O Último Dragão escrita por Mary


Capítulo 6
Viagem Frustrada a Tanos




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A decisão de trair a rainha não fora tomada de um dia para o outro. Isso ia contra tudo o que Dan acreditava, afinal era um soldado e jamais cogitaria trair sua majestade em uma situação normal. Mei fora quem decidira por ele: enquanto ele passava o tempo distraído pensando em só a deusa sabe o que ela já tinha começado a agir. Primeiro de tudo ela pedira dispensa do regimento que servia, então foi falar com Cai. Eles se encontraram próximo ao muro do palácio na parte de trás onde a guarda não costumava fazer rondas com frequência.

— Cai eu preciso de um favor… Mas não é um favor fácil de se pedir.

— Sabe bem que não consigo negar nada para você – O homem havia cultivado uma barba bem aparada nos últimos meses e estava ainda mais bonito com ela, Mei quase não conseguiu se concentrar enquanto ele tomava sua mão entre as dele – Peça o que quiser.

— Preciso que convença Gustavo a liberar Dan dos treinos pelos próximos meses.

Cai soltou a mão de Mei com o susto. Não era tão simples assim, Dan era o único candidato para o cargo de membro do Kanpeki no futuro, não poderia interromper seu treinamento por tanto tempo. Duas semanas talvez, mas meses?

— O que está acontecendo Mei?

— Precisamos viajar e não sei quando voltaremos. Pode ser só um mês – Cai não parecia estar mais convencido do que antes com a mudança de prazo – Ou… três semanas! Você consegue três semanas?

O homem de cabelo azul não respondeu a princípio. Estava tentando imaginar como convenceria Gustavo a dar um tempo tão grande para Dan. Mas fora um pedido de Mei… Como dizer não? Ele sorriu e concordou, então tomou novamente a mão de Mei e deu um leve beijo no dorso dela.

— Você sabe que não negaria nada a você, mas três semanas é mais viável.

E Mei sorriu imaginando como passaria três semanas longe daqueles olhos.

 

(…)

 

As primeiras horas de viagem foram feitas em completo silêncio. Mei e Dan contornaram a montanha na qual ambos sabiam que havia um dragão dormindo e continuaram em frente na direção do mar, sabiam que em breve estariam perto das terras de Tanos. Era uma reino que vivia quase totalmente da pesca mas ainda contava com um pequeno exército até respeitável. Diziam que os melhores arqueiros saíam de Tanos.

Quando estavam quase entrando nos limites do reino ambos montaram um acampamento improvisado, já passaram-se dias desde que saíram de Vidalia e eles sabiam muito bem que se tudo corresse como a rainha planejara o convite para a tal festa já teria sido entregue em Tanos. Eles apenas esperavam chegar lá antes que os nobres partissem. Dan fez uma fogueira enquanto Mei caçava o jantar. Ela voltou pouco mais de uma hora depois com dois animais quadrúpedes de pequeno porte que foram assados antes que o sol se escondesse por completo.

Já era o quarto dia. Nenhum dos dois sabia como convencer os nobres de que a rainha estava armando para eles e sabiam menos ainda se apenas avisar a Tanos seria o suficiente. Pensando bem deviam ter escolhido um reino maior, mas os reinos maiores eram todos muito longe para chegar rapidamente.

— Quantos dias faltam para chegarmos?

— Um dia ou dois talvez, estamos perto.

— Devíamos ter roubado um cavalo – Dan não gostava da demora e menos ainda dessa tensão que estava sempre presente durante a caminhada. Talvez ele conseguisse resolver sozinho, talvez se ele pegasse a rainha sozinha em algum momento ele pudesse matá-la, talvez… Bom, isso o levaria para a forca. Mas valeria a pena.

— Talvez. Mas se os cavalos sumissem perceberiam.

Engraçado pensar que dariam falta dos cavalos, mas dificilmente deram falta de Dan e Mei. Dan soltou um pequeno riso ao pensar nisso mas Mei não estava no clima para perguntar qual era a graça. Dan terminou de comer um naco de carne e limpou as mãos engorduradas nas roupas, então se levantou e foi esticar um pedaço grande de pano perto da fogueira. Em geral soldados jamais dormiriam perto de uma fogueira, mas Dan sabia que não haveriam soldados inimigos por perto para localizá-los e capturá-los. Mei dormiu pouco tempo depois de se deitar e Dan passou horas olhando as estrelas lá em cima e imaginando o que seria do mundo se uma guerra estourasse.

 

No dia seguinte os dois tomaram um café da manhã composto de carne da noite anterior e algumas raízes assadas que Dan encontrou e logo se puseram a caminhar. Quanto mais caminhavam mais se preocupavam com um detalhe ainda não pensado: como conseguiriam autorização para falar com a rainha de Tanos?

 

 

(…)

 

A tarde estava avançada quando a rainha recebeu um guarda falando sobre mensageiros de Vidalia. Outro? Não fazia nem dois dias que um mensageiro veio trazer um convite vindo daquele reino e outro já estava a porta? Ela ordenou que deixassem entrar o mensageiro enquanto se preparava para recebê-lo; Amanda era uma mulher quase na casa dos quarenta anos que tinha quatro filhos, mas não tivera a graça de uma menina para herdar o reino. Aquilo era uma pequena catástrofe local já que isso significava que a próxima rainha teria que ser a esposa de um dos filhos, o que levaria o reinado para outro sangue que não o original. Ela não era uma mulher dada a festas mas diante dos problemas que sua vida pessoal estava causando ultimamente aquele convite até que não era uma ideia ruim.

Assim como suas antepassadas, Amanda era uma mulher de temperamento forte e mão firme no controle de seu reino, isso era necessário em um lugar como Tanos que sempre recebia muitos forasteiros com costumes diferentes dos de Tanos e por isso o local era inclinado a ter incidentes. Ela se sentou em sua poltrona e esperou enquanto um casal era conduzido para dentro da sala. Os dois não se pareciam em nada com mensageiros: estavam sujos, cabelos despenteados e roupas simples. Os mensageiros que ela recebia costumavam estar bem-vestidos, muito limpos e possuírem um ar de superioridade quase insuportável.

— Apresentem-se – Ela disse secamente. Não simpatizara com eles logo de cara.

— Minha rainha, meu nome é Alex e esta é minha irmã Juniper, somos de Vidália e trazemos um alerta a vossa majestade.

Dan se ajoelhou e Mei fez o mesmo esperando que a rainha desse autorização para continuarem falando. Ela apenas gesticulou com as mãos impacientemente esperando que dessem logo o alerta para saírem de sua presença. A sujeira deles era desconcertante.

— Temos motivos para acreditar que a nova rainha de Vidalia planeja armar contra um dos reinos a fim de justificar uma guerra.

E então ele explicou tudo o que sabiam que aconteceria, passando desde os planos de assassinato planejado até o que acreditavam serem os motivos da rainha para fazer aquilo. Amanda ouviu atentamente sem conseguir acreditar naquele conto, afinal Vidalia não era um reino muito maior do que Tanos e não tinha poder militar para combater seis reinos. Apesar de não ter ouvido falar bem da índole da nova rainha ela não conseguia imaginá-la sendo tão fria e calculista a esse ponto. Dan contou tudo, tudo menos sobre a possibilidade dela usar o dragão nessa guerra. Ao terminar Dan tomou fôlego e esperou. A resposta dela determinaria os próximos passos dos irmãos.

— Então vocês aparecem no meu reino vestidos como mendigos e querem que eu acredite nesta… teoria da conspiração? - Ela se levantou impaciente – Saiam daqui! Vocês não tem provas, apenas suposições!

Os guardas logo apareceram para enxotá-los para fora. Aquilo não correra exatamente como a dupla imaginou, mas ao menos não foram presos… Havia sido uma boa ideia dar nomes falsos ao se apresentarem, agora com toda a certeza Tanos enviaria mensageiros para Vidalia a fim de denunciar este incidente. Também fora boa ideia sujar as roupas ao máximo, afinal se a rainha não acreditasse neles apenas por sua fala eles ao menos seriam considerados andarilhos. Mei se orgulhava de ter pensado nestas duas coisas a tempo.

— E agora, fazemos o que?

— Voltamos… E impedimos a rainha sozinhos.

 

 

(…)

 

— Minha rainha, todos os reinos confirmaram o envio de seus nobres para a festa. Teremos tudo preparado em alguns dias, ordenamos que trouxessem mais vinho para a ocasião.

— Certo, Meg, está tudo correndo como o planejado…

 

(…)

 

 

Quatro dias se passaram e o reino estava enfeitado. Haviam lampiões nas janelas e flores cobrindo o caminho que levava ao castelo, todos os cidadãos foram convidados. A festa deles seria no pátio, naturalmente, bem longe da festa regada a bom vinho e boa música que a rainha ofereceria aos nobres no salão de festas. Estavam todos tão felizes que mesmo ainda não sendo a hora do almoço já haviam homens bêbados caídos aqui e ali enquanto as mulheres continuavam enfeitando o portão de entrada do castelo. As crianças corriam de um lado para o outro gastando suas moedas nas pequenas vendinhas de doces instaladas ao longo das calçadas e os adultos tinham muitas expectativas para a noite.

Mas não Dan. Ele e Mei estavam no castelo, recém chegados de uma caminhada que mais pareceu uma corrida de volta para casa, e discutiam o que fazer. Não havia como contatar o Kanpeki àquela altura, jamais acreditariam nisso… Entretanto Mirian… Mirian precisava ser salva. E Dan já tinha quatro diferentes planos para caso o plano principal falhasse.

Quando enfim a noite caiu toda a cidade se iluminou. Foram servidos vários tipos de raízes assadas e pão com carne de carneiro, sopas com grandes pedaços de legumes e muito vinho para aquecer; todos os nobres convidados já estavam no salão de festas comendo e conversando. Os membros do Kanpeki foram colocados de guarda em suas armaduras ornamentadas, todos sem capacete para que os nobres vissem a excentricidade de Vidalia.

A verdade era que os cabelos tingidos tinham um significado. Quando passaram de guardas comuns para membros da elite todos fizeram votos de deixar para trás suas antigas identidades, “renascer” diante do reino como a antiga rainha dizia. Ela nomeou a todos novamente e tingiu seus cabelos para que nada restasse do antigo ser daqueles guerreiros, e então todos passaram a usar os nomes escolhidos pessoalmente pela rainha para se referir a eles. Isso também aconteceria com Dan caso algum dia ele chegasse a posição de Kanpeki.

 

Enquanto a festa avançava e todos ficavam mais alegres do que deveriam com o vinho, Dan se infiltrou no meio dos nobres a fim de chegar mais perto da rainha. Mas ela estava sempre na companhia de Margareth ou Luci e isso atrapalhava muito sua aproximação, tanto que Dan desistiu desta abordagem e se escondeu em uma parte mais afastada do salão de festas. Foi quando a rainha saiu, desacompanhada, indo na direção da sala do trono. Dan respirou fundo e a seguiu. Era a hora.


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Notas finais do capítulo

Então, revisei os capítulos anteriores a este e arrumei os errinhos bobos que ando cometendo... Quanto ao capítulo 5, usei "A soldado" pois se tratava de uma mulher e não sabia se era certo (ou bonito) usar "A soldadA" xD e também usei "O Gaia" pois Gaia é macho apesar do nome meio feminino. Se houverem erros neste capítulo me avise, ando relapsa demais ultimamente =/