O Último Dragão escrita por Mary


Capítulo 5
Os Planos Descobertos




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Era a primeira vez que Luci se sentia tão perdida: por um lado tinha sido criada para servir e não se imaginava fazendo nada além disso, por outro jamais pensara em servir a uma rainha corrupta. Ela estava acordada desde que ouvira uma conversa entre Margareth e a rainha a respeito de burlar as leis de acordo e até o momento não havia decidido o que fazer. Sua lealdade lhe impedia de julgar a atitude da rainha e seu senso de justiça lhe impedia de segui-la sem pensar desta vez. Na verdade pensar era exatamente o que Luci mais fizera desde que descobriu aquilo.

Ela andava de um lado para o outro em seu quarto por horas quando ouviu vozes no corredor. Dan e Gustavo estavam a caminho de outro de seus treinos rotineiros, e foi quando ela se lembrou que a rainha jamais gostara de Dan. Na verdade na época em que as duas conversavam mais ela chegou até a mencionar que não concordava com a presença dele no castelo… Naquele momento ela enfim descobriu o que faria.

 

 

 

(…)

 

 

Gustavo não estava muito satisfeito com o desempenho de Dan daquela vez e olha que isso era muito raro. O loiro estava distraído demais e levava tantos golpes que nem parecia o mesmo de dois dias atrás. Em um determinado momento Gustavo não conseguiu mais conter sua frustração e atirou a espada contra Dan que só teve tempo de levantar o escudo para impedir que ela atingisse seu rosto.

— Me avise quando for levar isso a sério Dan. Até lá vou procurar algo melhor pra fazer – Gustavo se virou na intenção de sair, porém o longo suspiro de Dan o fez olhar novamente para trás.

— Me desculpe mestre é que… Eu não consigo tirar algo da mente…

— É uma garota? - Naquele momento Gustavo deu um leve sorriso. Era algo interessante ver as pessoas se apaixonando, ele gostava quando acontecia com um de seus amigos. Por ironia do destino nunca acontecera com ele.

— Não! Quero dizer é, mas não é isso! - Dan deixou no chão o escudo e se aproximou de seu instrutor.

— Eu ouvi uma voz ontem. Uma canção, perto da montanha proibida.

Novamente o semblante de Gustavo mudou. Ele sabia muito bem o que havia na montanha e aquele papo não era muito auspicioso para ninguém. A voz, é claro, só podia ser da guardiã cantando. Ele chegou mais perto de seu aprendiz e falou em voz baixa.

— Olha rapaz isso é algo que você não deve procurar, você não precisa desse problema a menos que a rainha lhe ordene, ok?

— Mas mestre…

— Não Dan! Olha, eu vou te contar mas… Essa história não é mais falada a pelo menos um século, então fique quieto – Dan concordou com a curiosidade ardendo no peito – Você já pensou em por que os reinos estão em paz a tanto tempo? Já pensou no motivo do tratado?

E então tudo o que Gustavo sabia sobre o tratado foi dito a Dan. Ele contou como antigamente os sete reinos viviam em disputas por território, o que os levava a caçar os dragões existentes no continente. Aquilo não era uma boa ideia já que dragões nunca foram pacíficos e no fim a coisa toda se tornou um massacre que levou a extinção dos dragões. Mas Vidalia conseguiu, graças a uma guerreira de bela voz, capturar um dragão vivo; o último dragão do mundo fora confinado então em uma caverna perto do reino e os outros reinos ficaram com medo que Vidalia o usasse para conquistar terras.

Porém a rainha da época não desejava a guerra e propôs um acordo de paz em troca de jamais despertar o dragão. Foram anos negociando sob a ameaça de seis espadas reais para que se chegasse aos termos atuais de mutua cooperação e proteção. Entre os acordos estava o de sempre sair de Vidalia uma garota responsável por cantar a mesma canção que a soldado cantou ao colocá-lo para dormir pela primeira vez, portanto desde então jovens eram levadas para cumprir esta função.

— Então… A voz que eu ouvi… Coitada daquela garota, presa lá todo esse tempo.

— Não é muito justo mas é necessário Dan. É parte do acordo, tirá-la de lá significaria uma guerra que jamais venceríamos com o contingente atual de soldados.

De fato era difícil acreditar que Vidalia venceria uma guerra contra seis outros reinos armados. Mesmo assim uma vida de reclusão não parecia ser a melhor das soluções. E pior ainda, aquela voz… Aquela voz não era algo para se ignorar. Gustavo o fez prometer que não iria até lá antes de prosseguirem com os treinos.

 

 

(…)

 

 

Eva ainda não conseguia entender o que acontecera na noite anterior mas continuava tentando descrever a sensação para Gaia. O dragão vez ou outra soltava um resmungo e Eva passava suas mãos nas escamas da cabeça dele a fim de acalmá-lo. Ela tentou explicar a sensação de casa que sentira enquanto cantava, como se devesse estar em outro lugar que não ali. Mas é claro que não devia… Seu lugar era com Gaia protegendo seu amado reino e seu adorado mundo. Eva sorriu e parou de falar por alguns segundos.

— Me pergunto se você sonha comigo Gaia. Se me vê em sua mente… Se ouve minha voz.

E por mais que ela jamais fosse saber, Gaia sonhava com ela. Em seus sonhos ele via uma armadura prateada brilhante e ouvia uma voz bonita que lhe prendia em uma espécie de feitiço. E sentia a vontade de se vingar crescer a cada dia.

 

 

(…)

 

 

Dan passava perto da biblioteca quando Luci chamou seu nome. A princípio ele achou muito estranho que logo ela, tão calada e reservada, o chamasse para uma conversa privada àquela hora da noite, mas logo ele afastou esse pensamento e adentrou o enorme cômodo repleto de estantes. Luci levou-o para o mais longe da porta possível antes de começar a falar.

— A rainha me pediu para procurar livros sobre alquimia para levar aos doutores na cidade mas não posso fazer isso agora, preciso ajudar Mirian a arrumar algumas coisas. Você se importa em procurá-los para mim?

Ele pensou bem e não viu por que não ajudar, afinal se Luci fizera um pedido como aquele era por que de fato algo muito importante tinha para fazer. Ele concordou.

— Mas se a rainha vier e ver que você está fazendo isso…

— Vamos os dois para a forca. Não se preocupe, se ela vier eu me esconderei até que ela vá embora.

— Obrigada Dan! Se precisar estarei com Mirian na vila.

E rapidamente Luci saiu. Estava feito… Dan caíra como ela sabia que cairia. Agora era só esperar.

Dan estava procurando os livros mas nada encontrava sobre alquimia por ali, não era bem a sua praia essa de ler já que sempre fora muito mais de agir. Ele estava relativamente longe da porta embora ainda não estivesse no fundo da sala quando ouviu a voz da rainha no corredor. Sem pensar duas vezes ele apagou o lampião e se escondeu atrás de uma estante, pronto para esperá-la ir, porém a rainha entrou na biblioteca acompanhado de uma Margareth com expressão cansada.

As duas se instalaram em uma mesa antiga e Margareth se colocou a ler as leis de comércio e exportação de Tanos, o reino instalado perto do mar. A princípio Dan apenas sentiu-se impaciente pela demora delas naquele cômodo, mas logo o assunto se tornou estranho demais para ignorar.

— Nada! Não é possível que não haja nem mesmo uma brecha!

— Paciência minha rainha, sei que iremos encontrar.

— Não… Se continuar assim jamais conseguiremos colocar o reino do nosso lado.

— Mesmo sem isso eles lhe seguirão majestade, fizeram votos de lealdade.

— Não é tão simples, Meg, guerras dividem opiniões. Se eu não tiver 100% da opinião pública surgirão traidores.

Guerra? Dan aguçou os ouvidos para tentar entender melhor o que estava acontecendo, ele não queria acreditar que a rainha fosse tão doida a ponto de querer declarar guerra contra Tanos. Mesmo que Tanos fosse um reino relativamente pequeno isso colocaria toda a aliança contra Vidalia e logo haveria retaliação. Era suicídio. Mas a rainha não era burra, ela sabia que mesmo com o poder do dragão ainda seria complicado convencer as tropas a guerrear sem um motivo.

— E se forjássemos um assassinato? Podemos atrair nobres dos reinos maiores e acusá-lo de matar alguém. Assim seria como se eles é quem romperam o acordo.

— Mas quem seria, majestade?

— Precisa ser alguém importante… Talvez um Kanpeki. Gustavo, ou Cai, os dois tem grande aprovação dos Vidalienses.

— Talvez Mirian seja uma escolha mais inteligente, ela não é excepcionalmente forte. Podemos precisar das habilidades de Cai e Gustavo.

Agora não apenas se falava de guerras como também de assassinatos forjados. Dan não conseguia respirar naquele momento e quanto mais as duas planejavam uma festa com a presença de nobres de outros reinos mais Dan se sentia enojado. Ele pôs a mão no cabo da espada e pensou em atacar a rainha, porém se de fato a matasse quem acreditaria nele? E o pior, Margareth estava ali então não seria tão fácil chegar na rainha. Ele tentou se acalmar e esperou pacientemente até que ambas saíram da biblioteca, então aos poucos voltou a se mover. Não conseguia acreditar no que ouvira.

Ele precisava contar para Mirian, para Gustavo, Cai, pela Deusa até Luci serviria se fosse para impedir aquele plano. Ele não conseguia compreender como a situação chegou a isso… Tinha a sensação de que fora traído da pior forma de todas. Embora não gostasse da rainha ele ainda estava disposto a dar sua vida por ela se assim precisasse e no entanto ela estava deliberadamente colocando todos os cidadãos de Vidalia em perigo. Por que? Sentia que queimara todos os neurônios pensando nisso. Dan saiu da biblioteca meia hora depois das duas e foi direto para a única pessoa que ele sabia que poderia ajudar.

 

 

(…)

 

 

Pensando de um ponto de vista racional tudo fazia sentido. Mei estava com os braços apoiados na mesa e a cabeça descansava nas mãos enquanto Dan terminava de narrar os acontecimentos da biblioteca. Para ela não era nenhuma surpresa algo assim vir da rainha, afinal ela nunca gostara dela mesmo.

— Isso daria um motivo para expandir a influência de Vidalia e conseguir escravos, talvez ela queira fundir Vidalia com Tanos…

— … Claro, era isso mesmo o que eu estava pensando… - Dan passou a mão na nuca desconfortável por não ter pensado nisso antes. De fato era algo lógico, porém não lhe ocorreu mesmo depois de queimar todos os neurônios no escuro da biblioteca.

— Mas não temos tantos soldados assim para aguentar uma guerra e sairmos vitoriosos, faz séculos que não temos mais um exército maior do que o necessário.

— Talvez ela pretenda usar o dragão.

— Dragão?

Ah, droga… Dan falara demais. Ele até tentou disfarçar mas Mei insistiu até que ele contou o que Gustavo lhe dissera. E aos poucos Mei compreendeu que aquilo seria mais perigoso do que imaginara a princípio.


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Notas finais do capítulo

Demorei pra postar? Demorei anos, mas enfim... Desculpe =/