Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Não comemore a vitória antes do juiz apitar.



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Chegamos à delegacia e fomos direto para a sala do Apocalipse (era como chamávamos a sala em que se tratava de assuntos de extrema importância). Eram 01h25min da manhã. Em 5 minutos todos estavam lá, sentados e ansiosos por informações.

—Agentes Lucille e Jess. Noite difícil. O que temos então?

—Pois bem capitão, serei bem direta.

Contei tudo desde o início, sem que escapasse nenhum detalhe. Eles tinham que perceber a gravidade da situação.

— e quando olhamos para a mesa havia... Havia... -eu travo nesse momento. Ótimo Luce, parabéns!

—Havia um bilhete em cima dela- completa Jess, que parecia impaciente. Ele olha para mim com um ar de compreensão.

—Qual o conteúdo do bilhete?

—O autor do bilhete me parabenizou pelos meus esforços, mas disse que seriam em vão. Sim, ele especificou o meu nome. Disse que dentro de 10 horas uma nova família seria morta, caso eu não resolvesse a seguinte charada: "FONTE PEQUENA, GRANDE O TAMANHO, QUANTO MAIS ME TIRAM, MAIS EU GANHO.”.

—Estimando a partir do horário das mortes, o bilhete foi escrito por volta de 7 horas atrás, o que nos dá 3 horas para resolver essa confusão. – completa Jess, ele estava muito nervoso.

— alguém tem um palpite sobre a charada? Com certeza visa atingir alguém importante, portanto, já coloquei o prefeito e o vice-prefeito em proteção redobrada. – fala o capitão Thomas, olhando através da única janela na sala, muito pensativo.

Todos olham para baixo. Estão assustados. Eu estou assustada. A cada momento penso que essa é uma continuação da franquia jogos mortais.

—Fonte pequena, grande o tamanho - começa a agente Rachel - se vem de algo pequeno e essa coisa torna-se grande, logo é algo que cresce.

—isso - continua o agente Donovan - e é algo que apesar se sua retirada, aumenta.

—Algo que cresce e aumenta com sua retirada. Não tem como algo aumentar com a retirada! - explode Jess.

—Um buraco?-opina Rachel, dando de ônibus.

—Quantos buracos existem nessa cidade? Milhares! Temos 2 horas e meia e nem sabemos resolver uma charada! - Jess grita.

—Agente Baker, é melhor o senhor se acalmar – alerta Thomas, com um olhar que faria qualquer um chorar de medo.

Eu penso em todas as possibilidades. Primeiro algo que nasça. Depois, se eu tirar ainda aumenta. Ou está sendo transformado ou está sendo reposto... É isso.

—Árvores!

—o que Luce?- Jess olha para mim confuso.

—Árvores. A fonte é pequena: semente. Grande o tamanho: elas crescem. – agora era eu que olhava para o nada, concentrada.

— e quanto ao “quanto mais me tiram, mais eu ganho”? - pergunta Bob.

—Não está tendo um reflorestamento do outro lado da cidade? É isso! – falo e dou um pulo, foi um impulso, mas não pude me conter - Isso! "Quanto mais me tiram, mais eu ganho". Quanto mais se tiram as árvores, mais são plantadas na área de preservação.

Todos olham para mim chocados.  O quê? Eu falei besteira? Eu estava tão vidrada nos meus pensamentos que acabei falando demais, só pode ser isso. O capitão se levanta e vem até mim. Jesus, eu perdi meu emprego?

—Luce, você é um gênio. Só pode ser lá! Ótimo raciocínio. Bom trabalho!

O meu alívio é instantâneo. Ufa! Que bom que falar muito não foi tão ruim.

—tudo bem chefe. Mas quem poderia estar em perigo por lá? - pergunta Bob.

—A promotora. Isso não é um ataque somente à estrutura política da cidade. Quem quer que seja quer destruir as instituições que aqui comandam. Agentes, quero que preparem todas as unidades disponíveis para irem até à casa da promotora Kate. Ela tem um marido e uma filha de cinco anos. Quero que a busquem e a tragam para cá.

—Com licença senhor, - Jess começa a falar - o senhor não acha melhor que façamos uma emboscada para prender o grupo?

—E usar a promotora como isca? Não posso fazer isso!

— É só o senhor telefonar para ela e avisar. Ela irá saber cuidar das coisas caso algo aconteça de errado. – Jess parecia mais calmo, mais esperançoso.

O capitão ficou pensativo por um momento. Usar alguém como isca era terrível, mas ele tinha que admitir que seria a melhor oportunidade para prender os criminosos. Era um mal necessário.

—Tudo bem, tudo bem. Façam um cerco ao redor da casa. Mas caso vejam que algo está saindo do controle, a prioridade é trazer todas as vítimas para cá. Ligarei para Kate e alertá-la. Vão, estão dispensados.

Todos se levantam e, apressados, começam a ligar para as equipes e contatar as patrulhas.  Nós tínhamos 2 horas para salvar a promotora, seu marido e sua filha. No trânsito daqui da cidade, levaremos cerca de uma hora e meia para chegarmos lá. Será em cima, mas com todo o planejamento que temos, com toda a força policial, iremos prender esses loucos.  Eles não têm escapatória, dessa vez os pegamos! 

Vou dirigindo a viatura com Jess ao meu lado, é claro. É incrível. Mesmo de madrugada as ruas de Living City são bem movimentadas, especialmente nessa região. A promotora Kate mora em uma casa (ou seria melhor o termo "mansão"?) que está numa das regiões mais cara da cidade. O local possui grandes atrativos noturnos, como casinos, boates e casas de show, o que atrai muita gente, até mesmo gringos. Temos de ligar as sirenes para chegarmos o mais rápido possível. Há uma família em risco.

Quando estamos quase chegando, Jess, que não havia dito nada desde que comecei a dirigir (acho que envergonhado devido aos acontecimentos na casa dele) resolve soltar algo que me preocupa no início.

—Está fácil demais...

— O que?

— Está fácil demais Luce! Sei lá! Os caras já cometeram tantas atrocidades e cavam sua própria cova mandando um bilhete para você? Eles sabem que você é esperta.

— Deixa de paranoia Jess. A gente apenas deu sorte de descobrir a charada antes. Foi difícil, você mesmo estava e estressado por não conseguir pensar em nada. Não esquenta com isso, você tem que ter foco hoje! Prendermos grandes criminosos.

— Eu estou focado. Só estou dizendo que estou tendo um mau pressentimento.

Um arrepio corre pelo meu corpo. E se ele estiver certo? Mas falta pouco, tenho que me preocupar com a família que corre perigo. Dirijo por mais três quarteirões.

—Chegamos! – Paro o finalmente o carro.

Eu nunca havia vindo nessa área da cidade. Devo admitir que sei o porquê: minha casa não valeria os vidros colocados nessas mansões! É tudo muito maravilhoso e muito fino. Até a grama é mais verde aqui. Foco Luce, foco!

Ficamos a um quarteirão da casa. Temos que deixar a presa morder a isca. O carro com agentes armados chega e estaciona atrás de nós. Ficamos ali esperando, e esperando. Fico olhando para aqueles agentes com poder de fogo. Deve ser emocionante poder segurar uma arma e decidir quem vive e quem morre. Pedir alguém para dar cobertura. Coisas emocionantes como entrar no táxi e dizer a famosa frase "siga aquele carro!". Quem nunca quis dizer isso? Mas minha paixão sempre foi mistérios, quebra cabeças, então optei pela carreira de detetive. Foi quando eu tinha 6 anos e meu pai foi sequestrado. Foram os piores dois dias da minha vida.

Tudo que eu me lembro foi que eu acordei numa manhã e vi minha mãe chorando porque meu pai não havia voltado para casa no dia anterior. Eu era pequena, mas sabia que se ele não voltara, algo havia acontecido. Meu pai era do tipo superfamília, sempre fazíamos tudo juntos: ele me levava para a escola, para brincar, fazer compras. Sempre nós três. E se ele não voltou para a família dele depois do trabalho, algo estava extremamente errado.

Todos da família estavam realmente arrasados, até que ligaram pedindo 100 mil pela vida do meu pai. Nós não tínhamos aquele dinheiro. Eles ligavam de meia em meia hora, aterrorizando minha mãe. Os policiais fizeram de tudo, mas no final os bandidos acabaram perdendo a paciência e descobriram que haviam sequestrado um cara que tinha apenas a família como grande valor, nada mais. Depois de encerradas as ligações, o corpo do meu pai foi encontrado após 3 dias.

Quando os policiais foram dar a notícia à minha mãe, ela desmaiou. Um deles ficou por minha conta enquanto o outro levou- para o hospital. Lembro-me de estar no colo do policial e vê-lo chorar. Eu, que até aquele momento não sabia o que estava acontecendo, perguntei o porquê do choro. Ele me falou: "porque eu não cumpri meu dever. Sua mamãe irá conversar com você sobre o seu pai, mas saiba que eu não descansarei enquanto eu não achar quem fez isso com ele".

Minha família ficou arrasada. Desestruturada. Eu chorei muito quando minha mãe me colocou em seu colo e me falou entre lágrimas e suspiros: "Luce, a gente precisa conversar. Na vida a gente passa por vários obstáculos. Há uns que nós conseguimos vencer. E há outros em que perdemos. O seu pai estava enfrentando um desses obstáculos, mas infelizmente esse ele perdeu. Todos estamos sofrendo, porque esse obstáculo custou a vida do seu papai Luce. Não princesa. Não chore. O seu pai não se afastou de você. Ele agora virou uma estrela no céu. Toda vez que se sentir sozinha, desamparada, basta olhar para o céu, que ele vai estar olhando para você de volta. Ele sempre estará protegendo você. De longe, mas estará."

O policial ia à minha casa periodicamente saber como estávamos. Depois de 3 meses de investigação ele descobriu o sequestrador, que já estava morto. Morreu em uma briga entre gangues. Lembro-me do olhar triste do policial. Eu via o quanto seu trabalho era importante. Acho que ali me apaixonei pela carreira policial. Minha mãe entrou em depressão profunda. Veio a falecer depois de dois anos da morte do pai. Eu não tinha parentes próximos. Eu iria para a adoção, mas o detetive responsável pelo caso resolveu me adotar logo que ficou sabendo. Ele morava sozinho e Lucas se tornou meu melhor amigo. Sempre cuidou muito bem de mim, não deixava que faltasse nada. Quando tinha 19 anos ele morreu, vítima de um tiroteio. Desde então tenho me Virado sozinha. Em momentos como esse eu queria que ele estivesse aqui para me ajudar.

—Você não acha que está demorando muito? - Jess interrompe minhas lembranças e me assusto com o estado agitado dele - Faltam 10 minutos para o fim do prazo e nada!

— Vou até o carro do capitão ver o que está acontecendo.

Saio do carro e recebo um vento frio no rosto que faz com que eu trema por completo. Bato no vidro dele. Ele o abaixa e olha para mim.

—Com licença capitão, está tudo em ordem? Jess e eu achamos que está tudo muito parado.

— Ainda bem que não sou só eu que estou com essa sensação, mas os homens que estão na rua de Kate falaram que está tudo em ordem. - o telefone dele começa a tocar – Só um minuto Luce - ele atende. - O QUÊ? - ele grita, assustando todos. - Como assim eles levaram tudo? Estamos indo para aí agora!

— o que aconteceu capitão? - pergunto apreensiva.

— A ligação foi da delegacia, os desgraçados levaram todo o armamento!

— o que?

— Isso foi apenas uma distração, sabiam que ela ia estar desprotegida e roubaram todas as armas e munições de lá. Vamos voltar! – ele grita ao ponto de ficar vermelho. Meu sangue gela.

Eu corro até o meu carro. Jess olha para mim assustado e antes que ele diga alguma coisa arranco com o carro.

— o que aconteceu? - ele pergunta completamente pálido

— Eles nos enganaram. Isso foi uma distração. Assaltaram a delegacia e levaram todas as armas de fogo e suas munições!

— Não pode ser! Eu sabia!! Sabia que tinha algo errado!! E agora?

— Agora... Eu não sei. Começaremos do zero.

Dirijo a toda velocidade, com apenas um pensamento: isso é muito maior do que pensávamos.


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Notas finais do capítulo

Por essa Luce não esperava! Agora eles terão que começar tudo do zero. Qual será o grande plano da O.S.A? Vocês serão capazes de ajudá-la a resolver tal crime?



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