sentida para fazer aquilo que não doía valer à pena. E voltar a se aproximar de uma pessoa era válido, ainda mais porque se privara daquilo e porque, mesmo a perda, não apagava o que fora vivido.

Rachel tinha várias lembranças em sua mente relacionadas a quem procurava no céu - e em tudo que fazia em sua vida - contudo, se lembrava claramente do que ela sempre dizia diante de qualquer desafio que surgia em seu caminho.

Quebre a perna.

A morena quase a escutou dizer isso quando apanhou o celular e digitou uma rápida mensagem, dizendo que estava a caminho do que o Verão reservara a ela. Rachel subiu na lambreta e deu partida nela, enquanto entrava no trânsito de Santa Monica. Era dia, não havia algo diferente no céu... Mas, os olhos castanhos pareciam duas estrelas brilhantes através do visor do capacete que Rachel usava.

E dentro dela, uma supernova parecia explodir... Destruindo aquele buraco negro que tanto a sugara em todos aqueles anos e dando vida a uma nova estrela. Tão brilhante quanto àquela que se perdera quando ela partira.

# # # # #

A campainha tocou ruidosamente no apartamento dividido por Santana, Brittany, Kurt e Quinn. No interior de um dos quartos, Kurt gritou afetado diante do som e também se pode escutar uma sequência de sons que indicavam revirar de roupas e bater de portas, provavelmente, do guarda-roupa. Santana, que estava tomando o café na pequena cozinha, se viu obrigada a atender a porta já que Brittany, que a acompanhava, parecia entretida com o celular.

No meio do caminho até a porta, a campainha tocou pela segunda vez e novos sons apressados foram escutados do interior do quarto que, agora, Santana pode discernir como sendo de Kurt e Quinn. A latina revirou os olhos e xingou baixinho, em espanhol, para a pessoa apressada àquela hora da manhã.

Depois da noite que tiveram, tudo que a latina queria era uma boa e longa noite de sono. Mas, foi agraciada com os cochichos e risadas de Quinn e Kurt, até altas horas da madrugada, que podiam ser ouvidos através da parede de seu quarto, sem contar nas mesmas vozes que a acordaram cedo.

Santana não sabia o que estava acontecendo com aqueles dois, mas, estava bem disposta a matá-los quando eles saíssem daquele quarto.

Finalmente, a latina chegou à porta e a abriu. Ela tinha a sua melhor bitch face no rosto que, logo, se transformou em uma expressão curiosa e interessada quando viu quem estava no corredor.

Rachel, a anã folgada e conhecida de Kurt - que quase os fizera ser presos na noite anterior - tinha um sorriso no rosto que não diminui com a intensidade de seu olhar indagador e, mesmo sem maquiagem, ela não trazia muitos vestígios da briga da noite anterior, claro que um arroxeado na pele entre a testa e o olho atingidos, mas, nada de mais. Santana não pode deixar de pensar que até mesmo a genética da anã era boa.

A pequena tinha os cabelos castanhos bagunçados, de uma forma que até mesmo Santana admitia estar sensual, e os olhos estavam diferentes do que ela se lembrava. Era como se alguém tivesse acendido um rojão e enfiado dentro dela, Rachel parecia prestes a explodir. E ela se arrumara, usava um macacão jeans sem mangas com um cropped floral por baixo e tênis nos pés. Santana imaginava que ela, provavelmente, deveria ter algum boné para completar aquele visual de menina despojada.

Santana não deu espaço para que a pequena morena entrasse, pelo contrário, cruzou os braços na altura do peito e encostou-se ao portal. A sobrancelha negra arqueou-se e foi aí que a latina quebrou a aura de felicidade de Rachel, essa também arqueou a sobrancelha como se a desafiasse. Santana revirou os olhos e grunhiu:

— Eu diria um “bom dia” se tivesse dormido bem, suponho que você seja a causa dos cochichos e risadinhas que eu tive que ouvir durante a madrugada e isso não ajuda meu humor para lhe cumprimentar.

Rachel revirou os olhos para as palavras da latina e mesmo que, agora, ela estivesse chateada pelas palavras que escutara, nada tirava aquele brilho de seus olhos, eles pareciam ser resistentes a qualquer coisa naquele dia. Rachel responderia se não fosse interrompida por braços fortes que a abraçaram e a ergueram do chão, tudo que conseguiu discernir foram cabelos loiros em sua visão. O seu coração até acelerou antes de identificar Brittany sorridente a sua frente.

A loira abraçou Santana pela cintura e, naquela posição, as duas pareciam como pais que recepcionavam o futuro namorado da filha - uma toda julgadora e intimidadora e a outra, gentil e condescendente - entretanto, o sorriso nos lábios da loira fez cópia nos de Rachel e Brittany disse animada:

— Eu espero que S não tenha tratado você mal! De qualquer forma, você só precisará agüentar o mau humor matinal dela por alguns minutos, eu tenho certeza que Quinn logo estará pronta e vocês poderão sair...

— Quinn, pronta...? O que...?! - Santana gaguejou as palavras com confusão e, também, indignação. Com certeza, ela estava próxima de dizer algo extremamente ofensivo a Rachel, mas, foi bruscamente interrompida pelos lábios de Brittany que a beijaram e que, imediatamente, tiraram-na de órbita. Santana tinha os olhos desfocados quando a namorada se afastou e Rachel, segurando o riso diante de toda aquela situação, disse:

— Ah sim, sem problema... Mas, eu esperava que ela estivesse pronta já que ela respondeu a minha mensagem perguntando o endereço com certa rapidez.

— Ah não, quem respondeu fui eu. Quinn chegou tão desatenta na noite passada que o celular dela pousou na mesa da cozinha, eu me levantei para tomar café e eu vi a sua mensagem. Não poderia deixar de responder, S diz que é rude não responder algo de imediato. - Brittany respondeu gentilmente, estendo o celular de Quinn para Rachel que, sem jeito, o apanhou. Santana permanecia calada, recuperando-se aos poucos do beijo que recebera enquanto a sua namorava parecia alheia a tudo, ainda que estivesse evidentemente feliz pelo que acontecia. - Mas, você quer entrar? Nunca se sabe quanto tempo Kurt e Quinn são capazes de ficarem trancados em um quarto planejando algo, ainda mais para um encontro.

— Encontro...?! - Santana voltou a perguntar incrédula, a latina piscou várias vezes até chacoalhar a cabeça e voltar os olhos aguçados para Rachel. A pequena morena recuou e a olhou com a expressão confusa. Santana assumiu uma postura defensiva e nem mesmo Brittany conseguiu contê-la quando ela deu um passo à frente, parecendo uma predadora. - Eu espero que você não faça Quinn ser presa hoje, enano de jardim!

A expressão de Rachel mudou na hora, ela não sabia o que as palavras em espanhol significavam, mas, ofendeu-se apenas pelo tom de voz de Santana. A pequena morena aprumou a postura e ergueu o queixo, não se dando por vencida naquela batalha de ofensas. Brittany, no meio das duas, não sabia o que fazer e olhava de uma para a outra, ansiosa. Rachel abriu a boca para responder a altura quando o som da porta do quarto, até então, trancado, foi ouvido.

O trio na porta, imediatamente, teve a sua atenção atraída para quem vinha pelo corredor, através da sala. Primeiro, foi Kurt. O moreno tinha os olhos claros ligeiramente avermelhados pelo cansaço e ainda usava os pijamas com estampas da Gucci. Ele tinha um sorriso satisfeito nos lábios e um corar divertido nas bochechas, Kurt abriu espaço e, por fim, Quinn finalmente chegou às proximidades da porta.

Rachel ofegou quando a viu e isso não passou despercebido por Kurt que riu baixinho antes de ir até a cozinha para apanhar uma xícara de café. Quinn usava shorts jeans de cós alto, uma blusa de gola em vê com uma estampa geométrica em tons de verde, marrom e rosa - o verde, particularmente, realçava a mesma cor de seus olhos - nos pés, ela usava um All Star de cano curto branco e uma bolsa nos ombros que trazia a sua câmera e seus pertences. Era uma versão veraneia daquela Quinn que chegara a Santa Monica, em calças e camisas jeans, mas, mesmo diferente, parecia com ela... Sem fingimento algum.

Ao lado de Rachel, Santana também estava impressionada e piscava várias vezes enquanto Brittany sorria e dava pulinhos excitados. Quinn, diante de tantos olhares sobre si e, principalmente, diante da intensidade dos olhos de Rachel em si, corou. A loira sorriu acanhada e, tímida, sussurrou:

— Desculpe a demora.

— Não foi nada... Aliás, valeu bastante à pena. - As palavras em tom de flerte saíram antes que Rachel pudesse policiá-las, ela se arrependeu imediatamente porque Quinn era diferente e as coisas não poderiam ser ditas, daquela forma, para ela. A loira, porém, continuou a sorrir e o rubor em seu rosto se acentuou. Nervosa, Quinn colocou uma mecha loira atrás da loira e sugeriu sorridente:

— Ahm... Podemos ir, se quiser, Rachel.

— Oh sim! Vamos! - Rachel sobressaltou-se e deu mais um passo para trás, saindo completamente do apartamento. Um sorriso potente se instalara nos lábios carnudos e a dona deles tinha a impressão que todo aquele dia seria daquela forma. Quinn logo a acompanhou e as duas acenaram para os demais, na porta do apartamento. Elas estavam envergonhadas demais para conversarem uma com a outra, naquele momento, e já haviam passado pela porta do apartamento silencioso que Biff dividia quando escutaram Santana gritando pelo corredor:

— Traga-a inteira ou eu castro você! E quando eu digo isso, eu falo dos seus dedos anões, Berry!

Em seguida, escutaram os xingamentos em espanhol e as broncas de Brittany e, tudo isso, provocou risos nas duas. Elas se olharam e Rachel segurou a porta do elevador para que Quinn entrasse, novamente, a loira corou com o gesto e Rachel julgou aquelas bochechas vermelhas como o melhor prêmio de seu dia que começara. O elevador deu um solavanco antes de iniciar a decida e Rachel, com as mãos nos bolsos do macacão, sussurrou:

— Pronta para conhecer a minha Santa Monica, garota de Yale?

— Eu achei que nunca fosse perguntar, Rachel. - Quinn respondeu excitada, soando corajosa como jamais fora. A morena fez uma careta para o seu nome, mas, gostou da forma como ele soava na voz de Quinn. Ainda assim, quando o elevador finalmente chegou ao térreo, a morena sussurrou:

— Pode me chamar de “Rae”.

Quinn acenou com a cabeça e, assim que saíram do prédio para o sol de Santa Monica, tanto ela como Rachel colocaram os seus óculos de sol. A loira procurou pelo jipe de Puckerman e não o encontrou em lugar algum, quando seguiu Rachel e discerniu o que ela usava naquele dia, riu. A morena lhe estendeu um capacete enquanto subia na velha lambreta e, com um sorriso diante do olhar indagador de Quinn, ela disse charmosa:

— Eu não me esforcei tanto pelo seu sim para que esse dia não seja, no mínimo, especial do início ao fim.

Quinn riu para o charme natural que Rachel possuía, também não ligou para o flerte e sim, deliciou-se com ele. Ela aceitou o capacete, assim como, subiu na garupa da lambrete e, mesmo trêmula, se segurou à cintura delgada da morena. Santa Monica se abriu de forma diferente para ela naquela manhã, era como se ela encontrasse na cidade e dentro de si porções que desconhecia.

O vento batia em seu rosto e ricocheteava os fios de seu cabelo cobertos pelo capacete, ela se segurava à garota que tanto mexera consigo e, naqueles minutos, no trânsito matinal de Santa Monica, ela se esqueceu de quem era e abraçou aquela Quinn que começava a surgir.

Ela podia se acostumar aos flertes de Rachel assim como se acostumara ao cheiro de maresia e ao sol a pino. Era Verão e nada podia atingi-las, não naquela cidade, não na California.

 

A orla de Santa Monica já estava viva e pulsante. Os grupos de pessoas passavam a caminho do Píer, repletos de conversas e risadas, calorosos como o Verão que se erguia glorioso diante de todos. Os sons das ondas mesclavam às palavras e o azul do Oceano Pacífico refletia-se em olhos brilhantes de excitação ou nas lentes dos óculos de sol.

Não existia lugar como a California.

Dax Clearwood conhecia pouco do resto dos Estados Unidos da América, sobretudo, porque nunca teve muita coragem e vontade de deixar as areias e o mar que tanto amava. Ele era a prova viva de que realmente existia algo hipnotizante naquela paisagem, era como se realmente existisse um canto de sereia nas águas que banhavam Santa Monica, algo sempre o forçara a ficar.

Em primeiro lugar, fora sua mulher... A bela Saphire que, entre muitos, o escolheu. A mulher que amara intensamente e que lhe dera o melhor presente de sua vida. E quando Saphire se foi, ele poderia ter partido, mas, Ruby o fizera ficar. Assim como a mãe, Ruby era algo que o mantinha ali, apaixonado pela cidade e, também, pelo ato de ser pai. A perda da esposa e da mãe aproximou os dois de uma forma incrível, Dax sabia muito sobre a filha e tinha a plena consciência de que ela também sabia muito sobre ele.

Ruby não demoraria a descobrir que ele deixara certas coisas não-ditas assim como ele sabia que algo acontecera com a filha nos últimos dias...

Existia uma energia calorosa circundando o corpo da filha, algo que fazia os olhos azuis dela brilharem e que sempre traziam um sorriso aos lábios castigados pelo sol. Dax via o rubor nas bochechas peroladas pelo sol e o reconhecia como se fosse seu. Ele já vira aquilo, há algum tempo, mas, fora quando Rachel Berry ainda era uma das poucas pessoas importantes na vida de Ruby.

Dax as vira juntas e o que elas eram agora não era compatível com essa energia que escaldava a filha. Existia alguém, ele sabia. Assim como sabia que Ruby também pensava o mesmo dele. Ele estava feliz pela filha e aliviado por si, não se sentiria bem se ela ainda remoesse algo que poderia ter existido com Rachel... Ruby merecia ser feliz, com quem fosse capaz de lhe fazer feliz.

Enquanto pensava e sorria para o estado emocional da filha, Dax terminava de arrumar as cadeiras e mesas na varanda ao redor do restaurante. Ele não administrava o “Jewelry of The Coast” há alguns anos, mas, ainda sabia que logo, as pessoas já estariam à procura de um local para almoçar e por mais que o empreendimento noturno da filha fizesse sucesso, ele sabia que o almoço era essencial para o funcionamento do restaurante.

Por isso, ele voltou ao salão principal para procurar a filha e, principalmente, apressá-la com os preparativos para a chegada dos demais funcionários. Porém, quando Dax entrou no salão, ele encontrou justamente aquilo que aguçara a sua curiosidade nos minutos anteriores.

Não era confortável ver a sua filha tão concentrada e, principalmente, tão envolvida— a ponto de esquecer o horário de trabalho, justamente Ruby que era extremamente responsável - com outra pessoa a ponto de se esquecer de tudo que a cercava. A cena que via não contribuía em nada para todo o embaraço da situação, Dax queria fechar os olhos, mas, uma hora, aquilo ia acontecer levando em conta o que queimava dentro de Ruby.

Dax pigarreou, chamando a atenção das duas garotas. Ruby, que prensava a garota que beijava de encontro a uma mesa, de tal forma que a garota estava praticamente em cima da madeira, parou assustada. Os olhos azuis tão semelhantes aos do pai se arregalaram, Ruby tinha uma expressão assustada que logo se converteu em rubor ao localizar o pai. Dax ria e Ruby engolia em seco, os lábios inchados pelos beijos.

A garota, nos braços dela, visivelmente mais nova e inexperiente, ofegou e tensionou-se sobre a mesa. Ela abaixou os olhos e respirou fundo, sem saber como reagir. Dax cruzou os braços e um sorriso brincou no canto da sua boca. Ele riu baixinho e sentiu os olhos da filha censurarem as suas atitudes, depois, ele brincou descontraído:

— Eu prometo que baterei, na próxima vez.

— E nós agradeceremos, papai. - Ruby respondeu levemente irritada, a expressão dividida entre sentir vergonha e manter-se séria. A atenção dela voltou-se para a outra garota e Ruby beijou-a na testa, atraindo a sua atenção. As duas se olharam e Dax viu o sorriso encorajador nos lábios da filha, em seguida, ela estendeu a mão e teve que, praticamente, puxar a outra de cima da mesa. As duas se aproximaram e Dax pode dar uma olhada melhor na garota que beijava a sua filha até então.

A timidez era um traço que deixava a outra loira ainda mais bonita, ela parecia muito diferente de Ruby, contudo, isso não parecia ser ruim. Era como se ela completasse a sua filha de uma forma que Rachel fora incapaz. A jovem ruborizou-se ainda mais quando o contato visual foi estabelecido, mas, mesmo sem jeito, estendeu a mão e gaguejou educadamente:

— S-sou M-Marley Rose, senhor... Peço desculpas pelas condições em que nos conhecemos.     

— Ah, por favor, Marls! Depois, Rach que é adepta dos monólogos, não é? - Ruby disse com um sorriso gentil, abraçando-a pelos ombros. Dax abrandou a expressão e descruzou os braços, apertou a mão que lhe era estendida e surpreendeu-se com a força do aperto. Marley estava determinada a causar uma boa impressão e ele gostava do que via. Assim que o aperto de mão terminou, Marley olhou de esguelha para Ruby e Dax, encantado, observou a filha sussurrar algo no ouvido dela.

Imediatamente, a expressão tensa de Marley se abrandou e ela até mesmo sorriu, um sorriso inquieto que, mesmo assim, a deixou adorável. Dax lembrou-se de um quadro parecido, há muitos anos, quando conheceu os pais da esposa.

Saphire fez exatamente o mesmo, sussurrou que tudo ficaria bem em seu ouvido e eles ficaram, por muito tempo, até uma doença maldita a levar. A memória da esposa ainda lhe doía, mas, naquele momento, foi um carinho bem vindo ao seu coração. Dax acreditava que, onde estivesse, Saphire zelava por eles... Ela zelava por momentos como aquele em que ambos, sem exceção, estavam felizes (ainda que Dax não soubesse muito que fazer com o que o trouxera até ali antes de levá-lo a Malibu).

Ruby estava se dando outra chance, depois de Rachel... Será que ele deveria fazer o mesmo? Depois de tanto tempo...?

— Marley é amiga de Rachel, de Julliard... Só que Marley cursa música com ênfase em voz. - Ruby anunciou orgulhosamente, atraindo a atenção do pai que sorriu surpreso para a nova-iorquina. Aquela timidez realmente guardava algo mais, Dax, surpreendido, perguntou:

— Pretende ser uma cantora famosa, senhorita?

— Ah não, senhor... Palcos não são os locais em que eu me sinto melhor. Porém, eu gostaria muito de dar aulas. - Marley respondeu mais tranqüila, o assunto era algo que ela dominava com primor e, por isso, sentia-se confortável com o que dizia. Ruby envolveu-a pela cintura e beijou-lhe o ombro, ela voltou a ruborizar e sorriu para os próprios pés. - E eu não sei bem se teria o necessário para me performar em palcos, por aí...

— Ela está sendo modesta, essa garota canta Aerosmith de uma forma que deixaria Steven Tyler com ciúmes, papai! - Ruby completou com um sorriso liberto, cheio de orgulho. Dax voltou a se surpreender, ele realmente não esperava que uma garota tão tímida tivesse uma alma rockeira com tanto bom gosto. Ele estava realmente interessado em Marley Rose e a sua filha? Perdidamente apaixonada por ela. Marley acenou negativamente com a cabeça e suspirou antes de dizer:

— A sua filha está sendo generosa em seus comentários.

— Bem, eu só saberei se ouvi-la, certo? E eu espero que isso ocorra... - Dax respondeu de forma gentil, sorrindo caloroso e receptivo para Marley que acenou afirmativamente com a cabeça. Ele aproximou-se de Ruby e deixou um beijo no rosto da filha, fazendo o mesmo com Marley, em seguida, ele deu às costas as duas, em direção às cozinhas. - De qualquer forma, você já fez uma bela impressão sendo tão educada e gostando de Aerosmith, Marls!

Dax pode escutar as risadas de Ruby, seguida de uns poucos resmungos de Marley que foram interrompidos, com certeza, por um beijo, ao deixá-las a sós. Ele sorriu para o que viu e sentiu que a energia que escaldava o coração da filha havia sido transferida, um pouco, para o seu peito.

Na cozinha, ele podia escutá-las conversando e brincando e isso arrancou um olhar satisfeito de si. Ruby estava feliz e ele estava feliz por ela, ainda que não fosse plenamente. Dax olhou para o teto da cozinha e os seus olhos estavam em busca de algo acima dele, Saphire, lá de cima, voltava a fazer a sua magia... Existiam coisas incompreensíveis e aquela era uma delas.

Dax sentou-se em uma cadeira e fechou os olhos, escutando a felicidade contida na voz da filha... Aquele sim era o seu tesouro preferido e momentos como aquele lhe lembravam porque ficara na California. As suas duas preciosidades estavam ali e ele, jamais, as abandonaria.

# # # # #

Se, antes daquele Verão, alguém dissesse a Rachel Berry que ela seria capaz de observar uma pessoa, por minutos infinitos de silêncio e sentir-se bem com somente isso, ela provavelmente diria que a pessoa estava maluca.

Porém, aquele Verão não cansara de surpreender e era por isso que ela sentia, de alguma forma, que as coisas estavam sendo guiadas para mudá-la para sempre. Naquele instante, ela caminhava com Quinn por uma das ruas de Santa Monica. Não era a famosa Third Street Promenade, mas, era especial para Rachel.

Aquela rua, mais especificamente, um aglomerado de lojas em um terreno no final dela, era um dos locais que faziam parte da Santa Monica que Rachel queria que Quinn conhecesse. Essa Santa Monica não era tão badalada, nem tão movimentada como aquela apresentada nos folhetos turísticos... Era uma cidade dos locais, daqueles que viviam e não somente passavam por ela no Verão. Sobretudo, era a cidade que Rachel conhecera com Puck, Sam e Ruby, a cidade que esses três, tão especiais em sua vida, amavam e que Rachel aprendera a considerar como casa.

Era a cidade apresentada aos poucos e, no caso de Rachel, a cidade que ela reservara para quem julgasse ser a certa... Rachel corou diante desse pensamento e o seu coração esquentou pelo que sentiu logo em seguida, os seus olhos castanhos cobertos pelos óculos de sol buscaram algo no céu azul de Santa Monica e ela sorriu. Sabia que não havia muito visível lá em cima, mas, momentos como aquele a faziam sentir que, mesmo sem visualizar, algo existia.

Quinn estava com as mãos e os olhos ocupados, a câmera em suas mãos trabalhava com afinco, ela focava naquilo que parecia cotidiano e que aos seus olhos e a sua alma sensível, tornavam-se arte. Rachel visualizara poucas fotos de Quinn, só que o que vira era impressionante. A loira transformava um pai de mãos dadas com a filha em uma imagem de carinho e cuidado, um senhor sentado na frente de casa a observar a movimentação em sua rua em um retrato de parcimônia e o beijo de um casal apaixonado em um símbolo de cumplicidade... Quinn tinha talento e Rachel realmente esperava que ela estivesse fazendo algo com aquilo que possuía.

As duas pararam, pela terceira ou quarta vez, para que Quinn enquadrasse e tirasse a foto da rua deserta. Longe delas, a movimentação da Third Street Promenade poderia ser vista, mas, ali, elas pareciam isoladas de qualquer influência externa. Elas estavam sozinhas, mesmo no meio de algumas pessoas, afinal, o que importava era, justamente, a outra.

A câmera foi baixada dos olhos e Quinn voltou os óculos escuros, anteriormente, no alto de sua cabeça. Ela olhou por cima do ombro para Rachel e existiu algo na forma como os seus cabelos movimentaram-se com o vento que praticamente hipnotizou a morena. Rachel sorriu calorosa para a loira e Quinn corou, abaixando a cabeça e, entre um sorriso e uma expressão envergonhada, disse:

— Eu estou nos atrasando, não é? Desculpa...

— Sem problemas... Eu acho que essa sua necessidade de captar cada momento desde que chegamos só evidencia que a minha Santa Monica continua apaixonante da mesma forma que me pegou há alguns anos. - A resposta veio rápida à boca de Rachel, tão rápida que ela sentiu que falou mais do que deveria. Essa percepção apenas aumentou e brilhou o seu sorriso ainda mais, há quanto tempo não monologava daquela forma?

— Santana sempre diz que eu preciso fotografar para relembrar e não viver para fotografar. - Quinn comentou tímida, ajeitando os óculos de sol enquanto apertava a câmera entre as mãos. Os seus gestos revelavam a sua discordância em relação às palavras da melhor amiga, contudo, também mostravam que Quinn importava-se com a opinião dos outros. Rachel fez uma careta para o que ouviu, ela discordava... Afinal, cada um apreendia a vida de uma forma e se expressava diferentemente.  

As duas voltaram a andar, lentamente, como se quisessem fazer aquela caminhada durar mais do que, racionalmente, deveria. Rachel olhou de esguelha para a loira, observando as feições bonitas mexidas pela vergonha, Quinn com toda aquela insegurança não sabia quão atraente poderia ser... A morena não conseguia tirar os olhos dela e, depois de muito observá-la para pesar as palavras, suspirou e respondeu resoluta:

— Se é algo com o qual se sente bem, não precisa ser aprovado por essa ou aquela pessoa... Eu sei que opiniões são importantes, mas, se existe uma que realmente importa, essa é a sua sobre si mesma.

O aperto na câmera se aliviou e as mãos livres de Quinn foram colocadas nos bolsos dos shorts que usava. Um sorriso mais seguro brotou nos lábios róseos e, se Rachel pudesse ver os seus olhos, enxergaria o esmeralda brilhando como nunca. Todos aqueles pequenos gestos revelavam um relaxamento da loira mediante àquilo que escutara. Como poucas vezes em sua vida, Quinn se sentiu compreendida.

Era incrível se sentir entendida mesmo com poucas palavras e gestos. Rachel não parava de surpreendê-la desde que iniciaram aquele dia.

O silêncio entre as duas não foi incômodo e Rachel deliciou-se neles, era tranqüilizador ficar assim com uma pessoa como Quinn. Mesmo na ausência de palavras, a morena sentia que se comunicava verdadeiramente com a outra... Era como se o silêncio falasse aquilo que ela ainda tinha medo em dizer. Naquele silêncio, quem sabe, Quinn pudesse escutar o acelerar de seu coração.

Distraída em seus pensamentos, Rachel não percebeu quando a câmera foi, mais uma vez, erguida e, dessa vez, em sua direção. Quinn voltou a prender os óculos de sol no alto da cabeça e enquanto caminhava, tentava focar o rosto da morena da melhor forma... Era difícil pelos movimentos de seu caminhar e não porque Rachel não era fotogênica. Pelo contrário, Rachel era fácil de captar, ainda que fosse difícil de retratar.

A aura de mistério cercava a morena mesmo em uma foto e foi justamente isso que Quinn captou com o seu clique. Os olhos castanhos escondidos pelos óculos de sol, os cabelos castanhos bagunçados - e extremamente sensuais - pelo curto trajeto de lambreta e pelo vento matinal, a cabeça levemente inclinada em direção ao chão e, para surpresa de Quinn, um discreto sorriso no canto dos lábios carnudos...

Claro que, ao apertar o botão da câmera, o som do obturador digital foi escutado e Rachel se virou, imediatamente, para ela. O rosto de feições fortes até manifestou o incômodo que, rapidamente, dissolveu-se em um sorriso acanhado e em um rubor discreto nas bochechas morenas. Quinn riu e encolheu os ombros, uma postura que denotava o seu divertimento por ter sido pega no flagra e Rachel, agitando a cabeça, disse envergonhada:

— Caso continue a me pegar de surpresa dessa forma, eu terei que retirar as minhas palavras de apoio ao seu amor pela fotografia.

Quinn riu abertamente soando como música aos ouvidos de Rachel, ela também se deixou levar pelo que escutara e logo, o seu peito também estava repleto de riso e diversão. A loira verificou a foto e pareceu gostar do resultado, depois, voltou os olhos esmeraldas libertos para a sua companhia e comentou reservada:

— Não é a primeira vez que eu fotografo você.

A afirmação, ainda que discreta e, de certa forma, envergonhada, pegou Rachel de surpresa. Os olhos esmeraldas continuavam intrincados nos seus e eles divergiam, completamente, do resto de Quinn. Os olhos buscavam respostas e, principalmente, afirmação. A loira queria saber o que ela pensava e, essencialmente, o que aquilo significava. Rachel não sabia a resposta para o segundo questionamento, mas, adoraria respondê-lo junto de Quinn. Dessa forma, a morena pigarreou e um sorriso charmoso formou-se em seus lábios, quando ela falou, sua voz saiu charmosa:

— Eu me sinto lisonjeada, senhorita. Pelo que eu vi, não é qualquer um que atrai a sua atenção e é digno de suas fotos.

Quinn continuou a sorrir e Rachel apontou um imenso portão aberto de metal. As duas entraram no local que era um imenso terreno, repleto de pequenos quiosques e lojinhas. Quinn viu um estúdio de tatuagem, um salão de beleza com uma barbearia e um pequeno restaurante entre as construções. No centro do terreno existia uma espécie de convívio social onde estava sentado um grupo de pessoas que tocavam uma música qualquer embaixo de uma tenda.

Elas caminharam pelo local, a princípio, sem destino algum até que Rachel as levou até uma mesa de madeira com bancos inteiriços e guarda-sol. As duas sentaram-se lado a lado, existia espaço o bastante no banco, mas, elas preferiram que seus cotovelos se encostassem, enviando correntes elétricas através de seus corpos que se convertiam em sorrisos e olhares inquietos ao chegaram em seus rostos. Quinn colocou a máquina sobre a mesa e apoiou o rosto na mão, virando-se para Rachel para perguntar:        

— Muito bem, onde estamos agora?

— Bem, esse local não tem um nome e você não o encontrará em um dos folhetos de Santa Monica... Mas, é especial. Foi aqui que eu conheci Puck. - Rachel respondeu enquanto olhava ao seu redor, o tom saudoso em sua voz fez Quinn suspirar. Os olhos castanhos prenderam-se no estúdio de tatuagem do lado oposto em que conversavam e a morena acenou para alguém do lado de dentro da vitrine em que se lia “Freedon Ink”. - E ali foi onde eu fiz a minha tatuagem quando tinha 15 anos.

— Ah sim, a constelação e os versos, eu acho... - Quinn comentou baixinho e, conforme dizia, mais se envergonhava. Deixara evidente que reparara em Rachel mais do que deveria. A morena sentiu-se cheia com isso, o sorriso em seus lábios brilhou ainda mais, tão potente quanto o sol acima deles. Ela acenou com a cabeça e perguntou:

— Você reconheceu a constelação?

— Na verdade, eu deduzi... Também me lembro do seu cordão de prata com a estrela no pingente e ontem à noite, você olhou para o céu antes de eu deixar de vê-la... Eu suponho que estrelas sejam importantes para você. - Quinn explicou rapidamente, as palavras soando delicadas e cuidadosas. De alguma forma, ela sabia que adentrara em parte do mistério que envolvia Rachel e não queria afastá-la por ser observadora demais. O medo acelerava o seu coração, mas, não queria mentir para a morena. Não agora, depois de tudo que viveram naqueles poucos dias.

Rachel, diferentemente de todas as vezes em que sentia-se atingida pelo seu passado, não vacilou. Os seus olhos castanhos arderam e, talvez, ela pudesse ter chorado se outro sentimento não tivesse invadido e abraçado o seu coração. Com todas aquelas observações e deduções, Quinn revelara-se atenciosa e, de certa forma, carinhosa. A morena sentiu-se acolhida e compreendida. Simplesmente sabia que, mesmo se não respondesse ao que Quinn dissera, a loira saberia a resposta de alguma forma.

Essa particularidade invocou a memória de outra pessoa, de alguém que a deixara há algum tempo e que também sabia tudo sobre si. A memória da última pessoa que amara Rachel Berry sem ressalvas.

Os olhos castanhos se revelaram para Quinn quando Rachel removeu os óculos escuros. A morena agitou os cabelos castanhos e sorriu para os dedos da sua mão antes de respirar fundo e, virando-se no banco para ficar em frente à lateral do corpo de Quinn, responder mexida:

— Há muito tempo, eu costumava usar estrelas douradas para tudo... Elas eram metáforas do que eu queria ser e metáforas eram importantes. A tatuagem em minhas costas remete a isso, mas, também, a uma constelação específica: Cygnus ou, a Constelação do Cisne, se preferir.

Ao terminar, Rachel inclinou o corpo e ergueu a barra da blusa. A constelação apareceu para Quinn e ela observou, atentamente, os pontos escuros que representavam as estrelas brilhantes da constelação. A vontade de tocá-los e, principalmente, de sentir a pele morena, foi avassaladora e Quinn só não deu vazão a ela porque os seus olhos foram atraídos para as palavras entre elas. Curiosa, Quinn as repetiu:

— “Breaking the waves, watching the light goes down... Letting the cables sleep.”

— Você é insaciável, não é? - Rachel perguntou divertida enquanto ria roucamente. O calor de sua expiração tocou os cabelos loiros e infiltrou-se entre eles até chegar à pele de Quinn. Somente aí, a loira percebeu estavam próximas uma da outra. Lentamente, os olhos esmeraldas encontraram-se e prenderam-se nos castanhos. As respirações de ambas misturavam-se e elas pareciam estar prestes a afogarem-se uma na outra. Rachel foi a primeira a desviar os olhos, ela abaixou a barra da blusa e segurou a mão de Quinn, brevemente, antes de beijá-la. - Essa tatuagem não é a melhor forma de você me conhecer. Quem sabe, eu consiga falar tudo sobre ela na próxima vez que nos encontrarmos...

Existia uma tristeza visceral nos olhos de Rachel, uma do tipo que pegara Quinn e se refletira dentro dela. A loira preocupou-se com o que ouvira e nem mesmo o beijo em sua mão - e a febre provocada a partir dele - pode distraí-la da preocupação genuína que se apossara dela. Rachel parecia ser feita de ausência e saudade ao falar daquela tatuagem e aquilo apertara o coração de Quinn de tal forma que a fizera ofegar.

Tudo que Quinn queria era conhecer e, principalmente, remediar aquilo.

Rachel parecia tão pequena e aquele peso tão grande... Não queria que a morena carregasse aquele peso, fosse qual fosse, sozinha. Por isso, suas mãos moveram-se antes que pudesse pensar no que fazia. Rachel já desviara os olhos dos seus quando suas mãos seguraram a dela e Quinn, com um sorriso compreensivo, disse gentil:

— Sim, na nossa próxima vez que, com certeza, não será a última.

As palavras voltaram a trazer o sorriso para os lábios de Rachel, ela não se respondeu, mas, o que Quinn precisava enxergar estava em seus olhos e em sua postura mais relaxada. Ainda não tirara aquele peso todo da morena, mas, a carga estava dividida. Estranhamente, aquele compromisso soava quase como uma promessa.

Rachel não estava acostumada às pessoas se aproximarem daquela forma e, isso tornava ainda mais evidente a certeza de que aquela era uma oportunidade... Talvez, a sua última chance de dividir o que carregara sofregamente com alguém. Quinn inspirava confiança, parecia ser o tipo de pessoa que não ia embora. Pelo pouco que conhecia dela... Quinn era teimosa, tanto quanto podia ser determinada.

Quinn tivera todas as chances de desistir e, ainda assim, permanecera.

Ela, com certeza, se parecia com a pessoa que Rachel procurara. A pessoa que poderia ser a última das muitas que passaram em sequência em sua vida.

No centro do terreno, o grupo animado continuava a cantar... E aquelas pareciam as palavras certas que Rachel gostaria de ouvir caso conseguisse prestar atenção a algo que não fosse Quinn Fabray.

If you were my last breath, I’d just wanna hold ya

If you were my last night on wheels, I’d wanna drive you like I stole ya

If you were my last shot, last shot of whiskey

I’d press you to my lips, take a little sip

Swirl you around and around and around

Then I’d shoot you down...

# # # # #

Marley não poderia estar mais envergonhada de ser flagrada pelo pai de Ruby, porém, nem mesmo aquela situação constrangedora pode tirar o sorriso de seus lábios naquele dia. Durante parte da manhã e início da tarde, ela esteve silenciosamente sentada atrás do balcão de bebidas observando Ruby desfilar entre as mesas e atender os clientes, a californiana revezava-se, também, entre vociferar vozes e roubar beijos de Marley quando o movimento diminuía.

As duas almoçaram correndo entre beijos e garfadas, nos fundos do restaurante, enquanto Dax cuidava do local. E agora, no meio da tarde, o movimento diminuíra de tal forma que permitiu às duas sentarem-se em um dos locais mais reservados da varanda que cercava o restaurante. Ambas olhavam para o mar, Marley tinha os pés apoiados na madeira da cerca da varanda e Ruby escrevia algo no caderno em seu colo com a mão esquerda enquanto à direta acariciava as madeixas loiras da nova-iorquina.

A praia fervia e Marley sentia-se bem exatamente onde estava. Não sentia a necessidade de abandonar Ruby e seus toques, aliás, o carinho em seus cabelos estava deixando-a estranhamente sonolenta. Ruby continuava a escrever, mas, estava atenta ao comportamento da mais nova ao seu lado, tinha medo que toda aquela rotina de trabalho a entediasse. Por isso, assim que fechou o caderno e colocou-o no chão com a caneta que usara, perguntou receosa:

— Não quer ir à praia ou procurar os garotos?

— Nah... Eu prefiro ficar aqui com você. - Marley respondeu preguiçosa, inclinando a cabeça para perto de Ruby que riu roucamente antes de encaixá-la em seus braços, abraçando-a e beijando-lhe a têmpora. A nova-iorquina fechou os olhos e aspirou o cheiro de maresia e perfume que era único de Ruby antes de aconchegar-se no abraço. - E os meninos me disseram que ficariam ocupados hoje, eles estavam atrás de alguns instrumentos para alugar... Eu acho que pretendem se apresentar aqui logo.

Ruby franziu a testa para o que escutara, achando extremamente estranho aquele tipo de comportamento. Puck, Sam e Finn não faziam o tipo que largavam alguém do grupo sozinho e, também, nunca foram atrás de instrumentos por Santa Monica. Pensativa, a californiana correu as unhas pelo braço de Marley, sorrindo pela trilha de arrepios que deixava. Em seguida, ela acabou dando vazão às dúvidas que habitavam sua cabeça:

— Por que eles alugariam algo para tocar aqui? O restaurante só tem estrutura para alguns violões, cajón e no máximo, um teclado e um DJ. Eles só precisariam alugar algo se pretendem tocar em algo maior... Como o festival de música do Píer, por exemplo.

A mente sonolenta de Marley demorou a compreender as palavras, mas, quando o fez, a nova-iorquina pareceu ter levado um choque para sair do abraço de Ruby. A californiana olhou confusa para Marley que, agora, estava dividida entre o nervosismo e a confusão. Ela engoliu em seco e, ansiosa, disse:

— Por que os meninos iriam querer tocar nesse festival agora? Eles poderiam vir nas outras tantas vezes que Rachel veio a Santa Monica no passado...

— Bem, Puck sempre quis levar o negócio da banda a sério e ele sabe muito bem ser persuasivo quando quer. E nós duas sabemos que Rachel não é a maior adepta de cantar em público... - Ruby pensou em voz alta e, quando deu conta da sua linha de raciocínio, calou-se abruptamente. A sua frente, Marley tinha os olhos azuis arregalados e acenava a cabeça negativamente. Em seguida, a mais nova se levantou e passou a andar de um lado para o outro. Ruby também se levantou e parou em frente a ela, tentando pará-la em vão.

Marley sentia a garganta seca e o a cabeça leve, tinha plena consciência de que poderia estar à beira de um ataque de pânico e por isso se controlava, Ruby não precisava presenciar algo do tipo - era bem possível que perdesse metade dos encantos que achava possuir se desmaiasse nos braços californianos -, só que a única coisa que conseguia pensar era que teria que matar os meninos, incluindo Sam, quando eles voltassem.

Como eles faziam algo daquele tipo sem consultar a ela e a Rachel?

E Marley bem sabia que Rachel adoraria aquele tipo de coisa. A morena poderia até evitar cantar em público, mas, adorava um pouco de atenção. O que era o extremo oposto de Marley, tudo que ela queria era passar por aquele Verão na sua cota aprazível de loucuras - ela incluía a sua relação avassaladora com Ruby nesse pacote - sem qualquer perigo de se arrepender de algo no futuro. Já tivera demais com a confusão na noite anterior e não precisava de mais algum acontecimento explosivo e fora de seu controle.

Só que estava, mais uma vez, no centro do furacão.

Marley estava prestes a dar uma crise dramática quando mãos fortes e levemente calejadas seguraram os seus antebraços. Os olhos azuis escuros se fixaram nos seus e a nova-iorquina viu-se, mais uma vez, hipnotizada pela beleza de Ruby Clearwood. Naquele momento, a californiana a observava, preocupada e, quando a expressão de choque diluiu-se do rosto de Marley, ela respirou fundo e perguntou suavemente:

— O que foi, baby?

A resposta não veio de imediato porque o apelido carinhoso não passou despercebido na audição treinada de Marley. Ela sorriu apaixonada para Ruby que, sem entender, retribuiu o sorriso, insegura. A nova-iorquina suspirou e, encantada, perguntou:

— Do que você me chamou?

Subitamente, a inscrição da banda fictícia no festival de música do Píer em que, supostamente, ela, Marley Rose, seria a vocalista - mesmo tendo uma timidez ferrenha quando se tratava de palcos - não era tão importante. Tudo que importava era o tom preocupado e rouco de Ruby ao chamá-la de forma tão carinhosa. Ninguém a chamara daquela forma e não era exagero dizer que Marley estava nas nuvens.

— Eu chamei você de...! - Ruby até começou a responder, mas, logo, as suas próprias palavras se perderam em seu sorriso e em seu rubor. Marley tinha um brilho avassalador nos olhos e uma ansiedade apaixonante nas feições. As mãos peroladas percorreram os ombros e, em seguida, o pescoço para fazerem casa na base da mandíbula bem desenhada da nova-iorquina antes de puxá-la para perto, encaixando as bocas que, até então, conversavam.

O beijo trouxe calmaria para Marley ainda que a força dele fosse tão intensa quanto uma ressaca no mar. A sua ansiedade, o seu nervosismo e a sua insegurança foram expulsos e os espaços ocupados por Ruby. As mãos da californiana em sua cintura, a boca dela devorando a sua e a respiração dela, mesclando-se a sua enquanto o perfume da maresia a entorpeciam, fazendo-a esquecer que, há alguns momentos, estivesse com dificuldades de respirar.

Ruby, com um beijo, levara todas as suas preocupações.

Marley observou o sorriso satisfeito que se desenhou nos lábios castigados pelo sol que a enlouqueciam, os olhos azuis escuros estavam cheios de uma alegria brincalhona e, de certa forma, egocêntrica. Ruby estava satisfeita por ter conseguido distraí-la e Marley não reclamaria de seus métodos. Elas ainda sorriam uma para outra, extremamente próximas, quando a voz masculina conhecida, dona de toda a problemática da banda, chegou a elas:

— Se, algum dia, vocês quiserem tentar algo diferente, espero que não se esqueçam do Puckssauro aqui!

Puck acabara de chegar à varanda do “Jewelry of The Coast” com Sam e Finn flanqueando-o. Ao ouvir as palavras do bad boy, Sam logo de adiantou, acertando-lhe um tapa na nuca e enquanto Puck reclamava, Ruby se adiantou e o esmurrou no estômago. Ele se contorcia de dor enquanto ela esbravejava:

— Em outro dia normal, esse soco bastaria. Mas, não force a barra, eu estou bem propensa a castrar você, Puckerman!

— Vai com calma, Clearwood! Por mais que a ideia de você pegando no...! - Puck parou de falar ao ver os olhos da californiana semicerrarem-se fazendo com que a expressão dela, já ameaçadora, se tornasse demoníaca. Belamente demoníaca. Marley, um passo atrás dela, cruzou os braços e fechou a expressão, a nova-iorquina não resistiu e acabou direcionando um olhar acusatório a Sam que corou e engasgou. - O que diabo aconteceu a vocês? Nenhuma conseguiu satisfazer a outra durante todo o dia, sozinhas?

— Não força a barra, babacão. Elas estão putas com você. - Finn, surpreendentemente, foi a voz da razão e Puck encolheu-se diante do tom sério do amigo. Marley e Ruby direcionaram suas expressões contrariadas para o gigante e ele engoliu em seco. - Aparentemente, estão putas comigo e com Sam também. Agora, eu estou confuso.

Ruby riu ironicamente para a incerteza nos olhos dos três garotos. Ela não sabia se eles tinham noção do que fizeram, mas, ela não ia deixar barato. Por mais que Ruby também quisesse que Marley tivesse novas experiências, ela não precisava ser obrigada a algo, ainda mais, algo que ela - estranhamente - temia. Marley, ao seu lado, dera um passo a frente, a expressão determinada no rosto que tanto admirara fez as borboletas no estômago da californiana voarem como loucas...

Deus, ela estava perdida por aquela garota de New York.

— Não se façam de sonsos. Ruby me ajudou a entender por que vocês saíram tão cedo para alugar instrumentos e me largaram aqui. Quando pretendiam me contar que tinham escrito a nossa banda fictícia sem chance de existir no Festival de Música do Píer?! - Marley disparou acusatória, inclinando o corpo em direção aos rapazes que, assustados com uma postura tão defensiva de uma garota que, até então, parecera inofensiva, recuavam e encolhiam-se de encontro uns aos outros.

Ruby sentiu seu peito palpitar, existia algo mais naquela Marley fora de si que realmente estava tirando-a do sério. A californiana ofegou, incapaz de reagir a tanta explosão de intimidação atrativa e os olhos de Puck alcançaram os seus, ele teve a audácia de sorrir maliciosamente. Ruby revirou os olhos e tomou à frente:

— Não neguem porque eu conheço os três. Até então, vocês não tinham um diferencial porque Rach nunca quis ser vocalista... Foi só Marley aparecer que vocês resolveram ir em frente com essa loucura sem consultá-la.

— E por que deveríamos? A sua garota canta bem, Clearwood. - Puck estava bastante corajoso naquele dia e Ruby estava, verdadeiramente, segurando para não acertá-lo no meio das pernas. Os olhos dele desviaram-se dela e foram para Marley que, diante da menção de ser a garota de alguém, estava corada. - Nós podemos ter uma playlist só de Aerosmith e Steven Tyler, mas, precisamos de você, Marls! Eu sei que você tem, dentro de você, uma bela frontwoman... Só precisa ter os culhões para alcançá-la, os mesmos que você teve para encoleirar a Ruby!

Finn bateu com a mão na testa, reprovando as palavras do amigo de imediato. Sam o belicou na cintura, Puck se encolheu indignado e os olhou sem ter noção do tamanho de sua gafe. A quantidade de absurdos contida na resposta do bad boy fez com que Marley e Ruby ficassem caladas, por breves segundos, apenas para compreendê-los. Por fim, a nova-iorquina bateu o pé e esbravejou:

— Não que eu lhe interesse, mas, eu não tenho as porras de uns culhões, Puckerman! A resposta é não!

— Graças a Deus, você não tem culhões ou eu estaria seriamente desinteressada a esse ponto do nosso relacionamento... - Ruby não era de dizer coisas espontâneas, mas, de vez em quando, a sua convivência com o espírito imprevisível de Rachel a levava a dizer coisas como aquela. Mesmo no ambiente tenso, o que ela disse fez todos rirem, inclusive, Marley. A californiana revirou os olhos para a besteira dita. - O ponto é que vocês poderiam, pelo menos, ter discutido esse assunto com a Marls. Nem todo mundo gosta de uma dose diária de loucura.

— E não se trata de uma loucura de Verão... Nós acreditamos que Marls possa ser o que precisamos para realizarmos isso e temos certeza que Rach concorda. - Sam tomou a argumentação, soando gentil e, até mesmo, respeitoso em suas palavras. O loiro com o qual Marley imediatamente simpatizara tinha os olhos sinceros, ele se aproximou da nova-iorquina e segurou uma das mãos dela, Marley retribuiu o sorriso mesmo que não estivesse satisfeita com o rumo daquela discussão. Era impossível não se deixar seduzir por toda a tranqüilidade que Sam possuía. - Só queremos algumas boas memórias para contarmos aos nossos filhos e netos... A vida é feita de momentos e ninguém ganha ficando parado. Você não precisa decidir agora, mas, pensa no caso. Nós precisamos de uma frontwoman, Marls...

As palavras de Sam acertaram, em cheio, o frágil muro de negativas que Marley erguera em volta de sua insegurança. Subitamente, ela estava realmente pensando, sério, em seguir com aquela loucura. Puck sorria esperançoso e Finn, deslocado. Ruby, ao seu lado, esperava por sua resposta e Marley sabia que, independente do que dissesse, teria o apoio da californiana. Ela suspirou, fechou os olhos e, contrariada, respondeu:

— Tudo bem, eu vou pensar no caso. Mas, só entro nessa roubada se Rach estiver comigo.

Ambas estavam distantes, mas, Marley não via como seguir em frente sem a sua melhor amiga. Não era uma resposta afirmativa, mas, mesmo assim, os meninos sorriram e a engolfaram em um abraço coletivo, chegando a erguê-la do chão entre risadas e assovios. Marley riu junto deles e, no meio daquela bagunça, os seus olhos encontraram Ruby.

A californiana sorriu e piscou para ela, Marley ruborizou e até mesmo pensou que, se fosse ser uma frontwoman, ela teria que ser a melhor porque a sua groupie era, simplesmente, a garota mais bonita de Santa Monica.

   

O céu de Santa Monica não mais se estendia azul para elas, a oeste, os tímidos tons quentes desenhavam-se entre os mais frios. O dia iniciava o seu fim enquanto Quinn, na garupa da lambreta de Rachel, sentia o vento beijar o seu rosto conforme dirigiam pela avenida à beira da praia.

Diante daquele céu e de tudo que habitava o seu peito, Quinn sabia que poderia ser capaz de fazer as melhores imagens em sua câmera, fotos que deixariam qualquer grande fotógrafo do cinema morrendo de inveja de seu talento. Ela estava cheia de uma energia quente e indescritível, que atiçava os seus sentidos, junto de uma pessoa que se revelara quase que inteiramente para ela em um cenário paradisíaco.

Mais do que uma fotógrafa, parecia que Quinn era a heroína daquela situação que, em muito, se assemelhava a um filme.

Os seus braços não mais estavam tímidos e receosos quando se encaixavam à cintura de Rachel, não havia mais insegurança na proximidade de seus corpos. Naquele dia, cheios de palavras e revelações, elas se aproximaram e, principalmente, se reconheceram. Não como a morena do sorriso escaldante e a loira da timidez apaixonante e sim como, verdadeiramente, Quinn e Rachel.

Diante de tudo que ouvira, sobre a paixão de Rachel pela música e de sua paixão por Santa Monica e de tudo que falara, sobre a sua paixão pela fotografia e os seus sonhos, os verdadeiros, Quinn sentia-se em êxtase. Ela não queria que aquele dia acabasse, ela queria que aquele pôr-do-sol durasse mais do que era, fisicamente, capaz de durar.

Logo, as porções da avenida tornaram-se conhecidas e, quando Quinn deu por si, elas estavam parando junto ao estacionamento da orla, nas areias de uma praia que ficava em frente ao “Jewelry of The Coast”. A mesma praia do luau com mais um pôr-do-sol entre elas.

Rachel desceu da lambreta e Quinn realmente esperava que elas fossem ao hotel, ao invés disso, a morena caminhou para a praia e, sem uma palavra trocada entre elas, Quinn a seguiu. A cumplicidade que dividiam, os silêncios que compreendiam eram muito intensos para o pouco tempo que, verdadeiramente, tinham dividido. Ambas sabiam que algo muito especial pairava entre elas, algo incompreensível e forte.

As duas sentaram-se na areia, os olhos no horizonte, onde o sol de punha preguiçosamente como se quisesse ficar. Rachel apoiou as mãos nos joelhos dobrados e aproximou-se para sussurrar no ouvido de Quinn:

— Eu não estou vendo a sua câmera em mãos.

— Honestamente, eu tenho muitos pores do sol em meu acervo. - Quinn respondeu risonha, apoiando a bolsa e a câmera ao lado de seu corpo, cruzando as pernas enquanto olhava para Rachel. A morena inclinou a cabeça, levemente confusa para a resposta que recebera. Quinn suspirou, existia algo naqueles olhos castanhos que sempre pareciam capazes de tirar tudo dela. - E existem certos momentos que eu prefiro fotografar em minha memória, eles são perfeitos demais para serem compartilhados.

A resposta dizia muito mais do que aparentava e ambas estavam, pela primeira vez, no mesmo local. Ambas entenderam e, principalmente, sentiram do que se tratava. O coração de Quinn acelerou-se e ela virou-se, rapidamente, para o horizonte enquanto sentia o calor tingir suas bochechas de vermelho. Pelos cantos dos olhos esmeraldas, ela enxergou o sorriso encabulado de Rachel... Aquela timidez era algo que surpreendera Quinn, a morena, nem sempre, era certa de tudo que fazia.

Em momentos como aquele, quando Quinn dizia certas coisas, Rachel parecia perder-se em suas palavras... Tanto, a ponto de não se encontrar.

O sol continuava, preguiçosamente, pondo-se diante delas. O silêncio entre elas calava até mesmo os sons das ondas da maré que mudava e das demais pessoas que passavam por elas. Santa Monica começava a viver a noite enquanto elas queriam prenderem-se ao dia.

— Você precisa trabalhar esse egoísmo, Miss Yale... Ou, isso prejudicará os seus sonhos de ser uma grande fotógrafa. - As palavras brincalhonas de Rachel chegaram aos ouvidos de Quinn e foi a vez da loira manifestar a confusão, ela não se lembrara de falar sobre o seu sonho verdadeiro de trabalhar com fotografia. Mais uma vez, Rachel surpreendia pelo seu poder de observação. A morena pareceu compreender erroneamente o seu silêncio. - E-eu, m-me desculpe... Eu não quis me intrometer. A sua paixão é algo tão encantador que eu julguei que fosse o que você estudasse.

— Ahm... A fotografia é mais um hobby do que um sonho. Na realidade, eu curso Design Gráfico em Yale. Meio que não tenho onde aplicar isso no que estudo. - Quinn respondeu ligeiramente amarga porque a sua faculdade fora algo que tivera que ceder aos pais. Eles jamais a deixariam sair de Lima se ela quisesse viver de arte, os seus pais faziam o tipo de que acreditavam só no convencional. Quinn realmente não sabia como não sufocara toda a sua paixão pelas fotos diante disso. Os seus olhos ergueram-se e encontraram Rachel, a morena a observava como se soubesse, exatamente, como era ter um sonho maltratado pela vida. Um sorriso desenhou-se nos lábios cheios, um que mesclava a melancolia com a esperança. A mão de Rachel envolveu a pálida e ela sussurrou:

— Você faz mágica com essa câmera, não deixe que a vida tire isso de você.

Rachel era jovem, mas, falava como se tivesse vivido muito. Naquele instante, Quinn sentiu o que ela vivera, mesmo que não enxergasse por tudo que ela passara. Um sentimento de necessidade se apossara de Quinn e ela inclinou-se, a sua testa tocou a testa morena e a sua mão separou-se dela apenas para tocar a tatuagem na base esquerda das costas, por cima da blusa e do macacão. Rachel sorriu para todos os seus atos e suspirou, fechando os olhos e surpreendendo-a ao cantar baixinho e de forma cúmplice:

Keep on dreamin’ even if it breaks your heart...

Quinn não queria saber quem quebrara o coração de Rachel, no momento, só queria consertá-lo. Tudo que ela queria era que aqueles olhos castanhos permanecessem mais escaldantes do que frios, precisava vê-la sorrir mais vezes daquela forma em que parecia capaz de iluminar toda uma cidade e também precisava conhecer tudo dela, pelo tempo que fosse, por aquele Verão ou por todos os outros dias que poderiam vir depois dessa estação.

Estava apaixonada, por quem seus pais desaprovariam e por quem jamais esperaria. Desde o primeiro vislumbre de Rachel, em cima daquele jipe, tivera a certeza de que ela seria especial. E agora, diante da morena tão misteriosamente despida de sua postura sedutora, Quinn sentia que, logo, seria capaz de amá-la completamente.

Algo nos olhos de Rachel realmente exigia tudo dela e, naquele momento, quando a noite finalmente deslizou o seu céu de estrelas sobre elas... Quinn sabia que seria capaz de dar qualquer coisa para que aqueles astros se tornassem ainda mais especiais para aquela morena que aparentava ter tudo quando, na verdade, sentia falta de muito.

Os olhos castanhos olhavam para a boca de Quinn e os seus, esmeraldas, seguiram o mesmo trajeto. E eles teriam se encontrado se Rachel não tivesse se afastado. A morena voltou a se aproximar, beijando-a no canto dos lábios com carinho antes de sussurrar de forma íntima:

— Eu não posso dar a você um clichê igual a qualquer um quando, na verdade, eu quero que tudo seja diferente com você.

Mais palavras e mais emoções com as quais Quinn tropeçava e se agarrava. O lugar em que Rachel beijara esquentara e o seu coração parecia bater com a força necessária para destruir o seu peito.

A morena se levantara e estendera a mão para ajudá-la, Quinn a apanhou, sabendo que segurava muito mais do que parecia naquele momento. As duas caminharam de mãos dadas até o calçadão da praia e ali vislumbraram as luzes do “Jewelry of The Coast”. Dentro dele, os seus amigos estavam cada um para um lado.

Elas atravessaram à avenida, Quinn soltou-se querendo segurar por mais e foi para direita, em direção ao interior do salão climatizado e a Santana, Brittany e Kurt. Rachel a observou ir antes de tomar o seu rumo, para a esquerda, à varanda, onde Sam, Puck, Finn, Ruby e Marley estavam.

Os olhares não voltaram a se cruzar, mas, elas sentiam que aquela separação era apenas momentânea. O que dividiram naquele dia apenas a aproximaram... De tal forma que o castanho e o esmeralda já faziam casa um no outro, tanto na memória daquele dia como no que impulsionava os seus corações.

O sol se pôs e o dia acabou. Mas, algo começava. Especificamente, elas começavam... Aquele era o verdadeiro início de Rachel e Quinn.

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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?

Faberry é slow burn, creio que perceberam depois desse capítulo Hahahaha
E, com certeza, esse festival de música não vai terminar bem para o Puck! xD
Falando sério, já possuem alguma aposta sobre a identidade dessa pessoa tão presente no passado e na atualidade da Rachel? Aguardo teorias Hahahaha

Espero que estejam gostando, essa fanfic tornou-se surpreendente pessoal para e espero que eu não esteja enrolando ou saindo dos personagens com ela. Depois de tanto tempo, Faberry continua sendo muito importante para mim e essa fanfic, tornou-se especial.

Aguardo os comentários e feedback de vocês, beijos e até a próxima!