Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 2
capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695200/chapter/2

O despertador toca às 06h00min. Para quem estava acordada desde as quatro não fazia diferença. O receio de eu não ter esquecido a janela aberta não me deixou dormir. Fiquei pensando no caso e no que poderia ter levado um ser humano à fazer aquilo com as pessoas. Nunca deixei que os casos que investigava influenciassem na minha vida pessoal. Pelo menos, não até agora. Uma família. Três crianças e dois adultos. Todos mortos. Até aí seria “normal” para alguém com um trabalho como o meu. O fato é como encontramos a cena do crime. As crianças estavam debruçadas, de mãos dadas em círculo. Os pais, no andar de cima, estavam em cruz, também debruçados. Para mim, aquilo tudo era como um ritual ou algo do tipo. Nunca havia visto nada assim antes, e espero ver nunca mais.

Dentes escovados, cabelo preso, uniforme e café tomado. Vejamos o que as pistas têm a contar.

São vinte minutos da minha casa até o trabalho. Dirijo pensando no que posso fazer para resolver esse enigma. Estaciono o carro e entro na delegacia, que estava fervendo. Mal chego e Jess, meu parceiro, vem ao meu encontro. Trabalhamos juntos a 2 anos e nesses dois anos ele se tornou o meu melhor amigo. Como sempre, ao me ver, ele abre um sorriso maravilhoso.

—Bom dia Luce, espera que tenha tomado bastante café. O chefe quer nos encontrar juntamente com toda a equipe em 15 minutos para ver o que temos até agora. Teremos que voltar à cena do crime para mais uma checada. Você está bem? Está com tantas olheiras.

—Não dormi muito bem ontem. Obrigada por informar. Vou pegar mais café e já estou indo para a sala de reuniões.

Na cafeteria encontro Vanessa, pegamos um café e vamos juntas para a sala de reuniões.

—Luce, ouvi dizer que o chefe ta pirando com esse caso. Ele acha que isso possa acontecer de novo, já que a coisa é meio que um ritual.

—Quem não estaria pirando? Eu nem dormi direito à noite com essa história toda. Agora é torcer para pegarmos o desgraçado que fez uma coisa dessas.

A sala estava uma barulheira só, todos tinham um palpite e estavam extremamente assustados. Após todos se sentarem, Thomas, meu chefe, começou a falar.

— Bom dia a todos e obrigado por comparecem aqui tão cedo. Como todos sabemos, ontem aconteceu um crime terrível envolvendo uma família inteira que residia na Rua 44 daqui, de Livin City. Jhon, uma das vítimas, era um dos possíveis candidatos a prefeito da cidade. É imprescindível que encontremos os culpados logo, antes que venha a acontecer novamente, já que há indícios de que seja alguma espécie de terrorismo. Afirmo isso, pois ontem os detetives Jess e Lucile encontraram um bilhete. Agentes, queiram prosseguir, por favor.

Jess e eu nos levantamos e fomos para frente do projetor, que lançava a planta da casa em um tamanho enorme, para que todos pudessem saber onde cada coisa aconteceu.

—Obrigada capitão. Pois bem, ao chegarmos ao local, eu e Jess encontramos sangue por todo lado. Pensamos logo em um assalto que acabou em homicídio. Porém, os objetos de alto valor da casa permaneceram no local e a forma em que os corpos estavam posicionados leva a crer que foi algo premeditado, com a intenção de matar.

—As três crianças se encontravam no andar de baixo da casa na sala de estar, agrupadas, com as faces voltadas para baixo e de mãos unidas. O casal se encontrava no quarto deles no andar de cima, também com as faces voltadas para baixo e em formato de uma cruz. Apesar disso, havia uma grande quantidade de sangue espalhado do quarto até a sala, sendo a maior parte deste no quarto, logo, as cinco pessoas foram assassinadas no quarto e os corpos das crianças foram arrastados até a sala de estar.

—Exatamente Jess. Além disso, havia um bilhete na mesa de jantar. Estava escrito: “a ordem e o progresso do amanhã”. Acho que seja um tipo de aviso.

Todos olharam pasmos para mim. É colegas, eu também estou com medo.

— obrigado Luce e Jess. Vamos ouvir o legista agora, Matt.

— obrigado chefe. As vítimas foram mortas da maneira mais suja possível: foram degoladas. Digo suja pela grande quantidade de sangue que é derramado assim. Pelo corte, faca foi passada da direita para a esquerda, o que é bom, já que isso indica que nosso assassino era canhoto. O horário de morte indica que as crianças foram mortas primeiro, uma diferença de 20 minutos para os pais, o horário de previsão da morte das crianças é por volta de 20:25 e os pais, 20:45. O assassinato ocorreu a dois dias e os corpos foram encontrados na tarde de ontem. Não foram encontradas digitais dos assassinos no local.

—Obrigado Matt. Pois bem, Jess e Luce, quero que voltem á residência dos Parkers e deem mais uma olhada, vejam o que não conseguimos ver. Estão dispensados.

Todos saem com um burburinho. Alguns cogitavam pedir segurança extra para os líderes da cidade.E lá vamos nós, eu e Jess para o purgatório, e se não fosse isso, estava quase lá.

— Ei Luce, que tal um jantar hoje?

— Se eu ainda tiver estômago no final do dia, está combinado.

Entramos na casa. O local cheirava a morte. Se a morte usa perfume, ela quebrou o frasco inteiro naquela casa. Mesmo sem os corpos estarem lá, eu conseguia vê-los. São nessas horas que eu reafirmo minha teoria: a humanidade está caminhando para uma autodestruição. Eu deveria ter feito o mesmo que a Vanessa. Cuidar da papelada me daria mais horas de sono. Falando em Vanessa, o rosto dela aparece no meu celular.

—Alô?

—Oi Luce, que tal você vir jantar hoje para a gente poder ver aquele filme que te falei?

— Ia ser ótimo Nêssa, mas vou jantar com o Jess hoje.

—Hummm, eu sabia que aí tinha coisa. Ele ta aí perto?

—Ta no andar de cima. Não me venha com esse seu “Hummm”. É só um jantar e eu já te disse que somos só amigos. Nada de mais.

—Você e esse seu coração de pedra. O cara banca sempre o tipo romântico com você, você que não da uma chance para o coitado.

—Oque? É que a ligação ta falhando. Alô?

E desligo a ligação. Olha conversar sobre esses assuntos era o que eu menos precisava nesse momento. Vanessa é uma eterna amante, sempre com alguém novo. E como eu não procuro por isso, ela procura para mim. Vive dizendo que Jess seria perfeito para mim. Eu não acho isso. Nunca o vi como nada além de amigo e parceiro de trabalho. E Vanessa é suspeita para falar. Toda semana ela encontra o seu verdadeiro amor. Isso a faz derramar muitas lágrimas e gastar muito com sorvetes.

Deixo os pensamentos fúteis de lado e começo a investigar o andar debaixo. O lugar está de cabeça para baixo. Tudo é muito estranho. É como se eles tivessem destruído a casa propositalmente. Se pelo menos as câmeras de segurança tivessem capturado algo. Quatro encapuzados de preto. Em seguida, nada. Desligaram o sistema de segurança. Sabiam exatamente o que estavam fazendo.

—Luce, pode vir aqui em cima?

— Tô subindo.

Subo vagarosamente a escada e Jess está na porta do quarto, olhando fixo para o chão.

—Olha esse sangue que achei aqui no quarto. Ele parece ter um formato não acha? Mas não to conseguindo formar.

—Formato? – fico olhando ao lado dele, confusa.

—É, olha, tem algum padrão aqui.

—Espera, to vendo, tem algo mesmo... Er... Os corpos deles estavam aqui no centro. Se nós pegarmos essas pontas e ligarmos ao centro... Olha, seis riscos ligados ao centro! Esses riscos estão em curvas! Nossa! Formou um Sol!

—Caramba! É um Sol mesmo, isso não foi feito por acaso, os espaçamentos estão bem divididos e alinhados. Isso com certeza não foi aleatoriamente.

—Deve ser a marca... De algum grupo. Caramba a coisa está ficando pior do que eu imaginava. Temos um grupo que matou um futuro candidato a prefeito e deixou a mensagem: a ordem e o progresso de amanhã, tem um Sol como símbolo e é extremamente cruel. Isso cheira a conspiração. Fanáticos talvez?

—As crianças estavam de mãos dadas certo? Elas estavam retas?

—não, estavam com os joelhos dobrados, os pés para trás. Merda! Elas também formavam um Sol!

—Wow! Isso só fica melhor. Como será o nome desses doidos? “O Sol do amanhã”? Ninguém merece. Achou alguma coisa lá em baixo?

—Não, nada além do que já tinha visto. Mas ei, melhor nós voltarmos e fazer um relatório do que vimos aqui. Por hoje basta.

— É melhor nós irmos mesmo.

Fizemos a viagem toda em silêncio. Já havia visto isso sim, em filmes. Saber que a crueldade humana pode chegar a esse estado é extremamente deprimente. Acho que Jess devia estar assustado também, nunca o vi assim. Até trocou sua playlist irritante do The Wanted por uma da Adele. Ele estava realmente mal.

Chegamos, fizemos um relatório e já íamos saindo quando Jess me chamou.

— Posso te pegar as 19:30?

—Ah, o jantar, desculpa estava distraída. Pode sim! Até lá.

Entro no meu carro, ligo o Guns’n Roses e nos meus vinte minutos, tento pensar somente na letra da música. Tomo um banho rápido ao chegar em casa. O bom de sair com seu parceiro de trabalho é que não precisa se arrumar muito, pois ele te vê todo dia no seu pior estado. Seco o cabelo, um vestidinho preto e gloss labial. Pronto, estou fantástica. Para o Jess é até muito. 19h30min em ponto ele buzina lá fora. Entro no carro dele

—Lucile Norman, você está divina!

—Já falei que gosto só de Luce, ok?  E obrigada senhor Jess não sei o quê, o senhor está razoável.

—Baker Mulher, meu sobrenome é Baker.

—Jess Baker, então me leve para jantar, pois estou morta de fome.

—Seu desejo é uma ordem.

Vamos até um restaurante chamado Bruna’s Food. E sim, a comida da Bruna era maravilhosa. Falamos sobre os lugares mais bonitos da cidade, futuras viagens, quem estava pegando quem no trabalho. Essa parte eu tentei pular rápido. Não gosto de falar da vida alheia. Mas o clima estava ficando tenso. Tentamos evitar a todo custo o assunto trabalho. Mas lógico que não foi possível. Detetives vivem para o seu trabalho.

— isso tudo está uma confusão não é?

—Nem me fale cara, eu to tensa só de pensar no amanhã. Estou tentando o máximo possível parar de pensar nisso. Mas é meio que automático.

—É, eu também. E se você que sempre é determinada não consegue, imagina eu. Sabe, muitas vezes eu queria ser igual você, determinado com minhas coisas, mas acho que o que mais me atrapalha é o medo do que pode vir a acontecer.

—Acho que determinada não é a palavra certa, e sim, teimosa.

—Com certeza, e é a teimosa mais bonita que eu já vi.

Ele abre um sorriso tímido. Ok, vamos mandar a real.

—É assim que você faz suas conquistas? Porque olha, elas devem ser muito bobas para cair nesse seu papo furado?

—Não gostou? E não são conquistas, eu não saio com muitas mulheres.

—Ah não, claro que não. Todos sabem que você não é homem de uma mulher só. Deve ser por isso que não te vejo com nenhuma.

—Depende da mulher. Eu tento fazer dar certo, então, tomo cuidado em minhas escolhas. Sou muito seletivo. - Ele faz uma pausa e olha sério para mim- Sabe Luce, tem uma coisa que venho querendo lhe contar. Eu...

O telefone dele toca. Salva pelo gongo!

—Só um minuto. Alô? Sim, é ele. Não, fala sério! Era tudo que eu não precisava agora. Sim, sim, ela está comigo, aviso sim. Chegamos aí em 15 minutos. Tchau.

—O que foi?

—Era da central, acabaram de encontrar toda a família de outro candidato a prefeito morta. Faltam 6 meses para as eleições, isso não é aleatório. E adivinha? Mesmo padrão.

—Não pode ser!

—Pois é, vamos lá ver se achamos outro Sol.

—Merda!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dúvidas da razão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.