P.O.V Naruto

A escola estava bem agitada hoje, e eu não sabia o motivo. Muitas pessoas que eu conhecia a um tempo passavam me olhando de esguelha, fingi não perceber.

Depois de ver minha mãe daquele jeito mais uma vez naquela manhã, eu não tinha mais paciência de sobra para o resto do dia, já tinha se esgotado.

Faltava uns dez minutos para o começo da aula, então resolvi dar uma passada no bebedouro. Eu odiava os olhares que recebia no caminho. Pena, julgamento. Eu odiava aquela situação toda, mas eles não entendiam nada daquilo.

De longe vi alguns amigos que eu costumava conversar: Choji, Shikamaru. Eu costumava chegar na escola e ia na direção da onde eles estavam. A gente estudava em salas diferentes, por isso se víamos antes das aulas e nos intervalos, para contar bobeira ou ajudar um ao outro a estudar antes da prova. Eu sentia saudades disso.

Choji, amigável como sempre, levantou uma mão que estava livre do pacote de salgadinho que ele comia, e acenou e minha direção dando um largo sorriso. Em tempo antigos eu sorriria da mesma maneira e iria em sua direção cumprimentá-lo, mas agora era diferente. Então abaixei a cabeça e dei meia volta, andando em direção a minha sala de aula - a aula já iria começar mesmo -.

Senti algo esbarrando em mim, e sons de alguns livros caindo no chão. Quando levantei a cabeça para ver, era Sasuke.

— Por que não respondeu a minha mensagem? - ele foi direto ao ponto. Coçei a cabeça pensando em uma desculpa. Ele me olhava com uma expressão carrancuda, parecia estar muito bravo.

Quando abri a boca para formular uma resposta, sem nem saber o que diria, o sinal toca, fazendo-me suspirar de alívio e murmurar um “te explico depois” para Sasuke, que tinha a expressão confusa a espera da minha resposta.

Eu não deveria esconder algo de Sasuke, justo ele que era meu melhor amigo e me conhecia desde a infância. Ele já tinha sacado que tinha algo acontecendo comigo, e a desculpa de que eu “precisava de espaço” não colava mais. Ele sabia de uma parte do que havia acontecido, mas o que rolava constantemente dentro da minha casa e minha cabeça, Sasuke não fazia ideia.

Eu queria tanto conversar com ele. Ele tinha os melhores conselhos e as melhores situações. Com certeza saberia lidar melhor do que eu em uma situação dessa. Mas eu ainda não estava preparado para me abrir e contar tudo. Entre mim e Sasuke não havia segredo, mas dessa vez tinha algo impedindo-me de falar. Eu só esperava que ele tivesse paciência e não desistisse da nossa amizade.

***

Entro na sala com os pensamentos a mil. Sento-me no lugar de sempre. A turma chega fazendo sua euforia. Eu era o primeiro a fazer aquilo. Agora não mais.

Algumas meninas entraram com suas saias curtas, sentando ao lado de mim e cruzando as pernas, não antes de me dar uma piscadela. Eu costumava a ser popular entre elas, as garotas viviam jogando seus números de celulares em cima da minha mesa escritos em um papel.

Depois que eu virei o estranho da turma, boa parte daquilo diminuiu, mas ainda não tinha deixado de acontecer.

Cinco minutos já tinham se passado e a professora ainda não tinha chegado na sala.

Porém mais do que a presença dela, eu sentia falta de alguém.

Alguém que nunca chegava atrasada, era sempre a primeira a estar ali. A que ficava em primeiro lugar em tudo na escola e deixava todas aquelas meninas que eu tinha o número com inveja.

Eu senti falta dela.

Mas como se estivesse em câmera lenta, ela entrou.

Os cabelos, que pareciam maiores toda vez que a via, balançava de acordo com seus passos, e eu me sentia idiota toda vez que reparava nisso. Ela pareceu notar meu olhar insistente nela e olhou na mesma direção, mas naquele ponto eu já tinha desviado da sua direção a muito tempo.

Como toda a aula daquele dia, ela sentava atrás de mim. Eu gostava de observá-la, por isso odiava aquela aula, já que ela sentava atrás de mim e eu não podia estar sempre me virando para manter meu olhar nela.

Mas eu sempre arrumava uma desculpa. Deixava meu lápis cair atrás da minha cadeira, para que ela se abaixasse e pegasse para mim. Meio rude, eu sei, mas eu ficava encantado quando sentia seus dedos finos tocando de relevo no meu ombro para chamar a minha atenção e me entregar. Era tão rápido, mas valia a pena ver seu sorriso simpático e o riso toda vez que eu falava que tinha a mão furada.

***

Aquele dia a professora tinha tirado para falar. Falava coisas que eu não entendia muito bem. Apontava para uma tela colorida e começava a contar a história daquele quadro, e o quão valioso ele era. Em vez de quando ela me lançava um olhar meio irritado e outras vezes chateado.

Tsunade era a nossa professora de artes, e eu a conheço desde o primeiro dia de aula naquele colégio, já que ela sempre foi a minha professora dessa disciplina. Acho que por ela me dar aula a tantos anos, ela sente algum tipo de ligação comigo, eu não sei. Ela parecia saber de alguma coisa relacionada a mim, e desde então tenta conversar comigo. Mas do mesmo jeito que eu fizera com Sasuke, eu a dispensava com alguma desculpa tola.

Toda vez que ela vê as minhas notas eu percebo o olhar de decepção dela. Eu a entendo. Ficaria do mesmo jeito se eu não fosse eu mesmo e estivesse olhando todo aquele mar de vermelho no boletim. Eu costumava ir bem nas suas aulas, prestava atenção em tudo o que ela dizia e fica super empolgado com as aulas práticas. Eu entendia sua decepção.

Me tirando mais uma vez da onda dos pensamentos pela segunda vez no dia, sinto algum incomodo. Sabe aquela sensação de estar sendo vigiado, mesmo você não estando vendo nada? Era o que sentia no momento.

Olhando para trás e procurando o que estava me encarando, percebo o olhar de Hinata em minha direção. Assim que ela percebe que eu cato o seu olhar, ela olha para baixo e suas bochechas atinge um tom de vermelho adorável.

Eu não entendi do porquê dela estar me encarando daquele jeito, mas confesso que gostei.

Hinata seria a última pessoa da face da terra que gostaria de um garoto como eu.

Ela se quer jamais me notaria, por isso, eu achava aquela situação estranha.

Eu que ficava a observando, eu que corava quando ela percebia.

E não ao contrário.

Escuto alguém pigarrear a garganta na minha frente. Tsunade faz isso sempre para chamar a atenção dos alunos.

— Pessoal, vamos fazer um trabalho em dupla

Quando o sinal bateu, suspirei aliviado guardando o material. O trabalho seria algo sobre sentimentos, mas parei de prestar atenção quando falou sobre ser em dupla.

Quem faria dupla comigo? Ninguém.

Ninguém quereria ficar perto de um estranho como eu.

Joguei o material de qualquer jeito dentro da mochila, assim como “arrumei” para ir para escola. Era o intervalo.

Eu estava com fome, então resolvi ir até o refeitório comer algo. Tinha frutas, iorgute, pão e torrada, então resolvi pegar uma quantidade pouca de todos.

Me virei procurando uma mesa vazia. Fiquei com vontade de largar tudo ali mesmo e ir para algum canto. Todas estavam ocupadas com pelo menos uma pessoa nela.

Procurei por uma que tivesse o mais vazia possível e com gente mais desconhecida possível, até que avistei uma mesma que estava Choji, Tenten, Sakura e Shikamaru. E uma mesma depois com Sasuke. Choji como havia feito no corredor, acenou para mim e apontou para a cadeira vazia ao lado, indicando que eu poderia sentar ali sem nenhum problema. Tenten e Sakura pareceram animadas e ansiosas como se estivesse vendo alguma final de um jogo, já Shikamaru suspirou, achando tudo aquilo uma perda de tempo.

Logo a frente, Sasuke me olhou com uma sobrancelha erguida. Eu queria e muito sentar com ele e conversar até o sinal tocar. Era mais fácil dialogar com ele do que com os outros, mas eu saberia que iria acabar chegando naquele assunto que eu ainda não estava preparado para falar.

Acabei sentando na última mesa do refeitório, sem olhar a reação dos outros. Tinha mais três pessoas na mesa, mas sentei sem nem me preocupar com quem eram, eu só queria lanchar em paz.

O mais alto deles me olhou fixamente, como se perguntasse o que eu estava fazendo ali. Os outros dois deles conversavam animados e baixinho, o que me fez perceber que eu era um intruso ali.

Me senti desconfortável e me remexia na cadeira para tentar fazer o desconforto parar logo, e eu só queria que o sinal batesse o mais rápido possível.

Quando bateu, peguei minha mochila e voei para a sala sem nem tirar a bandeja da mesa.