Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 5
Capítulo 5




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A delegacia estava um caos. Entrei, passei pela recepção, subi as escadas e me deparei com a sala de detetives completamente revirada. Eram 6 mesas, posicionadas em 2 fileiras, uma de frente para a outra. Todos os papéis estavam no chão. O porta-retratos com a foto dos meus pais estava quebrado. Pego a foto e guardo. Aquilo era algo que significava muito para mim.

Seguimos pelo corredor que levava ao estoque de armamento. O capitão chegou e foi conversar com os agentes que estavam ali. Eles levaram cerca de 30 armas e 100 cartuchos, além de 20 granadas. O capitão gritava com todos, pois estava desesperado. Ele olhava para as poucas balas que restaram no chão e se irritava cada vez mais.

— E agora? – Jess pergunta para mim novamente – não temos nada. Voltamos da estaca zero.

Quando ia responder, o capitão chega.

— Os prejuízos são enormes! Amanhã a promotora irá fazer uma reunião às 16 horas no escritório dela. Quero que todos compareçam. Essa reunião será sigilosa, somente para quem está envolvido no caso. Não quero boatos sobre isso. Mas até lá, vão para casa e descansem um pouco. Preciso de total esforço amanhã. Tenham uma boa noite! – Ele sai pisando duro, bufando como um touro. Ele tinha razão de estar assim.

— Obrigada capitão, boa noite! – Falo, mas ele nem se quer vira. Não era uma boa hora para bons modos.

Jess e eu saímos agradecidos por finalmente podermos dormir um pouco. Já eram 4 horas da manhã. Nos arrastamos até o estacionamento. Jess para e vira-se para mim.

— Você vai vir comigo. Não é Luce? – ele fala já puxando minha mão para onde estava o carro dele.

— Não Jess, eu vou para a minha casa. – me livro de sua mão e ele olha para mim como quem vai lutar mas sabe que a guerra já está perdida.

— Mas Luce...

— Mas Luce nada! Eu sei me cuidar muito bem sozinha. Além de que, parece que sua casa já foi comprometida. – ele olha para baixo inconformado. Ando até ele e seguro em seus dois ombros – Agradeço de verdade sua preocupação comigo, mas eu preciso de privacidade, dormir e pensar um pouco.

Ele olha para mim, sabendo que não vou mudar de ideia. Pensa um pouco e por fim fala:

— Tudo bem, tudo bem. Mas qualquer coisa me liga! – ele me abraça e vai em direção ao seu carro. Quando ele fecha a porta do carro, olha para mim de um jeito tão sincero, que fico vermelha na hora. Ele olha para baixo e em seguida dá a partida.

—Boa noite Jess – Falo comigo mesma, mesmo sabendo que ele não vai ouvir. Os sentimentos mais sinceros na vida não são ditos. Essa amizade está tomando um rumo diferente, e isso me assusta, mas é bom.

Jess às vezes se preocupa muito comigo. Ele tem um espírito de irmão mais velho. Nós nos conhecemos assim que eu cheguei à delegacia. Depois de tantas provas, tanto treinamento, finalmente teria minha mesa em um escritório e ajudaria as pessoas, afinal, se eu quisesse ganhar mesmo dinheiro, teria feito talvez uma medicina da vida. Mal eu sabia que a mesa seria apenas de enfeite e que eu mal me sentaria naquela cadeira.

No meu primeiro dia de trabalho fui diretamente para a sala do chefe, o Thomas. Achei-o muito severo inicialmente, com aquele ar de "eu sei o que você fez no verão passado, eu sei seus pecados". Ele me dava arrepio. Mas depois de um tempo me acostumei. Era apenas o jeito dele, de querer tudo certo, mas no fundo ele era legal e às vezes fazia até piada.

Ele me disse que havia um detetive que perdera seu parceiro em uma troca de tiros. Prenderam o sujeito, mas isso custou à vida de Max, que era o melhor amigo de Jess. Naquela época fazia três meses que Max havia morrido e Jess ainda não tinha outro parceiro. Ele ficou traumatizado por vê-lo morrer em seus braços.

Jess nunca fala nele. Acho que é por isso que ele se preocupa tanto comigo. Bom, passou a se preocupar, depois de um ano de convivência.

Quando vi ele pela primeira vez e fui cumprimenta-lo, ele mal olhou na minha cara. Aliás, até olhou, mas com ar de poucos amigos. Jess não queria se apegar a mais ninguém depois da morte de Max. Ele se fechava em seu próprio sofrimento. Esforcei-me muito até que começamos a conversar. Ele até se desculpou depois por ser tão rude comigo, mas eu entendi o lado dele. Acho que se eu estivesse no lugar dele, reagiria dessa forma ou pior.

Vanessa vive falando que Jess é apaixonado por mim. Eu nunca o vi como algo além de um amigo. Bom, até aquele dia no banheiro. Isso ainda me deixa intrigada. Eu sempre disse a todos que nós éramos só amigos, e de tanto falar, acabei me acostumando. Até porque Jess, como disse a ele mesmo, não é homem de uma mulher só. Apesar de um nunca ter visto ele acompanhado. Ele se livra rápido demais, antes que eu possa conhecer a sujeita.

Nós sempre fomos muito abertos um com o outro, e creio que todo esse cuidado que ele tem comigo faz parte de sua própria personalidade. Nada mais do que isso. Agora, aquela atração que senti por ele, e ele por mim, não foi nada além de atração física, coisa momentânea.  Se ele gostasse mesmo de mim, teria dito algo não é mesmo? É sim.

Em meio a esses pensamentos eu chego em casa finalmente. Eu realmente preciso de uma cama, uma sopa e uma boa noite de sono. É pedir muito?

Entro em casa. Mas não relaxo enquanto não verifico todos os cômodos. Somente depois de portas trancadas e janelas fechadas é que finalmente entro em baixo do chuveiro. Água morna para relaxar. Fico ali parada por vários minutos, apenas deixando a água cair sobre a minha cabeça. A mente devia ser tão fácil de limpar quanto o corpo.

Saio do Saio do chuveiro e coloco meu roupão. Isso me deixa extremamente confortável. Meu celular toca. Céus, que não seja mais um assassinato.

—Alô?

—Oi linda! Jóia?-diz uma voz masculina do outro lado

—Quem tá falando? - falo curta e diretamente. E se fosse outra ameaça?

—oow! Parece que alguém está cansada de novo! Você não descansa meu bem?

—Eu vou desligar! Fala logo quem é!

—É o Michel, Luce.

—Michel? Que Michel?

—Poxa! Já se esqueceu de mim? O cara da boate.

— Ah sim! - um alívio percorre meu corpo - desculpa é porque tem acontecido tanta coisa que eu ando meio desatenta! – Que vacilo! Minha mente estava completamente em outro mundo e Michel ressuscita assim, do nada.

—Sem problemas! Ou, tô com saudades de conversar com você! Que tal a gente se encontrar amanhã durante o almoço?

—Hum... Amanhã? - Lembro-me rapidamente dos meus afazeres no dia seguinte e vejo que a reunião com a promotora será somente de tarde. - por mim tá ok! Onde?

—Que tal no Luigi? Gosta de comida italiana?

—Claro! No Luigi meio dia?

—Te vejo lá gatinha! Beijo!

—Outro!

Encerro a chamada. Eu achei que ele nem iria ligar mais. Foi até bom ele demorar um pouco, só consegui dar uma respirada por agora mesmo. Será que ele estava interessado em mim? Aiai. É melhor eu dormir para ao menos disfarçar um pouco as olheiras.

Eu deito e fico pensando em quanta coisa aconteceu nesses dois dias que se passaram. Será que minhas suspeitas sobre o homem da boate são válidas? Será que ele que me mandou o bilhete? Conseguiu meu número? Matou aquelas pessoas? São muitos serás sem nenhuma resposta. Meus olhos vão pesando e quando estou prestes a dormir, as imagens de Jess, seguida por de Michel aparecem em minha mente.

Às 4 horas da manhã eu acordo assustada. Sinto que alguém estava me espionando. Eu levanto e vou andando devagar até a porta do quarto. Eu tenho certeza que tinha alguém me vigiando. Vou andando enquanto começo a suar frio. Um medo percorre todo o meu corpo. Será que não terei mais paz? Passo pelo quarto ao lado do meu: nada. A sala de tv: nada. O banheiro: nada. Vou ficando mais calma a medida que não encontro nada.

 Quando vou chegando na cozinha, um vulto que estava atrás do balcão salta sobre mim e me joga no chão. Eu me debato sobre ele, o chuto bem entre as pernas e ele cai no chão. Era um homem alto, forte, e que estava sentindo muita dor agora. Ele estava usando capuz. Retiro o capuz e levo um choque ao ver o rosto.

Michel.

Acordo me debatendo sobre a cama, que estava ensopada com meu suor. Eu ofegava. Parecia que havia corrido uma maratona inteira. Calma Luce, eu falava comigo mesma: foi só um pesadelo. Só um pesadelo. Olho para o relógio, que marcava 06h00minh. Era inverno e ainda estava escuro. Levanto-me e olho pela janela do meu quarto. Um carro vermelho (bom, parecia vermelho) estava estacionado na frente da minha casa. Ele arranca assim que olho pela janela.

Eu estava mesmo sendo espionada? Vou conferir a casa. Quando chego na cozinha, meu corpo fica tenso, mas não havia nada escondido atrás do balcão. Nenhum Michel. Por que eu havia visto o rosto de Michel em um criminoso? Isso acabou comigo. Talvez deva ter acontecido por eu estar nervosa para me encontrar com Michael. Que susto. Bom, acho que ainda tenho mais algumas horas de sono. Deito-me e demoro para dormir novamente, mas o cansaço fala mais alto e aos poucos entro em um sono profundo.


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