— Então Clara... tem algum amigo seu  aqui em San Francisco? – John pronunciou-se quebrando o forte e horrível silêncio do carro.

— Meus amigos e minha vida ficaram em Lawrence.

—Sua mãe deve ter contado, mas eu tenho uma filha, ela é da sua idade. Aposto que vão se dar super bem.

“Clara estamos nos mudando amanhã para San Francisco, por favor faça suas malas” a voz de Sandra ficava rodando na cabeça de Clara. Ela podia ter sentido muita raiva de sua mãe por ter sabido de tudo horas antes da mudança, podia ter sentido raiva por estar deixando seus amigos e parte de sua família – não que fosse próximos, mas quando precisavam de dinheiro procuravam ela e sua mãe – mas não sentiu raiva nem nada, sentiu um alívio, uma chance de uma nova vida.

   Saiu de seus pensamentos quando escutou o barulho da buzina para um enorme portão sendo aberto e uma casa enorme a sua vista.

— Oh John, a gente ta na casa do presidente? –Perguntou Clara de boca aberta fechando a porta do carro.

— Sandra, Clara, bem vindas a nova casa de vocês. Sintam-se a vontade. – Anunciou John.

John era um homem bem simpático apesar de ser um dos nomes mais falados no ramo de investimento. E um dos nomes mais falados na cidade por sua grande quantidade de dinheiro.

Seu pai sempre o ensinou sobre a humildade e a paixão pelas pessoas, o que era certo e errado e o sempre o apoiou em suas decisões.

—Bryanna, Bryanna.... – Daniel tentava tirar a boca da garota de cima da sua. – BRYANNA JÁ CHEGA! 

A loira caiu em cima de um puff que tinha ali perto, se ele não estivesse ali ela poderia cair no chão e quebrar uma de suas unhas que tinha feito a caminho da casa do namorado.

—O que ta acontecendo com você? Antes eu não precisava implorar pela sua atenção.

—É mas eu me cansei, me enjoei Bryanna.

—Tem outra garota né? – A loira se levantou ajeitando a bolsa no ombro.

Daniel mantinha-se parado olhando para os saltos criados por Manolo Blahnik, não que Daniel fosse ligado em moda ou algo do tipo, ao contrário, nenhum menino da Golden High School tinha um estilo ligado a moda, mas de tanto Bryanna falar sobre Blahnik, Daniel sabia que aquele sapato era do estilista.

—Seu idiota. – A loira partiu para cima do menino o batendo com sua bolsa. – Você tem outra!

—Não é nada disso.

—Quem cala consente.

—Bryanna preciso que vá embora. – Daniel apontou par porta de seu quarto.

—Você está me expulsando?

—Entenda como quiser, mas eu preciso de um minuto sozinho.

—Ta, mas não pense que acabou Hunter. – Enfim ele pode relaxar quando escutou o barulho dos saltos fininhos descendo as escadas.

Quando aquela menina sairia do seu pé? Já tinha dito a ela milhões de vezes que não queria mais nada com ela, mas a loira era mais grudenta que uma amoeba quando gruda na roupa.

I wanna build you up

(Brick by brick)

I wanna break you down

(Brick by brick)

I'm gonna reconstruct

(Brick by brick)

I wanna feel your love

Escutou a música e logo olhou para o celular, amava aquela música, os caras eram legais. Olhou a chamada e era Stuart, conhecido como seu melhor amigo.

Ligação:

“Fala ae Stuart.”

“Saboreou bastante os lábios da gata?” Escutou uma gargalhada.

“Então foi você seu filho...”

“Olha como vai xingar minha mãe hein.”

“Tem razão, tia Monica não teve culpa do filho que teve.”

“Doeu man.”

“To cansado dela cara, ela vive colada, parece um chiclete no meu sapato.” Andava de um lado pro outro no quarto.

“Wow, você sabe quantos caras tão na fila da gata há anos?”

“Não ligo cara, não sou um desses da fila dela. Já fui, mas cai na real. Olha se me ligou só pra isso, então nos vemos amanhã.”

“Não espera... não foi só isso. Lembra da aluna nova que entra amanhã?”

“É acho que sim.” Pensou um pouco. “Desculpa cara, não lembro não, é muita coisa na cabeça.”

“Não importa, há boatos que ela é mó gata, aposto $200 se você pegar ela, amanhã mesmo.”

“Eu? Mas por que eu? E se ela for uma daquelas meninas que é cheio de espinha e...e...”

“E.... E o que?”

 “Nada Stuart, to fora. To afim não.”

“Você vai me fazer perder duzentas pratas pro Rocky?”

“Foi mal bro...”

“Vai ficar me devendo duzentinhas.”

“Ta, tanto faz, tchau.”

Clara já tinha arrumado seus pertences no seu novo quarto, pra ela até que não estava tão mal assim aquela nova vida. Tinha um quarto com closet e banheiro, só pra ela, uma cama de casal, uma vista linda, até agora estava tudo ótimo.

Pensou em tomar seu primeiro banho na cidade, e vestir um simples moletom, já que estava um pouco frio. Desceu as escadas, pegou algumas coisas na cozinha e foi pra sala, palavras de John “sintam-se a vontade”. Ligou a tv e ficou jogada ali mesmo.

Passando na guia avistou Friends na lista e sem pensar mais de uma vez mudou para o canal. Com sua interação com a série e os risos soltos pela sala, deixou cair meio copo de Nescau no sofá branco que estava deitada.

—Que merda você fez Clara? – Sussurrou pra si mesma. Olhou para todos os cantos da sala e para o seu alivio ninguém tinha visto. – Calma, é só buscar um pano, e limpar. Vai dar tudo certo, vai dar tudo certo.

—Não ta dando certo. – A morena desesperada esfregava com toda a força que tinha. – Ninguém vai reparar. Só colocar uma almofada aqui.... e pronto. –Sorriu e deitou de volta.

 O cansaço já estava possuindo seu corpo, piscava algumas vezes tentando se manter acordada, porém impossível. Estava quase entrando em um profundo sono quando se assustou com alguém abrindo a porta da frente.

—PAAAAAAI, TEM UMA MENDIGA ASSISTINDO TV NA NOSSA SALA.

Clara arregalou os olhos os passando pelo corpo da pessoa: loira, um pouco alta, magrela, saltos finos, saia, uma blusa com um decote, e pernas magrelas aparecendo.

—MAAAAAE, TEM UMA PERNA DE GALINHA ENTRANDO NA CASA, E ELA TA USANDO ROUPA.

 As duas se encararam e Clara percebeu que a menina aparentava ter sua idade e que possivelmente seria filha do homem que se casou com sua mãe, ou seja, seria sua nova irmã adotiva, meia irmã, irmã.. por ai.

—Vejo que já se conheceram. – Sr.Benson disse contente.

—Contratou mais empregadas papai? Mas o senhor mesmo disse que já tínhamos o suficiente.

—-BRYANNA! – O pai repreendeu a filha. – Tenha mais respeito.

—Ah então você é a Bryanna, prazer sou a Clara, vamos ser irmãs.

Em um ato de educação Clara esticou o braço em forma de cumprimento até a loira a sua frente, que apenas ignorou e voltou a olhar para o pai.

—Ah então essa ai é a sua nova namoradinha? – Questionou Bryanna.

—Não, essa é minha esposa Sandra, e essa é sua filha, Clara.

—Então meus parabéns John, que seja muito feliz com essa sua nova... – Bryanna olhava com nojo e falava com desgosto. –Vou me deitar, e você. –Apontou pra Clara. – Nem ouse chegar perto da porta do meu quarto.

—Bryanna!- John chamou a filha que estava quase no topo da escada. – Amanhã você vai levar Clara para a escola.

— Como é que é? É pra isso que serve o motorista.

—Dei folga pro James.

—Arrg. –Bryanna bufou e subiu.

 Clara sabia que depois do que aconteceu naquela noite, seus pensamentos sobre uma vida mais fácil mudou por completo. Agora tinha uma loira que possivelmente não gostava dela.

O dia começou fora do comum, sem as gritarias de Sandra pra tentar acordar Clara, e muito menos os latidos dos cachorros dos vizinhos quando o carinha do jornal passava. A manhã já estava bom de mais até chegar na escola de carona com a loira filinha de papai.

—Olha, não pensa que seremos amigas só porque sua mamãezinha se casou com o meu pai. Faça o que quiser, só finja que não mora na mesma casa que eu – Bryanna olhava bem no fundo dos olhos de Clara.

—Com prazer, Bryanna! – Cuspiu as palavras na cara da loira e entrou na escola passando por olhares curiosos.

—Ótimo. – Sorriu de lado. Olhou  em volta e avistou um moreno conversando no celular, sorriu maliciosa . – Danieel, cheguei.  – Correu até ele.

—Ai meu Deus, socorro Stuart. –Choramingou Daniel no celular.

“Armário 195, primeiro horário filosofia, sala 4B”

Dez minutos para o sinal bater, e Clara desesperada procurava seu armário. Após rodar a escola quase toda, e pegar duas vezes o mesmo casal se pegando numa sala.

—Olá! – Se aproximou de uma menina lendo um livro, com fones de ouvido no volume altíssimo. – OLÁ! –Gritou.

Percebendo que a loira não estava escutando, Clara puxou os fones chamando a atenção da menina que lançou um olhar de morte.

—Ei, por que você fez isso? – A loira perguntou arrancando o fone das mãos da morena.

—Desculpa, eu te chamei algumas vezes e com esse volume altíssimo você não iria escutar nem com um microfone.

A loira parecia decorar cada célula do corpo da morena a sua frente até parecer compreender alguma coisa e balançar a cabeça confirmando com seus pensamentos.

—Você é a gata da garota nova não é? –

—Ein? – A aluna nova rqueou uma sobrancelha.

—A escola toda já sabe. Prazer, Alison. – A loira estendeu a mão

— Clara. – A morena apertou a mão.

—Então Clara, quer ajuda em alguma coisa? - Alison perguntou olhando para o papel .

—Ah claro, eu não estou achando meu armário, pode me ajudar? É o cento e noventa e cinco.

—Segundo andar no corredor da sala quatro. Posso ir com você tenho aula de filosofia.

—Eu também.