Dúvidas da razão escrita por larissasalary


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

As luzes se apagam. Um burburinho se forma. Eu ando rapidamente até onde eles estavam.
As luzes se ascendem.
Não há mais ninguém lá.



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Acordo um pouco desnorteada. Onde eu estava?

 Olho em volta e vejo meu guarda roupa. Bom, estava no meu quarto. Minha cabeça doía um pouco.

A porta do meu banheiro se abre e vejo Jess saindo de lá, terminando de vestir uma blusa social. Ele segurava um terno lindo. Ele sorri para mim e eu devolvo o sorriso. Só então, imagens do que havia ocorrido chegam em minhas lembranças. Merda! O que fizemos?

—Oi minha linda! Finalmente você acordou! - ele vem se arrastando na cama e me dá um selinho. Ele volta e vai colocar a gravata.

—Quanto exatamente de vinho nós bebemos? - coloco a mão em meu rosto.

—Se não me engano foi a garrafa inteira...

—Droga Jess! - eu me viro com a barriga para baixo.

—Ah Luce, não vamos discutir. Até porque não temos o que discutir. Você quis e gostou. Qual o problema nisso? E vamos, levante, vá tomar um banho e se arrumar porque daqui a pouco teremos que sair.

—Quanto tempo falta?

—Pouco.

Eu me levanto e vou para o banheiro. Eu tranco a porta. Começo atirar a minha roupa e após fazer isso, tomo um banho rápido. O vestido estava pendurado pelo lado de fora do box. Adivinhe quem o escolheu? Sim, aquela vaca da Vanessa. E olha, ela podia ter seus defeitos, mas tinha bom gosto.

 Era um vermelho discreto, mas forte. Longo, com uma fenda na perna direita. Tinha umas pedrinhas brilhosas no busto, que por sinal era bastante decotado e atrás nas costas era completamente nu.

Antes de colocá-lo, sequei meu cabelo e fiz cachos, prendendo-o em coque. Havia uma presilha com uma flor vermelha que combinava com o vestido. Coloquei. Arrumei a maquiagem, que não era tão forte, mas ficou boa.

Agora, realmente me arrumaria. Coloquei duas armas presas à minha perna esquerda. Um canivete estava em meu busto. Uma escuta estava em meu ouvido. Colocando o vestido, todos esses itens ficavam escondidos.

Ótimo.

Olhei pela última vez no espelho, coloquei um perfume e estava pronta.

Saio do banheiro e pego uma bolsa que combinava com o vestido. Coloco uma arma pequena nela. Estava procurando o salto quando escuto Jess assoviando atrás de mim. Não o olho. Coloco meus saltos e quando me viro não consigo disfarçar meu rosto de surpresa.

Um homem como Jess ficava bonito de toda forma, mas com aquela roupa... Eu não tinha palavras. Ele estava vestindo um terno que ficava justo, mas não tanto, em seu corpo. Seus músculos, mesmo debaixo do tecido ficavam marcados. O cabelo dele estava com gel e em um topete um pouco de lado. Ele estava maravilhoso!! Mas sabe o que havia de mais bonito? O sorriso e seu olhar para mim.

Acredito que do mesmo jeito que estava admirada com ele, ele também estava comigo. Seu sorriso era sincero. Seu olhar então, parecia uma criança ao ver o presente que o Papai Noel deixou em baixo da árvore. Simplesmente brilhava.

Ele me olha dos pés à cabeça e sorri.

—Você está simplesmente maravilhosa!! - ele me diz.

—Ah, obrigada Jess. Você também está maravilhoso! Já pegou tudo?

—Já. As armas não ficaram marcando, ainda bem. Vamos?

—Vamos.

Entramos no meu carro e ele vai para o lado do motorista. Antes de ligar o carro ele olha para mim, faz um sinal, balançando a cabeça e o liga.

— O quê foi?

—Nada, é só que... Eu sou muito sortudo. - ele então olha para frente e começa a dirigir.

Como íamos ficar no evento, deveríamos nos vestir de forma adequada. Bob e Rachel que iam fazer o transporte e permanecer na sala de segurança, nas câmeras, não precisavam de tal produção.

Chegamos ao Event Center. Havia muitos fotógrafos e jornalistas cercando a entrada do lugar. A noite estava linda, o que combinava com esse evento. Eu nunca me liguei para essas coisas e isso explica o fato de eu não conhecer este encontro entre políticos que pelo jeito era anual. Mas não era somente um encontro entre esses nomes tão importantes.

As sete cidades próximas à Living City participavam. Seus prefeitos e banqueiros se encontravam para mostrar as estatísticas, planos, melhorias e inovações feitas por eles em suas cidades. Além disso, celebridades renomadas serviam como acompanhantes, o que dava um tom glamoroso em tal evento. Elas formavam a plateia. Eram mulheres, filhas, modelos, atores e atrizes, ou até mesmo amantes. E a mídia amava aquilo. Também pudera. Só o vestido de uma daquelas mulheres era o meu salário.

Jess e eu descemos e ficamos ao lado da entrada aguardando a chegada do prefeito. Os jornalistas e fotógrafos se juntaram e eu soube que alguém havia chegado.

O carro era uma limusine, e dela saiu um motorista muito bem vestido, parecia ser um senhor de uns 45 anos. Ele abriu a porta traseira do veículo branco e dela saiu um homem em um terno muito elegante. O homem saiu e com sua mão ajudou uma mulher a sair de lá. Era o senhor Jamie e sua esposa Eva.

Jamie era prefeito da cidade vizinha, Livinton. Eles eram nossos principais parceiros no comércio e estavam vestidos como tais. A senhora Eva estava deslumbrante, esbanjando seus diamantes em seus brincos, colar e anéis.

É obrigada Vanessa por me salvar. Eu nunca iria pensar em algo como essa roupa que estava usando hoje, e com certeza se não fosse por aquela falsa eu pagaria o maior mico.

Depois de três prefeitos e dois banqueiros chegarem, o nosso prefeito, o senhor Adams, chegou. Bob e Rachel o trouxeram até mim e Jess. A segurança estava redobrada, pois não somente o prefeito, mas todos os demais ali estavam em perigo. Guardas estavam espalhados por dentro do prédio e do lado de fora.

Cumprimentamos o prefeito e entramos. O salão estava lindo. As mesas eram de vidro e estavam enfeitadas em tons calmos de azul. As pessoas conversavam, a maioria em pé perto da mesa onde havia tira-gosto e bebidas. Garçons também estavam servindo para quem quisesse permanecer em sua mesa. Eu e Jess nos sentamos em uma mesa de onde podíamos ver o prefeito. Uma voz de repente me assusta.

—Luce, aqui é o Tyler, consegue me ouvir normalmente?

—Nossa Tyler, você me assustou!

Havia esquecido que estava com um aparelho no ouvido, como uma escuta, onde Tyler, em uma sala reservada somente para ele e seus equipamentos, podia se comunicar conosco.

—Desculpa Luce. E você Jess? Como está aí?

—Aqui está tudo perfeito.

—Ótimo. Vocês estão na mesma frequência, ou seja, todos escutamos a mesma coisa.

—Entendemos - eu e Jess respondemos juntos.

—Qualquer coisa fora do comum deve nos ser passado imediatamente, entendeu Tyler? - eu falo com ele.

—Claro. Vou verificar alguns equipamentos aqui, se quiser me chamar é só apertar esse botão pequeno em seu fone que eu saberei aqui.

—Certo - e então fica um silêncio dentro de minha cabeça. - Tyler é tão inteligente, não é mesmo? - eu falo por impulso com Jess.

—É, é sim... - ele fala com desdém.

—Aiai - eu reviro os olhos - vou dar uma olhada na mesa das comidas, não vai comigo?

—Tô bem aqui, obrigado.

—Você é quem sabe - eu balanço os ombros e saio.

Havia tudo que se possa imaginar naquela mesa. Frios e quentes, salgados e doces. A variedade de comida era surpreendente. O salão já estava bem cheio.

De onde estou consigo ver Jess.

Por um momento volto aos acontecimentos de hoje à tarde. Eu lembro e rio comigo mesma. Observando-o, tenho a certeza que se a gostosura se personificou esta noite, ela certamente estava na forma de em Jess.

As luzes abaixam sua luminosidade e uma voz invade o ambiente.

—Senhoras e senhores, por favor, procurem seus assentos pois esta noite irá começar agora.

Volto para minha mesa. Estávamos sozinhos nela, era uma menor, para quatro pessoas. Havia algumas delas para pessoas que vinham apenas assistir, que não tinham papel importante nas decisões da cidade. As demais mesas eram redondas e grandes, onde se sentavam por volta de duas a três famílias. O prefeito estava a umas duas mesas da gente.

Uma mulher muito elegante entrou no palco e todos aplaudiram. Ela seria a apresentadora da noite. Iniciou-se uma série de exibições de projetos que melhorariam as cidades de cada prefeito. Grandes obras, programas públicos e distribuições que nos faziam acreditar em um mundo melhor. A preocupação com o meio ambiente também foi tratada com planos de reflorestar e criar novas reservas. A economia também foi tratada pelos donos dos maiores bancos que estavam ali presentes.

Estava tudo muito lindo.

Jess estava bem atento a tudo que estava acontecendo. O ruim é que não podíamos tomar nada alcoólico, estávamos em trabalho. Mas comemos tudo que nos foi oferecido.

Finalmente chegou o momento de nosso prefeito falar. Ele foi até o centro do palco e começou um discurso que vangloriava seus feitos, seus projetos e conquistas sociais.

—Eu agradeço a todos vocês por estarem aqui esta noite, e sei que me ajudarão a tornar nossa cidade um lugar melhor para se viver - ele diz e todos o aplaudem. Ele começa a bater palmas, mas de repente algo acontece.

Todas as luzes se apagam.

Um burburinho começa entre as pessoas.

—Tyler? O que é isto? - eu pergunto a ele.

—Não seu Luce. Alguém invadiu o sistema. Estou tentando entrar de novo, mas n consigo. - sua voz é desesperada.

No telão ao fundo do palco surge uma luz. Ela começa a girar. Minha respiração prendeu e eu sentia o coração em minha garganta.

Um Sol se formou, tomando todo o telão.

Eu olho para Jess e ele está como eu. Palmas começam a ser escutadas. Uma voz metálica estrondou por entre as caixas de som.

—Senhoras e senhores, agradeço a presença de todos aqui.

Um burburinho tomou conta do salão. Jess e eu fomos andando vagarosamente para perto do palco, onde o prefeito escutava aquelas palavras tão assustado como todos que estavam ali.

—Esses projetos são realmente muito lindos, muito inovadores. E tudo não passa de uma grande mentira. - um homem entrou pela porta lateral do palco e eu imediatamente o reconheci

Era o Raio.

Ele estava com uma roupa exatamente igual a da outra vez, completamente negra e óculos escuros. Ele caminhou até o prefeito e colocou a mão em seu ombro. James suava muito, sua blusa estava encharcada. Jess e eu estávamos na entrada do palco agora, mas as cortinas nos tampava, fazendo uma sombra sobre nós.

—Uma mentira meus caros e queridos amigos, você que está assistindo isso agora - ele apontou para um câmera-man - tudo ilusão isso aqui - ele faz um gesto com os braços mostrando o lugar - vocês - ele aponta para a plateia - vocês são um bando de hipócritas, isso sim!

—Tyler? - eu tento me comunicar com ele - o que conseguiu?

—Estou quase invadindo completamente o sistema - ele me responde - todos os sinais para fora do prédio foram cortados, ou seja, sem telefonemas. Mas eles conseguiram isolar o sinal da TV.

—Claro, eles querem um show - eu murmuro.

—A voz dele está modificada por um equipamento especial. Que voz horrível. 

—Verdade...

—Luce, escute, preciso que enrole ele até que eu consiga entrar no sistema.

—Tudo bem - eu escuto um barulho forte onde Tyler estava - Tyler? O que foi isso? Tyler? - ele não me responde. Jess se vira e olha para mim.

—O que foi? - ele sussurra.

—Não sei, teve um barulho e agora Tyler não me responde. Tyler? - eu falo um pouco mais alto e então escuto uma série de estrondos. Depois vem o silêncio. Uma chiadeira aparece mas então uma voz faz com que eu me arrepie por inteira.

—Seu amigo está morto. - e depois perco o sinal. Não há ninguém do outro lado. Eu começo a tremer e Jess me olha com os olhos arregalados.

—O quê foi Luce?

—O Tyler. Pegaram ele! - lágrimas escorrem pelo meu rosto - ele morreu Jess!

—Não pode ser - ele coça a cabeça - Luce, isso é terrível. Mas você deve se concentrar no que está acontecendo aqui.

—Mas Jess - eu falo desesperada. O Tyler havia morrido! Que concentração eu teria?

—Eu sei que é difícil, mas nós morreremos se não fizermos o que tem de ser feito.

Um nó estava formado em minha garganta. Eu só queria ficar em um canto chorando. Tyler era meu ex, mas eu não tinha raiva dele. Ele se tornou meu amigo depois disso, e mesmo se fosse apenas um conhecido, eu choraria. Mas Jesse estava certo, eu deveria ser forte, pelo Tyler.

—Você tem razão - eu seco meu rosto com o meu braço. - tem razão - eu olho para o palco e o Raio ainda está fazendo seu discurso.

—Vocês em seus ternos caros, em seus vestidos luxuosos, não fazem a menor ideia do que é viver na baixada da cidade. É, eu venho de lá senhoras e senhores. Vocês nunca passaram fome, nunca tiveram que esperar horas por um atendimento em algum hospital. - ele anda de um lado para o outro - suas crianças têm educação, brinquedos... Nunca tiveram que lhes negar comida por não ter dinheiro para comprar. Essas promessas aqui, nunca passam disso: apenas promessas. Vocês não estão nem aí para nós, que não vivemos, nós sobrevivemos.

—E é assim que você resolve as coisas? Matando e roubando? Você não vai se safar dessa. - diz James. Ele gaguejava e estava completamente suado por causa do pânico.

O Raio se aproxima, olha para a plateia, olha para o prefeito, e atinge um soco em seu rosto. O prefeito cambaleia para trás, mas não cai. Ele levanta o rosto e sua boca sangra. Ele cospe o sangue no chão.

—É como eu disse a vocês. Vocês não escutam nossos gritos! - agora era ele quem estava gritando - vocês não escutam o choro de nossas crianças, não escutam nossas súplicas... Não escutam o choro de uma mãe que perdeu seu filho para o tráfico. Quem sabe assim vocês escutam - ele mira a arma na cabeça de de James.

Imediatamente eu pego a arma que estava em meu vestido e saio das sombras das cortinas. Eu miro a arma no Raio.

—Luce! Minha menina! Estava ficando decepcionado por achar que não iria vê-la. Como está linda!

—Deixemos de conversa fiada! Largue o prefeito e eu não coloco uma bala em sua cabeça.

—Pra que tanta agressividade? Pessoal - ele fala com as pessoas que o assistiam - essa menina nem sempre foi assim durona. Lembro-me como se fosse hoje de vê-la chorando muito quando uma pessoa muito importante para ela morreu.

Que merda ele estava falando?

—Ela era pequena. Suas bochechas já estavam coradas e seus olhos muito vermelhos devido às lágrimas.

—Que merda é essa que você esta falando?

—Não me diga que já se esqueceu de quando seu papai morreu? Você sofreu tanto não foi criança?

—O que você tem haver com o meu pai? - eu grito com ele, minhas pernas bambeavam.

—Tenho muita coisa haver. E assim como você não conseguiu me parar naquela época, não conseguiu salva-lo, nem ao seu amigo lá atrás, também não irá conseguir agora.

As luzes se apagam. Um burburinho se forma. Eu ando rapidamente até onde eles estavam.

As luzes se ascendem.

Não há mais ninguém lá.


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Notas finais do capítulo

Olá meus amores. Peço mil desculpas pela demora desse capítulo. o problema é que estou em Época de provas, e estas têm tomado todo o meu tempo. Ainda restam duas semanas, e logo depois voltarei a postar regulamente!! Beijos



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