Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

E as primeiras luzes do dia apareceram.



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Ela estava morta. Seus olhos me olhavam, mas eu via a falta de sua alma em seu corpo. Ela não estava mais ali. Aquilo era apenas uma casca. Eu não me conformei. Eu imaginara que havia pulado antes dela ser atingida. Não era justo. Não. Todos olhavam para mim, coberta por seu sangue e por tristeza. Eu nunca havia presenciado um falecimento. Ainda mais com a vítima em minhas mãos, com seu sangue banhando minhas roupas.

Aquilo era culpa minha. Eu não havia impedido aqueles assassinos. Se eu tivesse descoberto e prendido eles antes que isso pudesse ocorrer, ela ainda estaria viva. Meu Deus ela tem uma filha pequena. Dessa vez eu era a detetive que não salvara alguém importante para uma criança. Mas eu também iria encontrar os responsáveis por aquilo. Porém eles estariam vivos. Bem vivos.

Jess vem ao meu encontro e se assusta com o meu estado. Ele me ajuda a ficar de pé e me abraça. Eu precisava daquilo. Ele me leva para fora daquela sala, onde realmente acontecera o Apocalipse.

Escuto ambulâncias chegando e vamos ao encontro delas. Eu recebo os primeiros socorros, mas não me machuquei muito, somente alguns arranhões. Eu não havia percebido, mas Jess estava com um corte enorme na testa. Algum vidro o furou da sobrancelha ao couro cabeludo.

Havia um entra e sai de pessoas horrível na delegacia. Com pouco tempo a imprensa chegou. Estava frio e eu ainda não acreditava que isso acontecera. Nunca irei esquecer-me do olhar vazio da promotora. Um olhar que deixou uma vida, um trabalho e uma família para trás. Um olhar que aconteceu por minha culpa.

Sim, era minha culpa.

Como olharei para uma garotinha triste que crescerá sem o apoio materno? Cuja mãe eu não pude salvar? Eu não fazia ideia. Era arrasador. Um buraco que me consumia se formava em meu peito. Se eu tivesse pulado mais rápido ou um pouco antes... Ai...

 O capitão já havia ligado para o marido de Kate. Ele chegaria em pouco tempo. Isso virou algo pessoal. Custe o que custar, eu tenho que pegar esses desgraçados. Nem que seja a última coisa que eu faça. Eu irei até o inferno para prendê-los.

Eu espero enquanto Jess faz um curativo em seu rosto. Quando terminou, ele vem ao meu encontro.

—Como você está?

—Como acha? Uma mulher acabou de morrer nos meus braços e por minha culpa!

—Não diga isso! Não foi sua culpa. Você não poderia fazer nada. São eles quem têm o sangue nas mãos!

—Bom, não é o que parece - falo, olhando para minhas mãos. Estão cobertas pelo sangue de Kate. Jess também olha. Ele abaixa minhas mãos e me abraça. O abraço dele era muito protetor. Eu me sentia segura ali e se pudesse, não sairia dali, mas então um carro chega a toda velocidade e um homem sai de lá aos prantos. Ele gritava o nome de sua mulher, da mãe de sua filha.

Seu nome era Kelvin. Tinha a estatura mediana e de cabelos pretos. Era um cardiologista renomado, que trabalhava no maior hospital da cidade. Ele está sozinho, claro. Este não é um lugar para crianças. Seus olhos estão vermelhos por causa do choro. Ele parecia um louco, e tinha razão de estar. Jess e eu assistíamos a tudo, Jess segurando forte em minha mão. Ele tem o coração partido tanto quanto eu. Kelvin passa pelos policiais que monitoram para que ninguém ultrapasse as fitas amarelas. Ele corre em direção à entrada, mas antes que chegue até ela, os médicos saem com uma maca e nela está um embrulho preto.

O corpo de Kate.

Kelvin avança em direção à maca e tenta rasgar o plástico preto. Os médicos o seguram. Deixá-lo vê-la, no estado em que ele estava, pioraria muito mais as coisas. O corpo de Kate é colocado dentro da ambulância, e quando fecham suas portas, dirigem em direção ao necrotério. Kelvin está ajoelhado, chorando, ele não tinha forças para ficar em pé. Uma morte assim é uma das piores de se ver.

Uma coisa é a pessoa morrer bem velhinha. Ela já viveu tudo o que tinha para viver, passou por todos os estágios da vida. Quanto a isso não se deve ficar traumatizado pela morte de alguém. A morte é algo natural, todos irão passar por isso, mas não precisa ser tão rápido assim. Outra coisa totalmente diferente é a pessoa ser arrancada assim, sem mais nem menos, com toda a vida ainda pela frente. Isso não é justo.

Mas eu vou buscar a justiça.

Eu não aguentava mais ficar ali, pedi a Jess que dissesse ao capitão que eu não estava passando bem, iria embora.

—Tem certeza que quer ir sozinha? Eu posso te fazer companhia.

—Obrigada Jess, mas eu preciso ficar um pouco sozinha e dormir.

Quando digo isso um policial, acho que seu nome era Jonas, veio de encontro a mim.

—Detetive Luce? Com licença, mas um carro forte que levava dinheiro para o banco central foi roubado há pouco tempo.

—Mas por que você está me dizendo isso? Eu não estou pegando casos.

—Mas detetive, eles trocaram tiros com os policiais e a balística acusa que a arma utilizada pelos bandidos era de armamento oficial, de uso exclusivo da policia.

Então aquilo era um teatro para o que os maníacos realmente queriam: dinheiro. Era isso que a vida de Kate valia? A que ponto a humanidade chegou?

—Obrigada policial. Isso aconteceu há quanto tempo?

—Há meia hora detetive.

—Foi um carro forte! Eles usam um sistema de GPS. Vamos ao pessoal da informática agora!

Pelo jeito minha noite seria bem mais longa do que eu pensava. Havia uma chance. Poderíamos rastrear o veículo roubado, e quem sabe, prender esses doentes hoje mesmo. Entro na sala da equipe de rastreamento. Encontro com Tyler que trabalha nessa área. Ele é meu amigo e meu ex-namorado. Ok, amizade é amizade, negócios a parte. Mas eu não poderia resistir a um mulato de 1,90 metros, musculoso e com um sorriso de derrubar qualquer uma. Mas isso é passado. Agora trabalhamos juntos normalmente, sem nenhum rancor. Ambos concordamos de que não estávamos dando certo e que seria melhor nos separarmos. E assim foi.

—Luce! Que bom te ver! Há quanto tempo! Nem parece que trabalhamos na mesma delegacia.

—Oi Tyler! É verdade, faz um bom tempo mesmo. Aqui, preciso de um favor, quero que rastreie um carro forte roubado. Quem o roubou pode estar envolvido em uma onda de assassinatos, inclusive o da promotora.

—Nossa, eu fiquei sabendo! Triste acontecimento. Faço isso com o maior prazer.

Ele começa a rastrear a partir da placa do veículo. Ele com certeza é a pessoa mais inteligente que conheço, uma mente brilhante para a tecnologia.

—Pronto Luce! Ele está na rua XXI, em um antigo galpão, agora está abandonado.

—Obrigada! Jess vamos montar uma equipe e ir agora nesse local, veremos se vamos pegar esses desgraçados.

Saímos correndo daquela sala. Era a nossa melhor chance. Juntamos todos os policiais que estavam disponíveis e fomos para a rua XXI. Eu tinha que prender esses caras. Saímos dali com tudo. Não era tão longe, 5 minutos e estaríamos lá. Eles são muito ousados a escolherem um lugar tão próximo da delegacia. Deixamos os carros a um quarteirão do local. Fomos eu, Jess, e mais quatro policiais. Foi o que deu para juntar de última hora.

Era um galpão enorme, e estava abandonado, não funcionava há muito tempo. Um lugar perfeito para guardar um carro forte roubado. Três policiais foram para os fundos e eu, Jess e outro policial fomos pela frente. Havia movimento, provavelmente estavam descarregando o dinheiro.

Vi uma escada que levava para a cobertura. Subimos em silêncio e fomos para a parte de cima do galpão. Andamos em fila, tentando não fazer nenhum barulho. Abrimos a porta que dava acesso para o interior do local. Jess entrou, seguido por mim.

Havia cinco pessoas lá dentro. Quatro descarregavam o carro e um apenas olhava. Aquele um, só podia ser ele.

O Raio.

Era um cara alto, forte, tão branco que podia se ver suas veias. Ele tinha o cabelo pintado de vermelho e estava vestido de preto. Todo de preto. Sapatos, uma calça folgada e uma regata, todos escuros, além de um óculos escuro. Era arrepiante.

Os quatro homens usavam um tipo de uniforme, com cores camufladas e estavam jogando todo o dinheiro dentro de um carro pequeno.

—Vamos atacar agora? - pergunta Jess, que suava frio.

—Atenção equipe alfa, o suspeito está ao centro, juntamente com mais quatro homens. Atacar ao meu comando - falei pelo rádio à equipe que estava aos fundos do lado de fora.

—entendido detetive - respondeu-me a voz de um homem do outro lado do rádio.

— eles estão em posição Jess. Agora?

Jess olha para mim. Ele estava com medo. Ele se aproxima de mim, tão perto que posso sentir sua respiração. Para a poucos centímetros do meu rosto.

—Então é agora minha linda.

Olho para ele confusa, mas decido agir.

—Equipe alfa, agora!

Eles empurram a porta de trás e entram atirando. Os bandidos se assustam e correm, mas Jess atira e acerta a coxa de um deles. O bandido cai e se arrasta, deixando um rastro vermelho por onde passa. Eles se escondem atrás dos carros, e revidam os tiros igualmente. Furamos os pneus do carro forte, mas os do carro pequeno não estavam em nosso campo de tiro.

—Jess, vai descendo que eu te dou cobertura! - eu grito, e ele começa a se movimentar.

Vou seguindo Jess, e ele vai abrindo caminho para descermos. É tudo muito rápido.

—Cessar fogo! - eu grito para todos através do rádio - é melhor vocês se renderem! Vocês não sairão daqui impunes. - falo em direção aos bandidos.

Chego ao chão, com Jess atrás de mim e o outro policial logo em seguida. De repente uma voz grossa começa a falar comigo. Eu estremeço.

—Luce, Luce, Luce. Você nunca me decepciona! Por que decidiu parar? Suas balas acabaram?

—Qual o seu nome? - eu grito, a fim de confirmar minhas suspeitas.

—Meu nome é Raio. Mas disso você já sabe. Você mudou muito desde a última vez que eu te vi. Sabia que nos encontraríamos de novo.

—Como você me conhece? E o que você quer? - eu grito, tentando disfarçar o nervosismo que invade minha voz.

—Você não se lembra, e isso não é assunto para agora. E quanto ao que eu quero, quero apenas um mundo diferente, onde gente como eu não seja excluída da sociedade.

—E esse é o seu jeito de tentar mudar as coisas?

—Os fins justificam os meios minha cara Luce. Mudanças fazem parte da nossa vida. Mudanças de hábito, de economia e de políticos por exemplo. Mas agora, eu sugiro que você mude de lugar.

—O quê?

Nessa hora um carro entra no galpão, colocando a porta abaixo e vindo em minha direção. Eu me jogo para o lado e minha equipe reinicia os tiros contra a O.S.A. Os bandidos entram nos carros, tanto o recém chegado quanto no qual estavam descarregando o dinheiro, e arrancam com tudo, deixando as marcas de pneu no chão. Para nossa surpresa, o homem que havia levado um tiro permaneceu no local. Eles não o levaram, seja pela sua inutilidade, seja pela pressa.

Corro em direção a ele. Ele estava sangrando muito, sua artéria havia sido perfurada. Eu corro até ele.

— Qual o nome verdadeiro do Raio? Onde eu o encontro? O que vocês querem? Me responda!

—Queremos uma cidade melhor, onde não exista um governo que roube as pessoas. O Raio trará novos dias para nós. O Sol irá raiar da mesma forma para todos!

Ele então empurra um dente com a língua, virando- e morde. Sua boca começa instantaneamente a liberar uma espuma esbranquiçada. Aquilo era cianeto. Ele morreu. Em nome daquele maníaco. Que horror. Ele cometeu suicídio!

Olho para Jess que está com os olhos arregalados. Decido ligar para a central.

—Alô, aqui é a detetive Lucile. Solicito apoio a uma cena de crime, na Rua XXI, no antigo galpão. Ok, obrigada. - Desligo e olho para Jess - eles chegarão em 10 minutos.

—Ótimo.

E ficamos ali esperando durante 10 minutos, pensando em qual merda viria em seguida.


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