Tears in Heaven escrita por Maria Lua


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bom, antes de mais nada, essa fanfic é a reescrita de "Acorda", uma fanfic minha da qual tive umas pequenas irritações. Estava difícil descrever as coisas em primeira pessoa, então pretendo trazer um enredo muito mais rico agora, editado. Espero que gostem, sejam leitores novos ou velhos. Obrigada!
Música do capítulo, claro, é Tears in Heaven, de Eric Clapton.



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25 de maio de 2005 

O dia se levantou nublado, mas caía chuvoso. Eram quatro da tarde quando Matt, o garoto eufórico, aparece na porta dos Waldorf. Ele bateu na porta com velocidade, tocando uma melodia combinada para ser a sua amiga, Oliver, a abrir a porta. Dito e feito. Instantes depois a loira aparece, miúda, bem agasalhada. Ela olhou para o amigo e deu risada. Ele vestia uma capa de chuva transparente completamente molhada que acumulava água em todas as dobras de seu corpo, tal como uma bota de borracha que ia até próximo ao joelho. 

"Deixe-me adivinhar: sua mãe?", ela perguntou com um sorriso debochado no rosto. O garoto revirou os olhos enquanto largava sua capa no chão, do lado de fora da casa. 

"Não enche. Vim aqui te chamar para ver como o lago está. Quando passei por lá, a água já havia engolido uma árvore e meia. E eu vi raios!", ele falou com o tom de voz animado. O lago era o refúgio dos dois. Havia uma corda pendurada no galho de uma árvore onde eles viviam balançando-se para chegar a uma parte abandonada da floresta. Por morarem em uma cidade muito pequena do interior, Middleburg, ninguém nunca os descobrira. 

Oliver olhou para trás. Dentro de sua casa tinha uma lareira acesa que não só iluminava como aquecia todos os cômodos. Sua irmã estava assistindo televisão onde antes ela estava, e seus pais estavam pingados pela casa. Havia cobertores pelo chão completamente essenciais para um dia frio como aqueles. Era tentador ficar em casa, mas ela se sentia culpada. Acontece que quando o Matt aparecia em sua casa ela não podia simplesmente dizer que não ia sair. Ele não mora tão longe, mas o percurso até ali não era o mais favorável. Ele precisava pular um muro e andar em uma área cheia de animais soltos. Era no mínimo desagradável, mas fazia assim mesmo. 

Matt estava todo molhado. Vir a sua casa nessas condições - considerando que o clima só piorava – era uma demonstração muito forte de carinho. Carinho este que com certeza era muito demonstrado. Ambos se adoravam! Viviam grudados tanto nas ruas quanto na escola. São amigos desde o nascimento e, agora, aos sete anos de idade, são quase irmãos. Não que ambos enxerguem assim, é claro, mas Oliver não vê malícia alguma em sua amizade – ou em qualquer outra coisa. 

"Ah, Matt, entra! Está tão quentinho aqui. A minha mãe fez torta.", pediu, mas o garoto rejeitou. 

"Olívia Waldorf dizendo não a uma aventura. Eu sabia que você não era uma boa escudeira, mas isso...", ele fingiu desapontamento, arrancando uma gargalhada da amiga. Ela saiu batendo a porta atrás dela, vestindo apenas um conjunto de moletom e meias antiderrapantes. "Corrida no três?" 

E foram. Oliver na frente enquanto tentava não tropeçar em pedras ou troncos largados. Frequentemente ela enfiava o pé em poças, até que enfim caiu, dando vantagem ao amigo, que correu ainda mais veloz. Eles riam e tossiam com a chuva que engrossava. Um raio caiu, de repente, muito próximo a eles, possivelmente em uma árvore, o que os levou a correr ainda mais rápido, de susto. E então chegaram. 

A corda estava lá, pendurada e balançando sozinha por conta do vento – que, inclusive, falava mais alto que a voz dos dois. Oliver olhou em volta e, onde o Matt se encontrava antes havia um vácuo que a deixou preocupada logo de cara. 

"Matt! Onde você está? Matt?!", ela gritava, forçando a garganta. Seus olhos passavam de árvore em árvore mais rapidamente do que poderia se associar. Com medo ela olhou para a água, mas não viu nada, o que a fez criar teorias terríveis.  

Ouviu-se um grito e, então, Matt jogou-se de um galho por cima de Oliver, fazendo-a cair o chão. A queda fez com que sua cabeça desse um baque na grama molhada, fazendo-a ficar tonta. O garoto ria por cima de suas costas. 

"Idiota!", gritou com um sorriso meio torto. Ele, por outro lado, gargalhava. 

"Oh, Matt, Matt, onde está? Está ferido? Oh, Matt, volte!", ele a remedava, fazendo-a ficar um pouco constrangida.  

"Pra que você resolveu subir aí, Popeye? Você podia cair, a árvore podia quebrar, sei lá!", ela levantou, tentando tirar o excesso de lama de sua roupa. 

"Como assim pra quê? Para subir, apenas. Sabe como é difícil subir em uma árvore molhada, na chuva? Me cortei todo!", ele começou a esfregar alguns arranhões. "Ah, não se chateou, não é? Foi uma brincadeira! Vamos, eu te empurro primeiro na corda.", ele falou com seus olhos pidões, pegando um galho curvo para puxar a corda até si. 

Hesitante, Olívia respondeu. "Mais alto que as árvores?" 

"Mais alto do que as nuvens!", falou, repetindo seu bordão de todos os dias. Oliver sorriu enquanto ele a entregava a corda, que estava pesada após absorver tanta água. 

Ela sentou-se no nó dado na ponta e então, após a contagem, sentiu um grande empurrão por suas costas. Por um instante aquele vento gélido e pontiagudo em seu rosto e mãos não importava. Era a melhor sensação do mundo! Ela passava por entre os galhos e via as costas dos pássaros, aninhados em sua toca. Sentia as gotas de chuva colidirem em si como tiros de sal. Sua pele inteira formigava. Colocava a língua pra fora para sentir o gosto da mistura perfeita entre chuva, grama molhada e um ar tão limpo quanto pode ser.  

Aos poucos foi pegando mais impulso. Estava alto. Muito alto. A esse ponto já havia ultrapassado as árvores - o que foi um erro. No momento em que se tornou o ponto mais alto das redondezas um raio descia procurando onde aterrissar. E ele a encontrou. O raio chocou-se em seu corpo de maneira tão abrupta que sequer pôde gritar. Apenas caiu. 

Se Matt gritou, ela não escutou. Se doeu, ela jamais soube. Mas sentiu seu corpo praticamente se partir no meio quando largou a corda e bateu no violento rio. Estava frio. E ela sentia sono, muito sono. 

 


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