A Negociada escrita por Jae Renald


Capítulo 3
Capítulo 2 - O funeral


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!!!! ♥ ♥
Então, uma coisa q esqueci de dizer, foi q eu tomei algumas liberdades sobre os costumes da família Schreave, ok? Nada demais, apenas um juramento sagrado inquebrável rsrsrsrs.
Boa leitura!



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Eu tenho visto fogo e chuva, tenho visto dias ensolarados que eu pensei que nunca acabariam. Tenho passado horas solitárias, quando não consigo encontrar um amigo. Mas eu sempre pensei que veria você de novo. ─ Fire and rain, James Taylor.

 

 

 

William corre para a porta e a destrança, pulando para o lado rápido o suficiente para não ser esmagado pelos guardas que invadem o pequeno espaço.

─ Alteza! É um alívio ver que está bem!─ exclama o general Gilian alto demais para meu gosto, abrindo os braços como se estivesse disposto a me abraçar, mas para no meio do gesto ─ Guardas! Levem este traidor imediatamente!

Rapidamente dois homens agarram Texas pelos braços e começam a arrastá-lo para fora enquanto ele protesta desesperadamente.

─ Espere general, não pode prendê-lo! ─ praticamente grito, tendo de apressar o passo para conseguir acompanhar seu jeito de andar ligeiro abrigo a fora.

─ Este homem cometeu traição alteza! ─ o general argumenta, ainda com o tom de voz mais alto do que é adequado ─ Desobedeceu minhas ordens diretas, e pôs a segurança de vossa alteza em risco!

─ Ele estava seguindo as MINHAS ordens diretas, não tem o direito de prendê-lo!

─ Sinto muito vossa alteza, mas a lei é muito clara e...

─ Allen! ─ grito, ao avistar meu irmão vindo em nossa direção no começo do corredor, o terno sujo e o cabelo despenteado da confusão que aconteceu mais cedo ─ Impeça esse homem de prender o soldado Texas, ele me prestou um favor!

─ Ruth, estou aliviado! ─ meu irmão me abraça com força, empurrando ao ar para fora de meus pulmões e nos fazendo ficar para trás do grupo que caminha para a prisão do palácio ­─ Quando notei que não estava conosco tentei vir, mas...

─ Por favor! ─ sacudo—o pelos ombros, o obrigando a olhar em meus olhos ─ Eu fiz o juramento a ele. Jurei que não se infligiria nenhuma punição a ele, ou a North, ou aos enfermeiros!

─ Mas Ruth... ─ Allen balança a cabeça negativamente e passa as mãos pela testa.

─ O juramento é sagrado. ─ me sinto obrigada a lembrar as palavras que aprendemos desde nossa infância.

Meu irmão suspira. Por um momento penso que ele me dirá que irá vetar meu juramento, já que é o único que tem o poder para isso, mas ele começa a caminhar velozmente na direção que o general tomou e grita:

─ Homens!Parem!

Ele resmunga sobre eu ter feito um juramento tão sério para simples empregados do palácio. Em suma, o juramento era feito apenas em coroações, casamentos, e acordos de estado. Minha ação abria um precedente perigoso...

Observo meu irmão tentando argumentar com o irritante general, e a discussão parece sob controle, até Allen gritar:

─ Eu sou o rei! ─ ele aponta com o dedo indicador no meio do peito de Gilian, o rosto normalmente cor de caramelo, vermelho como uma pimenta ─ Você tem que fazer o que eu mando!

Um tremor percorre meu corpo. Sim, Allen tem razão, ele é o rei agora que nosso pai se fora. Caminho ao longo do corredor, me afastando da calorosa discursão que se formou, tendo a certeza que posso contar com a ajuda e defesa de meu irmão, sentindo um embrulho no estômago e uma vontade forte de chorar tomando conta de mim.

Subo as escadas que levam á meu quarto com rapidez, quase tropeçando nos degraus, com minha mente num turbilhão de pensamentos terríveis, ignorando os poucos servos que passam apressados por mim correndo para deixar o palácio em ordem outra vez. O que teria acontecido ao corpo dele? Teriam os rebeldes conseguido tomar o caixão, destruindo até mesmo a chance da minha família se despedir?

Atinjo a porta de meu quarto , quase caio para dentro, e me sento rapidamente numa poltrona junto a parede. O aperto em minha garganta me faz desmanchar em lágrimas. É isso. Agora sou órfã de pai.

Uma parte de minha consciência grita para que eu me recomponha, para agir como a princesa perfeita que fui criada para ser, mas todo o meu corpo treme, e me pego balançando para frente e para trás, com a vista embaçada, o gosto das lágrimas nos meus lábios, o aperto em meu peito quase me esmagando por dentro.

─ Rue! ─ ouço Maisie entrar─ Ah minha menina, eu sinto muito!

─ Ele se foi Maisie. ─ balbucio debilmente. Maisie estava perfeitamente ciente, ela e o resto do país, talvez do mundo, principalmente por ter sido ela a me dar as notícias ─ E eu... Eu quase levei um tiro! E North?! Pode estar morrendo agora mesmo! Até o Texas pode estar indo para a forca!

─ Texas? Quem é Texas? ─ ela franze as sobrancelhas loiras, deixando seu rosto redondo com uma expressão quase engraçada.

─ Eu estava no cortejo, no carro, com a capota aberta. ─ me levanto, e caminho até meu tapete felpudo do centro ─ North! North estava do meu lado! Eu estava quase chorando, e  ele sussurrou  “Sinto muito.” E então os gritos começaram! Atiraram comida podre em mim, e depois pedras. North me abraçou, usando o corpo como escudo. A capota não queria fechar, o motorista estava em pânico, e North usava o corpo como um escudo para mim. Então houve o som de tiros e, e... Eu não sabia! Ele me puxou pra dentro, só então eu vi que ele estava machucado, e o levei para os enfermeiros. Texas me ajudou, eu fiz o juramento a ele, e agora ele pode morrer!

As lágrimas voltam como uma onda novamente, e Maisie me abraça com suas mãos quentes. Me desmancho como uma garotinha, chorando por vários minutos, e ela apenas me braça, sem nenhuma palavra, exatamente como eu preciso.

─ Escute Rue, ─ ela passa a mão pelo meu rosto após os soluços se acalmarem ─ Nada disso é culpa sua, mas tem de ser forte. A secretária da rainha pediu para lhe avisar que haverá uma cerimônia de cremação para seu pai em um par de horas. Tem que comer e descansar até lá. Seja forte minha princesa!

∞∞∞

A cerimônia foi muito mais íntima do que o enterro planejado anteriormente, com uma cobertura discreta e respeitosa da imprensa, mas ainda assim foi grande demais para mim. Todas aquelas pessoas que eram distantes subordinados de minha família, estando ali só para assegurar suas posições, me obrigando a manter a máscara de cortesia e força, estava me deixando à beira da loucura.

Manter a postura adequada, sorrir na hora certa, me fazer parecer interessada em algumas falsas palavras de conforto, memorizar nomes e posições, tudo isso era fácil em ocasiões comuns. Mas hoje tudo que eu realmente queria era tirar o vestido ostentoso do meu corpo, me encolher de pijamas debaixo dos cobertores, e ficar quietinha, chorando ou não, agindo de acordo com meu próprio tempo, mas é impossível. Sou da realeza e preciso agir como tal, sendo um porto seguro para o povo em momentos difíceis, sendo uma torre inabalável para onde os fracos correm e se escondem. Mesmo que o próprio povo tenha nos atacado.

∞∞∞

─ Uma vida inteira. ─ falo a Allen, após finalmente estarmos apenas nós dois e a sombria urna prateada com as cinzas do rei no grande salão principal, que ainda tinha algumas vidraças quebradas ─ Uma vida inteira reduzida a cinzas.

─ Eu sei. ─ ele toma minha mão e aperta carinhosamente, parecendo ainda mais desconfortável que eu com o vaso a nossa frente.

─ Se bem que, a ideia de colocá-lo dentro de uma caixa de madeira embaixo da terra também não é confortante.

─ Ruth. ─ meu irmão chama com um tom reprovador.

─ O quê?─ me surpreendo, nunca houve qualquer tipo de censura entre nossas conversas antes ─ O pensamento de nosso pai sendo devorado lentamente por bactérias não o perturba?

─ Cece! ─ ele chama alto, se virando para nossa irmãzinha atrás de nós, que surgira como uma sombra. Era isso, Allen tentava me avisar de sua presença, mas agora ela havia escutado cada indelicada palavra.

─ Nosso pai está sendo comido? ─ ela pergunta, com os pequenos olhos castanhos vermelhos e inchados, brilhando com a ameaça de novas lágrimas.

─ Não Cece.  ─ tento agir com doçura, mesmo que não seja do meu costume ser assim com ela ─ Ele está aqui, nessa urna.

─ Mas ele é grande demais para entrar aí! ─ ela franze as sobrancelhas, formando uma expressão assustadoramente parecida com a de nossa mãe. Respiro fundo, procurando as palavras certas para lhe explicar o processo de cremação, mas Allen é mais rápido.

─ Cece, não importa realmente o que aconteceu com o corpo do papai, ele não está mais lá.

─ E onde está? ─ ela faz menção de tocar na urna, mas se afasta, receosa.

─ Ele vive em nossas memórias, em nossos pensamentos, e em nossos corações. E enquanto nós nos lembrarmos dele, ele jamais estará realmente morto. ─ ele a abraça, sentimental.

─ Por que não vai para seu quarto praticar? ─ tento dar o assunto por encerrado ─ Pode se sentir melhor, e depois conversamos, sim?

─ Você? Me dizendo para dançar? ─ ela parece mais confusa e curiosa que antes ─ Ballet não é mais coisa de Cinco pra você?

─ Apenas vá Cecile! ─ faço um enorme esforço para não gritar. Allen me lança mais um olhar reprovador.

─ Sim, acho que é uma boa ideia Cece. ─ ele passa a mão pelos cabelos castanhos dela ─ Amanhã estaremos descansados e poderemos responder todas as suas perguntas.

Nossa irmãzinha nos encara, zangada, mas se vira e vai, resmungando sobre sempre ser deixada de lado.

─ Nove anos é muito pouco. ─ sussurro ─ Ela teve muitos anos roubados.

─ E nós não tivemos? ─ começamos a caminhar para o andar de nossos quartos ─ Eu, por exemplo, não estou nenhum pouco pronto para ser rei.

─ Por favor, não fale assim irmãozinho. ─ olho ao redor, para verificar se não há nenhum servo que possa nos ouvir ─ Ninguém no reino pode ouvir uma opinião tão negativa assim. Ainda mais quando é uma tremenda mentira. Você será brilhante.

─ Não tem como saber disso.  ─ ele passa a mão pelo cabelo cacheado, tirando toda a seriedade de seu penteado.

─ Claro que sei, se chama intuição feminina. ─ tento brincar, mas logo me calo. Chegamos à porta dos aposentos do rei ─ Acha que a rainha está ai dentro?

─ Duvido, ela mal vinha aqui quando... Bem, antes.

Abro a porta, e constato que está vazio. Entro sem pensar, e Allen me acompanha. Sentamos na cama e ele tira o terno e afrouxa a gravata.

Quando percebo, estamos deitados entre os travesseiros e lençóis, quietos, encarando o teto.

─ Sentirei falta dele, mas ele não era perfeito. ─ Allen diz após incontáveis minutos.

─Não, ─ respondo num suspiro ─ mas era o único que tínhamos, ou que iremos ter.

Ele se vira, e me encara, seus olhos castanhos quase verdes parecendo enormes.

─ Será que conseguimos superar? ─ ele pergunta.

─ Bem, nós precisamos. ─ respondo ─ Afinal, somos os Schreave não é?! A família mais poderosa do país.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Meio deprê, eu sei, mas esses caps são muito importantes para a história.
Espero vcs no próximo capítulo ( com caps cheios de opiniões, ok?)



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