O Último Dragão escrita por Mary


Capítulo 2
Incidentes Provocados e Destinos Iniciados




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Ele ainda sentia dor no ombro onde Mei lhe atingira com a espada. Isso era frequente embora ele não fosse um cavaleiro tão ruim assim em lutas, acontece que Mei era a melhor e não lhe dava chance de contra-atacar. A armadura certamente o protegeu, mas Deus como tinha força aquela mulher. Ele retirou a ombreira e olhou a pele roxa por alguns segundos.

— Se você me desse uma chance eu poderia tê-la acertado.

— Os inimigos não vão lhe dar uma chance, Dan. Ninguém vai – Era o jeito dela dizer “dane-se” e Dan sorriu. Estava acostumado com a seriedade de sua mentora – Mas você está melhorando sim.

— Não o bastante…

O rapaz pressionou um pano molhado na pele e suspirou olhando para o teto da cabana que ele chamava de lar. Havia sido criado pelos pais de Mei embora sempre soubesse que não era filho deles – afinal como poderia, sendo ele loiro de olhos azuis e a família de Mei toda possuindo cabelos e olhos castanhos? O fato era que ele se sentia grato, afinal foi graças a eles que o rapaz conseguiu sua posição no exército da rainha. Agora tanto ele quanto Mei serviam ao reino e a vida seguia tranquila embora aquela incômoda sensação de estar esquecendo algo lhe atormentasse desde sempre.

Dan se levantou e saiu para olhar o campo. Um enorme campo de grama baixa até onde os olhos podiam alcançar de um lado, os muros do castelo não muito longe do outro, e as árvores da floresta que começava perto dali à frente. Era um lugar bastante tranquilo de se viver, qualquer um teria facilidade de se acomodar por ali; mas seu coração queria outra coisa, só não sabia o que era.

—A rainha pediu para o exército se reunir no pátio amanhã, a guarda privada dela vai passar os treinos.

—Aqueles mauricinhos? - Dan sorriu para si mesmo enquanto pensava neles. Kanpeki. Os cinco melhores soldados de todo o reino; aqueles que todos sonhavam em substituir – Espero que morram.

—Você é muito estranho, devia estar feliz. Vai poder perder para um guarda da rainha em vez de perder para mim para variar.

E lá estava: a seriedade de Mei se foi e novamente ela era a moça divertida e maternal que Dan conhecia bem. De fato era algo bom poder tomar lições dos melhores, mas no auge de seus 14 anos Dan não conseguia compreender o que os tornava tão bons. Para ele Mei era a melhor, mesmo sendo ela apenas dois anos mais velha que ele. Foi quando Dan percebeu que nunca havia visto a guarda real de perto, apenas os conhecia por rumores dentro do castelo. E de repente se sentiu animado para vê-los.

 

 

(…)

 

 

O regimento real não era muito grande, devia ter umas 20 ou 30 pessoas no máximo. Acontece que eram tempos pacíficos e mesmo que a cidade contasse com mais de 100 soldados treinados apenas uma parte era considerada de fato o exército, sendo o resto apenas convocados em tempos de guerra. Estavam organizados em cinco fileiras e todos olhavam as cinco pessoas paradas com armaduras ornamentadas, cada um de uma cor, à frente do regimento. Uma moça com a armadura preta com entalhes cor de rosa falava sobre tempo de reação e o quanto era importante usar a visão periférica, nada que fosse especialmente interessante. O cabelo dela era incrivelmente longo e estava solto, caindo-lhe por cima da armadura com leves ondas, mas não era apenas isso. Ele era rosa. O cabelo dela era rosa.

Na verdade era mais estranho do que isso, pois cada um dos sete guardas possuía uma cor diferente de cabelo. Dan nunca vira pessoas mais excêntricas que aquelas, afinal qual era a necessidade de tingir o cabelo de cores tão vibrantes? Além da moça que falava – e que Dan começou a chamar de Rosa – havia um homem alto de cabelo azul, um homem de cabelo grande e roxo, uma garota baixinha de cabelo curto e verde e outra moça de cabelo cinza.

A Rosa continuava falando e falando e ninguém prestava muita atenção, alguns por repararem no cabelo deles e outros por repararem nas armaduras negras com entalhes coloridos ou nas espadas incrivelmente finas que eles portavam. Quando Rosa terminou de falar o homem de cabelo azul assumiu a frente.

— Creio que todos vocês saibam os conceitos de uma luta de espadas, não acho necessário explicar muita coisa. Antes de começarmos vou apresentar o Kanpeki. Meu nome é Cai, estas são Luci, Margareth e Mirian – Disse Cai apontando respectivamente para Rosa, Verde e Cinza – E este é Gustavo – Disse apontando para Roxo.

Dan não sabia o que era mais preocupante, o ar de superioridade deles ou o fato de parecerem entediados. Era uma afronta, uma maldita afronta aos soldados que Dan tanto conhecia e amava. Foi quando Cai terminou de falar que ele decidiu que não perderia para aqueles mauricinhos. Iria mostrar o que um soldado comum podia fazer.

O regimento foi separado em filas e cada um do Kanpeki pegou uma fila. Dan era o terceiro para enfrentar Margareth, a baixinha de cabelo verde, enquanto Mei era a penúltima para enfrentar Mirian, a de cabelo cinza. Começaram por Mirian que enfrentava um por um e vencia a todos enquanto dava dicas do que eles fizeram de errado durante as lutas. Coisas como ampliar a base do corpo, não deixar lados desprotegidos ou atacar mais rápido, todas as dicas Dan absorvendo como uma esponja. Até mesmo Mei foi derrotada depois de alguns minutos de luta.

Depois de terminar com cara de tédio os soldados de sua fila, Mirian se afastou para que Margareth começasse. Os dois primeiros da fila foram derrotados em menos de 10 minutos e então foi a vez de Dan. O garoto era baixo para a idade e parecia patético diante da guarda pomposa embora jamais fosse admitir isso. O primeiro golpe veio com uma força maior do que Dan poderia supor que uma moça de aparência tão frágil poderia ter, mas ele conseguiu bloquear com sua espada a tempo; Sem pensar muito ele atacou diversas vezes, não dando tempo para que Margareth fizesse nada além de bloquear; Ela tentou atingir a lateral de seu corpo mas Dan bloqueou e contra-atacou sem sucesso pois ela era rápida, e quando ele pensou em atacar novamente a espada de Margareth atingiu seu braço. Ela então sorriu e se afastou enquanto olhava-o nos olhos.

— Próximo.

Dan não soube se foi o sorriso de deboche dela ou a forma como ela desdenhosamente chamou o próximo soldado, mas em menos de dois segundos seu sangue ferveu a ponto dele atacar novamente mesmo sabendo que não deveria. Sua espada cortou o ar com uma velocidade incrível e mesmo assim Margareth bloqueou o ataque todas as vezes em que ele avançou contra ela. Lucy tentou impedir porém Gustavo a parou. E Dan continuou atacando cegamente sem se importar com quantas vezes sua oponente lhe atingiu já que a armadura era proteção suficiente. Margareth então lhe atingiu com o cabo da espada na altura do peito com toda a força que possuía, lançando-o ao chão com falta de ar e sem poder continuar.

— Este tipo de comportamento não será mais tolerado! - Disse ela se dirigindo ao exército que assistia sem reação – Vocês são os soldados da cidade, coloquem-se em seus lugares! Qualquer um que atacar o Kanpeki desta forma será considerado um traidor e executado no ato.

Dan ouvia a tudo com o peito doendo e o ego destruído, onde estava com a cabeça quando pensou que poderia vencer um guarda real? Margareth se aproximou dele e o chutou para que virasse de barriga para cima, então descansou um pé no peito da armadura enquanto olhava-o com desdem.

— Próximo.

 

 

(…)

 

 

— O que você tem na cabeça? Se queria morrer era só dizer que eu teria lhe matado sorrindo, seu imbecil!

Mei se revesava entre cuidar dos ferimentos de Dan e lhe xingar, mas Dan não estava prestando atenção em nada. Havia sido humilhado em frente a todo o exército da pior forma possível; o olhar de asco daquela mulher não saía de sua cabeça e por mais que sentisse ódio a sensação de inutilidade é que lhe queimava. Fora imprudente e precipitado e agora só podia imaginar o que lhe aconteceria quando a rainha soubesse de seu comportamento… Iria ser expulso do exército depois do pai de Mei ter posto em risco sua reputação para indicá-lo. Se ele estivesse vivo teria lhe dado uma surra.

— Dan… Se a rainha souber… - Dan olhou para Mei e percebeu lágrimas ameaçando rolar por seu rosto e se sentiu péssimo. Não era só um problema dele, Mei também seria afetada. O exército era tudo para ela.

— M… Me desculpe eu… Não pensei em…

— É, você não pensou. Esse é o problema, você nunca pensa.

A mágoa era muito forte pelo tom de voz da garota, mas não era preciso dizer nada para que Dan se afundasse ainda mais em arrependimentos. Apenas de olhar seu rosto ele já tinha vontade de morrer… Nunca quis prejudicar sua irmã de criação mas agora ambos estavam com o futuro incerto por causa dele. Uma batida forte na porta interrompeu seus pensamentos e espalhou o medo pelo quarto, mas Mei se recompôs e foi atender. Não foi surpresa ver Gustavo, Cai e Mirian na porta.

— Estamos aqui para falar com Dan Morita – Gustavo falou em voz baixa, porém Dan conseguiu ouvir claramente e saiu do quarto ainda sem camisa e coberto de curativos.

— Senhor, só lhe peço que poupe minha irmã. Ela não tem nada a ver com o que aconteceu.

— Poupar? Ah, você entendeu errado. Venha.

Mei saiu da frente da porta e Dan passou por ela com o coração batendo forte. Não sabia se a veria novamente, então sussurrou que a amava enquanto passava. Do lado de fora Mirian se aproximou dele e jogou sua capa por cima do rapaz, cobrindo-lhe o peito nu. Foi então que ele percebeu que estavam todos sem as armaduras ou as armas embora isso não lhe acalmasse em nada.

— Você tem o costume de sair em público semi nu? - Comentou ela enquanto prendia a capa de modo a tampar o corpo de Dan – Não é muito decente de sua parte.

— Perdão, minha senhora, não esperava visitas assim tão rápido…

— Esqueça isso – Gustavo tomou a palavra – Dan estamos aqui por duas razões. A primeira é para lhe informar que a rainha tomou conhecimento de seu comportamento e manda lhe dizer que você deve juntar seus pertences e nos acompanhar até o castelo.

Dan concordou em silêncio imaginando o que o destino lhe reservava. Era de se esperar que a rainha o convocasse… Talvez quisesse assistir a sua execução. Porém Cai riu e colocou uma das mãos em seu ombro enquanto apontava para Gustavo.

— E a segunda é que agora você é aprendiz desse metido aí! Ou seja, está ferrado meu caro rebelde sem causa.


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