Eram várias ligações que o celular de Clara recebia, porém dava como desligado. Eram exatamente 6:50 da manhã, faltavam exatamente dez minutos para a escola abrir, e só Deus sabe quantos minutos ou quem sabe horas faltavam para alguém tirar Clara e Daniel daquele armário.

—Daniel sério, eu já não aguento mais ficar aqui. To com fome, apertada pra ir ao banheiro, com dor de cabeça, e preciso de um banho. - Fez cara de nojo ao falar a última parte.
—Não é só você Clara. Mas aguenta só mais um pouquinho, daqui a pouco a gente sai, talvez no terceiro tempo, ou quem sabe no intervalo- Sorriu -Tenho treino no intervalo.
—Não dá, acho que vou comer você. -Falou sem pensar na forma que Daniel poderia interpretar essa simples frase.
Daniel olhou com cara de malicioso pra Clara que se tocou na hora e arregalou os olhos.
—Idiota -Murmurrou a menina.

[...]
Há várias ruas dali, em uma casa podre de rica, uma mulher estava desesperadamente preocupada com sua filha, que saiu na manhã anterior para ir a escola, e não voltou pra casa. Não tinha dormido a noite anterior, já havia ido à delegacia, e eles só poderiam dar como desaparecida após 24 horas desde o sumiço. E daqui algumas horas daria 24 horas.
John, seu marido tentava lhe acalmar de todas as formas possíveis. Já havia tido todos os tipos de pensamento sobre onde Clara poderia estar.

Há outras ruas dali havia uma menina que tinha acabado de fazer amizade com a desaparecida, e já estava também super preocupada. Tinha prometido que voltaria de carona com ela pra casa, mas não apareceu e nem retornou as ligações.

[...]

—Minha filinha John. -Sandra chorava horrores deitada em cima de John no sofá da sala. - Minha pobre filinha. Como eu fui capaz de não contar que havia me casado de novo? Sou uma péssima mãe -Assuou o nariz.

Naquele momento se ouviu a porta principal se abrindo, e a menina que estava desaparecida pra mãe, apareceu naquela porta.
Sandra saltou do sofá e correu pros braços da filha.
—Clara nunca mais faça isso comigo. Eu te amo demais minha filha, nunca me perdoaria se acontece algo com você. -A mãe sufocava a filha com abraços e tantos beijos.
—Calma mãe, a senhora está me sufocando com tantos abraços e tantos beijos. -Foi se retirando do abraço com delicadeza.
—Como você ousa fazer isso comigo Clara Jane Hope? -Bateu no braço da filha.
—Aí. -Resmungou.
—Desculpa meu amor. Mas onde você se meteu? -Foi guiando a filha para se sentar no sofá.
—AMANDA! -Gritou John chamando a empregada. -Prepare um chá para Clara.
—Passei a noite toda na escola, trancada no armário do vestuário masculino, com um jogador de futebol idiota. -Bufou
—Quer me contar essa história melhor? -A mãe fazia de tudo pra prender o riso, ah qual é, era engraçado imaginar seu desespero enquanto sua filha estava apenas tendo uma noite trancada num armário na escola.
—Talvez depois, to muito cansada, fiquei presa por horas, ainda tive as três últimas aulas, e preciso urgentemente de um banho. -Foi subindo as escadas.
Entrou no seu quarto e se encostou na porta. Olhou pro teto e respirou fundo.
—Que dia!

[...]

—ONDE VOCÊ PASSOU A NOITE DANIEL KEVIN HUNTER? - Sua mãe gritava preocupada. - Você poderia ao menos ter ligado, eu tava preocupada meu filho. - Foi em direção ao filho e o abraçou.
—Desculpe mãe, fiquei trancado num armário na escola. - Retribuiu o abraço.
—Você quer mesmo que eu acredite nisso? Eu sei que passou mais uma vez a noite com uma dessas piriguetes. - O Afastou do abraço.
—Tá a senhora me pegou, passei a noite com uma menina, trancado no armário da escola. - Foi andando até a escada.
—Daniel! Mas respeito com a escola.
—Mãe, não acredito, a senhora pensou merda? -Começou a rir. - Nós só estávamos presos.
—Mas que safado!

Subiu as escadas a caminho do seu quarto. Se encostou na porta e respirou fundo.
—Que dia!

[...]

Eram 06:30 da manhã do outro dia. Clara ainda dormia tranquilamente, tudo estava perfeito, até o barulho do seu alarme escoar alto pelos seus ouvidos a fazendo gritar, cair no chão e bater a cabeça bem forte no criado mudo.
Nunca tinha sentido uma dor tão forte quanto aquela. Colocou a mão na cabeça e sentiu um galo enorme na região, quando tirou a mão reparou que estava coberta de sangue. Correu pro banheiro e se olhou no espelho, tinha feito um corte ali.
Tirou a roupa e entrou debaixo do chuveiro, tampando a boca com as mãos, um simples corte, e um simples galo poderiam trazer muita dor pra alguém. 
Saiu do banho e vestiu-se para mais um dia de aula, ainda era quarta.
Desceu as escadas, se dando com a cena de todos tomando café.
—Bom dia! -Desejou entrando na sala de jantar, que estava servida para o café da manhã.
—Só se for pra você. -Disse Bryanna revirando o olho, e tomando um pouco do seu suco.
—Bom d... Clara o que houve na sua cabeça? -Sandra levantou da mesa e foi em direção a filha.
—Da pra reparar? -Entortou a boca.
—Tem um galo enorme aí, e tá sangrando. -Bryanna riu alto.
—Quer ir ao médico? -John se pronunciou pegando as chaves, fazendo a filha revirar os olhos.
—Não. -Respondeu a menina machucada.
—Claro que quer Clara, olha pra isso. -Apontou pra cabeça da filha.
—Claro que não mãe, eu só bati a cabeça, é só fazer um curativo. -Disse mordendo uma maçã.
—Olhe lá hein! -Sandra se sentou novamente convencida.
—Bom, já deu minha hora. -Deu um selinho na esposa. -Você se cuida hein. -Deu um beijo na testa da enteada. -E você, se comporte. -Beijou a testa da filha.
—Bryanna, me dá carona pra escola? -Jogou a maçã no lixo e pegou sua mochila.
—Desculpa Clarinha não vai da, tenho que... tenho que passar em um lugar primeiro. -Pegou a bolsa, as chaves e saiu desfilando.
—Tudo bem! Eu posso ir andando mesmo. -Falou a última parte baixo, notando que a loira já tinha se retirado. -Beijo mãe. Te amo.
—Volta pra casa viu, nada de ficar trancada mais uma noite na escola. Você só se mete em problemas Clara.
—Vou tentar mãe. -Saiu rindo.

Começou a andar rumo a escola, era meio longe da sua casa, mas faria um esforcinho.
Foi quando se tocou que seria um momento perfeito pra ter uns flashbacks do que acontecera depois que ela e Daniel saíram do armário.

Flashback

—O que vocês estão fazendo aqui? -O treinador perguntou desconfiado.
—GRAÇAS A DEUS! -Clara levantou num desespero pegando sua bolsa jogada no chão. -Muito obrigada treinador, eu te amo. -Depositou um beijo na bochecha do treinador.
—CLARA, espera. -Escutou Daniel lhe chamar, mas estava muito desesperada para fazer o número um (xixi), e desesperada por comida que não deu atenção.
Correu o mais rápido possível para o banheiro feminino, entrou no box e tirou a calça.
—Aaaah como é bom. -Murmurrou relaxando.
Saiu do box em direção a pia, lavou as mãos passando molhada mesmo no cabelo tentando baixar um pouco o volume. Jogou água no rosto pra disfarçar a cara de quem dormiu no armário.
Saiu do banheiro sorrindo como uma nova pessoa, um barulho de ronco bem alto foi escutado pelas pessoas que estavam por perto e passando por ali, fazendo olharem como se tivesse um bicho rosnando dentro da barriga da menina, Clara deu um sorrisinho e saiu em direção ao refeitório.
Chegando ao seu destino, fez uma bandeja cheio de comida, e se sentou na mesa mais afastada de todas. Olhou o relógio da cantina e era exatamente 10:30, o horário do intervalo.
Comeu tudo super rápido. Caminhava até seu armário quando foi empurrada para os armários com força. Olhou quem tinha feito aquilo e lembrou da aposta do beijo.
—Você é louco? -Tentou sair dos braços do moreno.
—Stuart e Rocky estavam vindo pra cá, é só me beijar.
—Duzentos dólares? -O cobrou.
—Duzentos dólares! -Concordou.
Clara o pegou pela gola da camisa e pressionou seus lábios nos do moreno. Que de imediato pediu passagem para a língua.
Por alguns segundos ambos tinham se esquecido da aposta, e juravam ser o melhor beijo de suas vidas.
—Esse foi o pior beijo da minha vida. -Falaram ao mesmo tempo se separando.
—Olha só, temos um novo casalzinho na área. -Rocky falou se aproximando.
—Não enche Rocky. -Daniel o fuzilou com o olhar.
—Olá princesa, sou o Rocky. -Apertou a mão de Clara.
—Prazer, Clara! -Retribuiu o aperto.
—Tá vendo essa jaqueta aqui? -Apontou pra jaqueta que usava. -Ela tem de tudo, tudo que você precisar pode me chamar, pra você é de graça. -Piscou pra menina.
—Ahn.. valeu, eu acho. Bom já vou indo. Daniel, não esquece. -Partiu para o seu armário.

Flashback off

Riu sozinha ao lembrar do ocorrido do dia anterior. Mas seu sorriso passou na hora ao sentir sua cabeça ardendo com os raios de sol. Pôs a mochila na cabeça e apressou os passos.

[...]

—Como assim o beijo não valeu? -Bateu com força a porta do armário.
—Daniel, a aposta era só para o primeiro dia de aula, era pra vê quem pegava a novata primeiro. -Rocky respondeu.
—Mas eu fui o primeiro a pegar ela.
—E quem garante isso? -Rocky levantou a sobrancelha.
—Eu. -Daniel falou sem paciência. -Olha, segunda eu e ela passamos a noite trancados no armário do vestuário masculino.

Flashback

—O que vocês estão fazendo aqui? -O treinador perguntou desconfiado.
—GRAÇAS A DEUS! -Clara levantou num desespero pegando sua bolsa jogada no chão. -Muito obrigada treinador, eu te amo. -Depositou um beijo na bochecha do treinador.
—CLARA, espera! -Gritou Daniel em vão, Clara já havia sumido de vista.
—Então... o que estavam fazendo aqui? deveriam está na aula.
—Eu sei, eu sei treinador. Nós ficamos presos aqui ontem quando o treino acabou. A bateria dos celulares acabaram e ninguém pareceu. Não foi nossa culpa. -Tentou convencer o treinador.
—Tá eu acredito, agora vai se arrumar, o treino começa daqui a pouco.
—Valeu. -Correu pro campo, afinal ainda estava com a roupa de treino.

Flashback off

—Wow, então vocês... -Rocky o olhou com malícia.
—Não. -Sorriu. -Quero dizer, só passamos a noite juntos, ninguém ficou com ela, só eu, eu fui o primeiro.
—Tá bom, mas a aposta só valia pro primeiro dia de aula, sinto muito. -Disse se retirando.
—Droga! -Esmurrou o armário.
—Nossa, que mau humor! -Bryanna chegou tocando nos ombros de Daniel.
—Bryanna, eu não to com paciência tá! -Segurou as mãos da loira com força. -Vou lhe pedir pela última vez, me deixa em paz, você não intende que eu não gosto de você, para de ficar me seguindo, para de ser um chiclete no meu sapato, eu.nao.gosto.de.você! -Falou pausadamente a última parte. Soltou as mãos da garota e foi embora.

Bryanna levantou a sobrancelha esquerda, dilatou as narinas, e espremeu os lábios respirando bem fundo. Aquela era a cara de odeio mais feia do mundo.
Ela tinha visto o beijo de ontem, que dizer, todos estavam comentando sobre a aluna nova. Sobre o super beijo que havia rolado entre Daniel Hunter e a garota nova que poucos sabiam o nome.
Deu um sorrisinho de vingança e jurou, jurou bem fundo que assim como Clara Hope estava estragando a sua vida, ela também estragaria a de Clara, só que bem pior e lentamente, trazendo muita dor e sofrimento. Por fim deixou escapar uma lágrima, que sumiu com o simples toque de seu dedo.