Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Ele era o espião, ele me enganou e agora tinha dado uma jogada de mestre!



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Jess, o prefeito e eu descemos as escadas em um ritmo lento. Jess estava com o braço esquerdo sobre meus ombros, se apoiando em mim. Bom, assim ele dizia, mas ele conseguia andar normalmente. Ele estava fazendo aquilo por mim, pois eu precisava mais de apoio do que ele, mas, no meu caso, não era físico.

Eu não conseguia tirar as palavras do Raio de minha cabeça. Meu pai foi encontrado morto, como ele saberia algo que aconteceu há mais de vinte anos e que pelo o que eu sei, não tem nenhuma informação sobre? Eu não sei.

Talvez ele saiba somente que meu pai foi assassinado e esteja usando isso para me atingir. E o pior é que está funcionando. Esse assunto é aquela cicatriz que a pele fica mais fina e que todo mundo tem. Basta que algo encoste e uma nova ferida se forma por cima da antiga.

Talvez seja isso, ou ele conhecia o homem que matou meu querido pai. Eu não sei, mas em breve eu irei descobrir.

Chegamos ao térreo e nele havia várias viaturas com suas luzes nos impedindo de olhar mais a frente. Um médico correu para nos atender, Jess tinha seu nariz sangrando. James iria precisar de um psicólogo depois de tudo isso. Ele foi para uma ambulância e Jess e eu fomos para outra.

Pedi somente um copo com água e fiquei sentada na parte de trás da ambulância observando a enfermeira fazer um curativo em Jess. Feito isso, ele estava com um lindo curativo branco no nariz. A noite ia chegando a sua metade e com isso esfriava cada vez mais.

Eu estava desmotivada. Os policiais não conseguiram encontrar o Raio no prédio em frente ao nosso. Ele sabia se esconder muito bem e isso já estava me cansando. Mais uma vez eu voltaria para casa sem nada. Ao menos havíamos conseguido salvar o Sr. Adam. Mas havia também Tyler. Pobre Tyler, ainda tinha tanto pela frente.

A maneira que ele foi assassinado era extremamente brutal. Eu nunca tiraria o seu olhar vago de minha cabeça.

Eu entrei no carro e dirigi. Jess estava ao meu lado e permaneceu calado durante todo o percurso. Estranhamente, era disso que eu estava realmente precisando.

Abri a porta da minha casa e joguei as chaves em cima da mesa. Despenquei no sofá, seguida por Jess, mas pouco tempo depois ele levantou e foi até a cozinha, voltando em seguida com duas taças em uma mão e uma garrafa de vinho na outra. Ele colocou as taças sobre a mesa de centro e as encheu com o vinho. Eu peguei minha taça e fiz com que o líquido descesse pela minha garganta, sentindo cada parte do meu corpo se aquecendo lentamente. Tirei meu sapatos e me deitei.

Jess ligou a TV e o jornal mostrava o prefeito. Ele estava falando.

—O que aconteceu hoje serviu de lição para todos nós. E é por isso que tristemente eu renuncio ao meu cargo. Em breve serão feitas outras eleições, pois a cidade agora está sem prefeito ou vice-prefeito. Eu lamento informar isso, mas eu prefiro viver.

Ele desligou a TV. Suspirei profundamente e tampei meu rosto com minhas mãos. O Raio, afinal, estava conseguindo o que queria.

—Minha irmã me mandou uma mensagem hoje - Jess falou após beber metade de sua taça.

—Sério? O que ela queria? - eu simplesmente perguntei, sabendo que ele estava jogando qualquer conversa para quebrar o silêncio. Isso era bom, estava disposta a distrair minha mente.

—Somente saber como eu estou... Como vai o trabalho... Se eu arrumei alguém... Esse tipo de coisa.

Meus olhos arregalaram com esse último detalhe.

— O que você respondeu? 

—Que estava tudo bem, que estava morando com você - ele deu uma pequena risada.

—O que há de engraçado?

— É que ela me respondeu com essas palavras: “eu já achava que isso estava demorando a acontecer" - ele olha para mim.

—Bom... Jess - eu completo minha taça com mais vinho e me sento olhando para ele - a gente não conversou sobre isso. Não sei se estou pronta para um relacionamento. Não gosto de depender de ninguém, de ser controlada por alguém. Olha... Eu... Foi bom, mas não estou preparada, não sou um exemplo quanto a relacionamentos amorosos... Eu não quero isso para mim agora.

—Ei Luce, relaxe, eu te conheço muito bem. Não te forçarei a nada nem tirarei sua independência. Eu realmente gosto de você. Nós iremos devagar.

Jess era ótimo comigo, isso eu não podia negar. Mas eu tinha medo. Sei muito bem como isso pode terminar. Se grandes amigos se apaixonam e isso não dá certo, acaba ferrando com tudo. Eu não quero perder a amizade do Jess. Ele é muito importante para mim para que isso ocorra.

—Ótimo - eu falo, relaxando, em parte por essa explicação, em parte pelo efeito do álcool - e seu pai? Está bem?

—Jojo falou com ele tem uma semana. Ele está adorando a Inglaterra. Eu sabia que essa viagem faria bem a ele. Nesses cinco anos sem a mãe, ele tem estado em um estado preocupante, ele se abalou muito.

Eu conhecia toda a família de Jess, exceto sua mãe, que foi vencida por um câncer de mama há cinco anos. Ele me conta que foi muito difícil no início, mas que ele entende. Porém, o pai dele, o Charlie, ficou realmente mal, entrando em depressão após isso. Jess, Charlie, Marina, sua mãe, e Jojo, sua irmã, sempre foram muito unidos, um exemplo de família. Após a morte de Marina, o pai ficou inconsolável e precisou de muito apoio dos filhos para conseguir sair dessa.

—Fico feliz que ele esteja melhorando. Charlie sempre me tratou muito bem, adoro ele!

—Ele é ótimo mesmo - Jess falava com orgulho. Juntar-me à família de Jess me fez sentir bem novamente. Eles eram minha família também, apesar de nós dois vermos eles somente em feriados e datas comemorativas.

Jojo era médica cirurgiã em um dos maiores hospitais de Lewis, que ficava a 6 horas de Living City. Lewis é a cidade em que Jess viveu até ser transferido para cá. O pai dele vivia lá também, perto da irmã, mas teve muitos problemas depois que Marina morreu e agora ele faria uma viagem pela Europa. Seria uma espécie de terapia para ele.

—Luce, é... Que horas será amanhã? - Jess falava com cautela.

—Como? - eu não sabia do que ele estava falando.

—O... Enterro.

—Ah... Isso - eu falo decano um longo suspiro me escapar. - a família dele me informou que será às nove da manhã.

—Se quiser conversar sobre...

—Não, tá tudo bem, obrigada. Eu já deveria estar acostumada a perder as pessoas que estão ao meu redor. É bom você ter cuidado.

—Ah Luce, não fale besteiras. Até porque, eu nunca te deixaria sozinha. Venha, você já bebeu muito e amanhã teremos que levantar cedo.

De alguma forma, quando dei por mim, Jess já estava me colocando na cama. Ele havia me preparado para dormir, e eu estava só no automático, fazendo o que ele mandava. Ele me deitou e me cobriu.

—Sabe Jess, acho que eu estou realmente gostando de você. Mas a gente não pode ficar junto.

—Por quê?

—Porque você ronca – eu gargalho.

—Luce, quantas taças você tomou?

—Quatro... Não, não, não... Cinco.

—Cristo, você é uma bêbada alegre. Estavam cheias?

—Sim senhor - falo fazendo continência.

—Ok mocinha, hora de dormir, boa noite.

—Jess, eu queria lhe falar algo... - eu não conseguia controlar o sono que caia sobre mim agora.

—Diga.

—Eu te...

—Você me...? Luce? Luce?

Eu não conseguia mais falar. E tudo ficou escuro.

Um barulho ensurdecedor e alto demais para o meu estado me despertou. Eram oito horas da manhã e uma dor de cabeça fortíssima tomava conta de mim. Dizem que a pior ressaca é a do vinho.

Eu me levantei e fui para o chuveiro. Tomar aquele banho me tirou do modo anestésico em que eu estava. As cenas de ontem a noite começaram a passar em minha cabeça, com riqueza de detalhes. O Raio, o prefeito, tiros, gritos e Tyler. Não me conformava de que eu estava indo me despedir, agora definitivamente.

Saí do banho, escovei os dentes e vesti um vestido preto que ia até meu joelho e que eu não usava fazia muito tempo. Meia-calça preta e uma bota preta de salto que ia até meus joelhos. Um chale, óculos escuros e um chapéu. Eu estava pronta para derramar mais lágrimas.

Jess havia colocado um terno preto.

—Como está se sentindo? – ele me pergunta

—Shh... Fale mais baixo! Minha cabeça está latejando. Eu estou um bagaço. Como fui parar na cama ontem?

—Você não se lembra? – ele parece desapontado.

—Deveria? Nós? Oh droga!

—Não, nós não fizemos nada.

—Ah, obrigada Deus. Foi alguma coisa que eu disse?

—Talvez sim, talvez não. É muito estranho vê-la bêbada. Eu te coloquei na cama. Agora vamos ou iremos nos atrasar.

Jess foi dirigindo ate o cemitério.

Eu tinha arrepios daquele lugar, pois me lembrava do tenebroso dia em que fui presenciar o momento em que a terra cobriu meu pai. Naquele dia, ao contrário de hoje, tudo estava nublado. Era feio, cinzento, parecia que o mundo estava de luto juntamente comigo. Parecia que todos estavam sofrendo, nem que fosse um pouquinho, pela morte do meu pai.

Eu lembro perfeitamente dos gritos da minha mãe enquanto um padre abençoava a alma do meu pai. Mal sabia ele que àquela hora meu pai já estava no paraíso, se é que é para lá que as almas boas vão depois daqui.

Lembro de que havia bastante gente lá, gente que eu se quer conhecia. Até o detetive responsável pelo caso e que depois me adotou lá estava. Muitos amigos do meu pai choravam. Mas havia um em especial, que eu não conhecia e que veio conversar comigo enquanto todos estavam assustados pelo desmaio da minha mãe que havia acontecido havia alguns minutos. "Olá menina" "Quem é você?" "Sou... um amigo do seu pai" "Ah ta" eu disse simplesmente e voltei a olhar para minha mãe. De repente ele apenas me disse a seguinte frase: "seu pai a amava muito, disso nunca duvide, mas Luce, não tenha a mente fechada, um dia irá se surpreender sobre quem realmente é seu pai" "Como assim?" Ele olhou para mim, beijou minha testa, e foi embora.

Depois que entrei para a polícia, investiguei muito e nunca encontrei nada que comprometesse a imagem que eu tinha do meu pai. Não sei o que aquele homem queria dizer, mas ele me assustou muito.

Enquanto Jess dirigia eu olhava apenas para a janela. O dia estava lindo. Crianças brincavam alegremente no parque, pessoas riam e casais se beijavam. Doía-me saber que dessa vez o mundo não estava de luto. Tyler merecia isso.

Chegamos ao cemitério e encontramos várias pessoas da delegacia por lá, além da família de Tyler. Dei um abraço em seus pais e em seu irmão. Sua mãe estava chorando muito.

—Luce querida, obrigada por ter vindo. - ela dizia aos soluços.

—Eu não poderia deixar de vir nesse momento tão difícil. Não se preocupe. A senhora pode ter certeza que farei o que for preciso para pegar quem fez isso.

—Óh querida, eu te agradeço muito! - ela me abraçou forte.

Nos juntamos a Bob e Rachel e escutamos as palavras do padre. Eu achei que choraria mais, mas as únicas lágrimas que caíram foram de ódio. Ódio do Raio. Ódio de seus capangas. Ódio de mim por não conseguir detê-los.

Chegou a hora em que o caixão iria descer. Várias pessoas foram até lá e jogaram terra e flores em sua vala. Nós quatro tínhamos rosas vermelhas em nossas mãos. "Adeus Tyler" todos disseram e jogaram suas rosas.

—Adeus Tyler. Eu vou pegá-lo nem que seja a última coisa que eu faça. Até logo se for preciso - e eu joguei minha rosa.

Chegamos em casa e eu fui direto para a cama.

Apaguei.

—Luce... Luce?

—Eu?

—Tá na hora de acordar...

—Jess? Ah... Quanto tempo eu dormi?

—Bom, já são oito da noite. Faça as contas.

—Jesus – eu me espreguicei e cocei meus olhos.

—Pois é. Eu fiz o jantar, está com fome?

—Eu não comi nada hoje, então...

Cheguei à sala de jantar e a mesa estava feita. Ou a comida estava muito cheirosa, ou era eu que estava faminta.

—Você caprichou em?

—Bom, eu tento.

Jess estava mais sério. Parecia tenso.

—Tá tudo bem com você?

—Tá sim, por quê?

—Você tá estranho...

—Não, é só que cemitérios me deixam assim, me faz pensar o quanto a vida é curta.

—Isso é verdade.

Nós comemos e eu saboreava cada garfada. Desconfiava que Jess houvesse comprado àquela comida, mas não perguntei para não chateá-lo.

Ele então trouxe duas taças cheias de vinho.

—Você está me fazendo beber mais que o normal, sabia?

—Ah que isso, um vinho não faz mal a ninguém não é mesmo?

—Nisso vou ter que concordar com você! - eu falei, sorrindo e bebendo um gole daquele vinho.

—Que horas temos que estar no trabalho amanhã? 

—Às oito?

—Isso – ele estava distante.

—Bem, amanhã voltaremos ao tormento de caçar aquele homem. Eu... -minha cabeça cedeu para baixo.

—Luce?

—Eu estou me sentindo um pouco tonta... - eu levantei, mas em seguida caí no chão.

—Luce! - Jess correu e se abaixou para me segurar.

Tudo girava. Minha visão estava escurecendo.

—Eu sinto muito - a voz de Jess estava distante... Longe...

Tudo ficou escuro. Eu vi Tyler rindo nos meus sonhos. Vi minha mãe e meu pai me empurravam em um balanço no parque e um homem que eu não lembrava o rosto falou comigo: "seu pai não é quem você pensa".

Eu abri meus olhos. Tudo estava embaçado. Demorou um pouco ate minha visão focar. Eu não sabia onde eu estava. Quando olhei para baixo, levei um choque.

Eu estava repleta de sangue. Minha roupa estava suja de sangue, o chão estava encharcado. Ao meu lado havia o corpo de um homem. Na minha frente uma mulher ruiva estava deitava, ou melhor, morta. E do meu outro lado, um menino pequeno e uma jovem adolescente.

Eu tremia, o pânico me domando de um jeito que nunca havia domado. Eu me levantei, ainda zonza e eu pendia para os lados, sentido agonia do meu próprio corpo que estava todo vermelho. Eu olhava para os corpos e para mim. Todos tinham suas gargantas cortadas. Na parede um sol desenhado com o sangue. E uma frase: “ISSO FOI SUA CULPA, ASSIM COMO TYLER”

—Não!

Eu fui até o homem morto. Eu não o reconhecia. Droga. O mundo girava ao meu redor. Minha cabeça doía e meu corpo estava mole. Eu tentava me manter de pé, mas não tinha firmeza.

Como isso foi acontecer? Onde eu estava?

—Droga Raio! Droga! Não! Não! - Eu gritava palavras e xingava coisas que nem eu mesma sabia o que era. Mas então a imagem da última coisa que havia visto antes de apagar veio à minha mente.

Jess.

O que ele havia dito? "Sinto muito". O quê? Jess? Não, não podia ser. Não. Isso era loucura. Então era por isso que ele estava tenso, sério. Ele era o espião, ele me enganou e agora tinha dado uma jogada de mestre!

—NÃO! - Eu gritei até não poder mais.


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Notas finais do capítulo

Não confie nem mesmo em sua sombra!



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