A bela dama sentia seu peito queimar enquanto cantava novamente a canção dos tempos. Desde que se entendia por gente estava ali na caverna, longe de tudo e de todos, apenas na companhia daquele que tornou sua vida tão regrada. Ás vezes um soldado da rainha vinha, é claro, trazendo-lhe coisas que ela precisava para não morrer por ali, mas eles se recusavam a conversar ou permanecer por muito tempo; todos tinham medo dele. Todos menos ela, e talvez a rainha.

Mas ela não duraria para sempre e estava começando a achar que seria melhor receber uma aprendiz. Não que pensasse em se matar ou nada do tipo, apenas sabia que seus anos estavam contados a partir dali e precisava transferir o destino do mundo para outras mãos. Assim que terminou de cantar ela olhou para trás e, como sempre, o viu dormindo sono profundo; fez então uma prece silenciosa aos céus e caminhou até a entrada da caverna de onde podia-se ver uma longa floresta logo abaixo da montanha, até chegar na cidade ao longe.

Foi quando um soldado chegou com comida e água, porém este nada falou enquanto cuidadosamente colocava os suprimentos ao lado da moça. Soldados eram fortes, grandes e intimidadores, mas era só entrar naquela caverna e todos se tornavam meninos medrosos diante da imponente figura dele.

—Diga a rainha que preciso de uma aprendiz.

Falou ela enquanto o soldado apenas concordava em silêncio sem tirar os olhos do enorme dragão que dormia não muito longe dali. A moça suspirou ao pensar na pobre criança que, assim como ela, doaria sua existência na tarefa de manter adormecido o dragão das profecias. Mas não era motivo para lamentar. A rainha disse que era a função mais importante do mundo mantê-lo assim, afinal um dragão tinha o potencial de destruir toda a civilização humana. Mesmo assim… Era uma vida heroica e tão solitária...