A Negociada escrita por Jae Renald


Capítulo 2
Capítulo 1 - O ataque


Notas iniciais do capítulo

Se vcs chegaram até aqui eu devo ter feito alguma coisa certa heheheheheh
Espero que gostem, agora a história começa para valer ♥



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Honestamente, eu quero ver você ser corajosa.  ─ Brave, Sara Bareilles

Os grandes portões do palácio se abrem e um verdadeiro batalhão de soldados passa correndo por mim, armados. North me puxa com tanta urgência para dentro, que seu braço fortemente envolto na minha cintura quase me tira do chão, me fazendo correr com as pontas dos pés. Minha mente trabalha de forma tão turbulenta em resposta ao pânico, que apenas capto borrões do que está acontecendo ─ sons de tiros ficando distantes, gritos vindos de todos os lugares, vultos vestidos em azul-marinho, a respiração acelerada de North enquanto subimos os degraus para o salão principal do palácio.

Assim que os solados dos meus sapatos tocam o mármore branco do salão, North afrouxa seu toque, mas não me solta. Giro o pescoço desesperadamente em busca dos outros, minha garganta seca demais para chamar ou gritar por alguém. Meus batimentos desaceleram um pouco logo que percebo vários soldados trazendo Allen, Cecile e a rainha para dentro, tão assustados quanto eu. Todos têm um olhar de pânico no rosto, as bocas abertas e as respirações ofegantes, seus olhos bem abertos correndo por toda a extensão do cômodo.

Dois soldados empurram as grades portas de madeira e o “boom” das trancas se chocando quase me faz dar um salto. O ambiente escurece levemente, os sons externos são abafados, e sinto North cambalear para frente, seu peso quase me jogando no chão com ele. Uso toda minha força para nos manter de pé, e quando encaro seu rosto, minha garganta abafa um grito.

Suas bochechas estão arranhadas e acima do olho esquerdo há um pedaço de vidro, do tamanho de uma unha, grudado num corte que pinga sangue por todo seu uniforme. Seu cabelo loiro sempre impecavelmente penteado está coberto pela sujeira, lixo e poeira que jogaram em nós. Ele respira ofegante pela boca, e geme:

─ Estou bem.

É óbvio que ele não está.

Apoio seu braço sobre meus ombros e abraço sua cintura o mais forte que consigo ;ele geme, e percebo que suas costas estão machucadas. Damos um passo para frente e sinto mais uma vez que vamos cair. Rapidamente um guarda se aproxima de nós e segura North, tirando grande parte do peso de cima de mim.

─ Me leve à ala médica! ─ minha voz sai num misto de desespero e choro.

─ Alteza, as ordens são para levá-los ao abrigo real. ─ o guarda responde hesitante, apontando para os outros guardas que gritam ordens uns para os outros, e minha família, que está sendo levada por um dos corredores adentro. North geme e sua cabeça tomba inerte para frente. Ele desmaiou.

─ Ala médica soldado! É uma ordem! ─ grito, minha garganta seca arranhando com o esforço.

Sem esperar resposta, me impulsiono para frente, levando North comigo, e o soldado não vê alternativa a não ser me seguir na direção oposta a que todos estão indo.

Nos arrastamos corredor a dentro para a área do palácio onde fica a ala hospitalar, e os ruídos de tiros e gritos do lado de fora dos muros voltam a ficar claros pra mim. Quando passamos pelas grandes janelas que dão para o jardim,  posso ver fumaça subindo de onde minutos atrás eu estava com minha família e com todos os políticos mais importantes de Illéa . Tento me manter calma e corajosa, feito difícil pra mim que realmente nunca precisei desse tipo de força antes. Servos passam assustados por mim, e ao me reconhecerem, tentam falar comigo sobre ir para um dos abrigos anti-ataque do palácio. Nenhum tenta se opor fervorosamente quando os mando correr e se esconder.

Estilhaços voam pelo lado de fora das janelas, e sinto que nunca desejei tanto que o palácio tivesse menos vista para o lado externo como agora. Vejo alguns guardas feridos sendo trazidos para dentro da segurança dos portões do palácio, e fico preocupada com a possibilidade de não haver quem atenda todos quando a confusão acabar.

O maldito corredor parece infinito, e minhas pernas fraquejam sob o peso do corpo inerte de North, mesmo que o outro guarda esteja o arrastando praticamente sozinho. Um salto meu se perde no percurso, então a caminhada se torna mais difícil e dolorosa. Olhando cuidadosamente para não tropeçar e piorar a situação, percebo que meu vestido preto reto veio parar quase no meio de minhas coxas pela necessidade de dar passos largos, uma manga do tecido delicado dos ombros está em frangalhos, e sague seco mancha meu braço, mas procuro não pensar no que isso pode significar.

Eu nunca me senti tão assustada. Nunca tive que ser responsável por nada mais grave que minha postura ou meu nível de cortesia para com as pessoas. Geralmente, eu sou a protegida, a pessoa para a qual todos correm para salvar, e nunca fui contra esse tratamento especial, afinal sou a princesa e mereço ser tratada assim. E agora, depois de tudo que havia acontecido comigo nas últimas horas, estou vulnerável e com a vida de um homem praticamente sob minha responsabilidade.

─ Alteza! ─ um enfermeiro grita ao notar minha aproximação à ala médica.

Tudo parece um caos ­­:os poucos servos correm de um lado a outro da ala, levando maletas e equipamentos das instalações para fora, parecendo desesperados e aterrorizados. Pelo chão, estilhaços de vidro das janelas altas que foram esburacadas por tiros.

─ Ele primeiro, estou bem, ajudem ele! ─ tenho de gritar para os servos da enfermaria que correm para me atender, por mais que seja óbvio que não sou a prioridade da situação.

Dois homens agarram North e o põe deitado numa maca, movimento que causa um gemido choroso no meu guarda-costas, e deixa meu coração mais disparado do que já senti em toda minha existência. Seu uniforme azul-marinho está com uma mancha escura enorme e molhada na região das costas, na altura das costelas, e é possível notar um furo circular pequeno no seu casaco. Ele foi baleado.

─ Não! ─ minha voz sai trêmula e mais alta do que costumo usa-la.

Os dois servos começam a arrastar a maca, dizendo que nos levarão a um dos abrigos que tem o equipamento necessário para cuidar de North, e os sigo como um cão, até chegarmos ao abrigo. Só estamos nós cinco aqui: eu, o guarda que me ajudou, North inconsciente, e os dois enfermeiros que estão agora cortando sua roupa para cuidar adequadamente de seus ferimentos.

Sento-me numa das camas do quarto com paredes cinza feias de concreto abafado e mal iluminado onde estamos. O colchão não possui nem um quinto do conforto a que estou acostumada, mas é o suficiente para evitar que minhas pernas cedam à tremedeira que se apoderou de meu corpo. Aquela bala era para mim.

─ Alteza, ─ chama o guarda que me acompanhou por todo o caminho, vindo da entrada do abrigo em minha direção. Um rapaz alto, pele negra, traços angulosos, ombros largos, bastante bonito, noto, agora que estou começando a desacelerar minha mente assustada ─ devo leva-la para junto da sua família, para o abrigo da família real?

─ O que?! ─ pergunto retoricamente, e não é difícil imaginar minhas sobrancelhas castanhas franzidas numa careta ─ Está louco?! Deve estar. Só um louco acharia que eu vou sair daqui até aquela confusão lá fora terminar, e deve mais louco ainda por pensar que eu deixaria North sozinho.

─ Tudo bem, o que a senhorita quiser. ─ ele balança a cabeça devagar, pressionando os lábios grossos numa expressão de confusão.

Respiro fundo. Devo manter a calma, o pior provavelmente já passou. Apesar de ser completamente compreensível, não é nada adequado para alguém na minha posição agir com grosseria, principalmente com o sujeito que acabou de salvar a vida do meu amigo.

─ Obrigada pela ajuda soldado. Está machucado? ─ pergunto, tentando manter a cordialidade.

Ele balança a cabeça negativamente, de uma forma um tanto distraída, mas parece se dar conta de quem está lhe dirigindo a palavra, e se corrige a tempo:

─ Estou bem alteza, obrigada. E a senhorita, está machucada? Há algo que posso fazer pela senhorita?

─ Bem, você pode sentar-se, está me dando dores no pescoço olha para você aí em pé. ─ aceno em direção para a cama onde estou. Ele se aproxima cautelosamente, e se senta o mais distante possível de mim. ─ Como se chama?

─ William Texas, alteza. ─ ele responde, num gesto formal ensinado aos soldados quando chegam ao palácio.

─ Diga-me Texas, é novo no palácio?

─ Sim, alteza. ─ ele diz formalmente, mas parece incomodado e acrescenta ─ É tão óbvio assim?

Seu desconforto me causa um sorriso. Um ato simples, pequeno, sincero e que me surpreende. Achei que nunca mais seria capaz de sorrir novamente.

─ Nenhum guarda que conheço aceitaria fazer o que você fez ─ me trazer para longe da segurança por causa de um plebeu, mesmo sendo uma ordem direta minha; ou mesmo aceitar sentar perto de mim, como está agora.

─ Essa não! ─ ele salta para longe da cama, e acaba me arrancando outro pequeno sorriso ─ Perdoe-me alteza! Eu não queria ser mal educado.

─ Está tudo bem rapaz, sente-se. ─ aceno para ele, e ele volta a se sentar, desconfiado ─ Gosto do seu jeito autentico.

Um gemido vindo de North destrói o pequeno estado de tranquilidade que ameaçava crescer em mim. Aperto minhas mãos juntas. Não há mais nada que eu possa fazer, além de esperar que os enfermeiros deem o melhor de si.

─ Por favor, salvem ele. ─ Falo alto suficiente para que os dois escutem e se voltem para mim ─ Cuidem bem dele, e serão bem recompensados. É uma promessa. Devo minha vida a esse rapaz.

─ Alteza, ─ Texas chama, talvez notando o tom melancólico que minhas palavras tomaram ─ me permita limpar esse braço arranhado. Ainda vamos ficar um tempo aqui embaixo, e precisamos nos organizar e planejar nossos próximos passos.

─ O único próximo passo que pretendo dar é para fora daqui, soldado. ─ tento mostrar minha força e confiança ─ Mas sim, aceito sua ajuda.

Texas não precisa procurar muito para encontrar gaze e soro para limpar o enorme arranhão que começa por meu ombro esquerdo e desce até a metade de meu bíceps. Apenas agora reparei o quanto o maldito braço lateja.

Mais concentrado do que é necessário em seu simples serviço, Texas tem um olhar preocupado no rosto, uma expressão beirando o assustado.

─ Algo errado soldado? ─ pergunto, e imediatamente percebo a necessidade de reformular a frase ─ Quero dizer, além do óbvio?

─ Eu estou tão ferrado! Não estou?! ─ ele foca os olhos completamente negros em mim ─ Não estou, alteza?

Dirijo o olhar ao teto por alguns segundos. Ele é mal educado, não faz ideia de como se portar adequadamente perante uma mulher de minha posição, mas suas palavras estão cobertas de razão. Ele pôs a princesa de Illéa em perigo mortal, contrariando as ordens de seus superiores. Homens foram enforcados por bem menos. A voz de meu pai ecoa em meus ouvidos:

“Todo nobre deve reconhecer o momento em que fazer o certo é mais importante que fazer o que está dentro da lei. E todo Schreave deve saber o momento certo de fazer o juramento sagrado da família.”

Como a pessoa de casta mais alta no cômodo, eu deveria assegurar que as pessoas comigo estivessem seguras por terem me ajudado. O juramento nunca deve ser tratado de forma leviana ou egoísta, e algo no fundo do meu coração me diz que é o certo a fazer.

─ Homens! Prestem atenção nas minhas próximas palavras, pois elas poderão ser a diferença entre a vida e a morte para vocês algum dia. Nenhum mal vos será feitos pelas ações do dia de hoje. Nenhuma punição será aplicada, nenhuma prisão será feita. Eu juro. ─ tomo uma respiração profunda, e então entoo as palavras de que conheço desde sempre ─ Eu, Ruth Schreave, juro pelo meu sobrenome, pelo meu sangue, pela minha honra. Minha promessa não pode ser quebrada. O que foi dito não pode ser esquecido, o que foi feito não pode ser anulado. Minha promessa é meu fardo até meu último suspiro.

Os enfermeiros acenam num gesto formal de gratidão e voltam rapidamente a observar North. Texas me olha com admiração.

─ Isso foi muito nobre alteza, achei que não viveria para ouvir o juramento sagrado sendo dito ao vivo, quanto mais para mim. Obrigada. ─ aceno, um pouco sem graça ─ E agora?

─Bem, agora esperamos que o inferno lá fora termine. ─ respondo,torcendo que minhas palavras se cumpram.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Mais uma vez, comentário são bem vindos (muito!!!!)

Então, a fic vai funcionar assim:
O prólogo e o epílogo em 3ª pessoa;
A fanfic em si em 1ª pessoa, mudando de ponto de vista de vez em quando, porém, a Ruth continuará sendo a protagonista.

P.S: Essa fic ta na minha gaveta por meses! Meses mesmo, acho que desde e o ano passado que eu enrolo kkkkkk

Não faço promessas sobre prazos, então, até a próxima ♥



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