Uma garota mais que incrível escrita por Uma ideia bonita


Capítulo 16
Ursinho




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“Pior que ela tem razão, sou a pessoa mais odiada daqui.” Clara viajava em seus pensamentos enquanto entrava na escola passando por toda aquela gente curiosa e sem vida que ficava olhando e cochichando.

—Vocês não têm mais nada pra fazer há não ser ficar me olhando?- Disse Clara alterada espantando algumas meninas e meninos de frente do seu armário.

Passou a mão pelo cabelo como se estivesse aliava, abriu o armário sendo soterrada por papeis: montagens de seu rosto no corpo de uma vaca, recortaram o rosto de Clara e Alison e colaram no corpo de uma menina esfaqueando a outra pelas costas.

 -Ta legal, quem fez isso?- Clara perguntou com um tom de voz alto segurando-se pra não sair correndo, cavar um buraco no jardim e se enterrar.-Tão maduro da parte de todos.

—É... oi Clara, não sei se lembra de mim.. mas eu sou o Derek, faço biologia com você.

—Ah claro, lembro sim, o que sempre faz perguntas.- A menina dividia a atenção entre recolher as fotos caídas no chão e olhar pro menino que segurava um tablet na mão.

—Esse sim, você tem um minuto?- Derek perguntou simpático.

—Olha na boa, se for pra jogar na minha cara que sou traidora e blah blah blah melhor nem tentar.- A morena continuava juntando.

—Não, eu sei que não foi você, e pelo pouco de consideração que tenho por você, vim mostrar isso.- O menino desbloqueou o tablet recebendo toda a atenção necessária da garota de olhos azuis.

—Não fizeram isso.- Clara negava o que via.

—Eu sinto muito, só achei que você deveria saber.

—Não, você está certo, obrigada Derek.- Clara sorriu em despedida fechando devagar o armário e caminhando lentamente até ao banheiro.

A morena de pele branca e olhos azuis, tão inocente como uma borboleta entrou no primeiro box aberto, sentou-se no vaso e desabou tudo que estava entalado.

Os soluços eram escutados do lado de fora se prestasse bem atenção. Eram soluços de desespero misturado com tristeza e agonia.

—Quem está ai?

—Ta ocupado.- Respondeu Clara passando um pedaço de papel higiênico pelo rosto.

—Quem está ai?- A voz repetiu.

—Ninguém.- Clara respondeu mais calma.

—Clara?- Perguntou Nina batendo na porta.

—Nina?- A morena abriu depressa a porta e cuidadosamente sem amassar a barriga linda, Clara pulou para um abraço apertado.

—O que aconteceu?- A grávida perguntou preocupada.

—Preciso ir pra casa.- Clara saiu do abraço caminhando até a pia e passando água pelo rosto.

—Não vai me dizer o que aconteceu?- Nina se aproximou.

—O que aconteceu foi que a escola toda me odeia, minha melhor amiga me odeia, e daqui a pouco o mundo todo vai me odiar por uma coisa que eu não fiz. Quando todos vão entender isso? Quando eu me suicidar? Ou quando eu for parar no hospital?

—Vira essa boca pra lá menina, isso trás má sorte.- Nina usava as mãos abanando ao redor do corpo como se estivesse espantando algo.

—Preciso ir, nos vemos amanhã?- Clara perguntou da porta do banheiro.

—Claro!- Nina sorriu entrando no box.

 A garota caminhava pela escola tentando inventar alguma desculpa pra ir embora quando se viu na frente da enfermaria.

—Com licença!- Declarou a menina abrindo uma brecha da porta.- Posso entrar?

—Claro, sente-se.- A enfermeira baixinha e gordinha ordenou.- O que está sentindo?- Perguntou tocando na testa de Clara.

—Dor.- Respondeu.

—Onde?

—Em todo lugar.- A morena se jogou pra trás deitando na maca.

—Seja especifica.

—Eu só preciso ir pra casa, não me sinto bem.- Disse a menina olhando pra enfermeira.

—É suportável?- A enfermeira perguntou se referindo a dor.

—Não, não é suportável. É muito insuportável.

—Recomendo que vá ao medico.- A mulher escrevia algo no papel.- Entregue isso ao porteiro.

—Obrigada!

A jovem saiu da sala observando uma escola vazia e silenciosa.

Caminhou alguns metros avistando um ponto de táxi na esquina, não queria caminhar até sua casa nem esperar pelo ônibus que demoraria um pouco.

O motorista estacionou na frente da bela mansão admirando toda a vista e estranhando uma riquinha pegando taxi.

A morena passou pela porta principal da casa ganhando a atenção de sua mãe que conversava com Amanda no sofá.

—Clara o que faz aqui?- Sandra caminhou de encontro com a filha.

—Não estou me sentindo bem. Preciso deitar.- Clara ignorou a mãe e andou até a escada.

—Quer que eu leve um remédio?

—Não, ele não vai me levar de volta pra casa.- Clara resmungou subindo devagar os degraus da escada.

—Essa é a sua casa Clara.- Sandra respondeu firme.

—Essa não é a minha casa.- A morena virou olhando pra mãe que a olhava espantada.

—O que foi minha filha?

—O que foi mãe, é que eu estou cansada, cheia disso tudo. Cheia dessa escola, cheia de dizer pra todo mundo que eu não troquei os malditos resultados, cheia dessa casa enorme e farta de tentar aceitar o fato de você não ter me contado que tinha se casado e me fazer deixar minha vida pra seguir a sua.- Respondeu com a voz tremula já chorando.

—Clara se acalma, desça e vamos conversar.- Sandra dizia apontando para o sofá.

—Eu não quero conversar, só quero a minha vida de volta, eu quero meu pai de volta, quero meus amigos de volta.- Subiu as escadas correndo.

Amanda observava tudo abraçada na vassoura.

—Nossa Sra. Hope, o que deu na menina?- Amanda perguntou com os arregalados.

—Eu não sabia que ela se sentia assim Amanda.- Sandra sentou no sofá apoiando os cotovelos na coxa.

—Você conversou com ela quando se mudaram?

—Não, eu não conversei com a minha filha, eu nem contei que tinha me casado.- Sandra derramava algumas lagrimas.- Eu sou uma péssima mãe.

—Calma sra. Hope, você não é uma péssima mãe, você é humana, os humanos erram, é natural.- Amanda acariciava os cabelos de Sandra.- Agora o que você precisa fazer é concertar isso.

—Você tem razão.- Levantou do sofá enxugando as lágrimas.

Direcionou-se a escada e subiu pisando de degrau a degrau.

—Clara!- Sandra bateu de leve na porta chamando suave o nome da filha. –Clara!- Repetiu.

—O que foi?- Respondeu com a voz tremula.

—Podemos conversar?

Sandra escutou o barulho da chave rodando e levantou a cabeça vendo o rosto triste de sua filha molhado.

—Eu sinto muito filha, não sabia que você se sentia desse jeito, me perdoa.

As duas se direcionaram para a cama, Clara sentou no meio, de pernas cruzadas fazendo carinho na orelha do seu coelinho de pelúcia, e Sandra sentou-se na ponta olhando pra filha.

—Eu que peço desculpa mãe, por ter falado daquela forma.- Olhou pra mãe.- Eu tava tão cheia que precisa tirar tudo de dentro, e acabei jogando tudo pra você, me desculpa.- Segurou firme as mãos de sua mãe que tinha um sorriso no rosto.

—Eu tive medo Clara, por isso não lhe contei sobre o casamento.

—Medo de que?- Perguntou confusa.

—Eu ia te contar naquele dia o porquê de estar indo tanto pra São Francisco, mas ai recebemos a ligação sobre o seu pai e eu não tive coragem, você ficou dias triste, se eu contasse que tinha me casado, você poderia ter feito sei la, alguma coisa. Sou sua mãe e só me preocupei com o pior.

—Tudo bem mãe.- A morena abraçou a mãe que chorava sem parar.

—Eu fui tão egoísta.Toda noite fico pensando que tudo seria melhor se seu pai estivesse aqui.- Clara sentia seu coração quebrar ainda mais com cada soluço que escutava vindo de sua mãe.

—Você não foi egoísta mãe, não sabíamos o que estava acontecendo, não tínhamos como ter evitado.

—Eu te amo tanto meu bebe.- Sandra beijou a testa da filha.

—Também te amo mãe.

—Bom, agora descansa que daqui a pouco o almoço sai.- A mulher passou a mão pelo rosto secando-o, e logo dando um sorriso para a filha se retirando do quarto.

Clara respirou fundo se jogando pra trás percebendo seu celular vibrando no colchão.

Ligação:

—Clara, cadê você?

—To em casa.

Aconteceu alguma coisa?- Daniel perguntou num tom preocupado e baixo.

—Não, só não me senti bem e voltei pra casa.

—Vi a Nina no corredor.

—Poise eu encontrei ela no banheiro. Por que ta falando baixo?

—Ta na hora do almoço, ou seja, to no refeitório que ta muito barulho. Por isso to te ligando, não tinha te encontrado.

—Amanhã tenho prova de álgebra e eu não sei nada.- Choramingou.

—Passo ai depois pra te ajudar.

—Você sabe álgebra?- Perguntou surpresa.

—Você está falando com o criador da álgebra.

—Vou te matar por ter criado esse troço.

—Não seja tão cruel, me ame menos.

—Só não esquece de passar aqui pra me ajudar, ursinho.

—Para de me chamar assim, papagaia.

—Papagaia? Daniel eu te chamei de ursinho, é fofo, mas papagaia? Depois dessa eu devia terminar.

—Não meu amor me perdoa, faça tudo menos isso comigo, te amo meu bebe.

—Já era Daniel, ta acabado.

—Não me deixa.

—Tchau.

A morena deitada na cama sorria olhando para o teto como uma besta perdida nas nuvens. Em seus pensamentos avoados se formavam as perguntas de como alguém pode ser tão besta, lindo, fofo, idiota ao mesmo tempo.

[...]

—Podemos sentar?- Perguntou Stuart acompanhado de Alison.

—Claro!- Daniel respondeu tirando o pé e a mochila dos bancos.

—Oi Daniel.- A loira cumprimentou o amigo.

—Oi Alison.- O moreno sorriu.

—Cadê a Clara?- Stuart perguntou abrindo o hambúrguer.

—Já foi pra casa, ela não estava se sentindo bem.- Daniel finalizou escutando um riso irônico vindo da garota a sua frente.- O que foi?

—Nada, só acho engraçado ela está se sentindo mal e está em casa, enquanto eu que estou me sentindo pior estou aqui.- Alison mordeu o hambúrguer do namorado.

—Sobre você está aqui, o problema é seu. Ela não precisa ficar aqui e tolerar essa sua criancice.- O moreno se levantou pegando a mochila e recolhendo o lixo da mesa.

—Wow, não fala assim com ela.- Stuart se pronunciou.

—Ela estragou meu futuro.- Alison aumentou a voz.

—Você estragou seu futuro, talvez você não tivesse sido boa o suficiente pra passar...

—Daniel...- Stuart tentou parar o amigo.

—E talvez a Clara tenha feito isso pra ajudar você, mas deu errado.

—Você admitiu que foi ela.- Alison afirmou séria.

—Não, não admiti nada. Eu disse que talvez.

—Melhor irmos.- Stuart se colocou no meio puxando a namorada pelo braço.

—Não, eu vou, vocês podem ficar.

Daniel se retirou da mesa dando passos curtos em direção a saída do refeitório. Caminhou por todos os corredores afim de passar mais rápido o tempo, abriu a mochila e tirou o famoso fone o colocando nos ouvidos e dando play em sua playlist.

Caminhava com o ritmo da música a mil pelo corredor mutuado a procura de um banco pra sentar e escutar as músicas em paz, até seu corpo chocar com outro.

—Olha pra frente!- A menina deixou sair.

—Desculpa, eu estava em um envolvimento com a musica...

—Você?- A menina de mechas no cabelo perguntou espantada.

—Eu?- Daniel perguntou confuso.

—Não se lembra de mim?- A morena mantia o sorriso no rosto.

—Eu devia? Desculpa, eu realmente sou péssimo com memórias.- O moreno passou as mãos no cabelo, chamando a atenção da menina que suspirava.

—Me apresento de novo. Prazer, Rose.- A garota estendeu a mão.

—Daniel!

—Nos conhecemos naquela festa que teve no The Cellar. Eu estava conversando com uma menina e um menino, e ai você chegou todo ciumento.

—Ah... agora me lembro.- Soltou um risinho.- Eu não estava com ciúmes, mas você salvou muitas pessoas de verem o  beijo que estava acontecendo ali.

—Achei que aqueles dois formavam um belo casal.

—Que? Nada haver, Colin e Clara? Nunca, nem por cima do meu cadáver.

A morena sorria como uma louca apaixonada, que acabara de reencontrar o menino que passou os últimos meses pensando e montando uma vida com ele.

—O que você está fazendo aqui?- Daniel perguntou curioso.

—Vou estudar aqui.

—Te desejo sorte.- O moreno bateu nos ombros de Rose.

—É tão ruim assim?- Perguntou preocupada.

—Não, mas é sempre bom desejar o melhor ao próximo.

—Obrigada, eu acho!

—Eu te levaria pra conhecer a escola e tudo mais, porém tenho aula nesse momento e estarei ocupado mais tarde.

—Ah tudo bem, deixa pra próxima.

—Até amanhã.- Daniel acenou correndo pra sala de história.

—Até amanhã....- Suspirou.

[...]

—Toc Toc.

A menina desmaiada na mesa de estudo por cima dos livros acordou espantada com a voz que vinha através da porta.

Coçou os olhos e reclamando de dores na costa levantou da cadeira e caminhou até a porta segurando a maçaneta.

—Qual a senha?- Perguntou divertida.

—Daniel gostoso.

—Senha incorreta.

—Daniel, melhor namorado.

—Qual é, você consegue, não é tão difícil.

—Abre logo.- Disse Daniel fazendo a namorada ri.

—Abrirei uma exceção para você.- A morena abriu a porta sendo carregada pelo namorado pra dentro do quarto.

—Não vai me dizer o que aconteceu pra você voltar pra casa?

—Não aconteceu nada, só não me senti bem, ursinho!- Clara passou os dedos pelo cabelo do namorado.

—Clara, você não vai poder concertar tudo isso sozinha. Eu só quero te ajudar.- Daniel passou as mãos acariciando a bochecha da morena.

—Eu sei, eu só quero aprender logo álgebra, pra tirar uma boa nota amanhã.- Clara se levantou da cama e sentou na cadeira em frente aos livros.

—Então deixa logo eu te ajudar.


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