Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Pois vivemos em uma mistura entre vida e morte.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695200/chapter/14

Por um momento todos ficam paralisados, mas logo se levantaram e correram em direção à porta. Gritos de socorro ecoam pelo salão.

Eu olho em volta e vejo o Raio e o prefeito saindo pelas portas laterais do palco. Eles passam e em seguida escuto o barulho das portas. Estavam correndo.

—Eles ainda estão no prédio! Temos que ir atrás deles! - eu falo para Jess. Ele olha para mim e movimenta sua mão como se me mostrasse como estou vestida. Eu olho e sorrio para ele - não se preocupe, Vanessa pensou nisso também. - a saia do vestido era removível. Eu estava com um short curto por baixo. Os sapatos, bem, eu andava muito bem de salto, ainda mais com aqueles que eram baixos e não eram finos.

—Uau! - Jess fala sorrindo para mim. Eu estava com a parte de cima do vestido, um short preto,salto, e havia armas nas minhas pernas. - assim está ainda melhor!

Eu reviro os olhos.

—Vamos logo! - saímos correndo pela porta a qual o Raio passara minutos antes.

O lugar era grande. Eu e Jess corríamos pelo corredor para ver se os alcançávamos. Havia algumas portas no corredor que levavam a salas diversas, mas todas estavam fechadas. Até que passamos por uma porta que estava um pouco aberta. Eu empurro vagarosamente e vejo muitos computadores.

Tyler.

Minha boca começa a tremer e sinto que as lágrimas começam a vir, mas eu seguro e elas não escapam dos meus olhos. Eu empurro a porta um pouco e Jess me puxa para fora a sala.

—Você não precisa fazer isso Luce. - ele olha para mim ternamente.

—Sim, eu preciso. É o mínimo que posso fazer agora.

Eu abro a porta por completo e manchas de sangue começam a aparecer. O sangue vai aumentando e há uma poça em baixo do corpo.

O corpo...

Eu não acreditava no que estava vendo. Eu tampo minha boca para abafar o meu grito de desespero.

Tyler estava pendurado por uma corda enrolada em seu pescoço, com um corte em sua barriga. Aliás, um não, vários.

E o corpo balançava devagar, com os olhos abertos olhando para o nada. Então eu vejo que o que está ali não passa de uma casca, oca, vazia. É o que somos. Pedaços de carne preenchidos por algo que se esvai quando morremos. Alguns chamam isso de alma. Acredito que seja simplesmente a fagulha, à qual chamam de vida.

Eu queria ter me despedido, dizer que apesar de nosso relacionamento não ter dado certo, ele era importante para mim, um valioso amigo. Mas a morte não permite despedidas, ela aparece em nossas vidas apenas para deixar buracos que nunca serão preenchidos novamente. Se a vida fosse um pano, no final, ela estaria repleta de furos, pois vivemos em uma mistura entre vida e morte.

Pego uma faca que Jess havia consigo e corto a corda. Coloco o corpo de Tyler esticado no chão. Pobre Tyler..

—Luce, vamos. Você não pode ficar aqui chorando. Se não pegarmos esse maldito, Tyler terá morrido em vão.

—Tá Jess! Eu sei! Mas é só que... Quantos ainda terão de morrer? – e então as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Eu estava cansada disso tudo. Não só a morte de Tyler, mas todos os meus esforços pareciam em vão naquele momento.

—Muitos mais se você não fizer o que tem de ser feito agora.

Eu olho para ele, para Tyler e engulo o choro que viria a seguir. Ele tinha razão. Agora eu devia aquilo ao Tyler. Eu levanto e passo por Jess.

—Vamos então – falo passando a mão forte mente em meus olhos.

Saímos dali e seguimos pelo corredor. Um barulho nos chama a atenção. Andamos vagarosamente e nos encostamos em uma parede. Coloco minha cabeça para o lado, somente o suficiente para que o mínimo do que havia do outro lado da parede entrasse no meu campo visual.

 Eram o Raio e seus homens tentando arrombar uma porta que levava até as escadas que ligavam os andares. Elas estavam em reforma, e por isso a porta estava fechada.

Havia quatro homens, dois dando cobertura e dois tentando abrir a porta. O Raio estava logo atrás, com o braço em volta do prefeito.

—Eles estão em maior vantagem - diz Jess desanimado.

—Bom, nesse caso, coloquemos vantagens iguais. Teremos que ser precisos agora. Você acerta o da esquerda na cabeça que eu acerto o da direita.

—Combinado.

Jess se agachou em minha frente e apontou sua arma, eu já estava com o futuro cadáver na mira. Dois tiros, disparados ao mesmo tempo. Foi muito rápido. Em um segundo, dois dos guardas estavam parados de tocaia, no outro, manchas vermelhas surgiram em suas testas e seus corpos despencavam em direção ao chão.

Os outros dois começaram a atirar em nossa direção. O Raio pegou James e terminou de abrir a porta.

—Jess, eles estão fugindo.

—Eu te dou cobertura. Vai!

Eu saí correndo enquanto Jess atirava loucamente em direção a eles, fazendo os dois recuarem. Eu segui em frente e escutei os passos apressados do Raio subindo as escadas. Eu subi também.

Lances e mais lances de escadas. Eu tentava mirar minha arma, mas não havia como. Eles chegaram ao terraço. Um minuto depois eu cheguei também.

A noite estava fria, já era tarde e estávamos no décimo andar. Minha respiração estava ofegante por ter subido todas aquelas escadas em um ritmo acelerado. Eu empurrei a porta do terraço e vi o Raio, com a arma apontada para a cabeça de James. Podíamos ouvir o barulho de tiros que vinha lá da rua. Os policiais estavam enfrentando o poderio do Raio.

—Raio, larga a arma. Você não se cansa? Você sabe que seu final será apodrecendo em uma cela.

—Ah é? Acho que não. Seria mais justo esse sujeito aqui ir no meu lugar – ele aperta a cabeça do prefeito com a arma – sabe Luce, as pessoas são divididas em quatro partes. Têm as que são completamente boas, e as que são completamente más. Há também as que fingem ser boas, mas trabalham para o mal, e as pessoas que parecem ser más, mas estão lutando pelo bem.

—Você estaria no grupo das completamente más então – eu arqueio uma sobrancelha.

—Errado minha querida Luce. Eu estou neste último grupo. Eu pareço ser mau, faço coisas que são consideradas erradas e que são condenadas pelo resto da sociedade. Mas a questão é, o que é realmente bom e o que é realmente mau?

—Digamos que bom é o que estou fazendo e prender você seria o ponto principal. Mau é o que você está fazendo agora.

—Aí é que está. As coisas deixam de ser boas e más o tempo todo. É tudo uma questão de conveniência. Antes o errado era negar as doutrinas religiosas, ser gay era um crime. Hoje, pessoas que seriam queimadas em fogueiras são consideradas as corretas.

—Aonde você quer chegar com isso? – minha paciência estava se esvaindo.

—Quero que você entenda que ele - ele se referia ao James - ele é o mau mascarado de bem. Ele rouba da cidade, baba nos ricos e explora os pobres.

—Isso não é verdade! Eu ajudo o povo com o que posso...

—Cala essa sua merda de boca! Ou você quer que eu a cale para você – ele coloca a arma dentro da boca de James - meu povo já está cansado de mais de lutar em vão. Faço isso para chamar a atenção dos ricos e de pessoas como você que acham que estão trabalhando para o bem e para todos, mas não estão.

Eu não podia negar que o infeliz nesse momento estava certo. Havia uma hipocrisia enorme no sistema político e financeiro da cidade. Não havia como negar que a corrupção era grande, a pobreza na periferia da cidade era estrema.

—Entra prefeito, sai prefeito, e o que eles fazem por nós? Nada. A parte da cidade de onde eu vim virou um clichê de propaganda política, que serve de alvo de melhoria durante as campanhas. Se formos investigar esse bando de merda que está no poder, não sobrará um limpo.

—Isso não justifica você matar pessoas por aí.

—Só isso chamaria a atenção de vocês.

—Há outros meios.

—Se eu tentasse quebrar essa roda que estabelece um ciclo de poderes opressores dos pobres, eu seria esmagado. Mas nada do que uma morte polêmica para gerar polêmica. - ele puxa o gatilho da arma.

—Pare com isso! Se você atirar nele, eu não terei o porquê de não atirar em você.

—Ponto para você menina Luce. Ele não irá morrer agora, mas um tiro na perna ou no braço seria muito bom.

Eu fui me aproximando e ele apertou mais o pescoço do prefeito.

—Tome cuidado menina, não vai querer chegar muito perto.

—Eu sempre me perguntei por que você gosta de se denominar Raio - eu falo parando minha aproximação - mas me pergunto se você gosta mais de ser chamado de Raio, ou por Hyden.

Ele levantou as sobrancelhas e então eu soube que havia tocado no assunto certo.

—Do que você está falando?

—Seu nome, Hyden. Curiosamente dado como morto há um bom tempo.

—Está errada menina.

—Eu acho que não. Meu nome não é Hyden, se é o que está pensando.

‑Tem certeza? Isso explicaria muita coisa não acha? Por que você está morto no banco de dados?

—Você não sabe de nada Lucile! – ele grita comigo.

—Luce - era a voz de Jess em meu ouvido - aqui está sob controle. Estou subindo.

—Não, não faça isso.

—Fazer o que? - pergunta Hyden me analisando.

—Matá-lo. Aqui está cheio de policiais. Você não vai fugir.

—Eu acho que vou.

Ainda com a arma apontada para a cabeça de Hyden, o Raio tirou de dentro de uma mochila que carregava um equipamento para escalada, que ligaria dois pontos por um cabo, simulando uma tirolesa. Eu escutei um barulho na porta que dava acesso às escadas e eu já sabia quem era. Tossi para que ele não escutasse também.

O Raio atirou no topo de um prédio que ficava em frente ao que estávamos. Eu não podia fazer nada, pois ele permanecia com o prefeito sob sua mira. A ligação então estava feita.

—Você, senhor James, amarre esse cabo em minha cintura.

James fez exatamente como ele mandava, as lágrimas lhe encharcando toda a blusa, e em poucos segundos o Raio estava pronto para saltar.

—Você vem comigo - ele pegou o prefeito e o mandou segurar em suas costas.

—Ele vai cair! - eu me aproximei, mas ele fez um gesto para eu parar.

—Não, não, não criança. Fique aí. E quanto ao James, bom, é melhor que ele segure firme, e se não o fizer, não me importo - ele sorriu e se posicionou.

Ele ia saltar. Faltava apenas conectar-se ao cabo. Minha respiração parou. Quando achei que ele fugiria mais uma vez, um vulto sai por de trás de umas caixas que estavam nas sombras do terraço.

Era Jess.

Ele pulou e empurrou os dois para longe da beirada do prédio. A arma do Raio caiu longe. Ele olhou incrédulo para Jess, como se o meu parceiro tivesse acabado de puxar o trono de um rei antes deste sentar-se.

—Ah o herói. Estava mesmo faltando este aqui - o Raio fala olhando para Jess enquanto se levantava. Ele faz uma posição de luta e grita para Jess - Vem com tudo garoto!

Jess avançou para cima de Hyden, mas este desviou. Eu corri para pegar James e trazê-lo para longe daquela luta terrível.

—Obrigado agente - ele fala com a voz ofegante.

—Luce senhor, e, por favor, me agradeça somente quando colocarmos esse sujeito atrás das grades.

—Claro - ele diz assistindo Jess dar um soco no queixo de Hyden, que cambaleia para trás.

Os dois estavam sangrando. Jess o nariz e Hyden a boca. O estrago era grande.

O Raio dá um chute que acerta a barriga de Jess e por um momento ele fica sem ar. Ele olhou para mim, os olhos arregalados e sua boca aberta tentando captar o ar que estava à sua volta.

Hyden aproveitou e o deu um soco no rosto e um empurrão que fez Jess ficar esticado no chão. Eu corro até ele para ajudá-lo. Rapidamente o Raio se conecta à tirolesa e olha para mim.

—Eu sempre fujo querida. Sempre doce menina. Mas não se decepcione, sei que seu pai estaria orgulhoso de você agora.

—Cale essa sua maldita boca! - eu grito - você não sabe merda nenhuma sobre o meu pai!

—Mais uma vez enganada. Sei que você era muito importante para ele. E, além disso, sei suas últimas palavras.

—O quê isso significa?

—Até um futuro próximo minha querida.

Eu pego minha arma, mas já era tarde demais. Ele havia pulado para o prédio em nossa frente.

—Atenção todos! Eu quero uma equipe no prédio em frente ao nosso agora! O suspeito acaba de chegar naquele terraço. Ok. Rápido!

Eu me abaixo até onde Jess estava.

—Jess, você está bem? - eu pergunto olhando para ele.

—Já estive melhor - ele tosse e se senta.

—Você ouviu o que ele disse?

—Ouvi sim, o que significa?

—Duas coisas. Uma: existe uma ligação entre o Raio e o meu pai.

—E a segunda?

—Essa ligação me fará reviver os meus piores pesadelos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A realidade é o pesadelo do mundo dos sonhos...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dúvidas da razão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.