Chapter 3 — Death Comes In Black Boots

Ela era como a morte caminhando em botas pretas.

 Desde quando acordara naquela manhã, sentia-se imparável. Os saltos de suas botas pretas ecoavam pelos corredores, chamando a atenção dos outros agentes por cada corredor em que passava. Seu uniforme da S.H.I.E.L.D. — uma calça preta justa, a camiseta preta com o símbolo da agência e uma jaqueta de couro marrom escura — estava novo em folha, e o seu decote prendia a atenção de alguns colegas de trabalho; enquanto outros evitavam sequer fitá-la. Uns a amavam e outros a odiavam.

Mas ela adorava tudo aquilo.

Ela era como a morte caminhando em botas pretas.

Era a primeira vez nas últimas semanas que Victória Foster saía de seus aposentos na agência para voltar para a ativa, desde a morte de sua tutora. Phillip Coulson não parava de viajar por países da Ásia em busca de algo confidencial, passando então algumas de suas maiores responsabilidades para a agente Maria Hill; e outras, no entanto, foram designadas a agente Foster. Com a ausência e divisão dos antigos recrutas de Coulson, a agência secreta americana precisava de uma nova equipe e uma nova cavalaria. E seria a ocupação de Foster ser a líder de uma equipe de recrutas escolhidos a dedo, que estavam para chegar. 

Continuou caminhando até a pista de pouso da sede, chegando bem a tempo de ver o helicóptero principal pousando — o qual transportava os integrantes de sua nova equipe. Ao pousar, o primeiro integrante a descer foi o latino Carl Schafër.

Schafër era dono de traços belos e os olhos cor-de-mel, cabelos castanho-escuros e pele levemente bronzeada. Entre suas variadas habilidades como um agente nível 8 da agência, era especialista em armas brancas e na fabricação de balas não-letais. Um currículo repleto de feitos nobres o fazia ser conhecido como "O Soldado Sem Medo" dentro da S.H.I.E.L.D.

Em seguida, saiu do helicóptero a agente Tatiana Drake, mais conhecida como Tatia. Os traços de sua descendência indiana eram visíveis e contrastavam com seus olhos castanho-esverdeados, além de sua pele parda. A garota se destacava na área científica, sendo a cientista mais nova a entrar para o esquadrão da agência, com grandes feitos em seu nome.

A terceira integrante a descer do helicóptero foi a escocesa — com leve descendência italiana — Amethyst Von Bach. Seus longos cabelos ruivos batiam contra o vento, contrastando com seus olhos azuis e sua pálida pele branca. Sua habilidade em destaque era a computação, sendo a melhor hacker em 69% das classificações dos agentes. Além de tudo, ela e Foster eram velhas amigas de infância.

Por fim, o último dos novos integrantes desceu. Nível 8, recordista em subir rapidamente pelos níveis, perito em armas de fogo e um dos mais renomados lutadores da S.H.I.E.L.D. nos últimos três anos — perdendo somente para os agentes especiais Barton e Romanoff, o antigo líder Nicholas Fury e a própria Victória Foster. Ele era Nathaniel Benson, um australiano elegante e conhecido por seu cavalheirismo. Não era dono da aparência mais bela do mundo, no entanto, seus traços se encaixavam perfeitamente e lhe davam características marcantes, com seus cabelos negros e olhos castanhos intensos.

Os quatro caminharam na direção da agente, ficando um do lado do outro em uma organizada ordem crescente de níveis: Tatia, Amethyst, Carl e Nathan.

— Olá a todos. É com honra que dou a vocês boas-vindas a sede especializada número 1 da S.H.I.E.L.D. Eu sou a agente Foster e serei a tutora de vocês. — a agente deu um meio sorriso para o quarteto. Tatia e Carl retribuíram e Amesthyst abriu um sorriso ainda maior, mas Nathaniel permaneceu sério. — Cada um de vocês foi escolhido a dedo para ser parte da nova cavalaria da S.H.I.E.L.D., por mim e pelo líder Phillip Coulson. Me acompanhem, por favor.

A mulher se virou e começou a andar, sendo seguida pelos agentes. Caminharam por poucos minutos até chegarem na sala de reuniões, que teve suas portas abertas por dois agentes. Lá dentro, se encontrava Maikon Garcia, entediado enquanto brincava com uma caneta, e fitou a irmã e os outros agentes.

— Sentem-se, por favor. — Victória instruiu.

Logo, todos se sentaram em torno da mesa retangular, Foster permanecendo em pé ao lado deles. O holograma de Phillip Coulson surgiu na frente deles, todos prestando atenção na imagem de seu líder.

— Olá para todos. — cumprimentou o agente. — Acredito que vocês já me conheçam por nome, mas de qualquer forma, eu sou o agente Coulson.

Todos os novatos ajeitaram sua postura.

— Vocês, cada um de vocês, tem uma grande responsabilidade agora. Um compromisso conosco. Cada um dos presentes nessa sala hoje foi escolhido graças as suas habilidades mais que especiais para nós. Coisas que destacam vocês entre os demais, que lhes tornam dignos de serem a nova cavalaria da S.H.I.E.L.D. — todos se entreolharam, satisfeitos. — Como todos sabem, Melinda May partiu dessa... Para melhor. — Phil tinha um tom melancólico. Foster e Maikon abaixaram a cabeça e os outros deixaram seus sorrisos morrerem. — Então, precisamos de soldados.

Victória ligou o projetor e, ao lado de Coulson, uma grande tela surgiu — a qual ele controlava. A primeira pessoa a aparecer no painel foi a cientista Tatia Drake.

— Doutora... Ou melhor, agente Drake. — Phillip a fitou, com um pouco de mágoa. Ela ajudara a criar um projeto, T.A.H.I.T.I., que quase havia o deixado louco. — Suas habilidades científicas chamaram grande atenção. Você foi designada a ser a lógica da cavalaria.

— É uma honra participar disso, senhor Coulson. — a morena falou. — E eu... sinto muito pelo T.A.H.I.T.I. — Tatia disse. Sentia-se culpada pelas consequências de suas ideias há alguns anos.

— Tudo bem. — ele disfarçou um sorriso e engoliu em seco.

Em seguida, surgiu a imagem de Carl Schafër, junto com seus arquivos.

— Agente Schafër. — cumprimentou Phil. — Sua experiência em combate e seus feitos foram, até aqui, nobres. Sua audácia e sabedoria na queda da antiga S.H.I.E.L.D. e sua ajuda como soldado na batalha de New York foram atos honrosos. Sendo assim, nada mais justo que lhe colocar como a sabedoria da equipe.

— Significa muito para mim, Comandante Coulson. Obrigado. — falou o soldado, mostrando seu forte sotaque.

A próxima imagem na tela foi a de Maikon.

— Agente Garcia. — Phillip sorriu. — Seu dom no arco e flecha é excepcional, e suas táticas são brilhantes. Sua função é ser a visão da nossa equipe.

— Agradeço por me escolher, senhor. — Mike sorriu, grato pelo reconhecimento que merecia.

— Agente Von Bach. — Coulson chamou, enquanto imagens e informações sobre a hacker de cabelos ruivos alaranjados apareciam na tela. — Seu dom de computação é absolutamente o que precisamos, e estamos de olhos em você desde sua descoberta sobre a localização do cetro de Loki. Foi uma grande contribuição, e por isso, você será a inteligência da cavalaria. — a imagem dela ficou ao lado da de Mike.

— Fico honrada em trabalhar para o bem maior, Senhor Coulson. — sorriu Amethyst.

O próximo na tela foi Nathaniel.

— Agente Benson. — Phil o fitou. — Sua maestria em combate e sua grande ajuda na batalha contra Ultron, ajudando a população a sair de Sokóvia, foram grandes feitos. Então, decidimos que você será a força da equipe.

— Prometo honrar sua confiança em mim, senhor. Agradecido. — o australiano falou, vendo sua imagem perto da de Amethyst.

Em seguida, a imagem de Foster apareceu, e ela e Phillip se entreolharam.

— E, por fim, agente Victória Foster. — Coulson sorriu. — Seu exemplar desempenho durante a queda da antiga S.H.I.E.L.D. e a grande ajuda na reconstrução de Sokóvia, além do seu aperfeiçoamento na agência e habilidades superiores, consultei a Nick Fury e, com certeza, você é mais que digna do cargo de liderança.

A mesma sorriu discretamente quando sua foto apareceu na tela, no centro de todas as outras... Da mesma forma que ficava Melinda May.

— É uma grande honra para mim assumir este posto, senhor. Muito obrigada. — ela sorriu contente e ele retribuiu. Em seguida encarou o irmão, que piscou orgulhoso.

— Entretanto... — começou Phillip. Todos viram que suas imagens, juntas, formavam um círculo com Victória no centro; mas uma imagem estava faltando para completar o círculo. — Ainda falta um recruta, que já foi selecionado.

A tela mudou, mostrando várias fotos e arquivos de uma garota pálida, cabelos loiros na altura dos ombros.

— Andrea Nolan, 25 anos, enfermeira geral do Hospital Municipal de Hell's Kitchen. Ela vem ajudando muito a alguns heróis da região, e será de enorme ajuda. Enviei Maria Hill há poucos minutos para lá, esperamos ter sucesso no recrutamento. Quando obtivermos mais notícias, os chamaremos. Por hora, podem se retirar.

Sem se pronunciarem, todos se retiraram da sala de reuniões. Dois agentes os esperavam lá fora, mas antes que Foster dissesse algo, ouviu uma voz em seu comunicador.

— Aqui é o Agente Coulson. Favor comparecer a minha sala, Agente Foster.

— Bom pessoal, os agentes Marcellus e Adam levarão até os dormitórios. Suas malas já estão lá. Se me derem licença, fui solicitada para ir a sala do Agente Coulson. Mais uma vez, bem-vindos.

***

A água quente do chuveiro caía em suas costas, relaxando seus músculos. Os cabelos loiros estavam molhados, e os olhos azuis estavam fechados enquanto ela sentia as gotas de água escorrendo por seu corpo. Andrea Nolan agradecia todos os dias de sua vida por ainda permanecer respirando.

Enquanto desligava o chuveiro e se enrolava em uma toalha, pensava em como era sortuda. Andrea tivera uma história difícil e turbulenta desde os 15 anos - as más companhias, o namorado controlador e o relacionamento abusivo. A loira passou a mão no espelho e o desembaçou, vendo seu reflexo de 25 anos no espelho. Ela era uma sobrevivente: havia sobrevivido a violência, ao caos e a dor - era uma guerreira. Trabalhava em um bom hospital, tinha um bom apartamento, uma filha de 5 anos para educar... E heróis para costurar, pensou a Nolan quando ouviu gemidos vindos de seu quarto. Vestiu-se o mais rápido e pôde e foi até lá, vendo Matt Murdock assustado e sentado em sua cama.

— Bom dia, Bela Adormecida. Você 'tá hibernando há dois dias seguidos, acho que já dormiu o suficiente para quem só levou 16 pontos. — ela disse sorrindo, caminhando até ele.

— Andrea? — questionou ele, confuso. — Onde eu estou?

— Você está no meu apartamento, babaca. Há duas noites eu acordei durante a madrugada com batidas na porta e olhe só: alguém deixou você aqui, estourado e sangrando. Alguém fez um corte feio no seu braço, demônio de Hell's Kitchen. — respondeu ela, zoando o rapaz e se sentando na frente dele.

— Preciso encontrar quem me deixou aqui e agradecer, então. — Matt sorriu. O vigilante cego era sortudo em ter uma amiga enfermeira para lhe costurar quando se metesse em apuros.

— Você tem é que me agradecer por ter te dado 16 trabalhosos pontos ao mesmo tempo em que tenho que cuidar de uma criança de 5 anos. — riu ela. — Perdi dois dias de trabalho cuidando de você, bundão. Ainda bem que Clarissa cobriu meus turnos.

— Muito obrigada, então. — O Demolidor sorriu.

— Agora me diz, com quem você brigou dessa vez? Máfia chinesa de novo?

— O Justiceiro. — ele se ajeitou na cama, soltando um leve gemido de dor. Colocou a mão esquerda sobre o corte no braço direito, e pôde sentir o tecido da roupa de herói rasgado e os pontos fechando o ferimento. — Mas ele foi embora daqui. Disse que ia voltar para o estado de nascença antes de me bater pra cacete.

— Entendi. E em relação a máfia chinesa, está conseguindo concluir sua vingança? — questionou Andrea, observando os traços do enigmático herói que já salvara dezenas de vezes só naquela semana. Desde que sua amiga, Claire (antiga "enfermeira particular" de Matt), havia se demitido do hospital e deixado Hell's Kitchen, a garota vinha fazendo o papel da amiga e ajudava o vigilante Demolidor quando precisava de cuidados médicos. Eram bons amigos desde então.

— Não estou nem na metade. Coloquei apenas uma parte deles na cadeia, Andrea... Eu quero atingir cada um deles, um por um, e ver todos caírem nas mãos da justiça. Da minha justiça. — havia uma gloriosa escuridão no jeito em que ele falava. — Eles mataram a mulher que amo. Eles a tiraram de mim... E agora eu vou tirar tudo de cada um deles. Eu vou vingar a morte de Elektra Natchios, nem que...

De repente, ele parou. Respirou fundo e se concentrou na audição melhorada que possuía, escutando passos nas escadarias do apartamento.

— 'Tá esperando alguém? — questionou ele.

— Não. — a mulher estranhou a pergunta.

— Bom, uma mulher está subindo para esse andar. Perguntou sobre você na recepção. — Murdock falou. — Pelo visto a segurança não te avisa quando alguém está subindo.

— É nisso que dá receber o demônio de Hell's Kitchen em casa. — ela revirou os olhos. 

Matt se levantou rapidamente, ignorando as dores em seu corpo. Sabendo que não podia interferir nos atos heroicos dele, a Nolan levantou e pegou o capacete dele, jogando em sua direção. Ele pegou o capacete no ar, graças aos seus reflexos, e o colocou.

Ambos andaram rapidamente pra sala, Matt ouvindo saltos subindo as escadas.

— Eu vou ficar aqui. — ele disse, se encostando na parede ao lado da porta. — Se for hostis, saia da frente e corra até o telefone ligar para a polícia e eu cuidarei dela.

— Certo.

Poucos segundos se passaram e a campainha tocou. Meio receosa, a Nolan abriu a porta.

— Bom dia, você é a senhorita Nolan? — questionou a mulher e Andrea assentiu. — Meu nome é Maria Hill. Podemos conversar?